CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

Transcrição

1 DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO Origem: PRT 6ª Região Interessado(s) 1: Sigiloso Interessado(s) 2: Alimenta & Nutri Comercio de Bolos LTDA Assuntos: Trabalho Análogo ao de Escravo Tráfico de Trabalhadores e Trabalho Indígena Igualdade de Oportunidades e Discriminação nas Relações de Trabalho Procurador oficiante: Jorge Renato Montandon Saraiva ASSÉDIO MORAL. JORNADA DE TRABALHO EXCESSIVA. Encerramento do procedimento subsidiado apenas com informações prestadas pela investigada de origem unilateral. Necessidade de outras diligências a fim de elucidar melhor a conduta denunciada. Ausência de elementos suficientes que autorizem o encerramento das investigações. Pela não homologação da promoção de arquivamento. RELATÓRIO Trata-se de inquérito civil instaurado com gênese em denúncia sigilosa em face da empresa Alimenta & Nutri Comércio de Bolos LTDA., nos seguintes termos: 1

2 ADONA DO ESTABELECIMENTO ESTA MALTRATANDO COM OS FUNCIONARIOS GRITA COM OS FUNCIONARIOS E OBRIGA OS FUNCIONARIOS A TRABALHAR MAIS DE OITO HORAS POR DIA E TAMBEM OBRIGA A TRABALHAR AO SÁBADO E DOMINGO EU SOU UM CLIENTE DA LOJA E FIQUEI MUITO CONSTRANGIDO QUANDO EU PRESENSIEI ADONA DO ESTABELECIMENTO GRITANDO E CHAMANDO PALAVRÕES ORIVEIS COM UMA FUNCIONARIA DA LIMPESA E COM A BALCONISTA TENHO SERTESA QUE APROCURADORIA DO TRABALHO VAI DAR UM JEITO NIçO O i. Procurador oficiante promoveu o arquivamento do procedimento sob os seguintes fundamentos (fls. 90/91), verbis: Em audiência nesta Procuradoria (fl. 11), a representante da empresa forneceu as seguintes informações: que não são verdadeiros as denuncias ofertadas. Que no local funciona uma loja que fabrica bolos caseiros, possuindo atualmente 08 funcionários. Que a empresa não funciona aos domingos e que aos sábados somente funciona até as 13 horas Foram apresentadas fichas de registros de empregados, copia do livro de inspeção do trabalho e cópia dos recolhimentos fundiários. É o relatório. Incube ao Ministério Publico do Trabalho defender os interesses difusos, coletivos, bem como os interesses individuais homogêneos, com projeção coletiva, de origem comum, envolvendo categoria profissional, parte dela, ou ao menos um grupo de trabalhadores ligados a um ponto comum. 2

3 Pelos documentos juntados pela empresa não constatei qualquer irregularidade quanto ao pagamento de salários. Em relação à jornada de trabalho, como a empresa possui apenas 08 funcionários, não está obrigada a ter cartão de ponto. Pelo exposto, considerando as informações prestadas, os documentos apresentados pela empresa e pela superficialidade da denúncia, não vislumbro interesse público a motivar a atuação ministerial. De qualquer forma, recomendou esta parquet que a empregadora orientasse a encarregada a tratar todos os funcionários com respeito, abstendo-se de gritar ou mesmo ofender os obreiros. Assim, determino o arquivamento do presente inquérito civil,.... Após a promoção de arquivamento, foram juntados ao feito 02 (dois) termos de denúncia em face da empresa aqui investigada (fls. 94 e 95), datados de 24 de março de 2012, ad litteram: DENUNCIO A DONA DO ESTABELECIMENTO DONA ANA POR MALTRATAR OS FUNCIONARIOS COM GRITOS E PALAVROES ORIVEIS E DE TRABALHO ESCRAVO ELA OBRIGA TODOS FUNCIONARIOS A TRABALHAR TODOS FERIADOS E DE TRABALHAR MAIS DE 8 HORAS POR DIA E NÃO PAGA HORA ESTRA E FALA PARA ELES QUE QUEM NÃO QUISER FAÇA UMA CARTA PEDINDO PARA SAIR DO TRABALHO ELA FALA PARA OS FUNCIONARIOS QUE QUEM FAIS ALEI EO DINHEIRO QUE COM ELA E ALEI DO CÃO EU SOU CLIENTE DA CASA DO BOLO FICO MUITO CONTRANGIDA QUANDO VEJO ADONA DO ESTABELECIMENTO MALTRATANDO OS FUNCIONARIOS POR IÇO RESOLVI DENINCIA 3

4 Termo de Distribuição à fl Autos distribuídos a esta Relatora, conforme É o relatório. VOTO - FUNDAMENTAÇÃO Data venia dos argumentos expedidos pelo digno colega oficiante neste feito, entendo não caiba, por ora, a cessação da tarefa persecutória ao encargo do Ministério Público do Trabalho. A matéria versada neste feito mostra-se sumamente relevante às missões e metas prioritárias institucionais que cabem ao Parquet laboral (assédio moral e labor excessivo). Constata-se, do exame dos presentes autos, que o ilustre Procurador neles oficiante procedeu ao arquivamento do expediente, conforme respectiva promoção às fls. 90/91, com supedâneo, tão somente, em declarações e documentos apresentados unilateralmente pela própria investigada. Assim, a simples negativa de irregularidade de conduta feita própria denunciada no presente procedimento não se mostra suficiente e idônea a motivar o encerramento das investigações 4

5 e o arquivamento do expediente. Diligências outras fazem-se necessárias com vistas a elucidar por completo as questões sob investigação neste feito. A ata de audiência carreada às fls. 11, bem como toda a documentação que a acompanha, é silente no que diz respeito ao denunciado assédio moral. A simples recomendação constante de tal audiência não é suficiente a impor correção ou a sustentar ilação de inexistência de conduta tão lastimável. Logo, nada foi apurado quanto ao procedimento assediador em tela. É certo que o assédio moral, prática totalmente repudiável e atentatória aos princípios e garantias mais básicas previstas na Carta Magna brasileira, enseja a responsabilização do empregador e reclama a pronta e enérgica intervenção ministerial. Da mesma forma, há relato na denúncia de afronta a normas trabalhistas respeitantes à duração laboral, eis que a limitação legal da jornada de trabalho é importante instrumento de prevenção à fadiga física e mental dos trabalhadores, e, quando extrapolada, pode causar danos à saúde e à vida do empregado. A ausência, nestes autos, de ação persecutória do Ministério Público do Trabalho, no que respeita ao denunciado 5

6 assédio moral, bem como uma investigação mais profunda e apurada no particular excesso de jornada, faz incompleta a necessária instrução apuratória. Portanto, possível e necessária à efetivação da fase instrutória da persecução ao encargo do Ministério Público do Trabalho, o que pode ser realizado mediante ação fiscalizatória ao encargo da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego local e colheita de prova testemunhal, para aferição quanto aos estritos termos do objeto deste processado. A ausência de mais apurada investigação neste feito não autoriza o seu precoce arquivamento, e, muito menos a superveniente homologação. CONCLUSÃO Pelo exposto, voto no sentido de NÃO HOMOLOGAR o arquivamento proposto pelo Exmo. Procurador do Trabalho, Dr. Jorge Renato Montandon Saraiva, às fls. 90/91 do presente expediente administrativo. Deixo, no entanto, de aplicar o inciso II, do 4º, do art. 10 da Resolução CSMPT nº69/07, devendo a designação atender às práticas da Regional. 6

7 processamento. Retornem os autos à origem para regular Brasília, 23 de outubro de VERA REGINA DELLA POZZA REIS Subprocuradora-Geral do Trabalho Coordenadora da CCR Relatora SGS 7