CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

Transcrição

1 FEITO PGT/CCR/PP/Nº 18445/2012 DO Origem: PRT 15ª Região Interessado(s) 1: Anônimo Interessado(s) 2: Sercar Distribuidora de Peças e acessórios Ltda. Interessado(s) 3: Ministério Público do Trabalho Assunto(s): Meio Ambiente do Trabalho Igualdade de Oportunidades e Discriminação nas Relações de Trabalho Temas Gerais Procurador oficiante: Alex Duboc Garbellini Ausência de diligências suficientes, aptas a evidenciarem a regularidade da empresa investigada. Necessidade de apuração da denúncia relacionada à prática de assédio moral e à inadequação do local de trabalho. Pela não homologação da promoção de arquivamento. RELATÓRIO Trata-se de procedimento administrativo instaurado com gênese em denúncia supostamente anônima formulada em face da Sercar Distribuidora de Peças e Acessórios Ltda., noticiando os 1

2 seguintes fatos (fl. 02), verbis: Não se respeita os horários dos atendentes de teleatendimento. Se trabalha oito horas mais recebesse por seis. Existe um forme sistema de humilhação pelo gerente e o dono, que não cansa de dizer que lei para ele é só a que ele faz. Registro com piso inferior, condição de trabalho inapropriada. Intimada para prestar esclarecimentos sobre os fatos noticiados, a empresa investigada compareceu em audiência administrativa realizada na Regional de origem (fl. 16), oportunidade em que refutou integralmente a procedência da denúncia, verbis: (...) trabalha no ramo e peças e acessórios para veículos, atuando principalmente em vendas para instaladores; as vendas soa feitas pessoalmente e por telefone; não há empregados dedicados exclusivamente ao atendimento de vendas por telefones, todos atendem também no balcão; a empresa funciona de segunda a sexta-feira, o piso salarial adotado é o do Sindicato dos Empregados do Comércio; o gerente atual é o Sr. Edson Luís de Jesus, contratado em setembro e anteriormente era representante externo; também atua na administração da empresa a Sra. Edvânia Rodrigues Piceli, coordenadora de vendas; que trabalha na empresa desde julho de 2010; nunca houve queixas da forma de tratamento com relação aos empregados; a empresa teve apenas uma reclamação ajuizada contra si e mesmo assim julgada improcedente; manifesta surpresa em relação ao objeto de denúncia, no que se refere a assédio moral, porque a relação com os empregados sempre foi boa e a maioria trabalha há muitos anos na empresa. Ato contínuo, o ilustre Órgão Ministerial promoveu o arquivamento do procedimento, mediante os seguintes fundamentos (fls. 54/54-v), verbis: 2

3 (...) Na audiência, a empresa apresentou os documentos requisitados e prestou esclarecimentos. Pela análise dos documentos, verifica-se que o menor salário em agosto/2012 era de R$856,00, correspondente ao piso fixado na convenção coletiva dos empregados no comércio de Campinas, vigente à época. Considerando que os empregados vendedores não se dedicam exclusivamente à atividade de teleatendimento, a eles não se aplica a redução de jornada do Anexo II da NR15 (telemarketing). A análise dos cartões de ponto juntados demonstra que a jornada não tem sido elastecida além do limite legal de 2 horas diárias e, quando ocorrem, as horas extras são pagas com adicional. Com relação ao assédio moral, o anonimato da denúncia impossibilita que o denunciante seja ouvido, com garantia de sigilo quanto à sua identidade, para prestar maiores esclarecimentos e indicar pessoas que pudessem ser ouvidas para sua comprovação, já que a empresa nega peremptoriamente sua ocorrência. Registre-se, ainda, que se trata de empresa de pequeno porte, com apenas 14 empregados. Diante do exposto, promovo o arquivamento deste inquérito civil por ausência de irregularidade em relação à jornada de trabalho e piso salarial e por falta em relação ao assédio moral. autos a esta Relatora. Por distribuição deste feito na CCR/MPT, vieram os É o relatório. 3

4 VOTO-FUNDAMENTAÇÃO Data venia dos argumentos expedidos pelo digno colega oficiante neste feito, entendo não caiba, por ora, a cessação da tarefa persecutória ao encargo do Ministério Público do Trabalho. Compulsando os autos, verifica-se que o i. Procurador oficiante fundamentou sua promoção de arquivamento com base exclusivamente em esclarecimentos prestados pela empresa investigada, consoante depoimento pessoal realizado em sede de audiência administrativa ocorrida na Regional de origem. Verifica-se, portanto, que não houve o mínimo aprofundamento investigatório necessário, por conseguinte, à elucidação das questões neste feito apuradas. Muito embora tenha a empresa investigada colacionado aos autos vasta documentação que, em um primeiro momento, poderia corroborar a tese de sua regularidade com relação às inadequações referentes ao piso salarial e à jornada de trabalho, certo é que, in casu, nada foi apurado acerca da ocorrência de assédio moral e das condições inapropriadas de trabalho. Concessa venia, não há como concordar com a justificativa da não iniciação das investigações em relação à prática de 4

5 assédio moral, adotada pelo Parquet oficiante em sua promoção de arquivamento (impossibilidade de intimação do denunciante para prestar esclarecimentos ante o seu anonimato). Ora, é sabido que a ocorrência de assédio moral no meio ambiente do trabalho, apesar de sua gravidade e de seu alto grau de reprovabilidade, é prática de difícil comprovação, revelando-se a prova testemunhal como meio mais eficaz para elucidação da questão. Todavia, ao contrário do afirmado pelo d. Colega oficiante, não se verifica nos presentes autos a inviabilidade de intimação do denunciante, já que, conforme peça de fl. 02, a denúncia não é anônima, mas sim feita mediante sigilo, tampouco subsiste a completa impossibilidade de início das investigações com o objetivo de apurar a prática de assédio moral na empresa, uma vez que distintas diligências, como a intimação de atuais e ex-empregados da empresa denunciada, revela-se medida possível e necessária ao melhor esclarecimento da conduta atribuída à investigada. Ademais, saliente-se que a peça de ingresso também relata a ocorrência de inadequação do local de trabalho, ilícito este que não teve qualquer diligência investigatória empreendida pelo Parquet oficiante. 5

6 Deste modo, tendo em vista a inexistência de diligências suficientes aptas a reconhecerem a regularidade de conduta da empresa denunciada em relação à ocorrência de assédio moral e à inadequação do local de trabalho, a não homologação da promoção de arquivamento sub examine é medida que se impõe. CONCLUSÃO Pelo exposto, voto no sentido de NÃO HOMOLOGAR o arquivamento proposto pelo Exmo. Procurador do Trabalho, Dr. Alex Duboc Garbellini, às fls. 54/54-v do presente expediente administrativo, determinando o retorno dos autos à origem para regular processamento. Deixo, no entanto, de aplicar o inciso II, do 4º, do art. 10 da Resolução CSMPT nº69/07, devendo a designação atender às práticas da Regional. Brasília, 22 de fevereiro de VERA REGINA DELLA POZZA REIS Subprocuradora-Geral do Trabalho Coordenadora da CCR RELATORA ffpam 6