Relatório de vivência do VER-SUS. Período: 16 a 23/07/2015. São Luis-MA. Daianny Cristiny Brenha Saldanha

Transcrição

1 Relatório de vivência do VER-SUS Período: 16 a 23/07/2015. São Luis-MA Daianny Cristiny Brenha Saldanha Faculdade Pitágoras, 6º período de Psicologia. 1º dia (16/07) manhã: Expectativa, muita expectativas. Mas muita alegria e vontade aprender e viver o VER SUS. Fomos recebidos no CEUMA e nos reunimos em uma sala, na qual ficamos em uma grande roda e foi feita uma dinâmica de apresentação com um barbante, simbolizando uma rede. Dissemos nosso nome, curso, cidade, o que gostávamos ou não de fazer etc. foi um momento muito bom no qual pudemos ter esse primeiro contato de forma bem dinâmica. Também recebemos envelopes que deveríamos personalizar, de acordo com nossa identidade, e colar na parede. Logo após, fomos divididos por NB, e criamos nosso nome, nosso cartaz. O facilitador foi o Bruno Luiz, e escolhemos nosso nome: METANOIA. É uma palavra de origem grega, que significa mudança de mente, alteração significativa na forma de pensa, e posteriormente de agir, mudança de comportamento. Apresentamos nosso NB aos demais colegas e depois seguimos para o hotel (que não sabíamos onde seria); até que chegou ao Praia Mar Hotel, na Ponta D Areia, onde fomos almoçar, e guardar nossas coisas.

2 Tarde: Fomos para o CEUMA assistir um documentário sobre a história da saúde pública do Brasil, até chegar a criação do Sistema Único de Saúde do país. Dentre muitas informações que o mesmo trouxe, uma das mais marcantes é o fato de que no começo do século XX, o atendimento à saúde era visto como filantrópico, como caridade, então após todo um percurso histórico, social, politico, chegou-se ao fato da saúde ser um direito do cidadão, um dever do Estado. Noite: Logo após o jantar, tivemos uma mística, na qual ficamos de olhos fechados e recebemos nas mãos a camisa e a mochila do VER SUS, enquanto o facilitador lia um texto belíssimo sobre vários aspectos que iriam ser contemplados na vivencia, como construção, desconstrução etc. Para mim foi um momento muito emocionante. Logo após nos sentamos e começou a discussão em roda, sobre o documentário exposto à tarde, e foi bem interessante fazer as ligações deste com o que já vinhamos aprendendo ao longo da vida, na faculdade, e no próprio uso do sistema único de saúde. Achei muito importante colocar minha opinião e ouvir as dos colegas. 2º dia (17/07) manhã: Tivemos uma abertura com um NB de atividade de alongamento, que foi bem divertida. Logo após, recebemos textos pelos facilitadores para leitura nos NB S da regulamentação do SUS( Leis nº 8080 e 8142). Nosso NB ficou com a última, lemos, e discutimos entre nós seus aspectos; depois abrindo para o grupo maior, com todos. Foi um momento também muito importante, pois tivemos acesso as mesmas, e pudemos ter um espaço para discuti-las claramente.

3 Tarde: Palestra no CEUMA com Paola Trindade. Tema: Atenção Básica em Saúde. A Palestrante contemplou muitos aspectos sobre o tema, e ao meu ver, foi uma palestra como que um divisor de águas para o entendimento no Sistema, fazendo incialmente a diferenciação entre atenção básica e prioritária ou primaria. Foi apresentado o que seria essa atenção básica (promoção, prevenção, tratamento e reabilitação), a portaria nº 2488 de 21/10/11; a importância de conhecer e saber qual o perfil epidemiológico da minha comunidade, e atributos como: respeitar a cultura, o contexto do individuo. Foi apresentado também os programas da ABS, tais como: rede cegonha, saúde na escola etc. no total de 11 programas. (a palestrante não explicou todos detalhadamente devido ser inviável por conta do tempo), logo seu foco esteve em discutir sobre a ESF, NASF etc. citando o autor Gastão Wagner como referência sobre o assunto. Outro aspecto bastante enfatizado pela mesma foi a questão do exercício do controle social através dos conselhos de saúde. O SUS é fruto de luta popular.. Logo após, a mesma distribuiu casos hipotéticos para discutirmos em NB, de acordo com a atuação de cada um, o que bastante significativo também. Noite: Discutimos a politica de humanização, que foi bem significativa, a discussão foi muito proveitosa e enriquecedora. 3º dia (sábado, 18/07) manhã: Nossa primeira vivência externa, meu GV foi do facilitador Bruno Campelo, fomos à UPA do Vinhais. Quem nos recebeu foi a coordenadora e enfermeira Jaqueline. Foi uma visita na qual podemos perceber muitas coisas, ela nos trouxe bastante dados sobre a estrutura. De começo, falou que o prédio já existia e foi adaptado para construção da UPA, o que via como uma dificuldade. Do lado da UPA tinha uma centro de especialidades medicas, que servia como UBS. Vimos a questão da classificação de risco, e como funciona todo o processo: triagem, avaliação médica, sala de medicação. Me chamou atenção o fato de que há casos em

4 que o paciente (usuário) ficava até o dia todo na UPA esperando seu atendimento, e em outros casos, o que seria em 24h, alguns ficavam por meses internados lá ( na sala vermelha, que possui 5 leitos-semi UTI). Olhamos a ala amarela (observação) e a sala de serviço social, que me chamou atenção dentro desta haver o espaço mulher feito para ouvir mulheres que estejam sofrendo abuso sexual e domestico. Tarde: Visita ao Asilo de Mendicidade de São Luis. Nesta visita fomos caracterizados, e com o coração cheio de alegria e amor para doar aos idosos. Ir naquele local me proporcionou muitas coisas boas. Valeu muito a pena ter conversado com a maioria dos idosos, ouvir Dona Conceição falando sobre homens, e Dona Jeni, que não podia falar com a boca, mas falou com os olhos, em um momento me olhou, sorriu e seus olhos ficara marejados. Foi lindo este momento, e as horas desta tarde que passamos com eles. A Noite, sentados na roda, trocamos as experiências do dia, o que foi muito significativo também.

5 4º dia( domingo, 19/07) manhã: Discutimos em NB sobre Rede de Atenção Psicossocial, de acordo com sua portaria e suas particularidades, o que nos trouxe uma compreensão muito boa, através dos conhecimentos e experiências de cada um, apresentamos de forma lúdica, através de uma peça.

6 Tarde: Discutimos em NB um caso sobre como utilizar o Sistema, como referenciar, literalmente o que fazer naquela situação. Em suma, o caso, falava de uma menina de 10 anos que sofreu abuso sexual etc. 5º dia (segunda-feira, 20/07) manhã: Visita a UBS da cohama. Unidade de Saúde da Família AMAR, localizada no bairro da Cohama. Também foi uma visita muito significativa, que me permitiu ampliar os conhecimentos, obter um olhar critico sobre a realidade etc. Quem nos recebeu foi o diretor administrativo Salatiel, que nos informou que a unidade contava com aproximadamente 45 funcionarios, 3 equipes de saúde da família, 14 ACS, além de foco em programas como: antitabagismo, idosos e gestantes. 5 comunidades abrangidas. Sobre o atendimento, foi nos informado que acontece por ordem marcada, mas o que percebemos foi que nem sempre o usuário é atendido no dia, devido esta ordem de atendimento. Ou seja, refletir bastante sobre o fato de ter somente 1 profissional para marcar consulta, e o gestor falar que é um trabalho muito fácil. Um outro aspecto que me chamou atenção foi o fato de não ter segurança na unidade. Tivemos a oportunidade de conversar com 2 ACS que estavam la na unidade, e para mim, foi bem mais significativo ouvir deles sobre a realidade de sua comunidade. Nos contaram que possuem em media 150 a 163 familias para visitar, e que sua ferramenta de trabalho é a convivência, a conversa, ouvir a família e ajuda-los. A agente comunitária de saúde chegou a dizer que sentia-se muito feliz em poder ajudar as pessoas que precisavam de saúde, porém queixou-se do descaso e procrastinação por parte de alguns gestores.

7 Tarde: confeccionamos a bandeira do VER SUS! Foi muito bacana fazê-la! Noite: Palestra com o enfermeiro Alexandre, responsável pelo distrito de saúde indígena do Maranhão. Foi uma palestra muito interessante, na qual ele explorou bastante como funciona esta questão da saúde indígena. Trouxe bastante dados, relatos etc.

8 6º dia (terça-feira, 21/07) manhã: Fomos para o CEUMA para apresentação do OTICS, tutorial para esclarecimentos de como iriamos fazer nossos relatórios e nossas postagens etc. (somente alguns foram nesse período, outros estavam em vivências externas e faria o contrário de ir para o CEUMA a tarde.) Logo após isto, nos dividimos em GV S para discutir textos sobre vigilância, o nosso foi a sanitária. A proposta era criar uma disciplina com o tema, na perspectiva de ter multiprofissional, interdisciplinar. Após a leitura do texto e das nossas discussões sobre a vigilância sanitária estruturamos a disciplina: Normatização Técnica e Vigilância Sanitária, e apresentamos aos colegas.

9 Tarde: Visita à HEMOMAR. (Centro de hematologia e hemoterapia do Maranhão). Quem nos recebeu foi a assistente social Teresa que foi muito solícita e gentil conosco. Dentre muitos aspectos que foram falados, me chamou atenção ao fato da HEMOMAR ter a missão de oferecer sangue para toda rede hospitalar do Maranhão, e para isso, trabalhar incansavelmente na divulgação em busca de doadores para manter a pratica nas igrejas, empresas, faculdades, comunidades, uma vez que foi bastante enfatizado por ela que a doação de sangue é voluntaria, é um ato de cidadania e responsabilidade social. Conhecemos todo o processo na integra, desde o cadastro, a triagem, a entrevista e as informações sobre janela imunológica etc. Vimos o setor de distribuição de bolsas que funciona 24h, o laboratório de hematologia, imunohematologia, sorologia etc. conversamos com usuário que estava doando sangue naquele momento perguntando sua motivação, e ele respondeu: o que me motiva é saber que tem pessoas precisando. Para mim, esta visita foi muito significativa, uma vez que eu me emocionei, e refletir muito, pois sempre tive vontade de ir ao lugar mas tinha oportunidade. Em um momento, chegamos em uma sala onde estava uma criança, a sua mãe, uma medica e uma enfermeira. A profissional falou que ele tinha 10 anos e possuía anemia falciforme, e precisaria de sangue para o resto da vida. Mostrou seus bracinhos com muitas furadas e agulha, e sua mãe fazia carinho nele, e agradeceu as pessoas que doavam sangue para ele. Desde o começo, eu e outros colegas nos prontificamos para doar, afinal não iriamos perder esta oportunidade por nada!! Então fizemos todo o processo, e doamos! Eu doei 400 ml de sangue, fui muito bem atendida e recebi lanche no

10 final. Saímos com muita alegria e satisfação pela visita, e fomos direto para o CEUMA. Noite: Tivemos uma dinâmica de grupo com o nome: Vivência em estigmas este momento também foi para mim, e tenho certeza que para todos, um momento chave em toda a vivência! A dinâmica consistia em ser colocados em nós papeis como que placas escritas de estigmas como: sou aidético fique longe de mim. Sou doente mental se afaste de mim. Sou poderoso, se aproxime de mim, etc etc! andamos pela sala e tratamos nossos colegas conforme as placas, sentimos na pele como seria se vivêssemos com esses estigmas e foi incrível a experiência! Muitos de nós nos emocionamos, contamos historias de vida reais, oferecemos abraço. Ao fundo tocava uma musica, e depois foi passado um vídeo para finalizar este momento riquíssimo! 7º dia (quarta-feira, 22/07) manhã: Visita à Fazenda Cannã, para dependentes químicos. A fazenda Cannã fica bem distante do hotel, 1 hora, porem foi muito gratificante ter ido conhecer esse local. Cerca de 21 homens residem lá e estão na luta para largar as drogas. Eles são responsáveis por cuidar do local e todas as suas tarefas, ligadas a agricultura etc. lá possui um cunho religioso muito forte, de forma que só podem permanecer se estiverem dispostos a cumprir com as regras do local. Um momento bastante rico foi de ouvir alguns dos habitantes da casa, cerca de 6 deles falaram um pouco para nos sobre a experiência de estar lá, de ter suas vidas mudadas, restauradas, de terem de volta a esperança, a vida, a família, e principalmente a dignidade. Vimos o empenho dos pastores e demais funcionários em manter a casa, a fazenda em ordem, de forma que possa abrigar mais pessoas e continuar fazendo este belo trabalho. Para mim, foi muito interessante conhecer o local, e ouvir os relatos dos residentes da casa, estando mais próxima dessa realidade.

11 Tarde: Visita ao parque botânico da Vale, um local muito bonito, muito bem cuidado e agradável! Fomos divididos em dois grupos para fazer a trilha, e ao longo do percurso o guia nos informava tudo sobre a natureza, os aspectos ambientais de lá, nos fazendo perguntas, deixando aberto para que nós façamos também etc. Vimos belas arvores, e animais como macaquinhos. Como choveu, infelizmente não pudemos visitar outros locais, mas valeu a pena, foi bem interessante ver que na cidade possui um lugar como este. Noite: Palestra com a psicóloga Mae Soares sobre Rede de Atenção Psicossocial no CEUMA. Foi uma verdadeira aula repleta de conhecimento sobre esta rede, como ela funciona na integra. A profissional foi bem enfática e dinâmica, e conseguiu passar as informações com bastante clareza e domínio de assunto. Como de costume, debate foi aberto para discussões sobre o tema, o que trouxe ainda mais conhecimento e aprofundamento. 8º dia (quinta-feira, 23/07) manhã: Fomos para o CEUMA, onde ocorreu a revelação dos anjos, um momento de muita descontração, e a análise final da vivência, relatos, impressões, percepções etc. foi um momento maravilhoso, emocionante, forte e sem duvida, inesquecível. Depois, pegamos nossos envelopes, e em meio a muitos abraços, nos despedimos. O VER SUS para mim foi uma experiência singular, que realmente marcou minha vida. Nele, pude olhar mais para dentro de mim, e então para o outro. Pude mergulhar na realidade do Sistema Único de Saúde nas observações e entrevistas na UPA, UBS, HEMOMAR; porém foi muito mais que isso. Pude compreender melhor como ele funciona a partir do olhar de quem já trabalha lá, quem estagia lá, ou simplesmente usa o serviço, através das palestras e discussões em NB, GV e grupão. Esse olhar mais profundo e diferenciado veio das falas e discursos dos usuários, alguns que nem falaram nada, mas

12 unicamente estavam ali, e o seus olhares, seus sorrisos, falaram, como no asilo, na fazenda. Trocar experiências e conhecer pessoas de outros cursos, faculdades e cidades foi incrível!!! Em cada conversa, principalmente nas informais, eu ia aprendendo, crescendo, vivendo, a partir do contato tao próximo com a individualidade e particularidade do outro. As dinâmicas e místicas permitiram criar vínculos, laços e muito afeto! Muitas risadas, muitas mesmos, companheirismo a mil, na hora de comer, de dormir, de sair... Vestir a camisa literalmente, e carregar nas costas a conscientização, o compromisso, o respeito, o trabalho em equipe, e principalmente, a humanização! Posso afirmar sem duvida alguma, que o projeto me proporcionou uma verdadeira metanoia, mudança de mente e de atitude, acredito piamente que serei uma profissional melhor, que tentará fazer a diferença no mercado, uma vez que acredita no Sistema vigente de saúde do seu país. Só tenho a agradecer aos colegas que me informaram do projeto, das divulgações nas redes sociais, da insistência para fazer o seletivo, da presença de cada facilitador e vivente. O VER SUS foi inesquecível para mim, apenas posso dizer que valeu a pena, e que ele alcance cada vez mais estudantes e profissionais, mobilizando mentes e corações.