CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

Transcrição

1 DO Origem: PRT 10ª Região Interessado(s) 1: Ministério Público do Trabalho Interessado(s) 2: BENECAP Associação Beneficente da Capital Federal do Brasil Interessado(s) 3: Ministério Público do Trabalho Assunto(s): Fraudes Trabalhista Procuradora oficiante: Paula de Ávila e Silva Porto Nunes FRAUDE TRABALHISTA COAÇÃO MORAL. Investigação Repetida. Aplicação do art. 5º, alínea b e 5º da Resolução CSMPT nº 69/2007 e dos Precedentes nºs. 16 do CSMPT e 04 da CCR/MPT. Pela HOMOLOGAÇÃO da proposta de arquivamento do Inquérito Civil, por fundamentos diversos, com orientação para que sejam deslocados os presentes autos na forma do art. 5º, b 5º da Resolução nº 69/2007 do CSMPT e do Precedente nº 04 da CCR/MPT. RELATÓRIO Trata-se de procedimento administrativo instaurado de ofício a partir do encaminhamento, pelo i. Procurador do Trabalho, o Dr. Valdir Pereira da Silva, de termo de audiência contendo o depoimento da 1

2 testemunha Márcia do AmaraL Lopes de Carvalho, no qual consta notícia de supostas ameaças de demissão promovidas pelo Presidente e um membro do Conselho Administrativo da empresa BENECAP Associação Beneficente da Capital Federal contra os trabalhadores que viessem depor no Ministério Público do Trabalho. A i. Procuradora do Trabalho oficiante propôs o arquivamento do expediente sob os seguintes fundamentos, verbis: (...) FUNDAMENTAÇÃO No caso em tela, após a oitiva de empregados e ex-empregados da Investigada, observou-se que não há notícia nos autos de irregularidade trabalhista, mas, em verdade, trata-se de denúncia de prática criminosa (crime de coação no curso do processo), uma vez que há noticia de que o Presidente da BENECAP, através de seus empregados, estaria pressionando seus trabalhadores para que "tomassem cuidado" com o que fossem dizer em depoimentos prestados no Ministério Público do Trabalho, não havendo coação da empresa para que seus trabalhadores renunciassem a direito trabalhista. Assim, pelos depoimentos colhidos nos autos, observou-se que se trata de coação para depor como testemunha em processo administrativo, mediante a utilização de grave ameaça, portanto, possível prática de crime de coação no curso do processo, previsto no artigo 344 do CP. Dessa forma, os fatos noticiados não se inserem na linha de atuação do Ministério Público do Trabalho, razão 2

3 pela qual não há que se falar em legitimidade deste'órgão Ministerial para propositura de ação civil pública na Justiça do Trabalho. Nesse contexto, diante da constatação de que o fato noticiado não se trata de irregularidade trabalhista, a justificar a atuação do MPT para coibir a prática, pois não há coação sobre trabalhadores com o intuito de coagir a renunciar a direitos trabalhistas, e considerando que se trata, em verdade, de notícia de prática criminosa de coação de testemunhas e que já se deu ciência do ocorrido ao MPDFT (fl. 28, conforme ata sigilosa de audiência realizada nos autos do IC n 132/2012 acostada em envelope pardo em anexo), promovo o arquivamento do presente inquérito civil, com base, por analogia, no artigo 5 o, alínea "a", da Resolução n 69/2007 do CSMPT. CONCLUSÃO Assim, considerando que o fato noticiado trata-se de prática criminosa, não havendo lesão a direito trabalhista, promovo o arquivamento do presente inquérito civil, por não existir fundamento para a propositura de ação civil pública, devendo os autos ser encaminhados à Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público do Trabalho, para fins de apreciação da presente promoção, após o decurso de três dias da comprovação da efetiva cientificação pessoal do Denunciante e da Empresa Investigada, de acordo com o 1 o do artigo 10 da Resolução n 69 do CSMPT. autos a esta Relatora (fl. 121). Por distribuição deste feito na CCR/MPT, vieram os É o relatório. 3

4 VOTO-FUNDAMENTAÇÃO Compulsando os autos, contata-se que o presente expediente, tem por objeto a apuração de suposta prática de coação dos trabalhadores da BENECAP, mediante ameaça, que são testemunhas no IC 132/2012, conduzido pelo Exmo. Procurador do Trabalho, Dr. Valdir Pereira da Silva. A conduta como colhida no depoimento da testemunha Marcia do Amaral Lopes de Carvalho, caracteriza-se como típico caso de assédio moral, prática totalmente repudiável e atentatória aos princípios e garantias mais básicas previstas na Carta Magna brasileira. Sabendo-se que o referido Inquérito Civil (IC 132/2012) foi instaurado, também, para apurar conduta de assédio moral no âmbito da Associação Beneficente da Capital Federal do Brasil BENECAP, entende-se que o objeto do presente procedimento (constrangimento de testemunhas e coação de trabalhadores, mediante ameaça) está subsumido ao do IC 132/2012, havendo, portanto, repetição de investigação. Outrossim, as informações advindas das testemunhas apenas reforçam as alegações de assédio moral praticado pela 4

5 denunciada e respaldam a atuação do Dr. Valdir Pereira da Silva no IC 132/2012. Na verdade, sequer deveria ser aberto novo expediente, tendo em conta que lhe remanesceu apenas a apuração criminal da conduta. É indene de dúvidas que o ilícito denunciado nos presentes autos tem repercussões diretas na esfera penal, já que tipificado como conduta criminosa (coação de testemunhas no curso do processo e constrangimento ilegal) reprimida pelo ordenamento jurídico brasileiro. Neste diapasão, por não possuir a Justiça do Trabalho competência para o julgamento de ações penais, ainda que conexas com ilícitos trabalhistas, a diligente Procuradora oficiante, à fl. 82, já encaminhou cópia da denuncia ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios para a adoção das medidas cabíveis. De todo o exposto, data maxiam vênia, entendo ser o caso de aplicação do Precedente nº 16 do C. Conselho Superior do Ministério Público do Trabalho, a seguir transcrito: "INVESTIGAÇÃO REPETIDA. Mantém-se o arquivamento do procedimento investigatório quando contra a mesma empresa jâ existe outro procedimento em curso investigando as mesmas irregularidades. Dezembro de 2007, assim determina: O art. 5º, alínea b e 5º da Resolução nº 69 de 12 de 5

6 Art. 5º O membro do Ministério Público do Trabalho, no prazo máximo de trinta dias, indeferirá o pedido de instauração de inquérito civil, em decisão fundamentada, da qual se dará ciência pessoal, por via postal ou correio eletrônico, ao representante e ao representado, nos casos de: (...) b) o fato denunciado ter sido ou estiver sendo objeto de investigação ou de ação civil pública; (...) 5º No caso de o arquivamento ter ocorrido por já existir investigação ou ação em curso, a denúncia deverá ser juntada aos autos do procedimento pré-existente, para ciência do membro do Ministério Público do Trabalho com atribuição originária para o caso. Ademais, a prória Câmara de Coordenação e Revisão já firmou entendimento (Precedente nº 04 do CCR/MPT) no sentido de acostar ao procedimento mais antigo, contra a mesma empresa e de idêntica matéria, denúncia, flagrantemente repetitiva, in verbis: 6

7 Precedente nº 04/CCR 185ª Reunião Ordinária (29/03/11 e 01/04/11) PROMOÇÃO DE ARQUIVAMENTO EM PROCEDIMENTO E/OU INQUÉRITO CIVIL FUNDAMENTADA EM INVESTIGAÇÃO REPETIDA. Na esteira da Orientação nº 7/CCR e por aplicação analógica do artigo 5º, 5º, da Resolução nº 69/07, o Relator, verificando tratar-se de promoção de arquivamento em procedimento preparatório e/ou inquérito civil fundamentada em investigação repetida, devolverá os autos ao órgão oficiante para que os remeta à PRT e/ou Procurador responsável pela investigação em curso, com a respectiva comunicação aos interessados. Portanto, entende-se que não se faz necessária, nos presentes autos, o prosseguimento da persecução ao encargo do MPT, tendo em conta a pré-existência de procedimentos administrativos com os mesmos objetos denunciados. Contudo, ressalte-se, cabe aplicação do art. 5º, b e 5ºda Resolução nº 69/2007 e do Precedente 04 da CCR/MPT, supratranscritos, vez que o procedimento em comento devem ser apensado ao IC 132/2012 para efetivação das normas procedimentais. 7

8 Dessa forma, a homologação do expediente sub examine é medida que se impõe, todavia por fundamentos diversos daqueles esposados pela i. Procuradora oficiante. CONCLUSÃO Pelo exposto, VOTO no sentido de HOMOLOGAR o arquivamento do presente procedimento administrativo às fls. 111/115, subscrito pela Exma. Procuradora do Trabalho, Dra. Paula de Ávila e Silva Porto Nunes, determinando, contudo, o DESLOCAMENTO DOS AUTOS AO PROCEDIMENTO ANTERIOR, conforme determinam o art. 5º, b e 5º da Resolução nº 69/2007 e do Precedente 04 da CCR/MPT. Cientifiquem-se os interessados, a douta Procuradora oficiante e a Chefia da Procuradora Regional do Trabalho da 10ª Região. Brasília, 24 de fevereiro de VERA REGINA DELLA POZZA REIS Subprocuradora-Geral do Trabalho Coordenadora da CCR RELATORA mjql 8