CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

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1 DO Origem: PRT 4ª Região Interessado(s) 1: Departamento de Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos Secretaria de Direitos Humanos União Federal. Interessado(s) 2: Não Informado Interessado(s) 3: Ministério Público do Trabalho Assunto(s): Exploração do Trabalho da Criança e do Adolescente Procuradora oficiante: Tayse de Alencar Macário da Silva EXPLORAÇÃO DO TRABALHO DE CRIANÇA E ADOLESCENTE. ARQUÉTIPO Nº 02 DA COORDINFÂNCIA. A gravidade dos fatos alegados na denúncia e a necessária defesa dos princípios que regem a dignidade da pessoa humana e da proteção à criança e ao adolescente, aconselham, in casu, o prosseguimento da tarefa persecutória ao encargo do Ministério Público do Trabalho. Aplicação do Arquétipo nº 03 da COORDINFÂNCIA. Ausência de diligências suficientes que autorizem o encerramento das investigações. Não homologação do indeferimento de instauração de inquérito civil ora em exame. RELATÓRIO Trata-se de procedimento administrativo instaurado com gênese em denúncia registrada no Disque Direitos Humanos da 1

2 Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República em face da genitora, cujo nome não se mencionou, das supostas vítimas da exploração laboral, nos seguintes termos (fl. 02), verbis: Crianças são negligenciadas e aliciadas para o tráfico de drogas pela genitora, de nome não informado. Os fatos acontecem a aproximadamente um ano, diariamente, na casa da suspeita. Nas negligências, as vítimas presenciam pessoas usando drogas ilícitas e são aliciadas para o tráfico. Sabe-se que a genitora vende drogas e as crianças entregam no portão de casa para os usuários que compram. Não há dados escolares das crianças. O Conselho Tutelar tem conhecimentos dos fatos, mas até o momento eles continuam. Em sede de apreciação prévia, a i. Procuradora oficiante indeferiu, liminarmente, a instauração de inquérito civil, sob os seguintes fundamentos (fls. 05/05v), verbis: Em enfoque denúncia registrada no Disque Direitos Humanos, noticiando suposta exploração econômica de crianças por sua genitora, consistente no tráfico de drogas. O quadro fático demonstra grave violação do princípio da proteção integral (art. 227 da CR), assim como aos direitos assegurados no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90). Ocorre que os fatos narrados, consistem em questão inerente à desestruturação familiar e ao exercpicio do pátio poder. Ademais, a exploração econômica relatada configura ilícito penal. Ante o exposto, a demanda enviada pelo Disque Direitos Humanos, não configura hipótese de atuação do Parquet Laboral, visto não apresentar 2

3 autos a esta Relatora (fl. 11). pertinência com as finalidades e funções institucionais, a ele atribuídas pelos artigos 127, caput e 129 da Constituição Federal, conjugados sob um ângulo de maior especificidade, com o artigo 83 da Lei Complementar nº 75/93. Dessa maneira, forçoso é o indeferimento de representação de instauração de inquérito civil, nos termos do artigo 5º, a, da Resolução nº 69/2007 do Conselho Superior do Ministério Público do Trabalho. (...) Por distribuição deste feito na CCR/MPT, vieram os É o relatório. VOTO-FUNDAMENTAÇÃO Data venia dos argumentos expedidos pela digna colega oficiante neste feito, entende-se não caiba, por ora, a cessação da tarefa persecutória ao encargo do Ministério Público do Trabalho. A matéria versada nestes autos mostra-se sumamente relevante às missões e metas prioritárias institucionais que cabem ao Ministério Público do Trabalho, já que relacionada ao trabalho infantil em uma de suas piores formas. 3

4 Constata-se, do exame do presente expediente, que o ilustre Procurador nele oficiante procedeu ao arquivamento do feito, de forma liminar, sob o argumento de que os fatos narrados, consistem em questão inerente à desestruturação familiar e ao exercpicio do pátio poder. Ademais, a exploração econômica relatada configura ilícito penal. Ante o exposto, a demanda enviada pelo Disque Direitos Humanos, não configura hipótese de atuação do Parquet Laboral, visto não apresentar pertinência com as finalidades e funções institucionais, a ele atribuídas pelos artigos 127, caput e 129 da Constituição Federal, conjugados sob um ângulo de maior especificidade, com o artigo 83 da Lei Complementar nº 75/93.. Em que pesem os argumentos expendidos pela i. oficiante, entende-se que não merecem acolhimento, pelas razões a seguir expostas. É indene de dúvidas que o ilícito denunciado nos presentes autos tem repercussões diretas na esfera penal, já que tipificado como conduta criminosa (tráfico de substâncias ilícitas por menores de idade) reprimida pelo ordenamento jurídico brasileiro. Neste diapasão, por não possuir a Justiça do Trabalho competência para o julgamento de ações penais, ainda que conexas com ilícitos trabalhistas, deverá ser buscada a responsabilização da denunciada no âmbito dos órgão judicantes 4

5 competentes, a fora a responsabilização civil dos deveres da guarda de menores e/ou exercício do pátrio poder Todavia, a legitimação do Ministério Público do trabalho, independentemente dos desdobramentos criminais decorrentes da conduta atribuída à denunciada, impõe-se a persecução quanto à exploração ilícita do trabalho infantil. Ora, consoante disposições da Convenção nº182 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a utilização de crianças no tráfico de drogas constitui uma das piores formas de trabalho infantil, tendo o Brasil, ao ratificar o instrumento internacional, assumido o compromisso de combater a perpetuação de prática tão repudiável contra crianças e adolescentes. OIT: Nesse sentido, o artigo 3º da referida convenção da Para os efeitos desta Convenção, a expressão as piores formas de trabalho infantil compreende: a) todas as formas de escravidão ou práticas análogas à escravidão, como venda e tráfico de crianças, sujeição por dívida e servidão, trabalho forçado ou compulsório, inclusive recrutamento forçado ou compulsório de crianças para serem utilizadas em conflitos armados; b) utilização, procura e oferta de criança para fins de prostituição, de produção de material pornográfico ou espetáculos pornográficos; c) utilização, procura e oferta de crianças para atividades ilícitas, 5

6 particularmente para a produção e tráfico de drogas conforme definidos nos tratados internacionais pertinentes grifos nossos; d) trabalhos que, por sua natureza ou pelas circunstâncias em que são executados, são susceptíveis de prejudicar a saúde, a segurança e a moral da criança. e) A exploração do trabalho de crianças e adolescentes no comércio de entorpecentes, por conseguinte, ofende não somente direitos individuais porventura lesados, mas também afronta diretamente os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana, da proteção integral à criança e ao adolescente e da valorização do trabalho. Destaque-se, que o entendimento adotado neste voto segue a orientação contida no Arquétipo nº 03 da COORDINFÂNCIA, ad litteram: Arquétipo nº 3 aprovado por maioria. Conteúdo: CRIANÇA/ADOLESCENTE(S) SÃO NEGLIGENCIADAS/AGREDIDAS POR GENITOR(ES)/RESPONSÁVEL(EIS) E EXPLORADAS SEXUALMENTE OU PARA TRÁFICO DE DROGAS POR TERCEIRO OFENSOR ALHEIO AO NÚCLEO FAMILIAR IMEDIATO. Conclusão: Necessária atuação. Fundamentação: Constituição Federal art. 7, XXXIII; art Convenção 182 da Organização Internacional do Trabalho, em vigor no território nacional, por meio do Decreto Legislativo nº 178/1999. Menção à doutrina da proteção integral. Identificação como meta prioritária de atuação do MPT. Menção expressa de classificação como 6

7 piores formas de trabalho infantil. Procedimental: Conversão em PP se necessária identificação adicional de vítima/ infrator ou conversão em IC se suficiente a identificação. Não designar audiência de forma imediata com os genitores, pois pode alertar e frustrar a persecução criminal. Encaminhamento para providências da ação policial, solicitando-se o encaminhamento das conclusões do inquérito policial, para eventual responsabilização do explorador/exploradores. Atenção especial para contextos de redes de exploração sexual de crianças e adolescente. Requisição de ação do Conselho Tutelar com a família, requisitando-se que o relatório apresente minimamente: a) Nomes completos das vítimas; b) Dados completos dos genitores; c) Estado/situação em que se encontram as crianças e adolescentes da família; d) indicações de quais trabalhos as crianças e adolescentes são submetidos; e) indicações dose eventuais beneficiários do trabalho, explorador ou eventuais intermediários. Encaminhamento de cópia ao MPE para o acompanhamento dado o aspecto criminal correlato. Requisição ao CREAS para abordagem da criança e família. Portanto, o caráter comum de seus reflexos não prejudica a apreciação e persecução ministerial, na especificidade de cada ramo, revelando-se, em verdade, ilícito de natureza concorrente. Outrossim, possui o Ministério Público do Trabalho legitimidade para buscar a reparação dos danos individuais indisponíveis e coletivos, gerados em decorrência da exploração sexual de crianças e adolescentes para fins comerciais, por meio do ajuizamento de ação civil pública, instrumento este de natureza cível-trabalhista. 7

8 Diante de todo o exposto, não há como acolher a proposta de arquivamento firmada nos presentes autos às fls. 05/05v, devendo a persecução ministerial continuar com vistas à obtenção de elementos mínimos de informação, aptos a ensejarem a propositura de ação civil pública ou o arquivamento do feito. CONCLUSÃO Pelo exposto, voto no sentido de NÃO HOMOLOGAR o arquivamento proposto pela Exma. Procuradora Regional do Trabalho, Dra. Tayse de Alencar Macário da Silva, às fls. 05/05v do presente expediente administrativo, determinando o retorno dos autos à origem para regular processamento. Deixo, no entanto, de aplicar o inciso II, do 4º, do art. 10 da Resolução CSMPT nº69/07, devendo a designação atender às práticas da Regional. COORDINFÂNCIA/MPT. Extraiam-se cópias à ciência da 8

9 processamento. Retornem os autos à origem para regular Brasília, 20 de fevereiro de VERA REGINA DELLA POZZA REIS Subprocuradora-Geral do Trabalho Coordenadora da CCR RELATORA mjql 9