CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

Transcrição

1 CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO Origem: PRT 8ª Região Interessado(s) 1: Fundação Esperança Interessado(s) 2: Chardesson Carmo Assuntos: Acidente de trabalho CAT Procuradora oficiante: Carla Afonso de Nóvoa Melo COMUNICAÇÃO DE ACIDENTE DE TRABALHO (CAT). NEGATIVA DE ASSINATURA POR PARTE DE PROFISSIONAL DA ÁREA MÉDICA. Devidamente comprovado que o quanto investigado diz respeito à recusa em preencher e assinar a Comunicação de Acidente de Trabalho por profissional da área médica, a qual (recusa) se limita a uma situação pontual e específica, o que não encaminha o presente feito à possibilidade de, por ora, intervir o Ministério Público do Trabalho. Pelo conhecimento e não provimento do recurso administrativo e pela homologação da decisão arquivatória. RELATÓRIO Trata-se de procedimento preparatório instaurado em razão de denúncia formulada pela Fundação Esperança em desfavor de Chardesson Carmo, onde noticia que o denunciado, médico que assistiu ao paciente Carlos Edilson Silva Vasconcelos vítima de acidente de trabalho, ter-se-ia recusado, sem motivo 1

2 aparente, a assinar a Comunicação de Acidente de Trabalho CAT. Aduz, por fim, que manejou tal denúncia para evitar que o acontecido venha ocorrer com outros trabalhadores que porventura sejam atendidos pelo médico representado. O ilustre Órgão ministerial oficiante indeferiu a representação inaugural do presente procedimento sob os seguintes fundamentos (fls. 28/29), verbis: A legislação prevê expressamente a obrigação do empregador em comunicar o acidente de trabalho à Previdência Social até o 1º (primeiro) dia útil seguinte ao da ocorrência e, em caso de morte, de imediato, à autoridade competente, sob pena de pagamento de multa (art. 22 da Lei nº 8213/91) No caso de omissão do empregador, pode formalizar a comunicação o próprio acidentado, seus dependentes, a entidade sindical competente, o médico que assistiu ou qualquer autoridade pública (art. 22, 2º da Lei 8213/91). (...) Apenas no caso de restar incontroverso que não se trata de acidente de trabalho é que se admite a recusa do médico quanto à este preenchimento, já que a mera suspeita por si só já determina sua regular emissão, uma vez que a análise detalhada será feita por médico da Previdência Social. No caso em comento, não é possível vislumbrar as razões para a recusa do médico em preencher a Comunicação de Acidente de Trabalho, entretanto é conveniente que se esclareça sobre a finalidade desta emissão, que é permitir futura análise quanto ao direito do empregado em receber benefícios previdenciários. 2

3 Diante da situação acima transcrita, entendo que a medida adequada ao caso limita-se a comunicar ao Pronto Socorro Municipal quanto à necessidade de regular preenchimento da comunicação de acidente de trabalho, ainda que em caso de suspeita, sendo resguardado o direito de recusa no caso de restar incontroverso a não ocorrência de acidente, já que esta comunicação é dever do empregador e ainda visa assegurar o recebimento futuro de benefícios previdenciários pelo trabalhador. Entretanto, não há no vaso elementos necessários a instauração de procedimento de investigação no âmbito do Ministério Público do Trabalho contra o Pronto Socorro Municipal, pois se limita a questão a uma situação específica. Ademais, a conduta profissional do médico somente pode ser apurada na esfera de seu órgão de classe. (não grifei) Intimadas as partes do indeferimento em questão (fls. 30/v e 31/v), a fundação denunciante externou inconformismo (fl. 34) que foi recebido como recurso administrativo (fl. 36), nos seguintes termos, ad litteram: O fato ocorrido com a Representante não foi específico e muito menos isolado, posto que, o referido médico, DR. CHARDESSON CARMO, CRM- PA 9559, qual presta serviço ao Pronto Socorro Municipal de Santarém-Pa., se recusa a assinar indistintamente qualquer CAT, foi simplesmente uma postura que o mesmo resolveu adotar com relação a tais procedimentos, cabendo ressaltar,r que o sinistro ocorrido com o empregado da Representante, se deu diante de uma situação concreta de acidente de trabalho. Ademais, o referido profissional da saúde está se negando a assinar a CAT de todo e qualquer funcionário acidentado, sem que apresente um motivo relevante par a negativa. 3

4 Às fls. 36/37, o Exmo. Procurador do Trabalho, Dr. Vitor Bauer Ferreira de Souza, manteve, por seus próprios fundamentos, a decisão às fls. 28/29 anverso e verso, acrescentando o seguinte: Contudo, não vejo razões para reconsiderar o quanto decidido. A denunciante inovou em suas razões recursais, ao afirmar que o Dr. Chardesson Carmo, médico que integra os quadros do Pronto Socorro, vem se recusando sistematicamente a preencher comunicação de acidente de trabalho ( de todo e qualquer funcionário acidentado ), mas não trouxe aos autos elementos de convicção mínimos para instauração de procedimento investigatório. (destaque próprio) Devidamente intimados o médico Chardesson Carmo (fl. 38/v) e o Pronto Socorro Municipal de Santarém/PA (fl. 39/v), para, querendo, oferecerem contra-razões, quedaram-se inertes. vieram os autos a esta Relatora. Por distribuição deste feito na CCR/MPT, É o relatório. VOTO - FUNDAMENTAÇÃO Apresenta-se hábil e tempestivo o Recurso Administrativo ora em análise (fls. 30/v e 34). 4

5 Conforme se infere dos autos, a característica ou classificação do quanto denunciado diz respeito à recusa em preencher e assinar a Comunicação de Acidente de Trabalho por profissional da área médica, a qual (recusa) se limita a uma situação pontual e específica, o que não encaminha o presente feito à possibilidade de, por ora, intervir o Ministério Público do Trabalho. Quanto ao fato de que nas razões recursais há menção à recusa sistemática por parte do médico denunciado em preencher e assinar a multicitada comunicação de acidente de trabalho, tenho como correta a manifestação do Exmo. Sr. Procurador do Trabalho, Dr. Vitor Bauer Ferreira de Souza, em juízo de reconsideração à fl. 36 parte final, ad litteram: Contudo, não vejo razões para reconsiderar o quanto decidido. A denunciante inovou em sua razões recursais, ao afirma que o Dr. Chardesson Carmo, médico que integra os quadros do Pronto Socorro, vem se recusando sistematicamente a preencher comunicação de acidente de trabalho ( de todos e qualquer funcionário acidentado ), mas não trouxe aos autos elementos de convicção mínimos para instauração de procedimento investigatório. Por fim, a judiciosa decisão indeferitória ora combatida, com a qual comungo e cujos fundamentos adoto como parte integrante deste voto, deve subsistir por seus próprios fundamentos. 5

6 Cabe manter-se, por homologação, o arquivamento proposto pela digna Procuradora oficiante. CONCLUSÃO Posto isso, VOTO pela IMPROCEDÊNCIA da DENÚNCIA e do RECURSO ora examinados, mantendo a DECISÃO de fls. 28/29 anverso e verso. Cientifiquem-se os interessados e a Chefia da Procuradoria Regional do Trabalho de origem. Brasília, 28 de fevereiro de VERA REGINA DELLA POZZA REIS Subprocuradora Geral do Trabalho Membro da CCR - RELATORA 6