Acordam no Tribunal da Relação do Porto

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PN11527.01; 2º Juizo Cível do Porto Ape2: Apo3: Acordam no Tribunal da Relação do Porto 1. Os Ap.es, não se conformam com a sentença recorrida que absolveu os RR. do pedido de despejo com os fundamentos de mudança de ramo e abandono por mais de 1 ano. 2. Concluiram: (a) Na acção intentada foi invocado, entre outros, o facto de o R., pelo menos desde de 1980, ter usado o arrendado para fim diverso daquele para o qual o tinha obtido de arrendamento: armazém de papel, artº64/1b RAU; (b) O R. contestou, alegando ter transformado o armazém de papel em carpintaria, pelo menos desde 1980, mas com a anuência do A. marido; (c) Contudo, através da inspecção ao local, foi verificado nem papel nem carpintaria existirem: apenas uma plaina, meia dúzia de tábuas e sucata restante; 1 Vistos: Des. (273) Des. 1071) 2 Adv: Dr. 3 Adv: Dr. 1

(d) Por conseguinte, ao mudar de ramo, o R. usou o arrendado para fim diferente daquele que consta do contrato de arrendamento, não sofrendo dúvida que tal mudança de ramo ocorreu já no ano de 1980; (e) Mas o tribunal aduziu que o processo (acção de despejo) não é o próprio, visto tratar-se de infracção ao contrato de arrendamento prevista no artº1038 CC, que no entanto reproduz fielmente o artº64 RAU; (f) E só não decretou o despejo (e nesse caso já seria o meio próprio) por não saber do carácter duradouro ou não, e temporal da mudança de ramo; (g) É claro assim o erro de interpretação do tribunal; (h) Que deve ser reparado, atendendo a todos os factos necessários e suficientes para o debate constantes da prova, e através de acordão de depejo dos RR. 3. Nas contra alegações disse-se: (a) Os factos apurados não preenchem o fundamento resolutivo invocado, porque insuficientes; (b) Ainda que assim se não entenda, apontam claramente para a anuência e aceitação tácita dos AA. relativamente à actividade exercida pelo R. no locado; (c) Ao exercer o direito de resolução, pretextando um uso do locado para fim diverso por parte do R., sendo certo que há mais de 20 anos os AA. assistem diariamente, nunca tendo reagido, actuam com manifesto abuso de direito; (d) Deve ser negado provimento ao recurso. 4. Ficou provado: (1) são os donos do prédio urbano sito na Rua do Almada 594/96, Porto, desc. C. Reg. P. Porto, nº11 760, Lv. B48, insc. matriz predial urbana, Cedofeita, artº1 456; (2) Em 78.07.20, os AA. arrendaram ao R. o rés-do-chão do referido prédio, pela renda anual de Pte. 60 000$00 paga em 2

duodécimos de Pte.5000$00, para instalação de um armazém de papel, conforme consta da escritura pública a que foi reduzido o contrato; (3) Por virtude das actualizações legais, a renda passou a ser de Pte. 180 000$00, paga em duodécimos de Pte. 15 000$00; (4) O R. colocou no armazém vários tubos de metal, ferros, tábuas de madeira uma plaina mecânica, duas escadas, fios eléctricos e garrafas de vinho; (5) Desde pelo menos 1980, o R. passou a exercer no locado, por vezes a actividade de carpintaria; (6) Os AA., desde pelo menos 1978, residem por cima do rés-do-chão alugado ao R.; (7) O A. marido dispõem de uma chave do locado, enquanto o contador da água do prédio se encontra no rés-do-chão. 5. A decisão recorrida tomou como pontos de apoio: (1) O arrendamento ajuizado não é de considerar arrendamento comercial, por ter como objecto um armazém, simplesmente, sem expressa indicação de relacionamento com o comércio ou indústria do inquilino 4; (2) É-lhe aplicável por conseguinte o regime geral da locação civil5; (3) Mas não se apurou que no rés do chão em causa nada se guardasse há mais de um ano6; 4 Cit. Ac.STJ, 95.05.23; AcRP 90.09.20; AcRL, 96.07.11, P.internet DGSI. 5 Cit Ac.RP, 99.01.21: o arrendamento de local para armazém só pode ser abrangido pelo RAU na hipótese de integrar arrendam ento destinado a comércio, indústria ou profissão liberal; de contrário, aplica-se-lhe o regime geral da locação civil [arts 1022 e 1063 CC]. 6 Cit. AcRP 90.04.05: I. tem por fim outra aplicação licita o arrendamento de um rés do chão para armazém, desde que se não prove que se destinava a armazenar mercadorias á actividade comercial do arrendatário; II.verfica-se a causa de resolução do art.1093/1i, 1ª parte CC, se no rés do chão arrendado para armazém há mais de um ano nada se guarda; 3

(4) Contudo, não resulta que os AA. tenham autorizado a actividade desenvolvida, ou seja, o R. não logrou demonstrar este contra-motivo, como lhe competia; (5) A questão a resolver consiste pois em apurar se a actividade que o R. desenvolve no locado pode ser enquadrada nos fins do contrato de arrendamento ainda que implicitamente; (6) E, a armazenagem de tábuas de madeira por si só não determina a alteração do fim do locado, dada a proximidade da sua constituição /origem com a do papel; (7) Mas a verdade é que se desconhece há quanto tempo tal actividade é realizada pelo R., i.é., não tem o tribunal elementos para concluir se tal actividade é ou não duradoura; (8) Ora, sem esta circunstância, sem se saber se a armazenagem foi permanente ou duradoura, ou continuada no tempo, ou se se trata de acto esporádico ou pontual, não se poderá resolver o contrato com base nos factos em análise. 7 (9) No que diz respeito, por fim, ao evento do exercício pelo R. no locado, e por vezes, da actividade de carpintaria... essa actividade por si só não altera o fim do contrato, uma vez que o locatário continua a utilizar o locado como armazém, tendo deste modo a actividade em causa carácter acessório8. 6. O recurso está pronto para julgamento. 7. A sentença recorrida acabou por se firmar num conceito de objecto da actividade locativa tão amplo que abrange o próprio processo industrial de produção do papel. Assim, se o papel deriva, por fabricação, da madeira, logo, as tábuas, como matéria prima do papel, cabem nas matérias similares do próprio papel. 7 Cit. AcRE 97.07.01, Cj, 1997, IV/264. 8 Cit. Lobo Xavier, RLJ 156. 4

Estão, por conseguinte, abrangidas no concorde desígnio do arrendamento, tal como ficou vertido no escrito contratual. Não pode evidentemente sufragar-se entendimento tão amplo: armazém de madeiras, segundo a prudência e os hábitos sociais comuns (p.ex., do mercado do arrendamento), não é o mesmo que armazém de papel. Em todo o caso, não é esta discordância que fará emergir uma solução diferente para o pleito. Aceita-se que se trata, apesar de tudo, de uma mera locação civil, onde o fim da entrega, recebimento e ocupação do locado não tem a característica recortada, essencial e que preside aos arrendamentos para habitação ou comerciais: justamente por terem estes fins particulares, comércio, habitação, ou outras subfinalidades inscritas naqueles âmbitos, é que se trata de vício contratual resolutivo aquando da elisão do concreto destino do prédio: são aquelas finalidades em espécie que estabelecem embora um regime legal específico e restritivo para o contrato. Na locação civil, importa reter o conceito de armazém: o locado foi concretamente disponibilizado para armazém, e a partir daí se estabelece, p.ex., e desde logo o estalão dos vícios da coisa. Servindo esta comodamente, também a actividade do locatário, aí, no locado, tem de ser acomodada ao prédio, mas escusa de ser esta ou aquela em concreto, adentro do armazenamento: o regime legal não se altera por isso, não apresenta logo qualquer especialidade. Armazém e servir de armazém é o que se nos demonstra como parâmetro central da vigência e vicissitudes do convénio. Deste modo, apenas teria havido incumprimento do locatário se este tivesse desusado o prédio locado, deixado de todo o armazenamento do que quer que fosse, como se não provou (mas excepção feita aos casos particulares de materiais de armazém para que os Regulamentos exigem condicionamento específico). Contudo, na locação civil é permitida a denúncia por parte do senhorio, apenas condicionada ao prazo de comunicação ao inquilino, segundo o período contratual, art. 1055/1 CC. 5

Poderá a citação, neste despejo e nestas circunstâncias, não deixar de ter sido uma manifestação clara, para com o R. e inquilino, da vontade de o senhorio pôr fim ao contrato? Entendemos que a resposta afirmativa se iria inscrever num campo de ambiguidade, portador de insegurança incontornável: em boa verdade, ao senhorio, que pede a resolução judicial do contrato por incumprimento da parte contrária, sempre resta um campo de complacência, no qual subsiste a possibilidade de se decidir pela manutenção do contrato, acaso seja (bem) convencido de não ter enfrentado afinal uma má-prática do inquilino. Deste modo, a propositura da acção é unívoca e só unívoca quanto ao pedido de resolução, e pelo motivo eleito na p.i. Em consequência, não há razão para alterar a decisão recorrida. 8. Atento o exposto, vistos os arts. 1022, 1031b, 1038c e 1047 CC, decidem manter inteiramente a sentença de 1ª instância. 9. Custas pelos Ap.es, sucumbentes. 6