Noticia o Dr. José Caetano dos Santos Filho que, em 01/06/1999, firmou Termo de Ajuste de Conduta com a Indústria de Bebidas Antarctica S/A,

Transcrição

1 Interessado 1: PRT/13ª Região Interessado 2: MPT Assunto: Consulta (Sobre execução de TAC de vigência regional, quando há outro, firmado com a mesma empresa em âmbito nacional ) EMENTA: Consulta. 1) Possibilidade de execução de TAC de vigência regional, quando há outro firmado em âmbito nacional. Não seria razoável a execução do TAC firmado no âmbito da PRT/13ª Região, haja vista nova obrigação assumida em âmbito nacional. 2) Acompanhamento de TAC. Havendo Termo de Ajuste de Conduta de abrangência nacional, seu acompanhamento compete a todas as PRT s onde existam filiais da empresa, desde que haja pedido do Procurador oficiante. I - RELATÓRIO Trata-se de consulta realizada pelo Dr. José Caetano dos Santos Filho, Procurador do Trabalho lotado na PRT/13ª Região, acerca de execução de Termo de Ajuste de Conduta de âmbito regional, quando há outro, firmado com a mesma empresa em âmbito nacional. Noticia o Dr. José Caetano dos Santos Filho que, em 01/06/1999, firmou Termo de Ajuste de Conduta com a Indústria de Bebidas Antarctica S/A, 1

2 cujo objeto era o cumprimento da reserva de vagas destinadas às pessoas com deficiência e/ou reabilitados (art. 93 da Lei 8.213/91) fls. 46/48. Relata que a situação fática se alterou no decorrer dos anos, passando a Antarctica, juntamente com a Cervejaria Brahma, a formarem a AMBEV. Em 2002, a AMBEV firmou Termo de Ajuste de Conduta com a PRT/2ª Região, com vigência nacional e versando sobre o mesmo objeto do TAC anteriormente firmado com a PRT/13ª Região, de vigência regional (TAC às fls. 79/81; 1ª termo aditivo fls. 608/609 e 2º termo aditivo às fls. 526/529). O Dr. José Caetano dos Santos Filho, diante do quadro antes delineado, faz a seguinte consulta à CCR: I CONSIDERANDO a anterioridade do TAC firmado nos presentes autos, CONSIDERANDO o desgaste advindo, decorrente da execução de TAC conflitante com outro firmado também perante o próprio MPT (PRT-2ª Região), deve este órgão do Ministério Público promover ação de execução, diante do descumprimento do TAC firmado nos presentes autos? II Diante dos fatos descritos acima, a quem compete, doravante, fiscalizar periodicamente o cumprimento do art. 93 da Lei 8213/91 no âmbito da AMBEV, mormente considerando que o TAC firmado por primeiro tem vigência no Estado da Paraíba e o outro nacional. 2

3 Os autos foram a mim distribuídos em 24/09/2009. É o relatório. II VOTO Em 1º/06/1999, o Dr. José Caetano dos Santos Filho firmou TAC com a Industria de Bebidas Antarctica da Paraíba S/A, conforme se pode verificar às fl. 46/48 dos autos. A empresa comprometeu-se a contratar, no prazo de 90 dias, deficientes e/ou reabilitados no percentual previsto no art. 93 da Lei 8213/91. A Indústria de Bebidas Antarctica da Paraíba S/A foi sucedida pela Companhia Brasileira de Bebidas, a qual passou a funcionar no mesmo endereço. Procedida fiscalização em outubro de 2002, foi constatada a regularidade da situação (fl. 66). Em 2004, a Companhia Brasileira de Bebidas filial da Paraíba comunicou a PRT/13ª Região acerca da celebração de TAC de âmbito nacional. O TAC foi firmado em 16/05/2002 pela PRT/2ª Região, conforme se pode verificar à fl. 79/81 dos autos. Posteriormente, em maio de 2005, foi celebrado o primeiro termo aditivo (fls. 608/609), elastecendo-se por mais dois anos o prazo de cumprimento da obrigação. Em setembro de 2007, foi firmado o segundo termo aditivo, desta vez já com a AMBEV (Companhia de Bebida das 3

4 Américas), sucessora por incorporação da Companhia Brasileira de Bebidas (fls. 526/529). Neste segundo termo aditivo, a AMBEV comprometeu-se a contratar 567 pessoas deficientes, de acordo com o cronograma abaixo: 120 pessoas com deficiência até março de 2008; 160 pessoas com deficiência até setembro de 2008; 120 pessoas com deficiência até março de 2009; 167 pessoas com deficiência até setembro de Fiscalizações realizadas no âmbito da PRT/13ª Região, em abril e junho de 2009, demonstraram o descumprimento do TAC regional firmado em Indaga o Dr. José Caetano dos Santos Filho se deve promover a execução do TAC firmado perante a PRT/13ª Região, diante da comprovação de seu descumprimento. Para responder esta pergunta do douto Procurador do Trabalho, faz-se necessário perquirir se o objetivo daquele primeiro TAC firmado vem sendo cumprido, ainda que por caminhos distintos daqueles traçados inicialmente. No caso dos autos temos uma situação peculiar. A Indústria de Bebidas Antarctica da Paraíba S/A, que firmou TAC em 1999 com a PRT/13ª 4

5 Região, passou a fazer parte de um conglomerado maior, chamado Companhia de Bebida das Américas (AMBEV). Esse conglomerado maior, com a intervenção da PRT/2ª Região, firmou TAC, agora de âmbito nacional, que passou a prever a contratação de 567 pessoas com deficiência até Assim, entendo que o objeto do TAC firmado perante a PRT/2ª Região abarcou aquele anteriormente firmado perante a PRT/13ª Região, trazendo aquele ajuste benefícios em todo o território nacional, com a inserção de pessoas com deficiência nas mais diversas regiões do país. Não é possível antever as mudanças que ocorrerão na estrutura de uma empresa ao largo dos anos. O importante é que, a despeito das alterações da estrutura jurídica da empresa, as obrigações assumidas continuem a ser respeitadas. E mais, no caso dos autos, as obrigações assumidas foram ampliadas com um ajuste de âmbito nacional. Ouso dizer que ocorreu, in casu, uma verdadeira novação das obrigações anteriormente assumidas, motivo pelo qual entendo que não seria razoável a execução do TAC anterior, de âmbito regional. Diferentemente do que foi dito pelo Dr. José Caetano dos Santos Filho à fl. 616 dos autos, penso que o caso não é de TAC s conflitantes, mas sim de TAC s convergentes na consecução de um mesmo objetivo, qual seja, a observância do art. 93 da Lei 8.213/91. A não execução do primeiro ajuste celebrado preserva o princípio da unidade do Ministério Público, segundo o qual 5

6 somos uma instituição única, agindo como um só corpo e uma só vontade, sendo a divisão de tarefas meramente funcional. Em 2002, o Dr. Edson Braz da Silva, então membro da CCR e Relator, em consulta formulada pelo Dr. Luís Henrique Rafael, Procurador do Trabalho da PRT/15ª Região, assim se posicionou (CCR 36/2001): Assim, ousarei sugerir aos doutos Colegas desta Câmara de Coordenação e Revisão a minuta de uma rotina de procedimento para o desfazimento de TCAC imputado inconveniente ou ilegal por órgão do MPT que não seja seu signatário, com seguinte teor: (...) 4. Se posteriormente à celebração do TCAC surgirem fatos novos modificando significativamente as situações fática ou jurídica consideradas na celebração e tornando inócuas ou inconvenientes as condições de tempo, de modo ou lugar para adequação da conduta ajustadas no TCAC, mediante despacho fundamentado, do qual se dará ciência ao órgão signatário do TCAC, o órgão oficiante poderá deixar de cumpri-lo e exigir do compromissado a adequação de sua conduta à nova realidade, mediante aditamento do TCAC existente ou a celebração de um novo ou adotar as medidas administrativas ou judiciais que julgar necessárias, independentemente do pronunciamento da Câmara de Coordenação e Revisão." O que a CCR decidiu in abstracto, materializou-se no caso ora em análise. Há circunstâncias que tornam inócuas ou inconvenientes a adequação da 6

7 conduta tal qual ajustada. No caso concreto, a situação fática antes delineada permite ao Membro ceder no ajuizamento da ação de execução, já que um objetivo maior foi alcançado com a assinatura de termo de ajuste de conduta de âmbito nacional, embora não haja nos autos informação acerca do seu efetivo cumprimento. O Dr. José Caetano dos Santos Filho também consulta a CCR sobre quem competirá fiscalizar periodicamente o cumprimento do art. 93 da Lei 8213/91 no âmbito da AMBEV, mormente considerando que o TAC firmado por primeiro tem vigência no Estado da Paraíba e o outro nacional. Conforme já vem sendo decidido pela CCR, na ementa a seguir transcrita, o acompanhamento de TAC de âmbito nacional deve ser feito por todas as PRT s onde existirem filiais da empresa, a pedido do Procurador oficiante. EMENTA: CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES. ACOMPANHAMENTO DE TAC. EXECUÇÃO. O acompanhamento de TAC via de regra é feito na PRT, local da assinatura do mesmo. Tratando-se de TAC com abrangência nacional é indispensável que o acompanhamento ocorra em todas as PRTs onde existirem filiais da empresa, a pedido do Procurador oficiante. A execução do TAC firmado em empresas de âmbito nacional se descumprido em mais de uma Regional ocorrerá na PRT/10ª Região, nos termos da OJ 130/TST. grifo nosso. 7

8 (CCR 5675/2009 e CCR 174/2007, ambos da Relatoria da Dra. Maria Aparecida Gugel) Assim, se houver pedido da PRT/2ª Região, deve também a PRT/13ª Região, ademais das outras Regionais onde haja filial da AMBEV, fiscalizar o efetivo cumprimento das obrigações assumidas. Entendo prudente que se encaminhe, à PRT/2ª Região, cópia do termo de ajuste de conduta firmado perante a PRT/13ª Região (fls. 46/48), da consulta formulada pelo Dr. José Caetano dos Santos Filho às fls. 616/617 dos autos, bem como cópia deste voto e da deliberação da CCR no presente caso. É como voto. III CONCLUSÃO Por todo o exposto, entendo que não seria razoável a execução do TAC firmado no âmbito da PRT/13ª Região, haja vista nova obrigação assumida em âmbito nacional. No que tange ao TAC de abrangência nacional, seu acompanhamento compete a todas as PRT s onde existam filiais da empresa, desde que haja pedido do Procurador oficiante. 8

9 Determino, ainda, o encaminhamento, à PRT/2ª Região, dos documentos de fls. 46/48 e 616/617, bem como de cópia deste voto e da deliberação da CCR no presente caso. Brasília/DF, 28 de setembro de Lucinea Alves Ocampos Membro da CCR Relatora 9