EVOLUÇÃO DO CRÉDITO E JUROS EM 2002
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- Rubens Fagundes
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1 EVOLUÇÃO DO CRÉDITO E JUROS EM 02 Ao longo de 02, o financiamento doméstico da economia brasileira foi marcado pelo conservadorismo das instituições financeiras na concessão de crédito, o que se traduziu em volumes reduzidos, prazos curtos e custos elevados. O Brasil manteve a característica de ser um país de baixa relação entre o crédito concedido pelo sistema financeiro e o PIB, o que restringe o crescimento econômico. Igualmente, é um dos países de maior taxa básica de juros e spreads bancários. De acordo com os dados preliminares divulgados pelo Banco Central, a relação crédito/pib caiu de 26,4% em dezembro de 01 para 24% em dezembro de 02. O crédito industrial que correspondia a apenas 8% do PIB retraiu-se para 7,5% no mesmo período. Evolução das Operações de Crédito ao Setor Privado Em dezembro de 02, o volume das operações de crédito do sistema financeiro atingiu R$ 377,8 bilhões, dos quais 97% foram direcionados ao setor privado. Embora tenha ocorrido em 02 uma elevação nominal dos estoques do crédito ao setor privado da ordem de 13,9%, este aumento reflete muito mais o impacto da desvalorização cambial sobre a parcela dos empréstimos indexados à variação cambial do que uma expansão efetiva do volume de crédito concedido. O baixo volume de crédito permanece como um dos principais obstáculos ao crescimento da economia brasileira. A relação crédito/pib é um dos principais indicadores da capacidade de crescimento de um país, pois, quanto maior for o volume de empréstimos concedido às empresas e às famílias, mais recursos serão destinados ao investimento e ao consumo, estimulando assim o nível de atividade. Em 02, a proporção entre o total de crédito e o PIB diminuiu ainda mais em comparação com os dois anos anteriores, situando-se em 24% contra 26,8% em dezembro de 01 e 28,1% em dezembro de 00. Evolução do Crédito e Juros em 02 1
2 0 Empréstimos do Sistema Financeiro ao Setor Privado e ao Setor Público Em R$ Bilhões - Saldos em Final de Período jan/98 mar/98 mai/98 jul/98 set/98 nov/98 jan/99 mar/99 mai/99 jul/99 set/99 nov/99 jan/00 Mar/00 Mai/00 Jul/00 Set/00 Nov/00 Jan/01 Mar/01 Mai/01 Jul/01 Set/01 Nov/01 Jan/02 Mar/02 Mai/02 Jul/02 Set/02 Nov/02* Setor Público Setor Privado Total Geral Nota: * A partir de Outubro de 02, dados preliminares. 35 Operações de Crédito do Sistema Financeiro em % do PIB Jun/00 Jul/00 Ago/00 Set/00 Out/00 Nov/00 Dez/00 Jan/01 Fev/01 Mar/01 Abr/01 Mai/01 Jun/01 Jul/01 Ago/01 Set/01 Out/01 Nov/01 Dez/01 Jan/02 Fev/02 Mar/02 Abr/02 Mai/02 Jun/02 Jul/02 Ago/02 Set/02 Out/02* Nov/02* Dez/02* Recursos Direcionados Recursos Livres Total Nota: * Estimativa do Banco Central para o PIB dos 12 últimos meses a preços do mês assinalado, a partir de dados anuais do IBGE, com base no IGP-DI centrado. Evolução do Crédito e Juros em 02 2
3 As altas taxas de juros praticadas pelo sistema financeiro afastaram do mercado de crédito tanto pessoas físicas como empresas, que evitaram contrair dívidas. Ao mesmo tempo, os bancos preferiram adquirir títulos da dívida pública federal a expandir suas carteiras de empréstimos, adotando um comportamento conservador no que diz respeito à assunção de riscos. O mercado de crédito bancário brasileiro manteve ao longo de 02 as suas características básicas: elevados spreads (diferença entre a taxas médias de captação e de aplicação das instituições financeiras), em particular para as pessoas físicas, e reduzido prazo médio das operações. Os bancos argumentam que os spreads refletem, além do custo fiscal e do recolhimento compulsório de reservas junto ao Banco Central, o nível de inadimplência. Porém a redução do grau de inadimplência a partir de maio de 02, tanto para pessoas físicas como pessoas jurídicas, não foi acompanhada por uma diminuição das taxas de juros cobradas pelos bancos em suas operações de crédito, como revelam os spreads expressivos praticados. No que se refere ao prazo das operações de crédito, no caso das pessoas jurídicas, o prazo médio situou-se abaixo dos seis meses, enquanto para pessoas físicas oscilou entre 315 e 319 dias, aquém, todavia, do prazo médio observado em Evolução dos Spreads em % Jun/00 Ago/00 Out/00 Dez/00 Fev/01 Abr/01 Jun/01 Ago/01 Out/01 Dez/01 Fev/02 Abr/02 Jun/02 Ago/02 Out/02* Dez/02* Pessoa Jurídica Pessoa Física Total Evolução do Crédito e Juros em 02 3
4 450 Empréstimos Concedidos por Tipo de Tomador Prazo Médio em Dias Corridos Jun/00 Jul/00 Ago/00 Set/00 Out/00 Nov/00 Dez/00 Jan/01 Fev/01 Mar/01 Abr/01 Mai/01 Jun/01 Jul/01 Ago/01 Set/01 Out/01 Nov/01 Dez/01 Jan/02 Fev/02 Mar/02 Abr/02 Mai/02 Jun/02 Jul/02 Ago/02 Set/02 Out/02* Nov/02* Dez/02* Pessoa Jurídica Pessoa Física Total Nota: * A partir de Outubro de 02, dados preliminares. 18 Grau de Inadimplência no Sistema Financeiro Brasileiro por Categoria de Tomador - Em % Jun/00 Jul/00 Ago/00 Set/00 Out/00 Nov/00 Dez/00 Jan/01 Fev/01 Mar/01 Abr/01 Mai/01 Jun/01 Jul/01 Ago/01 Set/01 Out/01 Nov/01 Dez/01 Jan/02 Fev/02 Mar/02 Abr/02 Mai/02 Jun/02 Jul/02 Ago/02 Set/02 Out/02* Nov/02* Dez/02* Pessoa Jurídica Pessoa Física Total Nota: * A partir de Outubro de 02, dados preliminares. Evolução do Crédito e Juros em 02 4
5 No ano de 02, observa-se que, dentre as modalidades de crédito concedido às pessoas jurídicas, destacaram-se as operações de capital de giro e de Adiantamento de Contrato de Câmbio (ACC). A primeira modalidade cresceu em resultado das dificuldades de obtenção de linhas externas em condições mais vantajosas, que se traduziu na retração dos repasses externos. Já a expansão das operações de ACC explica-se pelo contexto de volatilidade do câmbio, o que estimulou as empresas a buscarem ganhos com a apreciação cambial, antecipando o fechamento de contratos em moeda estrangeira. Empréstimos concedido a Pessoas Jurídicas por Modalidades Selecionadas Em R$ Bilhões - Saldo em Fins de Período Jan/01 Fev/01 Mar/01 Abr/01 Mai/01 Jun/01 Jul/01 Ago/01 Set/01 Out/01 Nov/01 Dez/01 Jan/02 Fev/02 Mar/02 Abr/02 Mai/02 Jun/02 Jul/02 Ago/02 Set/02 Out/02* Nov/02* Dez/02* Desconto Duplicatas Capital de Giro Conta Garantida ACC Repasses Externos Outros Nota: * A partir de Outubro de 02, dados preliminares. Volume de Crédito e Taxa de Juros: Brasil e Demais Países Como já mencionado, no Brasil, o volume de crédito disponível para o financiamento da economia é reduzido e constitui um sério obstáculo à retomada do crescimento. Esta restrição fica evidente quando se compara o volume de crédito do sistema financeiro concedido ao setor privado em proporção do PIB no Brasil e em países industrializados e em desenvolvimento. A proporção crédito/pib brasileira só não é inferior à da Argentina e à da Turquia, países que nos últimos anos vêem enfrentando sérias dificuldades macroeconômicas. Ressalte-se que mesmo em países onde existe um mercado de capitais maduro e profundo, como é o caso dos Evolução do Crédito e Juros em 02 5
6 Estados Unidos e do Reino Unido, o que indica a existência de fontes alternativas de financiamento para o setor privado, o crédito bancário é expressivo, sendo a relação crédito/pib bastante superior à do Brasil. Países Selecionados Crédito do Sistema Financeiro ao Setor Privado, Em % do PIB Países em Desenvolvimento Argentina 24,9 23,9,8 Brasil 36,3 35,1 34,7 Coréia do Sul 82,2 89,8 97,8 Chile 62,3 63,5 65,9 China 1,8 124,6 123,5 Cingapura 7,2 99,5 1,6 Colômbia 33,6 26,9 25,1 Coréia do Sul 82,2 89,8 97,8 Hungria 26,1 32,3 33,8 Índia 26,2 29,0... Indonésia,6 21,6,5 Malásia 8,4 2,8 8,9 México 16,3 13,0 11,5 Peru 28,6 25,9 24,3 Polônia 22,4 24,5 25,5 República Checa 61,0 54,0 44,4 Tailândia 132,1 8,7 97,5 Turquia 22,5 23,7,6 Países Desenvolvidos Austrália 87,6 90,7 92,3 Canadá 82,3 78,5 81,3 Estados Unidos 71,4 74,1 76,9 Japão 1,8 190,7 186,7 Reino Unido 121,2 132,0 138,5 Fonte: Fundo Monetário Internacional, International Financial Statistics, January, 03. Elaboração Própria. Na comparação internacional, o Brasil destaca-se também negativamente pelo elevado patamar da taxa básica de juros de curto prazo e pelo nível elevado do spread bancário praticado. Como revelam os dados do FMI para o terceiro trimestre de 02, dentre os países selecionados, apenas na Venezuela e na Turquia as autoridades monetárias fixavam a taxa de juros num patamar superior ao adotado no Brasil. No que se refere aos spreads bancários praticados, o sistema bancário brasileiro destaca-se como o que concede empréstimos a taxas mais elevadas, dentre o conjunto de países selecionados, sejam industrializados, sejam em desenvolvimento. Evolução do Crédito e Juros em 02 6
7 48 Brasil e Países Industrializados - Taxa Básica de Juros de Curto Prazo Em % a.a. - Final do Período T1 1999T2 1999T3 1999T4 00T1 00T2 00T3 00T4 01T1 01T2 01T3 01T4 02T1 02T2 02T3 Brasil Área do Euro Canadá Estados Unidos Japão Fonte: Fundo Monetário Internacional, International Finance Statistics, January, 03. Elaboração própria. 64 Brasil e Países Latino-americanos - Taxa de Juros Básica de Curto Prazo Em % a.a. - Final de Período T1 1999T2 1999T3 1999T4 00T1 00T2 00T3 00T4 01T1 01T2 01T3 01T4 02T1 02T2 02T3 Brasil Chile Colômbia Venezuela Fonte: Fundo Monetário Internacional, International Finance Statistics, January, 03. Elaboração Própria. Evolução do Crédito e Juros em 02 7
8 70 Brasil e Países em Desenvolvimento Selecionados Taxa Básica de Juros de Curto Prazo - Em % a.a. - Final do Período T1 1999T2 1999T3 1999T4 00T1 00T2 00T3 00T4 01T1 01T2 01T3 01T4 02T1 02T2 02T3 Brasil Africa do Sul Índia Indonésia Rússia Tailândia Turquia Fonte: Fundo Monetário Internacional, International Finance Statistics, January, 03. Elaboração Própria. 60 Brasil e Países Industrializados Selecionados - Spread nas Operações de Crédito Domésticas (% aa no final do período) T1 1999T2 1999T3 1999T4 00T1 00T2 00T3 00T4 01T1 01T2 01T3 01T4 02T1 02T2 02T3 Brasil Área do Euro Canadá Estados Unidos Japão Fonte: Fundo Monetário Internacional, International Finance Statistics, January, 03. Elaboração Própria. Evolução do Crédito e Juros em 02 8
9 60 Brasil e Países em Desenvolvimento Selecionados Spread nas Operações de Crédito Domésticas - Em % a.a. - Final do Período T1 1999T2 1999T3 1999T4 00T1 00T2 00T3 00T4 01T1 01T2 01T3 01T4 02T1 02T2 Brasil Coréia do Sul Malásia México Rússia Tailândia Fonte: Fundo Monetário Internacional, International Finance Statistics, January, 03. Elaboração Própria. Pode-se afirmar que no Brasil, o baixo volume de crédito resulta não só do baixo dinamismo da economia como das taxas de juros elevadíssimas que inviabilizam o maior endividamento, seja do setor empresarial, seja das pessoas físicas, e por conseqüência inibem os investimentos produtivos e o consumo. A retomada do crescimento exige a adoção pelo governo de uma política financeira ativa que induza a ampliação do crédito bancário em condições de custo e prazo favoráveis. Evolução do Crédito à Indústria O volume de crédito concedido ao setor industrial totalizou US$ 118 bilhões em dezembro de 02, com um crescimento nominal de 19,3% em relação ao ano anterior. Todavia, em relação ao mês de novembro e ao trimestre anterior, houve uma pequena retração, respectivamente, de -0,5% e -1,7%. Em percentual do PIB, o volume de crédito concedido à indústria também declinou em 02, retornando ao patamar de dezembro de 00: 7,5%, contra 8% em dezembro de 01. Evolução do Crédito e Juros em 02 9
10 Empréstimos Concedidos ao Setor Industrial por Tipo de Instituição Financeira - Dezembro 02 - Variação %,4 19,3 7,1 0,6 0,9-1,4-0,5-3,5-1,7 No Mês No Trimestre No Ano Sistema Financeiro Privado Sistema Financeiro Público Total Sistema Financeiro 35 Operações de Crédito do Sistema Financeiro - Em % do PIB jun/00 jul/00 ago/00 set/00 out/00 nov/00 dez/00 jan/01 fev/01 mar/01 abr/01 mai/01 jun/01 jul/01 ago/01 set/01 out/01 nov/01 dez/01 jan/02 fev/02 mar/02 abr/02 mai/02 jun/02 jul/02 ago/02 set/02 out/02 nov/02 dez/02 Total Indústria Nota: Estimativa do Banco Central para o PIB dos 12 últimos meses a preços do mês assinalado, a partir de dados anuais do IBGE, com base no IGP-DI centrado. Evolução do Crédito e Juros em 02
11 Considerando a origem dos empréstimos, observa-se uma expansão significativa do crédito concedido pelo setor financeiro público em 02. Essa expansão está relacionada ao aumento nos desembolsos efetuados pelo BNDES. Todavia é preciso salientar o efeito da desvalorização do Real, sobretudo no segundo semestre, sobre o estoque de crédito indexado ao câmbio (variação da cesta de moeda no caso dos financiamentos do BNDES). 1 Empréstimos ao Setor Industrial pelo Sistema Financeiro Privado e Público Em R$ Bilhões - Saldos em Final de Periodo Jan/98 Mar/98 Mai/98 Jul/98 Set/99 Nov/98 Jan/99 Mar/99 Mai/99 Jul/99 Set/99 Nov/99 Jan/00 Mar/00 Mai/00 Jul/00 Set/00 Nov/00 Jan/01 Mar/01 Mai/01 Jul/01 Set/01 Nov/01 Jan/02 Mar/02 Mai/02 Jul/02 Set/02 Nov/02* Sistema Financeiro Privado Sistema Financeiro Público Total Sistema Financeiro Em termos do risco de crédito, ao longo de 02 registrou-se uma contínua melhora na qualidade dos créditos concedidos à indústria. Em dezembro, mais de 63% dos créditos concedidos à indústria possuíam classificação AA e A, as mais elevadas. Evolução do Crédito e Juros em 02 11
12 Operações de Crédito do Sistema Financeiro ao Setor Industrial Nível de Risco em Dezembro 02 - Participação %,2 23,1 16,5 9,2 5,0 2,6 0,6 0,6 2,1 AA A B C D E F G H Evolução do Crédito e Juros em 02 12
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53, 52, 51, 50, 49, 48, 47, 46, 45, 44, 43, 15, 10, 5, 0, -5, Estoque de Crédito SFN 12, Crédito/PIB Variação do crédito em 12 meses 10,2% 52, 51,8% 50,4% 2,1% Recursos Direcionados 47,9% 46,6% -2,6% 1,3%
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54, 53, 52, 51, 50, 49, 48, 47, 46, 45, 44, 43, Estoque de Crédito SFN Evolução por tipo de instituição 16,1% 10,9% 9,7% Variação do Crédito em 12 meses -0,6% 3,4% -2, 19% 14% 9% Públicas Privadas 10,2%
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60, 50, 40, 30, 20, 10, 0, 15, 10, 5, 0, -5, Estoque de Crédito SFN Evolução por tipo de tomador 14,4% 11, Crédito/PIB Variação do crédito em 12 meses 5,2% 50,2% 52,1% 52,8% 48,6% 46,4% -0,3% -3, Recursos
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