CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

Transcrição

1 FEITO PGT/CCR/PP/Nº 3425/2014 DO Origem: PRT 18ª Região Interessado(s) 1: MPT Interessado(s) 2: Frigorífico Savanna Interessado(s) 3: Ministério Público do Trabalho Assunto(s): Meio Ambiente do Trabalho Procuradora oficiante: Cláudia Telho Corrêa Abreu MEIO AMBIENTE DO TRABALHO. Relevância ou Repercussão Social que determine a atuação do Ministério Público do Trabalho. Necessidade de melhores elementos de informação para averiguar-se o real estado do meio ambiente laboral. Arquivamento não homologado. RELATÓRIO Trata-se de procedimento administrativo instaurado com gênese no OF. PR/GO Nº 4782/2013, de 18 de julho de 2013, oriundo do Ministério Público Federal e subscrito pela Exma. Procuradora da República, Dra. Mariane G. de Mello Oliveira, por meio do qual encaminhou à Procuradoria Regional do Trabalho da 18ª Região representação contendo denúncia de irregularidades em frigoríficos instalados no Estado de Goiás, entre elas: trabalho de menor; 1

2 trabalhadores informais laborando em condições de higiene precárias e sem equipamento de proteção individual. Nestes autos, figura como investigado o Frigorífico Savanna. O ilustre Órgão ministerial oficiante promoveu o arquivamento do presente procedimento sob os seguintes fundamentos (fls. 75/76), verbis: Trata-se de NF instaurada a partir do Oficio de n 4782/2013, oriundo do D. MPF/GO, da lavra da Exma Procuradora da República, Dra. Mariane C. de Mello Oliveira, que reencaminhou ao MPT, para providências, na sua área de atuação, cópia de representação formulada perante a PR/GO, pela organização Amigos da Terra - Amazônia Brasileira. Segundo a ONG, existem diversas irregularidades em frigoríferos instalados no País, algumas das quais estariam dentro da área de atuação do MPT, como a utilização de trabalho de menores, a contratação informal, a falta de condições de higiene e a inexistência de equipamentos de proteção individual. Em relação ao Frigorífico Savanna, foram relatados as seguintes irregularidades (grifos acrescidos): "Chegamos ao matadouro de Bom Jesus ainda de madrugada e o responsável pelo local estava ajudando a carregar um caminhão com as carcaças, para fazer as entregas do dia. No mesmo espaço tinha uma caçamba da prefeitura da cidade, onde eram jogados os resíduos e sangue. Na sala onde funciona a inspeção não encontramos o veterinário. Segundo os funcionários, ele não acompanha todo o abate porque é dono de um pet shop no centro da cidade. A matança continuou sem a presença do veterinário, Robson Silvério. Os animais que passaram pelo atordoamento não são sangrados. Ficam parados nos trilhos por mais de 30 minutos. Alguns desses animais já estavam sem couro e sem buchada e ficaram expostos passivos de contaminação, sem seguir para a câmara fria. Filmamos também uma pia e um esterilizador de facas, que pareciam não ter função na linha de produção, já que estavam 2

3 desligados. Tinha ainda mocotós, orelhas e rabos espalhados no chão. Enquanto os funcionários estavam fora da sala de abate, um cachorro que vive no local aproveitou para entrar na sala de abate, onde os animais estavam expostos. Os funcionário tomavam um lanche e descansavam, enquanto interagiam com cães, que labiam e se esfregavam nas botas dos funcionários. Minutos depois eles retornaram a sala de abate, sem fazer qualquer tipo de higienização das mãos ou botas. Não há barreira sanitária no local. 0 curral é feito de madeira com cabos de aço. No local tem água para os animais beberem, mas não tem nenhum tipo de sistema de água, para dar banho nos animais antes do abate. No lixão fui acompanhado de um funcionário da prefeitura que me mostrou a vala, onde são jogados os resíduos dos animais". Pois bem. Conforme se vê, relativamente ao frigorífico em questão diversamente do que ocorreu em relação a vários outros citados no documento e que serão investigados pelo MPT, em procedimento próprio - não se vislumbra atos ou elementos que justifiquem a adoção de qualquer providência perante esta Regional, visto que inexiste notícia da ocorrência de lesão a direitos trabalhistas. Assim sendo, manifestamo-nos no sentido do arquivamento, sem prejuízo de futuro desarquivamento, caso fatos novos venham a justificá-lo. (destaque próprio) autos a esta Relatora (fl. 81). Por distribuição deste feito na CCR/MPT, vieram os É o relatório. VOTO-FUNDAMENTAÇÃO Data venia dos argumentos expedidos pela digna Procuradora proponente, entendo não caiba, por ora, a cessação da tarefa persecutória ao encargo do Ministério Público do Trabalho. 3

4 Examinando o feito, a ilustre colega promotora do arquivamento em tela, embasa-no ao argumento de que:... não se vislumbra atos ou elementos que justifiquem a adoção de qualquer providência perante esta Regional, visto que inexiste notícia da ocorrência de lesão a direitos trabalhistas.. Discordo, respeitosamente, de tal conclusão, uma vez que se constata, do exame dos presentes autos, que a denúncia relata condições do meio ambiente do trabalho do frigorífico denunciado que denotam provável situação de risco e prejuízo à saúde dos trabalhadores coletivamente considerados (fls. 55/56), verbis: "Chegamos ao matadouro de Bom Jesus ainda de madrugada e o responsável pelo local estava ajudando a carregar um caminhão com as carcaças, para fazer as entregas do dia. No mesmo espaço tinha uma caçamba da prefeitura da cidade, onde eram jogados os resíduos e sangue. Na sala onde funciona a inspeção não encontramos o veterinário. Segundo os funcionários, ele não acompanha todo o abate porque é dono de um pet shop no centro da cidade. A matança continuou sem a presença do veterinário, Robson Silvério. Os animais que passaram pelo atordoamento não são sangrados. Ficam parados nos trilhos por mais de 30 minutos. Alguns desses animais já estavam sem couro e sem buchada e ficaram expostos passivos de contaminação, sem seguir para a câmara fria. Filmamos também uma pia e um esterilizador de facas, que pareciam não ter função na linha de produção, já que estavam desligados. Tinha ainda mocotós, orelhas e rabos espalhados no chão. Enquanto os funcionários estavam fora da sala de abate, um cachorro que vive no local aproveitou para entrar na sala de abate, onde os animais 4

5 estavam expostos. Os funcionários tomavam um lanche e descansavam, enquanto interagiam com cães, que lambiam e se esfregavam nas botas dos funcionários. Minutos depois eles retornaram a sala de abate, sem fazer qualquer tipo de higienização das mãos ou botas. Não há barreira sanitária no local. 0 curral é feito de madeira com cabos de aço. No local tem água para os animais beberem, mas não tem nenhum tipo de sistema de água, para dar banho nos animais antes do abate. No lixão fui acompanhado de um funcionário da prefeitura que me mostrou a vala, onde são jogados os resíduos dos animais". (destaquei) Constata-se que a presente persecução investigatória não contou com qualquer prova técnica e/ou inspeção/fiscalização a cargo dos órgãos competentes. A verificação minuciosa da higidez do meio ambiente do trabalho da empresa investigada é medida que se impõe frente às metas prioritárias do Ministério Público do Trabalho. À míngua de descrição mais precisa do ambiente de trabalho, dos elementos nocivos à saúde do trabalhador que nele estejam porventura presentes, não entendo completada a tarefa persecutória e a missão adequada de conduta cabíveis ao Ministério Público do Trabalho. Portanto, a tarefa investigatória ao encargo do Ministério Público do Trabalho deve prosseguir no que pertine ao meio ambiente do trabalho empregador. 5

6 CONCLUSÃO Pelo exposto, voto no sentido de NÃO HOMOLOGAR o arquivamento promovido pela Exma. Procuradora Regional do Trabalho, Dra. Cláudia Telho Corrêa Abreu, às fls. 75/76 do presente expediente administrativo. Deixo, no entanto, de aplicar o inciso II, do 4º, do art. 10 da Resolução CSMPT nº69/07, devendo a designação atender às práticas da Regional. Brasília, 22 de abril de VERA REGINA DELLA POZZA REIS Subprocuradora-Geral do Trabalho Coordenadora da CCR Relatora 6