MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA-GERAL

Transcrição

1 ORIGEM: PRT 15ª REGIÃO ÓRGÃO OFICIANTE: DR. RONALDO JOSÉ DE LIRA INTERESSADO 1: SINTRACAMP SINDICATO PROFISSIONAL DOS TRABALHADORES NA MOVIMENTAÇÃO E ENSACAMENTO DE MERCADORIAS E CARGAS EM GERAL DE CAMPINAS E REGIÃO INTERESSADO 2: 1) CENTRAIS DE ABASTECIMENTO DE CAMPINAS 2) MUNICÍPIO DE CAMPINAS ASSUNTO: TRABALHO AVULSO (08.40.) RECURSO. DENÚNCIA. INDEFERIMENTO LIMINAR. TRABALHADOR AVULSO. CEASA. A Lei nº , de 27 de agosto de 2009, é explícita quando diz que as atividades de movimentação de mercadorias em geral serão exercidas por trabalhadores com vínculo de emprego ou em regime de trabalho avulso com a intermediação obrigatória do Sindicato representativo da categoria. No caso, o trabalho é realizado por carregadores autônomos, o que afronta referida legislação, com consequente negativa a esses trabalhadores de direitos trabalhistas, situação que impõe a atuação ministerial. Recurso a que se dá provimento. 1

2 I - RELATÓRIO O Órgão oficiante indeferiu liminarmente (fls. 67/58) o pedido de instauração de inquérito civil público formulado pelo Sindicato nomeado. Esse, em face da decisão, interpõe o recurso de fls. 71/73. Os autos vieram a este Colegiado para análise, sendo determinado o seu retorno à origem, em diligência, para a notificação da empresa e do Município denunciados, na forma do art. 5º, 3º, da referida Resolução nº 69 /2007. Embora devidamente notificados, os denunciados não ofereceram contrarrazões ao recurso. É, em síntese, o relatório. II VOTO Tempestivo o recurso, passo a sua análise. Em seu recurso, o Sindicato denunciante esclarece, inicialmente, que não busca filiados com a denúncia, mas, apenas, a formalização da mão de obra dentro da CEASA-Campinas, que permite que trabalhadores permaneçam dentro de sua área comum para prestar serviços de forma autônoma a esses caminhões de fazendeiros, quando é seu dever permissionar, administrar e fiscalizar as atividades dentro da área, conforme estatuto social anexado à 2

3 denúncia (f. 71). Diz ser impossível relacionar todos os fazendeiros que abastecem a CEASA, razão por que entende ser dela a incumbência de coibir a prática ilegal, de trabalho autônomo dos carregadores, de forma precária, com negativa de direitos trabalhistas, em contrariedade ao que dispõe a Lei nº /2009. Diz que a violação de direito indisponível dá legitimidade à atuação do Ministério Público, nos termos dos artigos 127 e 129 da Constituição Federal (fl. 72). Colaciona documento oriundo da PRT da 3ª Região, que traz entendimento contrário ao esposado pelo Órgão oficiante. O Órgão oficiante indeferiu o pleito, mediante as seguintes razões:...não vislumbro atribuição do Ministério Público do Trabalho para atuar no presente feito pois, se o sindicato pretende exercer a sua função constitucional deve, primeiramente, promover assembléias e filiação, de modo a promover a organização dos trabalhadores que desempenham as atividades nas empresas tomadoras de serviço. Por outro lado, restou claro que o Ceasa e a Prefeitura não são responsáveis pela contratação dos trabalhadores. Por fim, a Lei , em seu art. 3º, prevê que referida atividade pode ser exercida por trabalhador com vínculo empregatício, o que demandaria a análise de cada empresa ali instalada. A situação denunciada extrapola das ações discriminadas pelo Órgão oficiante como sendo próprias do Sindicato denunciante. Tem-se, no caso, ausência do Sindicato no trabalho exercido pelos carregadores que atuam na área sob administração da CEASA. A situação, no entanto, evidencia a ocorrência de trabalho avulso, regulamentado pela Lei nº /2009, a ser exercido, obrigatoriamente, com a intermediação da entidade sindical representativa da categoria. 3

4 É certo que a legislação referida prevê a possibilidade de o trabalho ser exercido com vínculo empregatício, o que, no entanto, não é a situação dos autos, haja vista a realidade relatada no presente. Nessas condições, torna-se imprescindível, primeiro, garantir a presença do Sindicato, adotando-se para tanto as ações necessárias, preservando-se, com isso, os direitos trabalhistas a eles devidos. De outro lado, caso se evidencie o exercício de trabalho com vínculo empregatício, não formalizado, deverão também ser adotadas ações para a correção da irregularidade. O que não pode ser tolerado, porque ilegal, é a realização do trabalho de forma autônoma, como no caso. Trabalho avulso não é trabalho autônomo. E, no caso, na forma da previsão legal, a atividade somente poderá ser exercida por trabalhadores avulsos, com a intermediação do Sindicato, ou por trabalhadores com vínculo empregatício. Nunca por autônomos. Assim, o que está evidenciado no presente é o fato de o trabalho de movimentação de mercadorias referido na denúncia ocorrer sem a intermediação, obrigatória, do Sindicato. A circunstância dá razão ao recorrente. Nessas condições, o primeiro passo no sentido da garantia dos direitos dos trabalhadores que atuam na CEASA é que esta passe a exigir a presença no espaço por ela administrado de carregadores com vínculo de emprego ou vinculados ao Sindicato, uma vez que a atividade não pode ser desempenhada de outra forma. A situação em discussão, portanto, se insere no âmbito de atuação ministerial, haja vista o descumprimento da legislação em questão, com negação de direitos trabalhistas aos trabalhadores envolvidos. 4

5 Nesse sentido, pertinente o interesse do Sindicato em ver esclarecida a questão, uma vez legítimo representante da categoria. III CONCLUSÃO Isso posto, voto no sentido do conhecimento e provimento do recurso, e em conseqüência, pela não homologação da promoção de arquivamento encaminhada, com devolução dos autos à origem para prosseguimento, na forma do art. 9º, 4º da Lei 7347/85, como se entender de direito, deixando de designar membro específico para atuação (inciso II, artigo 10, da Resolução nº 69/2007), em respeito à autonomia organizacional da Regional, preservando-se, porém, o caráter da delegação deste ato, ainda que abstrata, que será individualizada no membro a quem couber oficiar no procedimento segundo os parâmetros regionais.. Brasília, 02 de dezembro de Eliane Araque dos Santos Relatora 5