PROCURADORIA-GERAL DO TRABALHO CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

Transcrição

1 ORIGEM: PRT da 4ª REGIÃO Santa Maria/RS ÓRGÃO OFICIANTE: Dr. Evandro Paulo Brizzi Interessado 1: Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de Santiago Interessado 2: Hospital de Caridade de Santiago Assuntos: Meio Ambiente do Trabalho Igualdade de Oportunidades e Discriminação nas Relações de Trabalho RELATÓRIO EMENTA: RECURSOS CONHECIDOS E DESPROVIDOS. EM ANÁLISE REVISIONAL INDEFERIMENTO LIMINAR QUE NÃO SE HOMOLOGA. Não se vislumbra campo de atuação qualificada do Ministério Público quando não se verifica ilegalidade na utilização de monitoramento do estabelecimento denunciado por câmaras. Ademais, suposta prática de assédio moral cujos contornos sejam estritamente individuais também não impele o prosseguimento da investigação. Contudo, denúncia acerca de inobservância de norma de saúde e segurança do trabalho merece ser apurada. Indeferimento liminar de representação que não se homologa. Recursos interpostos pela Federação dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde do RS - FEESSERS (fls.36/37) e pelo Sindicato dos Empregados em Estabelecimento de Serviços de Saúde de Santiago (fls.38/53) contra a decisão de indeferimento de instauração de inquérito civil prolatada pelo ilustre Procurador do Trabalho Dr. Evandro Paulo Brizzi (fls. 09/13). O Procurador do Trabalho oficiante no presente feito indeferiu a instauração de inquérito civil, entre outras razões, por não vislumbrar ilegalidade na instalação de câmeras de monitoramento, bem como por constatar o caráter individual e já judicializado da questão afeta ao assédio moral denunciado. 1

2 Irresignados, os recorrentes requerem a atuação do Ministério Público aduzindo interferências diretas do hospital denunciado nas eleições sindicais e que a direção do hospital coagiu os funcionários a assinarem documento indicando que o Sindicato não os representava. Além disso, indicam que o monitoramento por câmeras torna o ambiente de trabalho hostil. Às fls. 55/56 o procurador oficiante proferiu despacho mantendo sua decisão indeferimento liminar de instauração de Inquérito Civil. É o breve relatório. ADMISSIBILIDADE Haja vista a observância do prazo previsto 1º do artigo 5º da Resolução CSMPT 69/2007 para a interposição de recurso administrativo contra o indeferimento liminar de instauração de inquérito civil, bem como pela presença de fundamentação recursal tendente à desconstituição dos argumentos esposados na promoção de arquivamento, conheço do presente recurso. VOTO Consta da notícia de fato que: [...] O Hospital de Caridade de Santiago-RS instalou câmeras de vídeos dentro dos postos de enfermagem direcionadas para vigiar os seus funcionários em todos os setores da Entidade. [...]Queremos comunicar ao Ministério Público que o Hospital de Caridade pratica Assédio Moral contra seus trabalhadores, além disso, existe trabalhador afastado por doença por causa do Assédio. Pedimos ao Ministério Público que tomem medidas cabíveis contra esta Entidade Hospitalar para evitar a prática de assédio moral contra os trabalhadores e a retirada imediata das câmeras de vídeos. Sendo assim, venho informar também que o Hospital de Caridade não cumpriu a NR-32 e NR-24, seus trabalhadores tem que 2

3 comprar os seus uniformes. O Hospital não possui vestiários e nem local apropriado para o seu repouso (não existe alojamento) [...] Após o recebimento da denúncia foi designada audiência com o Sindicato denunciante para esclarecimentos. Naquela oportunidade esclareceu o Sindicato: [...] as câmeras são direcionadas aos postos de enfermagem. Que no tocante ao caso de assédio a funcionária se sentia ameaçada pela presença de um colega no posto de trabalho fora do horário de trabalho dele, e que tal se deu pelo fato da mesma ter ingressado na chapa da administração do sindicato. Que houve pressão para que ela deixasse a chapa. [...] Que Rossana está ingressando com ação na justiça contra o hospital. Que não houve outros casos que entenda que configurem assédio moral, que o único caso que entende que configurou foi o de Rossana. (fl. 09). No que concerne ao objeto do presente procedimento, constata-se que da narrativa denunciada não decorre ilegalidade relativa à instalação de câmeras. Não se infere da denúncia qualquer extrapolação dos limites à prerrogativa do empregador de monitorar o estabelecimento. As câmeras foram instaladas em locais de livre acesso e circulação dos trabalhadores, não havendo menção à violação da intimidade destes, motivo pelo qual resta prejudicada a atuação ministerial neste ponto. Além disso, consoante informação do próprio denunciante, cujo trecho se transcreveu acima, o assédio moral denunciado refere-se a uma única trabalhadora, que, inclusive, já busca, individualmente, reparação judicial. Ademais, observa-se que não há na denúncia ou nas razões recursais qualquer indicação fático-objetiva dos atos que configurariam assédio moral por parte do denunciado. O que se nota, em verdade, é certo desgaste na relação entre sindicato e empregador e a discordância daquele quanto à legitimidade da instalação de câmeras no estabelecimento. Contudo, tais questões, caso repute conveniente o sindicato, podem ser 3

4 diretamente por ele discutidas em via própria, fazendo-se uso da legitimidade a ele conferida por lei. Consigne-se, ainda, que a informação superveniente acostada às fls. 28 apesar de reiterar denúncia acerca de assédio moral, reputa tal conduta ao fato de o denunciado ter supostamente coagido os funcionários a assinarem documento pelo qual declaram não serem representados pelo Sindicato denunciante. Não obstante, referida questão é matéria a ser verificada no bojo do procedimento nº /3, cujo tema é liberdade sindical, ajuizando-se, inclusive, se for o caso, Ação de Execução do TAC ali firmado. Portanto, no que se refere às questões expostas, verifica-se não merecer reparo a decisão de indeferimento liminar do procurador oficiante, razão pela qual, negase provimento aos recursos interpostos. Contudo, com a devida vênia ao ilustre procurador, no tocante à denúncia acerca da inobservância de norma de saúde e segurança do trabalhador reputo prematuro o indeferimento liminar do feito. A atuação do Ministério Público não se sujeita à prévia manifestação da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego. Trazidas aos autos informações do descumprimento de normas relativas à saúde e segurança do trabalho, imprescindível diligenciar no sentido de verificar a veracidade da denúncia, bem como de regularizar a situação. A simples indicação de que fora agendada informalmente fiscalização da SRTE na empresa denunciada justificando-se, assim, o arquivamento liminar do feito não é medida que atende inteiramente aos preceitos e metas institucionais do Ministério Público do Trabalho. Sendo assim, nego provimento aos presentes recursos, mas deixo de homologar o indeferimento liminar de instauração de inquérito civil perpetrado pelo procurador oficiante no tocante à inobservância de norma de saúde e segurança do trabalho denunciada às fls

5 CONCLUSÃO: Pelo exposto, conheço o presente recurso administrativo e nego-lhe provimento, contudo, em análise revisional, deixo de homologar o indeferimento liminar de instauração de inquérito civil no que tange às denúncias afeitas ao meio ambiente do trabalho. Brasília, 09 de maio de ADRIANA SILVEIRA MACHADO Membro da CCR - Relatora 5