VIVÊNCIAS E ESTÁGIOS NA REALIDADE DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (VER-SUS) IMPERATRIZ MA RELATÓRIO INDIVIDUAL DE VIVÊNCIA

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1 VIVÊNCIAS E ESTÁGIOS NA REALIDADE DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (VER-SUS) IMPERATRIZ MA RELATÓRIO INDIVIDUAL DE VIVÊNCIA Bacabal MA 2016

2 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO - UEMA CAMPUS BACABAL CURSO DE ENFERMAGEM BACHARELADO THALLYSON JARYELSON SOARES DE SOUSA RELATÓRIO INDIVIDUAL DE VIVÊNCIA Bacabal MA 2016

3 A Deus, fonte da vida. Aos meus familiares, por incentivo e apoio constantes. Aos membros da Comissão Organizadora pelo excelente trabalho desempenhado. Aos trinta e cinco versusianos que compartilharam comigo dessa experiência inesquecível.

4 O VER-SUS (Vivências e Estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde) é um projeto do ministério da Saúde em parceria com a Rede Unida que acontece desde o ano de 2002, com foco na formação de militantes que possam lutar sempre pelo melhor do SUS. As vivências constituem importantes dispositivos que permitem aos participantes conhecerem um novo espaço de aprendizagem no próprio cotidiano de trabalho das organizações e serviços de saúde, possibilitando a formação de profissionais competentes em suas áreas de atuação. O projeto é um processo de imersão teórica, prática e vivencial. A imersão é uma metodologia onde o participante fica 24h por dia, durante a Vicência que dura entre 7 e 15 dias disponível para atividades do projeto, de forma a compartilhar conhecimentos sobre a gestão do sistema, estratégias de atenção, exercício do controle social e processos de educação na saúde. Enquanto dispositivo, o projeto pretende estimular a formação de militantes para o SUS, comprometidos eticamente com os princípios e diretrizes do sistema, entendendo a si próprios como atores sociais e agentes políticos capazes de promover transformações. Assim, a proposta é realizar estágios de vivência no SUS para que os participantes possam ter a oportunidade de vivenciar e debater acerca da realidade do sistema de saúde. O VER-SUS possibilita o despertar de uma visão ampliada do conceito de saúde, abordando temáticas sobre Educação Permanente em Saúde, quadrilátero da formação, aprendizagem significativa, interdisciplinaridade, Redes de Atenção à Saúde, reforma política, discussão de gêneros, movimentos sociais, questões que estão intrinsecamente relacionadas à saúde, ao SUS.

5 Segunda-feira, 12 de setembro. Na manhã da segunda-feira às 09h30min, eu e os outros viventes embarcamos em uma das experiências mais impactantes da vivência, ao entrarmos no ônibus fomos vendados, sem saber o que iria acontecer, logo veio aquele sono incontrolável, que só foi embora após ouvir a seguinte pergunta: O que significa Saneamento Básico pra vocês? Essa pergunta nos fez refletir sobre a rede de água e esgoto, coleta de lixo, e limpeza de locais públicos das nossas cidades. Mostrou-nos o quanto somos sujos quando jogamos uma pequena embalagem de bombom nas ruas ou em locais públicos. Em seguida, nos foi perguntado: O que são pessoas invisíveis? Vocês conhecem alguma pessoa invisível? Essas interrogações nos fez pensar nos moradores de rua, pobreza e segregação social, que nos impede de ver além do que as pessoas aparentam ser, tornando-as, por vezes, imperceptíveis. Por seguinte, fomos questionados sobre: O que é fome? Onde podemos refletir sobre as consequências da desigualdade social, o desperdício, e a miséria vivida em cada cidade representada por cada um dos viventes. No final do percurso, descemos do ônibus ainda vendados, fomos posicionados lado a lado e ao retiramos as vendas nos deparamos com pilhas enormes de lixo que ali eram despejados diariamente, vindos de todos os lados da cidade. Porém, a cena que mais nos chocou foi a daquelas pessoas que ali estavam, homens, mulheres, jovens, famílias inteiras ali esquecidas pela sociedade e por seus governantes. Verdadeiras pessoas invisíveis, que não tem acesso à educação, a moradia, à água tratada, a uma alimentação saudável, muito menos acesso à saúde. Ao retornarmos para a UFMA onde fizemos uma roda de discussão sobre nossas conversas com as pessoas do Lixão. Em geral, pode-se observar que muitos que viviam no lixão estão ali porque a sociedade não lhe forneceram meios para estar em outro lugar. Por

6 outro lado, muitos catadores de lixo diziam que já chegaram a morar e trabalhar em outros lugares, mas não gostavam do que faziam e resolveram ir para o lixão onde dizem serem donos do próprio negócio, serem independentes e não ter patrão para dar ordens e dizer o que eles devem ou não fazer, lá eles se sentiam livres, apesar de viverem em situações precárias e de extrema pobreza. Após a roda de conversa, fomos levados para a UFMA, Campus Bom Jesus, onde ficamos alojados os sete dias de vivência. Às 14h30min demos início a nossa primeira plenária da vivência, onde fomos apresentados uns aos outros de uma forma diferente. Todos foram dispostos em uma roda e separados em duplas, o componente de cada dupla deveriam se conhecer e em seguida apresentar seu colega e com um rolo de corda passar a vez para outro integrante da roda até formar uma rede semelhante a uma teia que de certa forma conectava cada um presente. Tal dinâmica foi importante para o entrosamento e fortalecimento de vínculos entre os viventes. Às 15h30min fomos divididos em cinco Núcleos de Base (NB) e a cada grupo foi dado o desafio de nomear seu NB e apresentá-lo aos demais. Os NB s receberam nomeações que representavam de alguma forma o SUS, foram eles: SUSTENTA, CONECSUS, ABRAÇOSUS, PRÁXISUS e DIVERSUS. Ás 19h30min iniciou-se uma roda de discussão sobre: O que é o Sistema Único de Saúde SUS? Onde cada pôde dizer o que entende sobre esse sistema de vital importância para a vida de cada um de seus usuários. Por outro lado, fomos convidados a falar os pontos positivos e negativos do SUS, fundamental para expormos nossas satisfações e desapontamentos sobre um sistema que reduz as desigualdades sociais, mas que por depender do componente humano de gestores, muitas vezes não é capaz de contemplar de maneira holística todos os seus usuários, tornando-se às vezes um sistema falho.

7 Terça-feira, 13 de setembro. Às 09h30min iniciamos a plenária com a dinâmica do urso, onde nós tivemos formar um circulo e demostrar afeto de alguma forma em um urso de pelúcia, sem saber que logo em seguida o mesmo jeito deveria se repetir com o companheiro que estivesse do lado. Demos continuidade às atividades com um filme onde o mesmo apresentou um pouco da história do SUS, em seguida iniciamos uma conversa sobre as maiores dificuldades encontradas na criação do SUS e as que são enfrentadas até os dias de hoje pelo nosso sistema. As atividades da tarde deram inicio com uma palestra com a enfermeira Débora sobre os programas ativos na cidade Imperatriz com foco na promoção e prevenção em saúde; tais como o CRAS, CREAS, Unidades Básicas de Saúde entre outros. Ás 16h40min, assistimos a um documentário chamado Ilha das Flores que descreve a discussão a respeito da pobreza, da fome e da exclusão social. Onde ficou explicitamente claro que o contexto brasileiro atual e o do final da década de 1980 não mudaram, significativamente, apesar dos avanços nas mais diversas áreas, a situação social continua apresentando disparidades enormes, abismos que interferem drasticamente no processo de formação de cidadãos e, concomitantemente, de uma sociedade menos contraditória. Ao termino das discussões, fomos conduzidos até uma comunidade do Movimento Sem Terra (MST), localizada próxima a UFMA no bairro Bom Jesus, onde tivemos a oportunidade de conhecer de perto a realidade das pessoas que não possuem suas próprias moradias, pessoas essas que muitas das vezes tem que invadir terrenos alheios para fazer construções até mesmo de taipa para acomodarem suas famílias, isso porque não são enxergados pelos nossos governantes. O que podemos observar no olhar daquelas pessoas foi que mesmo com tão pouco eles vivem felizes e do jeitinho que podem. Retornamos para a UFMA e iniciamos uma roda de conversa sobre a visita ao MST, em seguida foi feita outra dinâmica Corredor do abraço, onde os viventes fizeram duas filas formando um corredor e cada componente, começando do primeiro da fila, teria que passar pelo corredor formado por seus colegas, os mesmos deveriam demonstrar carinho e afeto no que passava de olhos fechados pelo corredor, prosseguindo assim até o último da fila. À noite tivemos a nossa primeira cultural, onde podemos conhecer melhor cada um dos outros viventes e criar vínculos de amizades mais fortes, além de ter sido um momento de descontração e relaxamento da mente e do físico.

8 Quarta-feira, 14 de setembro. Logo pela manhã fomos visitar o Centro de Referência de Assistência Social CRAS, do bairro Bom Jesus que fica localizado ao lado da UFMA, no local tivemos a oportunidade de participarmos de uma palestra ministrada pelos profissionais do Núcleo de Assistência a Saúde da Família - NASF, direcionada para os idosos da comunidade. A equipe do NASF falou através de uma linguagem simples e compreensível, sobre alimentação saudável para quem quer chegar à terceira idade com saúde e qualidade de vida, mantendo sempre o bem estar físico e mental, priorizando alimentos com baixo teor de sódio e gorduras e evitando alimentos processados e extremamente industrializados, assim sensibilizando os idosos ali presentes a mudarem seus hábitos alimentares e sua forma de vida. Ao retornarmos para a UFMA, ás 10h30min, tivemos uma palestra com a enfermeira Jacinta sobre a Evolução das Políticas de Saúde. A mesma expôs as evidencias das mudanças no modelo antigo de saúde pública que era voltado somente para os trabalhadores de grandes empresas e focado em uma medicina curativa, oposto do modelo atual vigente que propõe uma medicina preventiva e de acesso todos. Por fim, assistimos a animação: O problema não é meu ; que em resumo conta a história de uma empresa que começa a pegar fogo e nenhum dos funcionários se dispôs a solucionar o problema acreditando que o problema não o afetaria e quando o fogo se espalhou para todos os departamentos, nesse momento eles percebem que o problema era da responsabilidade de todos. Após o almoço, ás 14h30min, iniciamos uma dinâmica, visando fomentar uma discussão sobre os Determinantes Sociais da Saúde. Neste momento cada NB recebeu um determinante que deveria ser ilustrado em uma camisa para cada grupo e explicar aos demais, onde o determinante foi o lazer, o mesmo foi representado por duas pinturas, em um lado.

9 Ainda no período da tarde às 17h30min, foi realizada a mística organizada por um dos Núcleo de Base, cujo tema era Pessoas Invisíveis, na qual todos foram dispostos em circulo de costa para o centro. Folhas contendo frases como: Me ignore, Aperte minha mão, Me beije, Dance comigo, Me abrace foram colocadas nas costas de cada uma. Além disso, foram escolhidas duas pessoas para ficarem vendadas e isoladas em cantos diferentes da sala vendadas e de costas para os demais. Todos tinham de ler o que estava nas costas, de cada um e realizar o que estava contido nas folhas. Por fim, todos se misturaram e se divertiram, mas poucos foram aqueles que notaram os isolados mesmo estando tão próximos. O que nos faz refletir sobre as pessoas que muitas vezes observamos nas ruas sem o mínimo de conforto, mas não nos sensibilizamos em ajudar. No período da noite, fomos surpreendidos antes de entrar na plenária, pois, dessa vez, antes de entrarmos os todos os viventes seriam vendados e dispostos sentados, formando um circulo. De inicio, fomos informados que seriam feitas algumas afirmações e que se alguma vez nos já tivéssemos pronunciado, deveríamos bater palmas. Frases como: Mulher deve pilotar fogão e Ele é assim porque foi criado por vó. Logo após, tiramos as venda e observamos ao centro do circulo o vivente Gustavo ao centro que deu inicio ao seu depoimento de vida, todos os desafios e barreiras que teve de enfrentar por causo de sua orientação sexual. Foi um momento impar, que nos fez pensar o quanto a sociedade com seus padrões limitados pode oprimir de forma tão profunda sem conhecer e compreender o caminho percorrido por cada individuo.

10 Quinta-feira, 15 de setembro. Pela manhã às 09h30min houve uma reunião com todos os viventes, facilitadores e comissão organizadora para discussão de cumprimento de horários de inicio de atividades, por seguinte, fomos divididos em dois grupos para realizar duas visitas em locais distintos: uma na uma na Unidade Sede do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência e Emergência - SAMU da cidade de Imperatriz e o outro grupo sendo conduzido ao HEMOMAR da mesma cidade. O grupo em que foi alocado foi direcionado a uma vivência no SAMU, onde a enfermeira socorrista Adriana nos recepcionou e nos apresentou primeiramente as instalações, os profissionais e os equipamentos, utilizados na execução das atividades de atendimento diária. Por seguinte, a enfermeira Adriana e o médico socorrista Dr. Ricardo nos mostrou os equipamentos e medicamentos utilizados nas Unidades de Suporte, além de demonstrar o funcionamento e as ações de cada um em campo. Ao retornarmos para a UFMA, fomos falar um pouco do que tínhamos observado nas visitas, logo após teve inicio a discussão acerca de um vídeo que retratava a situação conjuntural de privatização e terceirização dos serviços públicos, com a influência da conjuntura neoliberal no contexto sócio-histórico do Brasil, apresentando o país na época, em que governos reforçavam a degradação de serviços públicos ditos essenciais, que foram transferidos para a iniciativa privada. Sexta-feira 16 de setembro. Pela manhã fomos divididos em grupos para realização de mais uma visita de reconhecimento de unidades distintas de atendimento, entre elas estão a Unidade de Pronto Atendimento (UPA), o Hospital Municipal de Imperatriz (HMI), Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro Cafeteira e UBS - Milton Lopes, a qual fui visitar juntamente com meu GV.

11 No período da tarde visitamos o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS IJ), em que conhecemos o espaço físico, os profissionais envolvidos e as atividades realizadas com as crianças de 02 meses até 21 anos. Sábado, 17 de setembro Neste dia pela manhã ocorreu uma roda de conversa sobre saúde mental com a enfermeira Tamara, que colocou em discussão a questão da saúde mental na cidade de Imperatriz e a luta antimanicomial e seu impacto na saúde. Logo depois, fomos conduzidos a uma visita ao terreiro de Santa Bárbara, onde se pode observar um pouco dos rituais religiosos umbandistas. Ao retorno para a UFMA foi realizada uma discussão sobre a visita e o respeito ao exercício da religião de cada indivíduo. Durante a noite, houve uma dinâmica onde todos deveriam conversar com uma pessoa que não conversou muito ou interagiu pouco, em seguida, deveria fazer um desenho sobre a pessoa e apresentar o colega através do desenho.

12 Domingo, 18 de setembro. Pela manhã deu-se inicio a confecção da bandeira da edição do VER-SUS Imperatriz no meio da sala onde ao mesmo tempo discutiu-se sobre O papel do graduando nos movimentos sociais, que nos fez refletir sobre a importância dos movimentos estudantis tais como o Levante popular da Juventude, entre outros movimentos que tiveram um papel transformador na luta por uma saúde pública de qualidade. Por fim, terminada confecção da bandeira tivemos o almoço.

13 No período da tarde fomos a um passeio de despedida à Praia do Meio onde tivemos um período de descontração e lazer depois de uma semana cheia de atividades de enriquecimento não somente de conhecimento mais também de amizades, de cultura de desconstrução, de construção, de reconstrução de conceitos, de preconceitos de inspiração, de renovação de ideias tudo isso para podermos ter uma saúde pública que queremos de qualidade e sem distinção de raça, cor ou credo para todos. Assim nos despedimos do VER-SUS Imperatriz ! OBRIGADO POR TUDO VER-SUS!