1 1- Prof. João Baptista Borges PEREIRA
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1 .1 l 1 3? 1 1- : : Prof. João Baptsta Borges PERERA Quero agradecer aos organzadores deste evento, desta mesaredonda, por haver me convdado a partcpar desta homenagem ao Prof. Pasquale Petrone, dando-me oportundade de encontrar meus colegas, alunos de Geografa e, acma de tudo, de poder falar a respeto do Prof. Pasquale. Confesso que não se se estou no campo da Hstóra ou da Memóra. A verdade é que anda estou num tempo muto atual. Para mm, pelo menos, a mpressão é a de que o tempo anda não passou. Dra que a presença do Prof. Pasquale Petrone em mnha vda acadêmca pode ser, de certa manera, balzada dentro de três nstantes: enquanto estudante de Cêncas Socas; em seguda, o meu contato com ele prosseguu quando passe a assstente nesta Unversdade até a mnha Lvre-Docênca; posterormente, quando o tve como meu colega de Congregação e de outros colegados. 1; 1!.! Como meu professor, Pasquale Petrone faza uma admrável dupla com a Profa. Nce Lecocq Mílller, logo na entrada, aqu no saguão da Mara Antôna, à dreta, numa saleta que era usada por ambos e pelos professores Dva Benevdes Pnto e Francsco Camargo. Essa referênca é, na mnha opnão, mportante, porque os alunos, meus colegas, muto sensíves a qualquer dferença, mostravam-se muto preocupados em caracterzar os professores e logo começaram a estabelecer uma dferença entre o professor que falava apaxonadamente, com gestos largos, acompanhando com precsão as palavras, e aquele professor que falava desapaxonadamente, com gestos que não correspondam muto às palavras. í!
2 r João Baptsta Borges Perera O Prof. Petrone estava na prmera categora, Quer dzer, aquele professor que nós conhecíamos como sendo o professor que falava com muta paxão da sua matéra, que usava gestos largos, porém precsos, acompanhando a sua ddátca ao expor suas aulas. Eu, que vera (vou dar mnha experênca) do ensno secundáro com uma grande resstênca à Geografa que conhecera, confesso que entre para assstr às aulas do Prof, Pasquale Petrone e da Profa. Nce Lecocq Mtller com absoluta falta de vontade. magnava que ra contnuar com aquela Geografa que me causava e me causa, anda hoje, certa repulsa. E encontre aulas de uma Geografa extremamente atraente. De uma Geografa que nos catvou a todos, e a mm partcularmente. E, de repente, eu que andava muto preocupado com trabalhos de Pscologa Socal, prncpalmente com os trabalhos orentados pelo Prof, Otto Kleneberg, em que -esse autor relaconava o complexo língua/pensamento ao ecúmeno, à pasagem, comece a me entusasmar com sso, a perceber nas aulas do Prof. Pasquale Petrone um sentdo dentro da Geografa, que eu não hava percebdo até então. E daí a acetar a Geografa, ncorporá-la como sendo uma matéra mportante para a mnha formação, fo um passo muto rápdo. Lembro-me que a saudosa Profa, Goconda Mussoln sempre me dza que admrava dos professores desta Faculdade, de um modo muto especal. Um deles era o Prof. Pasquale Petrone, porque ele consegua realmente alcar alunos para a Geografa, despertar vocações, o que eu acho excepconal, e fazer com que eles se apaxonassem pela matéra de tal forma que começavam a revalorzar, dentro das Cêncas Socas, o campo da Geografa, neste caso, da Geografa Humana. Essa fo a mpressão que me fcou do Prof. Pasquale Petrone enquanto professor de Geografa. Alguém que conseguu me convencer de que Geografa era uma matéra muto atraente, chegando a colo- 28
3 > r BOLETM PAULSTA DE GEOGRAFA, n. 75 car-me numa stuação de dúvda sobre que carrera segur: se a Socologa ou a Geografa, através da Geografa Humana.Só que, nesse meotempo, entra a Antropologa, que me permtu, de certa forma, fcar próxmo da Geografa Humana, sem abandonar a Socologa. Nunca perd de vsta, evdentemente, o Prof. Pasquale Petrone e muto menos dexe de lado as lções que tve com ele, as suas experêncas contadas em classe. Mas, quando entre para o ensno superor, na UNESP, ou o que sera posterormente a UNESP, lá na Faculdade de Flosofa de Presdente Prudente, assum a cadera de Antropologa e Etnologa no Brasl. Naquela nsttução, para mnha surpresa absoluta, passe a ser de medato chefe do Departamento de Geografa, porque esta função era exercda por rodízo. De repente, v-me chefando geógrafos em Presdente Prudente. A presença muto forte lá era de dos professores- o Prof. Araújo e o Prof. Petrone. Esses eram os gurus de meu colegas, entre os quas estavam o Ttarell, que veo aqu para a USP, Alvanr de Fgueredo, Fernando Fonseca Salgado, que, se não me engano, foram seus orentandos. Pos bem, o Departamento de Geografa, que eu chefava, era uma espéce de prolongamento do Departamento de Geografa da USP, através das fguras do Prof. Pasquale Petrone, e, evdentemente do Prof. Araújo. A Geografa voltou a bater forte em mm, porque descobr o outro lado da Geografa. Era a Geografa meo aventurera, meo lúdca, muto trabalhosa, mas lúdca. Aquela Geografa das expedções, das escapadas de fm-de-semana, para saber se aquele morro, que o Prof. João Das afrmara ser morro, lá no Pontal do Paranapa- 29
4 1 João Baptsta Borges Perera nema, era morro ou era serra. Como antropólogo, adorava realmente essas expedções, só que quando chegava lá, não tnha coragem de escalar nem morro e muto menos serra. Armava mnha rede e, junto j com o Prof. Max Boudn, escolhíamos o melhor lugar do Pontal do ( Paranapanema, para admrar as centenas e centenas de borboletas, de todas as cores. De qualquer manera, mperceptvelmente, fu-me mpregnando de Geografa. A conversa era sobre Geografa, o refe- rencal era Geografa, os meus nterlocutores eram de Geografa. E o Pasquale Petrone estava lá, evdentemente, na voz dos seus orentandos. Volto a São Paulo ecomeço uma nova carrera na Unversdade de São Paulo, na cadera de Antropologa. Na época, estava vvamente nteressado em duas cosas. Prmera, no núcleo de colonzação talana de pós-guerra, stuado a 550 km de São Paulo, nas margens do Ro Paranapanema. Era uma pesqusa de campo. Depos, em povoamentos ndígenas, porque eu tnha recebdo como mssão da Cadera de Antropologa fazer um trabalho junto aos índos do ltoral j de São Paulo. O Prof. Schaden, meu catedrátco, me mostrou a outra faceta do Prof. Pasquale Petrone, que honestamente eu não conheca, aquela revelada pela sua tese de lvre-docênca: Lea a tese do Pasquale Petrone, dza-me Schaden, porque lá você va ter todas as nformações a respeto deste assunto pelo qual você se nteressa. Consegur essa tese fo um sacrfíco. Consegu, mas com muta dfculdade. Se não me engano, o Prof. Schaden fo seu examnador. E ele tnha a tese, mas para usar uma expressão de mnha terra, ele a redcava volentamente, e a gentesó poda consultá-la na casa dele por que ele dza: Não se se algum da esta tese será publcada. E completava com aquela voz, com aquele tmbre nconfundível: Por causa do autor. Tudo bem. Então, conhec a tese de lvre-docênca do Prof. 30
5 . 1 BOLETM PAULSTA DE GEOGRAFA, n Ê- 1.1 ú m tf?3.í JF t â :,r Ly Pasquale Petrone. E me torne fã dessa tese, de tal manera, que eu persegua sempre o Prof. Pasquale Petrone, propondo-lhe que a publcasse. Quando assum a dretóra do EB, hava um programa de publcações. Schaden, que hava sdo o segundo dretor do nsttuto me telefonou, recomendando-me: Olha, o prmero da pauta é a tese do Pasquale Petrone, mas pegue o homem a laço. Das depos, encontre o Prof. Pasquale Petrone no saguão do prédo de Geografa e Hstóra e novamente fale com ele. Ele dsse: Absolutamente. Dexe pra lá, algum da, quem sabe. Eeu não consegu realmente convencê-lo a publcar esse trabalho, que, para a Antropologa, é um trabalho de nestmável valor. Sem falar, evdentemente, no que representa para a Hstóra e a Geografa. Neste ínterm, termne meu trabalho de lvre-docênca, mnha tese sobre Pedrnhas, que é um núcleo de talanos, e ped encarecídamente ao CTA (Conselho Técnco Admnstratvo-FFLCH-USP), que ndcava as Comssões Julgadoras, que ncluísse o nome do Prof. Pasquale Petrone na mnha banca. í í: s :=! Espere aqu, neste mesmo salão, a resposta. O Prof. Ru Coelho chegou muto desconcertado e dsse-me: João Baptsta, não consegu colocar o Pasquale Petrone, pos o colegado aprovou os nomes dos Professores Fernando Altenfelder Slva e Cânddo Procópo Ferrera de Camargo. Decepconado, dsse-lhe: Mas eu quera o Prof. Pasquale Petrone. Ele respondeu-me: A únca cosa que eu posso fazer, se você tver alguma restrção a estes dos nomes, é pedr revsão do CTA. Respond-lhe: Não, não faço restrção ao nome de nenhum desses professores, mas na verdade eu contnuo querendo o Pasquale Petrone. E assm fque sem o Prof. Pasquale Petrone na mnha banca. *: : 31
6 João Baptsta Borges Perera Termnada a mnha defesa e passado algum tempo, qus publcar o trabalho. Procure o Pasquale Petrone e ped-lhe que lesse o meu trabalho, lesse como geógrafo, como pessoa que eu admrava, com sua crítca, com sua capacdade de compreender os fenômenos de sua experênca de homem talano. Ele me pedu alguns das. Leu meu trabalho e me devolveu. E para mnha felcdade dsse: Olha, não tenho nenhuma restrção. Quando a dexando sua sala, ele me dsse: Um momentnho lá. Há dos pontos com os quas eu não concordo. Pedrnhas não é a contnuação do revestmento florístco dos campos de Mato Grosso e não é transumânca também. Eu trabalhara com o conceto de transumânca no uso da mão-de-obra nordestna. Ele nssttu: sto não é transumânca. Claro que leve em consderação essa crítca. Elmne a transumânca e coloque espéce de revestmento florístco, como se pudesse agradar a gregos e troanos. Mas esse estudo é profundamente mpregnado de Geografa, uma Geografa que começou a me nfluencar através do Prof. Pasquale Petrone. Ele está muto presente nas mnhas reflexões, porque realmente só comece a entender Geografa tal qual nós podemos aprovetá-la dentro da mnha vsão de mundo, a partr das aulas do Prof. Pasquale Petrone. O tempo passou. Voltamos a nos encontrar na Congregação: ele como ttular de Geografa e eu de Antropologa. E em todas as dscussões, altamente polêmcas, eu esperava que o Pasquale Petrone desse sua opnão, porque ele era a voz forte da Congregação. Era a sua palavra que dava os rumos ao colegado, a grande palavra, acatada pela Congregação. Petrone sabe, e meus colegas também, que ele fo sempre meu grande canddato a Dretor da Faculdade. Sempre fu seu eletor, sempre vote nele, sempre lute por ele. E, por razões que 32
7 m-: h : : W - m W - : m a : r $ ṭ -t. Ê a E P1 í a r sn Eí j l1 vl Sf: E j :! í oí BOLETM PAULSTA DE GEOGRAFA, n. 75 nnguém sabe explcar, acabe sendo o dretor da Faculdade. Na mnha prmera gestão, a prmera vsta que receboé a do Prof. Pasquale Petrone que, junto com o Prof. Araújo, vnha nterceder para que quatro professores- dos dos quas se encontram neste salão, o Nelson e a Judth de la Corte- pudessem ter valdados seus títulos de doutorado, que há quase 20 anos havam sdo defenddos junto à UNESP e não havam sdo reconhecdos pela Unversdade de São Paulo, confgurando-se na maor njustça pelos quas a nossa Faculdade já passou. Apoado nas nformações de ambos, negoce com o Prof. Goldenberg, em campanha eletoral: ele tera o meu voto, se assumsse o compromsso de rever a questão. E, assm, esses quatros professores tveram, depos de algum tempo, na gestão do Retor Goldenberg, a reparação da njustça. Aí estava a marca do lutador e dealsta Prof. Pasquale Petrone. De repente ele se aposentou (surpreendentemente, pelo menos para mm), anda jovem, em plenas condções de dar o melhor que sempre pode dar. A partr de então, nossos encontros rarearam. Vez ou outra encontrava-me com ele no sttuto talano d Cultura, onde, admtamos, não somos conselheros assíduos. E nos encontrávamos, às vezes, também em nossa Faculdade. Em compensação, com mas frequênca, encontrava-me com a Profa. Mara Tereza Petrone, que está aqu conosco. E eu, nvaravelmente, lhe perguntava: E o uomot E ela também, nvaravelmente, me responda: Bene, benssmov.que assm seja, que assm contnue sendo! 33
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