CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

Transcrição

1 FEITO PGT/CCR/PP/Nº 3713/2013 DO Origem: PRT 9ª Região Foz do Iguaçu / PR Interessado(s) 1: Sigiloso Interessado(s) 2: JD Despachos Aduaneiros Ltda. Interessado(s): Ministério Público do Trabalho Assunto(s): Temas Gerais Procurador oficiante: Enoque Ribeiro dos Santos Necessidade de retificação do pólo passivo do procedimento. Equívoco quando da autuação do feito. Empresa denunciada distinta da que efetivamente foi alvo de investigação. Investigação insuficiente. Pela não homologação da promoção arquivatória sub examine e pela reautuação do expediente para que nele conste a empresa efetivamente denunciada. RELATÓRIO Trata-se de procedimento administrativo instaurado com gênese em denúncia sigilosa formulada em face da empresa JD, nos seguintes termos (fl. 03 verso): Declara que trabalha como caminhoneiro autônomo, prestando serviços para diversas empresas de Foz do Iguaçu, sejam fretes nacionais ou internacionais. Ocorre que muitas empresas de Foz do Iguaçu tem se utilizado de 1

2 caminhoneiros estrangeiros, em especial paraguaios, para realizar fretes internacionais. Os caminhoneiros paraguaios entram com os caminhões vazios em Foz do Iguaçu e chegam a ficar até quatro, cinco dias estacionados nos pátios das empresas da cidade aguardando cargas dessas empresas, para retornarem ao seu país, cobrando fretes bem amis baratos, já que não incide muitos encargos, inclusive trabalhistas, que os realizados pelos caminhoneiros brasileiros. Os caminhoneiros brasileiros não podem ingressar a um país estrangeiro sem uma ordem de serviço de uma empresa brasileira, tampouco podem pegar carregamento de uma empresa estrangeira sem uma ordem de serviço, muito menos ficar aguardando o surgimento de cargas para o retorno, o que não tem sido respeitado pelas empresas de transporte de cargas de Foz do Iguaçu pelos caminhoneiros paraguaios. Empresas situadas em Foz do Iguaçu como a Nuestra Senhora de La Asuncion (NSA), Transportadora Augusta, Transparaguai, Transrede, Falcão, JD, JJS, Buzza, entre outras, incorrem nesta prática lesiva aos caminhoneiros brasileiros principalmente os locais, e não há reciprocidade para realizar essa prática nos demais países. Intimada a empresa JD Despachos Aduaneiros Ltda. para que prestasse esclarecimentos sobre os fatos noticiados, o representante da investigada compareceu à audiência administrativa realizada na Regional de origem, ocasião em que afirmou não possuir qualquer relação com o narrado na denúncia, já que não desempenha atividades de transporte de cargas e tem como objetivo social a prestação de serviços de despachos aduaneiros fls. 43/48. 2

3 Ato contínuo, o ilustre Órgão ministerial oficiante promoveu o arquivamento do procedimento sob os seguintes fundamentos (fl. 49 verso e anverso), verbis: Trata-se de Procedimento Preparatório decorrente de denúncia sigilosa efetuada nesta Procuradoria do Trabalho, fls. 03v. Com base na denúncia foi instaurada a Apreciação Prévia, fl.05, por estar em tese, incorrendo em irregularidades trabalhistas, tais como: Exploração irregular de trabalho do estrangeiro e remuneração, referente à contratação de caminhoneiros estrangeiros (paraguaios) para transporte de mercadorias, pois estes cobram frete em valor inferior ao cobrado pelos brasileiros por não incidirem tantos encargos, com destaque aos encargos trabalhistas que no Brasil são muitos, prejudicando assim o exercício da atividade aos caminhoneiros brasileiros. Converteu-se a Representação em Procedimento Preparatório, fl. 08. Em fl. 12v. o investigado fora devidamente notificado da realização de audiência a fim de prestar esclarecimentos sobre os fatos descritos na denúncia, todavia não compareceu à audiência. Desta forma, fora redesignada nova audiência, realizada em 07 de janeiro de 2013, tendo o investigado informado que não realiza o transporte de cargas, mas que sua atividade concerne apenas à documentação de exportação e importação. A denúncia tinha por abjeto dirimir o conflito referente à contratação de empregados estrangeiros para o transporte de cargas, pelo custo menor do frete cobrado por estes em relação aos brasileiros, o que prejudicou o exercício da atividade dos caminhoneiros brasileiros, sendo que tal conduta foi efetuada por diversas transportadoras. Todavia o 3

4 investigado apenas presta serviços de despachos aduaneiros e não o transporte de cargas, acarretando assim a perda do objeto da presente denúncia. Sendo assim, o arquivamento deste Procedimento Preparatório, é matéria que se impõe, nos termos do artigo 9º da Lei nº 7.347/85 e Precedente nº 12 do Conselho Superior do Ministério Público do Trabalho (DJ 014/03/05). autos a esta Relatora (fl. 32). Por distribuição deste feito na CCR/MPT, vieram os É o relatório. VOTO-FUNDAMENTAÇÃO Em que pese os argumentos expedidos pelo digno colega oficiante neste feito, data vênia, entende-se não caiba, por ora, a cessação da tarefa persecutória ao encargo do Ministério Público do Trabalho. Compulsando o feito, verifica-se que, no curso da instrução do procedimento, por algum equívoco em sede de origem, fez-se constar como investigada no presente expediente empresa distinta daquela que deveria, de fato, estar sendo alvo de investigação ministerial. Da análise da peça de ingresso, depreende-se menção à empresa de transporte de cargas em Foz do Iguaçu chamada 4

5 JD. Assim, em sede de apreciação prévia, o d. Órgão Ministerial oficiante determinou à Secretaria daquela Regional a verificação dos dados cadastrais e endereço da empresa com vistas à complementação dos dados no sistema CODIN e nos autos. Em atendimento à ordem ministerial, procedeu-se à juntada de extrato de CNPJ e da Receita Federal em relação à empresa JD Despachos Aduaneiros Ltda, consoante documentação de fls. 06/07. Ocorre que, ao comparecer em audiência administrativa realizada na Regional de origem, o representante da empresa JD Despachos Aduaneiros Ltda. negou qualquer envolvimento com os fatos mencionados na denúncia inicial, aduzindo, também, que jamais trabalhou com transporte de cargas, não sendo tal atividade objeto de atuação da empresa. De fato, a informação trazida aos autos pelo representante da aludida empresa se alinha com os dados constantes nos documentos extraídos do procedimento nº e juntados aos presentes autos por ordem do i. Órgão Ministerial oficiante, condutor de ambos os expedientes, já que na referida documentação há menção à empresa de razão social bastante similar à investigada, porém denominada JD Zanchet Transportes Ltda. 5

6 Ora, conjugando as informações obtidas em audiência com o representante da empresa JD Despachos Aduaneiros Ltda. com os dados constantes às fls. 33, percebe-se o claro equívoco na condução do procedimento, já que a investigação deveria ter se realizado em face de JD Zanchet Transportes Ltda empresa transportadora com atuação em Foz de Iguaçu. Sendo assim, considerando que a atividade persecutória ministerial deverá se voltar à empresa efetivamente denunciada nos presentes autos (JD Zanchet Transportes Ltda), a não homologação da promoção de arquivamento sub examine é medida que se impõe. CONCLUSÃO Pelo exposto, voto no sentido de NÃO HOMOLOGAR o arquivamento proposto pelo Exmo. Procurador do Trabalho, Dr. Enoque Ribeiro dos Santos, às fls. 49/49-v do presente expediente administrativo, devendo nele serem envidadas maiores providências investigatórias. Deixo, no entanto, de aplicar o inciso II, do 4º, do art. 10 da Resolução CSMPT nº69/07, devendo a designação atender às práticas da Regional. 6

7 Determino, ainda, a retificação do pólo passivo da presente investigação, devendo constar como denunciada no feito a mpresa JD Zanchet Transportes Ltda, cabendo à origem proceder às adequações necessárias à correta tramitação do expediente. processamento. Retornem os autos à origem para regular Brasília, 11 de abril de VERA REGINA DELLA POZZA REIS Subprocuradora-Geral do Trabalho Coordenadora da CCR Relatora ffpam 7