MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA-GERAL CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO FEITO PGT/CCR/PP/Nº 17514/2012

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1 FEITO PGT/CCR/PP/Nº 17514/2012 DO Origem: PRT 6ª Região Caruaru/PE Interessado(s) 1: Sigiloso Interessado(s) 2: Município de Sirinhaém Interessado(s) 3: Ministério Público do Trabalho Assunto(s): Temas Gerais Procurador oficiante: Marcelo Crisanto Souto Maior Ausência de procedimento investigatório que não autoriza o encerramento do feito. Necessidade de prosseguimento da tarefa investigatória ao encargo do Ministério Público do Trabalho. Indeferimento não homologado. RELATÓRIO Trata-se de procedimento administrativo instaurado por força de denúncia sigilosa em face do Município de Sirinhaém, no que diz respeito ao excesso da jornada laboral, não pagamento de horas extras, falta de treinamento para o exercício da função de socorrista, quanto aos motoristas de ambulância da prefeitura do ente público denunciado. Narra a denúncia (fl. 02), verbis: 1

2 OS MOTORISTAS DE AMBULâNIA, QUE TRABALHAM EM ESCALA, ESTãO SENDO LESADOS NO QUE DIZ RESPEITO A CARGA HORáRIA TRABALHADA. SEGUNDO O EDITAL DO ÚLTIMO CONCURSO PARA MOTORISTA DIARISTA A CARGA HORáRIA SERIA DE 30 HORAS SEMANAIS E A CLASSIFICAçãO EXIGIDA DA CNH FOI "B", PORéM ALGUNS MOTORISTAS FORAM APROVEITADOS PARA TRABALHAR NA AMBULâNCIA QUE EXIGE CATEGORIA "D". O PROBLEMA é QUE ESSES ESTãO TRABALHANDO NUMA ESCALA DE 24/48 O QUE NO FINAL DO MêS SOMA-SE 240 HORAS QUANDO, CONFORME O EDITAL, DEVERIA SER 120 HORAS MENSAIS E EM NENHUM DELES ESTá RECEBENDO HORAS EXTRAS. ALéM DISSO NENHUM DOS MOTORISTAS DA AMBULâNCIA RECEBERAM TREINAMENTO DE SOCORISTA PARA EXERCER A FUNçãO. O ilustre Órgão ministerial oficiante indeferiu liminarmente a representação, sob os seguintes fundamentos (fl. 05/06), verbis: Trata-se de expediente remetido a esta Procuradoria do Trabalho no Município de Caruaru noticiando supostas irregularidades envolvendo servidores públicos municipais. Ocorre que, como é consabido, houve mudança substancial na jurisprudência pátria, sendo este Procurador do Trabalho compelido a declinar de sua atribuição antes reconhecida, notadamente após a decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal nos autos da ADI 3395, ajuizada pela AJUFE, na qual se discutia o alcance da nova redação dada ao art. 114, inciso I, da Constituição Federal de 1988 pela Emenda Constitucional 45/2004, cujo dispositivo decidiu suspender "toda e qualquer interpretação dada ao inciso I do art. 114 da CF, na redação dada pela EC 2

3 45/2004, que inclua, na competência da Justiça do Trabalho, a... apreciação... de causas que... sejam instauradas entre o Poder Público e seus servidores, a ele vinculados por típica relação de ordem estatutária ou de caráter jurídico-administrativo. Ademais, em sucessivas reclamações, o E. Supremo Tribunal Federal, em situações concretas como a ora enfrentada, tem determinado a suspensão de feitos em trâmite perante a Justiça do Trabalho, conforme os precedentes em seguida colacionados: Rcl- MC 4592/TO, Rcl 5548/DF, Rcl 5171/DF, Rcl 5264/DF, Rcl 5475/DF, Rcl 4752/SE, Rcl AgR/AM e Rcl 4489-AgR/PA. Outrossim, insta ainda aduzir que em face da jurisprudência firmada pela Suprema Corte nas decisões acima apontadas, o Pleno do Egrégio Tribunal Superior do Trabalho, consoante Resolução 156/2009, DJE , houve por bem cancelar a Orientação Jurisprudencial 205 da SDI- 1/TST ("Competência Material. Justiça do Trabalho. Ente Público. Contratação Irregular. Regime Especial. Desvirtuamento. I - Inscreve-se na competência material da Justiça do Trabalho dirimir dissídio individual entre trabalhador e ente público se há controvérsia acerca do vínculo empregatício. II - A simples presença de lei que disciplina a contratação por tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público (art. 37, inciso IX, da CF/1988) não é o bastante para deslocar a competência da Justiça do Trabalho se alega desvirtuamento em tal contratação, mediante a prestação de serviços à Administração para atendimento de necessidade permanente e não para acudir a situação transitória e emergencial.") Acrescido a isto, a Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público do Trabalho já se pronunciou no bojo do processo PGT/CCR/ICP/1472/2009, nos seguintes termos: "JURISPRUDÊNCIA DOS TRIBUNAIS SUPERIORES. PROMOÇÃO DE ARQUIVAMENTO. Havendo jurisprudência dos 3

4 Tribunais Superiores em abono da tese que ampara a promoção de arquivamento, impõe-se à Câmara de Coordenação e Revisão, aplicando-se o princípio da razoabilidade e da eficiência, a chancela homologatória. 2. ADMISSÃO SEM CONCURSO PÚBLICO E DESVIRTUAMENTO DE CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA (4.3) (11 a Reunião Nacional - CONAP). Pertinência da decisão liminar proferida na ADI 3'395/DF - e referendada pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal - suspendendo, ex tunc, qualquer interpretação do inciso I do artigo 114 da Constituição da República, com a redação atualizada pela EC 45/04, que atribua à Justiça do Trabalho competência para julgar causas instauradas entre o Poder Público e servidores a ele vinculados por relação jurídico administrativa." Diante disso, entende este Procurador que a atuação do parquet laborai e a eventual discussão judicial perante a Justiça do Trabalho, quando o Supremo já definiu a competência da justiça comum, resultará fatalmente em prejuízo à efetividade, à celeridade e em afronta ao interesse público primário da própria sociedade. Assim, em face do panorama jurisprudencial atual, promovo o indeferimento liminar da representação, devendo o expediente ser arquivado perante esta Procuradoria do Trabalho, sem necessidade de encaminhar para manifestação da Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público do Trabalho em face do caráter liminar do indeferimento. (destaques próprios) autos a esta Relatora. Por distribuição deste feito na CCR/MPT, vieram os É o relatório. 4

5 VOTO-FUNDAMENTAÇÃO Com a máxima vênia do ilustre colega oficiante neste feito, não vejo como com ele concordar na proposta de arquivamento do procedimento em tela. Não foram juntados quaisquer documentos aos autos, somente dele constando o Termo de Denúncia nº 3971 (fl. 02). Entretanto, os fatos nele relatados revelam-se bastante graves, sendo de suma importância a atuação do Parquet no caso, principalmente quando se tem notícia de desrespeito à jornada de trabalho e, em decorrência, a preservação da saúde do trabalhador. A limitação legal da jornada de trabalho é importante instrumento de prevenção à fadiga física e mental dos trabalhadores, e, quando extrapolada, pode causar danos à saúde e à vida do empregado. Tem-se, sobretudo, que, ao contrário do afirmado pelo colega oficiante, não restou suficientemente claro qual a natureza jurídica do vínculo havido entre os motoristas de ambulância e o município de Sirinhaém/PE, ora denunciado (se celetista, estatutário ou outro). Assim, apesar da ausência de atribuições ao Ministério Público do Trabalho em casos de relações tipicamente estatutárias, não se pode assim depreender ser a hipótese dos presentes autos, ante a completa ausência de provas a tal respeito. 5

6 Logo, considerando a gravidade dos fatos narrados na denúncia, o encerramento deste procedimento, ao menos neste momento, revela-se precipitado, sendo conveniente que se prossiga à devida complementação investigatória para somente então decidir sobre o seu arquivamento e posterior homologação. CONCLUSÃO Posto isso, voto pela NÃO HOMOLOGAÇÃO do indeferimento às fls. 05/06, e determinando, aos termos do art. 2º, III, da Resolução CSMPT nº 69/2007, a abertura de expediente administrativo próprio, para que se dê prosseguimento às investigações, com a colheita de elementos de informação capazes de subsidiar uma adequada e efetiva análise revisional. Deixo, no entanto, de aplicar o inciso II, do 4º, do art. 10 da Resolução CSMPT nº69/07, devendo a designação atender às práticas da Regional. À origem para as providências cabíveis. Brasília, 14 de dezembro de VERA REGINA DELLA POZZA REIS Subprocuradora-Geral do Trabalho Coordenadora da CCR Relatora 6