DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DO CONSUMIDOR
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- Lara da Conceição Borja
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1 Parecer Procedimento administrativo PA nº 02/2015 Ementa: RESOLUÇÃO 2.932/2002 BACEN POSSIBILIDADE DE AMPLIAÇÃO DO HORÁRIO DE ATENDIMENTO LEGALIDADE - BANCO ITAÚ EXCLUSIVO PARA CLIENTES VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS EQUILIBRIO NAS RELAÇÕES DE CONSUMO (ART. 4º, III DO CDC) E IGUALDADE NAS CONTRATAÇÕES (ART. 6º, II DA LEI 8.078/90) OBRIGATORIEDADE DE REALIZAÇÃO DE DEPÓSITO VENDA CASADA (ART. 39, I) - COBRANÇA DE TAXA FORA DO PACOTE VANTAGEM EXCESSIVA (ART. 39, V) - ABUSIVIDADE (ART. 51, IV, 1º, I, II, III DA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA. 1. Relatório Este CAOPCON recebeu o Ofício nº 890/2014 da 6ª Promotoria de Justiça de Defesa da Comarca de Foz do Iguaçu referente ao procedimento PP nº o qual trata da seguinte reclamação em face do Banco Itaú: O Banco Itaú Agência 9254 divulga que há atendimento estendido (das 16:00 às 18:00) exclusivamente para clientes Itaú. Na prática, faz exigências adicionais, que configuram venda casada, ao obrigar os usuários a primeiramente fazer o depósito de valores em dinheiro, para em seguida efetuar o saque da conta corrente, para então aceitar os pagamentos ou depósitos a terceiros. Induz os clientes a erro, porque não esta disponível na agência as regras deste tipo de atendimento, tornando a publicidade enganosa. O banco lucra abusivamente com este tipo de atitude, porque cobra tarifas de cada operação realizada no caixa que passa pela conta corrente. Agindo assim, aumenta a receita com serviços de forma abusiva. 1
2 O consumidor na sua reclamação anexou documentos. Ato contínuo, o Promotor de Justiça enviou o Ofício nº 323/2014 para o Banco Itaú para que fossem prestadas informações, as quais foram apresentadas no dia 04/07/2014. Posteriormente encaminhou o Ofício nº 890/2014 para este CAOPCON com o objetivo de obter maiores orientações sobre o tema. É o relato. 2. Fundamentação 22.1 Da Resolução nº 2.932/2002 do BACEN A Resolução nº 2.932/2002 do Banco Central do Brasil estabelece o horário mínimo de funcionamento das instituições financeiras. Vejamos o que dispõe o artigo 1º, 1º, I: Art. 1º Facultar às instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil o estabelecimento, a seu critério e de forma independente, do horário de funcionamento das respectivas sedes e demais dependências, ressalvados o disposto no 1º. (destaque nosso) 1º. Em se tratando de agências de bancos múltiplos com carteira comercial, de bancos comerciais e da Caixa Econômica Federal, deve ser observado o seguinte: I o horário mínimo de expediente para o público será de cinco horas diárias ininterruptas, com atendimento obrigatório no período das 12:00 às 15:00 horas, horário de Brasília. Desta forma, não há ilegalidade no que tange a ampliação do horário de atendimento do Banco Itaú no período das 08:00 às 15:00 ou das 10:00 às 18:00 horas, eis que tal possibilidade é prevista em normatização do Banco Central do Brasil. 2.2 Da prática de estender o horário de atendimento somente aos clientes do Banco Itaú em face dos dispositivos da legislação consumerista 2
3 O Banco Itaú está ampliando o horário de atendimento das 08:00 às 10:00 ou das 16:00 às 18:00 horas, dependendo da agência a ser utilizada, só que para tanto, é necessário que o consumidor cumpra os seguintes requisitos de acordo com o documento de fl. 6: Confira as regras de utilização do caixa no horário exclusivo: O atendimento no caixa é exclusivo para cliente Itaú. O atendimento é feito apenas para cliente titular da conta. Não é extensivo para emissário não cliente. As transações no caixa tem limite de R$ 5 mil por pessoa. Não há fila exclusiva para cliente Itaú UNICLASS. Neste ponto, constata-se duas abusividades na prática do Banco Itaú, a qual infringe dispositivos da legislação consumerista, conforme será demonstrado a seguir: A primeira delas é que não pode haver discriminação entre os consumidores clientes e não clientes, tendo em vista que o serviço prestado pela instituição financeira é para todos, ou seja, não pode haver diferenciação de consumidores e o Banco Itaú ao atender somente os seus clientes no horário ampliado viola os princípios do equilíbrio das relações de consumo e das igualdades nas contratações previsto nos artigos 4º, III e 6º, II do Código de Defesa do Consumidor: Art. 4º. A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendimentos os seguintes princípios: III harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federa), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores. Art. 6º São direitos básicos do consumidor: 3
4 II a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações. Ao estabelecer um horário diferenciado apenas para os seus clientes, o Banco Itaú está privilegiando uma classe em detrimento de outra, o que é vedado pela Lei 8.078/90. No tocante ao princípio de igualdade nas contratações tem-se o entendimento do doutrinador Rizzatto Nunes: 1 O inciso II garante, ainda, igualdade nas contratações. É o asseguramento expresso do princípio da igualdade estampado no texto constitucional (art. 5º, caput, da CF). Pela norma instituída no inciso II em comento fica estabelecido que o fornecedor não pode diferenciar os consumidores em si. Ele está obrigado a oferecer as mesmas condições a todos os consumidores. Admitir-se-á apenas que se estabeleçam certos privilégios aos consumidores que necessitam de proteção especial, como, por exemplo, idosos, gestantes e crianças, exatamente em respeito à aplicação concreta do princípio da isonomia. (destaque nosso). O princípio do equilíbrio nas relações entre consumidor e fornecedor está muito bem definido pelo doutrinador Leonardo Roscoe Bessa: 2 Ao lado da boa-fé objetiva, o CDC adota o princípio do equilíbrio econômico do contrato, cuja previsão inicial está no art. 4º, III, o qual alude à boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores. Com o equilíbrio econômico pretende-se a existência de relativa proporção entre prestação e contraprestação. Busca-se uma relação contratual justa. Vedam-se abusos na fixação do preço. (destaquei). A outra abusividade constatada é a obrigatoriedade do consumidor efetuar o depósito em conta corrente para que tenha acesso ao serviço disponibilizado pela instituição financeira. Esta prática leva o consumidor a uma onerosidade excessiva, pois ao obrigar o cliente a realizar o depósito em conta corrente para depois efetuar o saque e somente depois fazer o pagamento das faturas gera uma cobrança de R$ 1 Nunes. Rizzatto. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. 7ª edição Editora Saraiva. Pág Bessa, Leonardo Roscoe. Manual de Direito do Consumidor. 2ª edição, revista, atualizada e ampliada, Editora Revista dos Tribunais. Pág
5 2,00 (dois reais) se o consumidor já tiver utilizado todo o limite do pacote de prestação de serviços contratado com a instituição financeira, de acordo com o documento de fl. 9 apresentado pelo cliente Itaú e anexado ao PP nº : Produtos/Serviços Incluídos Cadastro Cartão Itaú Valor Individual (R$) fora do pacote Confecção de cadastro para ínicio de 30,00 relacionamento (1) Entrega de cartão em domicílio (2) 3,00 Cheques Fornecimento de folhas de cheques Entrega de talão de cheques em domicílio (3) 1,20 5,50 Saques de conta de depósitos à vista e de poupança (5) Contra-Ordem (ou revogação) e Oposição 10,90 (ou sustação) do Pagamento de Cheques (4) Caixas Eletrônicos 1,60 Banco 24 Horas 1,60 Agências (Guichê de 2,00 caixa) até 4 saques Assim, ficam configuradas as práticas abusivas de venda casada, vantagem manifestamente excessiva, além de nulidade de contratual tendo em vista a onerosidade excessiva a que está exposto o consumidor. Vejamos o que estabelecem os artigos 39, I, V e 51, IV, 1º, I, II, III da Lei 8.078/90: Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: 5
6 I condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos. V exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva. Art. 51.São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: IV estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade; 1º. Presume-se exagerada, entre outros casos, a vantagem que: I ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence; II restringe direito ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do contrato, de tal modo a ameaçar o seu objeto ou equilíbrio contratual; III se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e o conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso. A venda casada fica comprovada no momento em que o Banco Itaú obriga o cliente a ter conta corrente na instituição financeira para que possa efetuar o pagamento no horário ampliado. É importante destacar que esta prática leva a uma vantagem e onerosidade excessivas para o consumidor e para que a instituição financeira atenda ao que estabelece a legislação consumerista, os correntistas do banco, seja dentro do horário normal ou no horário ampliado de atendimento não podem ser obrigados a depositar os valores para depois sacar e efetuar os pagamentos, e ainda os clientes que não correntistas do banco, por exemplo, o consumidor que possuir apenas o cartão de crédito, não pode ser compelido a abrir conta corrente para poder usufruir do horário estendido. Referindo-se a cláusula de boa-fé e equilíbrio econômico do contrato leciona o doutrinador Leonardo Roscoe Bessa: 3 Nos termos do art. 51, IV, do CDC, são nulas as cláusulas contratuais que estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade. O entendimento do inciso completa-se com o disposto no 1º do próprio art. 51, verbis: Presumese exagerada, entre outros casos, a vantagem que: I ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence; II restringe 3 3 Bessa, Leonardo Roscoe. Manual de Direito do Consumidor. 2ª edição, revista, atualizada e ampliada, Editora Revista dos Tribunais. Pág. 300/301. 6
7 direitos ou obrigações fundamentais à natureza e o conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso. Como se nota pela sua redação, o art. 51, IV, abrange tanto o princípio da boa-fé objetiva como o relativo ao equilíbrio econômico do contrato, evidenciando a inserção da nova teoria contratual no Código de Defesa do Consumidor. Cuida-se, sem dúvida, do principal dispositivo relativo a nulidades de cláusulas contratuais nas relações de consumo. (...) Permite-se uma análise circunstancial do contrato, da lealdade e transparência, dos termos da oferta e publicidade (fase précontratual), das legítimas expectativas do consumidor, do equilíbrio econômico, da lesão. (...) Do outro lado, em decorrência do princípio do equilíbrio econômico do contrato, veda-se cláusula que imponha desvantagem exagerada ao consumidor. Embora, o contrato seja legítimo instrumento de obtenção de lucros e satisfação de interesses empresariais, busca-se a justiça contratual, vedando-se abusos na fixação das obrigações do consumidor, inclusive as relativas à determinação do preço. (grifei). 3. Considerando tudo o que foi exposto, conclui-se: a) Que não há ilegalidade na ampliação do horário do horário de atendimento do Banco Itaú das 08:00 às 15:00 horas e das 10:00 às 18:00 horas, pois a Resolução nº 2.932/2002 do Banco Central do Brasil estabelece apenas a obrigatoriedade do horário mínimo de funcionamento, qual seja, das 12:00 às 15:00 horas. b) Que a conduta do Banco Itaú de discriminar o atendimento no horário exclusivo apenas para os seus clientes viola os princípios do equilíbrio nas relações de consumo (art. 4º, III) e igualdade das contratações (art. 6º, II) previstos na Lei 8.078/90. c) Que a prática do Banco Itaú que compelir os consumidores a efetuarem o depósito dos valores para depois sacar e realizar o pagamento é abusiva e acarreta onerosidade excessiva, além de se tratar de venda casada, infringido, desta forma, a instituição financeira o que dispõem os artigos 39, I, V e 51, IV, 1º, I, II, III do Código de Defesa do Consumidor. 7
8 Por fim, determino o encaminhamento deste parecer a Promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos do Consumidor da Comarca de Foz do Iguaçu, a fim de tomar conhecimento da conclusão a que chegou este CAOPCON. Curitiba, 12 de janeiro de CIRO EXPEDITO SCHERAIBER Procurador de Justiça Coordenador do Centro de Apoio das Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor CAOPCON/MPPR 8
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