PROCURADORIA-GERAL DO TRABALHO CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

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1 Origem: PRT da 15ª Região Órgão Oficiante: Dra. Fabíola Junges Zani Interessado 1: Sindicato dos Empregados no Comércio de Itú Interessado 2: Lojas do Carmo utilidades domésticas LTDA. Assuntos: Temas Gerais (09.10) RECURSO. Não recolhimento de depósitos de FGTS e repasse das contribuições previdenciárias. Ausência de relevância social capaz de ensejar a atuação do Ministério Público do Trabalho. A CEF e a PGFN têm como suas atividades precípuas e finalísticas a tutela administrativa e judicial dos recursos do FGTS, e são dotadas de instrumentos jurídicos específicos para tal relevante finalidade, como as Notificações para Depósito de Fundo de Garantia NDFG, a inscrição do devedor na Dívida Ativa da União e o ajuizamento de Execução Fiscal para a cobrança de débitos com o FGTS, mediante convênio CEF/PGFN. Quanto a sonegação das contribuições previdenciárias, cabem a SRF e PGF a sua cobrança. Recurso conhecido e desprovido Arquivamento que se homologa. I - RELATÓRIO O Órgão oficiante promoveu o arquivamento do inquérito civil (fls. 120/121), por entender que seria desnecessária a atuação do MPT para a apuração de casos relativos ao não recolhimento do FGTS, por inexistir grande impacto social. Aduziu, ainda, que a legislação previu a

2 atuação de diversos órgãos (MTE, CEF, PFN e Delegacias da Receita Federal) para a fiscalização das contribuições previdenciárias e cobranças do FGTS. Por fim, colacionou precedente desta CCR que reafirma a sua tese. Contra a promoção de arquivamento, o sindicato denunciante interpôs recurso administrativo em fls civil. II ADMISSIBILIDADE Não foram ofertadas contrarrazões. O Órgão oficiante manteve o indeferimento do inquérito É, em síntese, o relatório. Conheço do presente recurso, haja vista a observância do prazo previsto no artigo 10-A da Resolução CSMPT nº 69/2007, bem como pelo inconformismo da manifestação da recorrente, essencial ao recurso. III VOTO Insurge-se a recorrente contra a promoção de arquivamento do inquérito civil, alegando, em suma, que: a) é indispensável a atuação do MPT, pois a entidade sindical busca a realização de Termo de Ajuste de Conduta, com o fim de regularizar os recolhimentos do FGTS e contribuições previdenciárias; b) mesmo tendo sido oficiado a Receita, a

3 CEF e ao MTE sobre as irregularidades, a empresa tem cometido conduta reiterada, mostrando descaso aos direitos do trabalhador. Sem razão. A Egrégia Câmara de Coordenação e Revisão do MPT vinha, em sua composição anterior, adotando o posicionamento de que, na hipótese de não recolhimento dos depósitos de FGTS, haveria sempre repercussão social a justificar a intervenção do órgão de execução ministerial, por se tratar de direito social do trabalhador, inclusive no tocante à investigação sobre possível ausência de individualização dos valores depositados nas contas vinculadas. Todavia, recentemente, este colegiado firmou o entendimento segundo o qual, em caso de não recolhimento de depósitos do FGTS, há ausência de relevância social capaz de ensejar a atuação do Ministério Público do Trabalho, haja vista que a SRTE Superintendência Regional do Trabalho e Emprego, a CEF - Caixa Econômica Federal e a PGFN

4 - Procuradoria da Fazenda Nacional estão melhor aparelhadas para arrecadar as contribuições em análise do que o MPT. Nesse sentido, o atual entendimento adotado por esta egrégia Câmara de Coordenação e Revisão: DENÚNCIA DE NÃO RECOLHIMENTO DE FGTS. Do ponto de vista do trabalhador, credor dos depósitos fundiários inadimplidos, o seu interesse é exclusivamente patrimonial/privado. Haveria transindividualidade da dívida apenas em relação aos órgãos arrecadadores, fiscalizadores e gestores do Sistema do FGTS. Assim, a SRTE - Superintendência Regional do Trabalho e Emprego, a CEF - Caixa Econômica Federal e a PGFN - Procuradoria da Fazenda Nacional são os legitimados preferenciais, para promover a tutela dos depósitos do FGTS, seja no plano administrativo ou na esfera judicial. A SRTE, a CEF e a PGFN são dotadas de instrumentos jurídicos específicos para tal relevante finalidade, como as Notificações para Depósito de Fundo de Garantia NDFG, a inscrição do devedor na Dívida Ativa da União e o ajuizamento de Execução Fiscal para a cobrança de débitos com o FGTS, mediante convênio CEF/PGFN. Tal aptidão precípua não exclui a legitimação ordinária do MPT para a ação civil coletiva, mas apenas nos casos em que o não recolhimento das parcelas fundiárias traduz grande impacto social, hipótese não verificada nos autos (PROCESSO PGT/CCR/PP 7120/2014. Relator do voto divergente vencedor: Dr. Fábio Leal Cardoso).

5 Insta salientar, ainda, que não é a simples natureza coletiva do interesse ou do direito que irá ensejar a intervenção do MPT, como no caso de não recolhimento do FGTS. Além do caráter metaindividual do direito em relação ao qual se pretende obter a tutela coletiva pelo MPT, deve o órgão ministerial perquirir acerca da existência de conveniência e oportunidade para a intervenção ministerial, bem como da presença de relevância social para a promoção da ação civil pública ou TAC no caso. Vale frisar, ademais, que, do ponto de vista do trabalhador, credor dos depósitos de FGTS inadimplidos, o seu interesse é exclusivamente patrimonial. Haverá interesse dos órgãos estatais na cobrança da dívida apenas em relação aos órgãos arrecadadores, fiscalizadores e gestores do FGTS. Assim, no caso testilhado, não observo relevância social apta a determinar a atuação do Ministério Público do Trabalho. Com efeito, a SRTE, a CEF e a PGFN têm como suas atividades essenciais a tutela administrativa e judicial dos recursos do FGTS, e são dotadas de instrumentos jurídicos específicos para tal mister, como as Notificações para Depósito de Fundo de Garantia NDFG, a inscrição do devedor na

6 Dívida Ativa da União e o ajuizamento de Execução Fiscal para a cobrança de débitos com o FGTS, mediante convênio CEF/PGFN. Quanto a sonegação das contribuições previdenciárias, segundo o art. 2 da Lei 11457/07, cabe a Secretaria da Receita Federal a apuração do débito que, não sendo pago, constitui dívida ativa da União, competindo à Procuradoria-Geral Federal - que representa judicial e extrajudicialmente o INSS nos processos versando sobre contribuições previdenciárias - sua cobrança. Aliás, esta Câmara tem entendido inexistir repercussão social apta a ensejar a atuação ministerial em casos tais. Neste sentido, se encontra o seguinte precedente: EMENTA: DEPÓSITOS DO FGTS. Denúncia formulada pelo sindicato da categoria profissional, informando a ausência de recolhimento de FGTS, contribuições previdenciárias e pagamento por fora de verbas remuneratórias, de um empregado da empresa investigada, não se insere no rol de atribuições do MPT, por não se configurar lesão de repercussão social apta a ensejar a atuação ministerial. Nega-se provimento ao recurso administrativo. (PROCESSO PGT/CCR/PP 15302/2011. Relator do voto: Dr. JAIME ANTÔNIO CIMENTI) Deste modo, o MPT tem centrado seus esforços em outros problemas, já que existem órgãos mais equipados para solucionar as irregularidades relativas ao FGTS e as contribuições previdenciárias. Ademais, conforme já destacado, o simples fato de o FGTS e das contribuições constituírem direitos sociais do trabalhador não significa que,

7 no caso, há interesse público e relevância social a ensejar a atuação ministerial. Por fim, o fato de a empresa possuir apenas 13 trabalhadores reforça a ideia de inexistência de grande impacto social para atrair a atuação deste parquet. Por tais razões, estou inteiramente de acordo com o entendimento do Órgão de origem, no que toca a essa matéria. Pelo que nego provimento ao recurso. IV CONCLUSÃO Pelas razões expostas, recebo o presente recurso administrativo e nego-lhe provimento, homologando, por consequência, o arquivamento do feito. Brasília, 10 de outubro de Junia Soares Nader Subprocuradora Geral do Trabalho Membro da CCR/MPT