(a) O Rq.o não se encontra matriculado como comerciante;
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- Fernando Angelim Casqueira
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1 PN ; Ap.: TC. Sto. Tirso; Ap.e2: BCP, Ap.o: Acordam no Tribunal da Relação do Porto 1. O Ap.e instaurou procedimento falimentar contra o Ap.o, alegando em síntese: (a) É credor do Rq.o pelo montante do capital mutuado: Pte $00; (b) Na sequência de execução que lhe moveu, o Rq.o foi citado editalmente, uma vez que se ausentou para parte incerta do Brasil: nem pôde concretizar-se a penhora; (c) Na verdade, não tem património que lhe permita cumprir as obrigações assumidas perante o Rq.e e demais credores; (d) Está impossibilitado de honrar pontualmente a generalidade destas; (e) Por conseguinte, encontra-se em situação de insolvência, tendo entrado definitivamente em mora; (f) Estão preenchidos todos os requisitos do art. 8º /1 a. 3 CPEREF, para que a falência do Rq.o seja decretada. 2. Antes de ter sido ordenada a citação, ficou apurado: (a) O Rq.o não se encontra matriculado como comerciante; 1 Vistos: Dr. ). 2 Adv.: Dr. A. 1
2 (b) Esteve colectado pela Rep. Finanças, Trofa, com inicio em , pela actividade de comércio e reparação de automóveis; (c) Em , foi anotada oficiosamente a cessação da actividade, nos termos do art. 33º /2 CIVA; (d) Ausentou-se da localidade da Trofa para parte incerta do país ou do estrangeiro; (e) Os créditos invocados pelo Rq.e, titulados por livranças, venceram-se durante os anos de 1985, 1986, e 1987; (f) O descoberto na conta de depósito à ordem do Rq.e, remonta há pelo menos 5 anos, tomando por referência a data da propositura ( ). 3. A decisão recorrida, ao abrigo dos art.s 9º CPEREF, 493º /3 e 496º CPC, absolveu o Rq.o do pedido (excepção peremptória de caducidade do direito de requerer a falência, de conhecimento oficioso3): (a) O Rq.o cessou a actividade comercial (conhecida) a que se dedicava em , não se encontrando matriculado como comerciante em nome individual, sendo desconhecido o seu actual paradeiro, e não constando que exerça qualquer outra actividade; (b) Verifica-se que os créditos da Rq.e, titulado por livranças, se venceram, há mais de 10 anos, tomando por referência a data da propositura ( ); (c) E no que respeita ao invocado descoberto na conta de depósito à ordem do Rq.o, remonta há pelo menos 5 anos atrás; (d) No caso do devedor ter cessado a sua actividade, a falência pode ser requerida por qualquer credor interessado, ou pelo MP. dentro do ano posterior à ocorrência de qualquer dos factos-ìndices, quer a situação de insolvência se tenha revelado antes, quer depois; (e) Este prazo é de caducidade, não respeitando a matéria da disponibilidade das partes; 3 Cit. em abono Ac STJ, , BMJ 239 /112; Ac RP, , BMJ 466 /588; Fernandes & Labareda, CPEREF Anotado, Quid Juris?, pp. 88/89, nota 6ª ao art. 9º. 2
3 (f) Assim sendo, operou em benefício do Rq.o a caducidade do direito de requerer a falência. 4. Inconformado, concluiu o Ap.e: (a) A decisão recorrida fez errada interpretação das regras contidas nos art.s 9º CPEREF, 493º e 496º CPC; (b) Tais regras têm de ser conjugadas com o que se preceitua-a nos art.s 298º /2, 303º, 333º /1 e 342º /2 CC; (c) A caducidade, na fase processual em que foi conhecida, não é de conhecimento oficioso, e antes tem de ser invocada por aquele a quem aproveita, pelo representante ou, tratando-se de incapaz, pelo MP., aplicando-se o regime do art. 303º CC; (d) O Rq.o não invocou tal excepção, como nem sequer deduziu oposição ao pedido de falência; (e) No caso dos autos, a caducidade está estabelecida em matéria subtraída à indisponibilidade das partes, pois que, nesta fase processual, não tendo ainda sido proferida sentença a declarar a falência, e não tendo sido alegados factos de índole criminal4, não existem interesses de ordem pública que impeçam o Rq.e de desistir do pedido ou da instância; (f) Assim é indiscutível in casu que se está no âmbito dos direitos disponíveis quer dos credores quer do MP.; (g) A sentença recorrida reconhece implicitamente que a situação de incumprimento do Rq.o, tal como vem definida no art. 8º /1 a CPEREF, ocorre no caso em apreço; (h) Porque não há lugar ao conhecimento oficioso da caducidade, devem os autos prosseguir com vista ao despacho a que alude o art. 25º CPEREF, se se verificarem os pressupostos legais de insolvência do Rq.o, revelada pela situação alegada, na PI, e da inviabilidade económica da empresa, cumpridas ainda antes 4 Vide art.s 325º 327 CP. 3
4 as formalidades que a lei impõe, nomeadamente no art. 20º do mesmo diploma legal; (i) Deve ser revogada a decisão recorrida e substituída por outra no sentido apontado. 5. O recurso está pronto para julgamento. 6. O recorrente defende a tese acolhida no Ac RC, , CJ 98, II/34: a caducidade do direito de requerer a falência, prevista no art.9º CPEREF, não é de conhecimento oficioso, devendo ser invocada pelo oponente da falência, como facto extintivo do direito. Funda-se o aresto na diferença substancial do novo regime, por contraposição com o do art. 1175º CPC, que estabelecia prazo geral de caducidade de três anos, contados da ocorrência dos respectivos fundamentos, para o requerimento da falência. E buscando apoio em & avançou: contrariamente ao que antes acontecia, não é estabelecido um prazo de caducidade; Enquanto se verificar a situação, é possível requerer a falência, desde que tenha ocorrido qualquer dos eventos do art. 8º CPEREF. Apenas há excepção nos casos de morte ou cessação da actividade do devedor em que foi fixado um prazo para o exercício do direito de requerer a falência, nunca podendo exceder um ano após a verificação dos factos índices. 4
5 Tratando-se, na verdade, aqui de prazo de caducidade, porém o art. 127º /1 CPEREF, prevê que o requerente da falência possa desistir do pedido ou da Instância até ser proferida a sentença, salvo quando se tenham alegado factos indiciadores da prática dos crimes de falência fraudulenta ou com culpa grave. E não obstante, após o proferimento da sentença declaratória da falência já não haver lugar, em circunstância alguma, à desistência, certo é que antes disso, defende o citado acórdão, não prevalecer interesse de ordem pública, e estarmos então no domínio dos direitos disponíveis por parte dos credores ou do MP: daí emerge o corolário de estar excluído o conhecimento oficioso da caducidade de tal direito, nestas circunstâncias. Todavia já no domínio de regulação do regime falimentar pelo CPC estava prevista a possibilidade de desistência do pedido (art. 1180º /2 CPC), e a doutrina e a jurisprudência insistiam no entanto em tratar-se, ainda nesta hipótese, de prazo de caducidade estabelecido no domínio da indisponibilidade. Por exemplo, Ac STJ, , BMJ 239 /112: não oferece dúvidas que os interesses tutelados pela declaração de falência, quer no tocante ao comerciante a que respeite, quer em relação aos seus credores transcendem os meramente particulares de cada um destes, e portanto do que tomou a iniciativa de suscitá-la. E porque só suscitando-a poderia realizar aquele mesmo direito, visto que a Lei o sujeita a apreciação jurisdicional, corroborado se acha que se trata de direito indisponível (Lima & Varela, Código Anotado, I p. 215). A desistência do pedido é admissível decerto quando se inscreva na afirmação da vontade das partes relativamente a direitos disponíveis (art. 299º CPC), mas isso não quer dizer que não possa ser estabelecida, por lei, em quadros díspares, como solução excepcional, ou que seja pensada adentro de balizas possivelmente mais amplas, como nos parece ter acontecido, desde logo, pela própria necessidade que o legislador teve de estabelecer uma regulamentação específica no caso da falência: surge até como um regime descentrado, tendo-se em consideração os diferentes pontos de vista do apresentante ou requerente. Presentes os argumentos do Ac STJ também já citado, haverá maior congruência, perante o argumento que acaba de ser trazido à discussão, em manter a tese tradicional de que a caducidade é do conhecimento oficioso, porque o critério de 5
6 distinção entre disponibilidade e indisponibilidade se mostra mais preciso e recortado no ordenamento, encarado de forma global. A falência constitui-se num instituto de protecção de todos os credores, tendo em vista a rápida regularização do tráfego como valor adjunto ao exercício patrimonial. Daí a natureza preclusiva dos prazos para requerer a falência, quando são estabelecidos na lei, mais ou menos restritivamente; se não forem cumpridos, elide-se a pertinência do sistema normativo que a rege. E esta posição adere aos dados doutrinais que no sentido de uma caducidade em sentido forte, nestes casos, tem: vindo a ser avançada desde, p.ex.,, até, mais recentemente, :: não é de sufragar a doutrina do Ac. RC, , segundo o qual a caducidade do direito de requerer a falência não é de conhecimento oficioso; na verdade, não sendo matéria na disponibilidade das partes, é aplicável o regime consignado no artº 333CC Em suma, o requerente da falência age não só em benefício próprio como dos outros credores e de uma concreta função social estatutária. Logo, cumprindo um desígnio da colectividade, de segurança e fluidez9 da vida económica. Por isso concluímos que não convence a posição radicada na possibilidade de o credor requerente da falência poder desistir do pedido, ou da instância, antes da declaração de falência: a impossibilidade legal de o fazer depois disso tem maior força caracterizadora no sentido da qualificação como indisponíveis dos interesses subjacentes. Trata-se aqui então, na contra-lógica da posição do Ap.e, da verificação de uma caducidade do conhecimento oficioso. Deste modo não pode sofrer qualquer crítica a decisão recorrida. 7. Assim sendo, vistos os artigos 298/2, 333/1 CC, 9 CPEREF, 493 e 496 CPC, decidem confirmar inteiramente a sentença de 1ª instância. 5 Vide Costa, Ary Elias da, Das Falências, p. 12 ss. 6 Vide Macedo, Pedro de Sousa, Manual de Direito das Falências, I, 1964, p. 249 ss. 7 vide nota 3. 8 Na Jurisprudência, vd., para além dos ac.s cit. nota 3, ac. STJ, (Correia Guedes), BMJ 186/176: compreende- se que assim seja, visto que a segurança das situações e relações jurídicas impõem que passado o prazo... sobre a cessação dum comércio por um comerciante, não seja possível declarar a sua falência... podendo apenas os credores valer-se de um processo comum de execução. 6
7 8. Custas pelo Ap.e, sucumbente. 9 Quanto a este tópico, os dados da causa, invalidam qualquer pertinência do pedido, sem dúvidas, vd. 2.(c). 7
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