CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

Transcrição

1 CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO Origem: PRT 15ª Região São José do Rio Preto/SP Interessado(s) 1: Vara do Trabalho de Tanabi Interessado(s) 2: Gold Star Transportadora Ltda. Interessado(s) 3: Ministério Público do Trabalho Assunto(s): Outros temas Procurador oficiante: Tadeu Henrique Lopes da Cunha ASSÉDIO MORAL Matéria que demanda produção de prova escorreita e robusta, não bastando a simples alegação de ausência de potencial lesão coletiva, para justificar o arquivamento. Não homologada a promoção arquivatória. RELATÓRIO Trata-se de procedimento administrativo instaurado em razão do envio, à Procuradoria Regional do Trabalho da 15ª Região, de peças do Processo nº , pela Vara do Trabalho de Tanabi/SP, onde a empresa Gold Star Transportadora Ltda., ora investigada, foi condenada ao pagamento de indenização por dano moral, consistente na prática de assedio moral (exposição do trabalhador a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções, ofensas de superior hierárquico e sonegação de labor). 1

2 O ilustre Órgão ministerial oficiante promoveu o arquivamento deste feito sob o argumento de que se trata de lesão a interesse individual, que atinge apenas um trabalhador, sem que haja a devida repercussão social (fls. 394/397). autos a esta Relatora. Por distribuição deste feito na CCR/MPT, vieram os É o relatório. VOTO-FUNDAMENTAÇÃO Data venia dos argumentos expedidos pelo digno colega oficiante neste feito, entendo não caiba, por ora, a cessação da tarefa persecutória ao encargo do Ministério Público do Trabalho. Das peças processuais referentes à reclamatória que deu azo a instauração deste procedimento, extraem-se evidências contundentes da prática de assédio moral e abuso do poder diretivo do empregador no seio da investigada, inclusive, com contornos de caráter metaindividual, não se circunscrevendo somente à esfera individual do reclamante, como entendeu o i. Órgão ministerial, senão vejamos: 2

3 DEPOIMENTO PESSOAL DO RECLAMANTE (fl. 08). 1. Em data na qual não se recorda o seu encarregado Reinaldo lhe encontrou no bebedouro e lhe disse que ele estava se escondendo do serviço e era vagabundo chegando inclusive a colocar a mão no seu rosto. 2. Que depois desse acontecimento não foi mais passado serviço para o depoente, sendo que ele ficou cerca de trinta dias sentado em um banco do lado de fora da reclamada sendo que o seu encarregado passava lhe fazendo gestos obscenos. (destaquei) TESTEMUNHA DO RECLAMENTE (fl. 09) (...) 24. que o encarregado da oficina em geral era o Sr. Reinaldo de Jesus Sobrinho; 25. que o Sr. Reinaldo chegou a ofender o depoente dizendo que ele era vagabundo e ainda outras palavras de baixo calão; 26. que o Sr. Reinaldo também ofendia os outros empregados 27. que o depoente chegou a presenciar o Sr. Reinaldo ofendendo o reclamante e dizendo que ele era vagabundo e estava se escondendo do serviço, disse também, que podia esperar que o dele iria chegar; 28. que em seguida o reclamante ficou em pé na parte externa da reclamada, por mais de trinta dias sem receber serviços por determinação do Sr. Reinaldo; (...) 33. que o encarregado Reinaldo fazia gestos obscenos com o dedo para os empregados inclusive colocando a mão no rosto dos empregados, inclusive o depoente e reclamante; 34. que as ofensas eram proferidas tanto na presença de outros empregados quanto quando o empregado estava sozinho; 3

4 35. que mesmo ante as atitudes do encarregado nenhum empregado chegou a revidar as agressões; 36. que os empregados que entravam viam o reclamante na frente da empresa; 37. que os empregados que tinham problema com o encarregado eram colocados de castigo na frente da empresa; 38. que o pessoal conhecia esse local de castigo como banco dos réus. (grifei) TESTEMUNHA DA RECLAMADA (fls. 10/11) (...) 54. que no período do aviso prévio o reclamante chegou a ficar algumas vezes sem receber serviço, enquanto os outros recebiam; 55. que a expressão banco dos réus era conhecida na reclamada como os bancos que ficam na parte externa da reclamada onde os empregados que cumpriam aviso ficavam sem receber trabalho, durante toda a jornada de trabalho, até às 14:20 horas. (destaques não originais) Conforme se percebe, pelas transcrições acima, a própria testemunha do reclamante na ação judicial, além de confirmar o assédio sofrido pelo autor da reclamatória, asseverou que também foi alvo de tal prática por encarregado da empresa investigada. Asseverou, ademais, que o Sr. Reinaldo (encarregado) ofendia outros empregados. Confirmou, ainda, a existência do chamado banco dos réus, local na frente da empresa onde permaneciam os empregados sem receber trabalho (sonegação de labor), como forma de castigo por desentendimento com o encarregado Sr. Reinaldo. 4

5 Pasmem, a própria testemunha da reclamada atesta a existência do chamado banco dos réus e da prática de sonegação de labor, em passagens de seu depoimento e acima destacadas. Assim, as atitudes levadas a efeito pela empresa representada revelam-se humilhantes e constrangedoras, merecendo a devida atenção e repreensão por parte deste Ministério Público do Trabalho. Portanto, entendo que possível e necessária a efetivação da fase instrutória da persecução pelo MPT, o que pode ser realizado mediante ação fiscalizatória ao encargo da DRT local, oitiva do reclamante e de suas testemunhas, inquirição de ex-empregados da investigada, etc., para aferição quanto aos estritos temos do objeto deste processado. Diante de tudo isto, não vejo como acolher a proposta de arquivamento de firmada nos presentes autos às fls. 394/397. CONCLUSÃO Pelo exposto, voto no sentido de NÃO HOMOLOGAR a proposta de arquivamento firmada pelo Exmo. Procurador do Trabalho, Dr. Tadeu Henrique Lopes da Cunha, às fls. 394/397 dos presentes autos. 5

6 para as providências cabíveis. Retornem os presentes autos à PRT de origem Brasília, 20 de setembro de ss VERA REGINA DELLA POZZA REIS Subprocuradora Geral do Trabalho Membro da CCR RELATORA 6