CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

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1 DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO Origem: PRT 12ª Região Interessado(s) 1: SINDICATO DOS ARRUMADORES, TRABALHADORES PORTUÁRIOS AVULSO EM CAPATAZIA E SERIÇOS DE BLOCO DO MUNICÍPIO DE ITAJAÍ E NAVEGANTES DO ESTADO DE SANTA CATARINA Interessado(s) 2: SINDICATO DOS OPERADORES PORTUÁRIOS DE ITAJAÍ E NAVEGANTES Interessado(s) 3: MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO Assunto(s): Liberdade e Organização Sindical Procuradora oficiante: Cristiane Kraemer Gehlen RECURSO ADMINISTRATIVO. AÇÃO ANULATÓRIA DE CLÁUSULAS DE CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO. O sindicato denunciante é legitimado para defender os interesses de seus afiliados, inclusive para a propositura de Ação Anulatória de cláusula em Convenção Coletiva de Trabalho, nos termos do art. 486 do CPC. Pelo conhecimento e não provimento do recurso administrativo e, em análise revisional, pela homologação da promoção de arquivamento sub examine. RELATÓRIO Trata-se de procedimento preparatório instaurado com gênese em denúncia e pedido para ação anulatória de cláusulas de convenção coletiva de trabalho manejado pelo SINDICATO DOS 1

2 ARRUMADORES, TRABALHADORES PORTUÁRIOS AVULSO EM CAPATAZIA E SERIÇOS DE BLOCO DO MUNICÍPIO DE ITAJAÍ E NAVEGANTES DO ESTADO DE SANTA CATARINA envolvendo o SINDICATO DOS OPERADORES PORTUÁRIOS DE ITAJAÍ E NAVEGANTES, onde requer o ajuizamento de ação anulatória pelo Ministério Público do Trabalho para excluir da Convenção Coletiva de Trabalho 2013/2015 respectiva a Cláusula 33ª, 2º, bem como o item 10 das Normas Específicas para APT Terminais e a alínea d das Normas de Escalação anexos à referida convenção. Alega, para tanto, a insatisfação de seus afiliados para com tais normas. A ilustre Procuradora oficiante promoveu o arquivamento deste procedimento investigatório nos seguintes termos (fls. 181/183 anverso e verso), verbis: (...) Compulsando os autos presentes, e analisando as nuances trazidas na questão fática posta, faz-se necessário tecer algumas considerações que fundamentarão a decisão ora tomada por este órgão ministerial. A Convenção Coletiva de Trabalho é fruto de uma negociação que deita suas raízes na noção de democracia. Ela está umbilicalmente ligada aos princípios básicos da própria existência sindical, em especial o princípio da autodeterminação normativa e da autotutela. Nesse norte, a negociação coletiva como um processo que é passa por diversas etapas, para que, exitosa, frutifique uma norma coletiva cujo objetivo é a busca pelo equilíbrio das forças da relação de trabalho. Em sua origem a Convenção Coletiva de Trabalho tem essência contratual vez que inegavelmente é fruto de concessões recíprocas das partes negociantes para o alcance de um bom termo que satisfaça as necessidades dos envolvidos. 2

3 Por dedução lógica essa espécie de ato jurídico submete-se aos princípios contratuais, dentre eles a boa-fé contratual. A segmentação de uma norma coletiva, fruto de um legítimo processo de negociação coletiva, macula a própria gênese da negociação que é a de cedências progressivas e recíprocas. Isso porque, na medida em que sendo um processo negocial, a transação coletiva deve ser evolutiva, e a evolução se dá exatamente porque há transigência de ambas as partes. Ora, o fruto desse processo será consequência da própria transigência entre as partes, e somente subistirá se respeitada essa abrangência de todas as matérias postas à negociação. (...) Dito isso, em uma simples leitura da Convenção Coletiva de Trabalho 2013/2015 é possível concluir trata-se de instrumento de alta complexidade que por certo demandou extenso processo de negociação coletiva entre seus signatários. Colhe-se de sua essência contratual que tenha sido confeccionada pelas partes imbuídas de boa-fé contratual inerentes à validade dos negócios jurídicos em geral. Por outro lado, é irrefutável a íntima ligação que diversas cláusulas tem entre si, ou seja, modificando-se uma cláusula ou anulando-a certamente outras sofrerão reflexo dessas mudanças. Esse fator, em si, acentua a prevalência de sua análise de forma contextualização e global. Anular uma cláusula de uma Convenção Coletiva de Trabalho qualquer já não uma missão técnica fácil, e relativamente a presente CCT, cuja complexidade do instrumento salta aos olhos, e onde é possível perceber-se a conexão entre as cláusulas- haja vista a natureza e peculiaridade do trabalho portuário- é algo irracional e de efeitos deletérios. Ao analisar o requerimento do Sindicato obreiro não se encontram evidências de que a assinatura do instrumento coletivo, ou o próprio processo de negociação coletiva tenha transgredido alguma norma legal. A cláusula 33ª, 2 da CCT 2013/2015, e aos item 10 das Normas Específicas para APT Terminals e alínea d das Normas de Escalação - anexos à Convenção Coletiva de Trabalho, objetos do presente requerimento feito pelo Sindicato dos Arrumadores estão imbrincadas com outras tantas espalhadas pela CCT. Ainda que houvesse um real, forte e jurídica razão que fundamentasse o pleito anulatório, não se pode desconsiderar os pilares do próprio sistema sindical baseado em diversos princípios interdependentes (autodeterminação 3

4 normativa e autotutela) e de efetiva importância na sobrevivência do próprio sistema. Nesse passo é que a negociação coletiva, da qual exsurge a Convenção Coletiva de Trabalho, mostra sua força como processo negocial, donde extrai-se a exigência ao respeito ao instrumento oriundo das transigências das categorias envolvidas, e ainda ao próprio cerne de sua existência que advém diretamente do desdobramento da democracia. De outro norte, o pleito sindical está baseado em narrações genéricas das quais, embora queria a entidade fazer crer que haja uma discordância da categoria quanto ao que fora acordado no instrumento coletivo, nada se colhe do concreto. Não se vislumbram, nem foram expressamente apontados pelo requerente, quais seriam as lesões ocorridas e que direitos os trabalhadores teriam sido vulnerados pelas normas apontadas em seu requerimento. Afirmar que há lesão ao patrimônio jurídico dos trabalhadores não é argumento jurídico suficiente capaz de fundamentar uma ação anulatória. O que se extrai dos autos, e que aliás é situação informada pelo próprio Sindicato profissional, é que a CCT 2013/2015 foi firmada por outra diretoria, que segundo a atual diretoria não teria agido totalmente em prol dos trabalhadores. Ao que parece a motivação da presente é apenas o descontentamento seja da diretoria do Sindicato, seja de alguns trabalhadores que teriam assinado ata na qual requerem a anulação de algumas partes da CCT 2013/2015. Ora, o simples descontentamento com algo que os representantes da categoria negociaram não se presta para embasar ação visando a anular uma Convenção Coletiva de Trabalho. Como exposto acima, não se pode admitir no ordenamento justrabalhista a retaliação de um instrumento coletivo, desconsiderando sua essência negocial e de fruto de um intenso processo de negociação coletiva, por mero descontentamento, ainda mais quando nada há de formalmente e materialmente irregular nas cláusulas postas. De qualquer forma o direito de ação individual de qualquer trabalhador que de fato se sentir lesado em razão de alguma cláusula firmada pela entidade sindical que lhe representa tem a sua disposição os instrumentos que poderá manejar individual na Justiça do Trabalho conforme lhe está assegurado no ordenamento. Por fim, cabe ressaltar que o requerimento apresentado pelo Sindicato dos Arrumadores é datado de abril/2014 momento temporal em que a Convenção Coletiva de Trabalho atacada já vigora há mais de um ano. Esse fato não é 4

5 decisivo mas por si só ajuda a diminuir ainda mais a credibilidade do que é requerido. Assim, por todo exposto o Ministério Público do Trabalho, por intermédio deste órgão ministerial, não se vislumbra razões que motivem o manejo de ação anulatória, pelo menos por ora. Destarte, não restando razões a sustentar a presente investigação, determino o arquivamento do presente Inquérito Civil, por perda de objeto,... Devidamente intimado do arquivamento promovido neste feito, o sindicato denunciante interpôs recurso administrativo, conforme peça de fls. 186/189. Em despacho à fl. 190/v, a d. Procuradora oficiante manteve o arquivamento do feito, ressaltando que o recorrente trouxe dados diversos dos mencionados na denúncia. Ao final, determinou a remessa dos autos à Câmara de Coordenação e Revisão. os autos a esta Relatora (fl. 193). Por distribuição deste feito na CCR/MPT, vieram É o relatório. VOTO-FUNDAMENTAÇÃO O Recurso Administrativo apresentado pelo sindicato denunciante apresenta-se hábil e tempestivo (fls. 184 e 186) e, assim merece conhecimento. 5

6 O sindicato denunciante é legitimado para defender os interesses de seus afiliados, inclusive para a propositura de Ação Anulatória de cláusula em Convenção Coletiva de Trabalho, nos termos do art. 486 do CPC. Portanto, a decisão arquivatória ora combatida, com a qual comungo e cujo entendimento adoto como parte integrante deste voto, deve subsistir por seus próprios fundamentos. Destarte, cabe manter, por homologação, a promoção de arquivamento às fls. 181/183- anverso e verso dos presentes autos. CONCLUSÃO Pelo exposto, VOTO no sentido de CONHECER e NÃO PROVER o Recurso administrativo sub examine, e, em atividade revisional, VOTO pela HOMOLOGAÇÃO da promoção de arquivamento às fls. 181/183- anverso e verso, por seus próprios fundamentos, determinando o retorno dos autos à origem para as providências de estilo. Brasília, 15 de outubro de VERA REGINA DELLA POZZA REIS Subprocuradora Geral do Trabalho Coordenadora da CCR Relatora 6