MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA-GERAL CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

Transcrição

1 Origem: PRT 4ª Região Santa Cruz do Sul/RS Interessado(s) 1: SINDITAXI Sindicato dos Taxistas de Santa Cruz do Sul Interessado(s) 2: Município de Sobradinho Assunto(s): Liberdade e Organização Sindical RECURSO ADMINISTRATIVO. CONTRIBUIÇÃO SINDICAL. TAXISTA. O sindicato, in casu, possui legitimidade para atuar, de forma ampla e irrestrita, na defesa dos direitos e interesses da categoria, nos termos do art. 8º, III, da Constituição Federal, sendo prescindível a atuação ministerial. Recurso administrativo conhecido e não provido. VOTO Trata-se de recurso administrativo interposto pelo Sindicato dos Taxistas de Santa Cruz do Sul SINDITAXI nos autos do procedimento administrativo instaurado em face do Município de Sobradinho. O i. Procurador oficiante Dr. Itaboray Bocchi da Silva indeferiu o requerimento de instauração do inquérito civil às fls. 08/10, sob os seguintes fundamentos: Em foco peça de informação em que o autor refere que o Município representado não vem exercendo devidamente a fiscalização do pagamento da contribuição sindical por ocasião da concessão de licença de funcionamento, operação e renovação relativa ao exercício da atividade de taxista, implicando nulidade dos 1

2 atos praticados e comprometendo a manutenção da própria agremiação sindical. Perlustrando os termos contidos na denúncia, não se descortina hipótese de intervenção do Parquet Laboral, uma vez que a Constituição da República, em seu art. 8º, III, atribui à própria entidade autora da denúncia a missão de defender os direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas, mormente quando ostenta ela ciência delineada das condutas, em tese, perpetradas pelo representado e a questão diz respeito aos interesses arrecadatórios da entidade representativa. Em alinhamento à matriz constitucional, os arts. 82, IV, do CDC e 5º e 21 da Lei nº 7.347/5, garantem aos sindicatos legitimidade para a propositura de ação civil pública ou coletiva, outorgando-lhes importante instrumento para a defesa dos interesses e direitos dos integrantes das categorias por eles representadas. Esposando tal linha de entendimento, vale aqui invocar a ementa da decisão proferida no âmbito do órgão revisor deste Ministério Público, versando caso semelhante: Quando a representação é formulada por associação sindical, a atuação do parquet trabalhista tem caráter autônomo, porém subsidiário, e só se justifica, portanto, se houver comprovado óbice à ação daquela, ou se o interesse a ser protegido se revestir de grave repercussão social. (Processo PGT/CCR/PP/439/2010) Ademais, ainda, que se superasse a questão preliminar da legitimidade subsidiária ministerial, a atuação encontraria óbice no fato de a denúncia radicar-se em omissão fiscalizatória da autoridade administrativa competente no exercício do poder de polícia, o que caracterizaria, em tese, ato de improbidade administrativa, a teor do disciplinado no art. 11, II, da Lei 8.429/92. 2

3 Ocorre que, considerando-se o paralelismo entre as atribuições do Ministério Público do Trabalho/Justiça do Trabalho e entre o Ministério Público dos Estados e Justiças Estaduais, em associação à norma estalajada no 1º do art. 2º da Resolução nº 23 do Conselho Superior do Ministério Público, de 17 de setembro de 2007, eventual repressão da conduta ficaria a cargo do ramo estadual do Parquet, em face da competência judicial da Justiça Gaúcha para julgamento da questão. Nesse sentido, reiterada a uníssona jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho que tem repelido a competência material da Justiça do Trabalho para julgar demanda cuja causa de pedir consubstancie-se no ato improbo do administrador, o que pode ser ilustrado com a ementa infra: RECURSO DE REVISTA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. CONTRATAÇÃO IRREGULAR. INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. A Justiça do Trabalho não tem competência para o julgamento de agente públicos por ato de improbidade administrativa. Assim, mesmo que a situação decorra da contratação de servidores sem prévia realização de concurso público, em nítida afronta aos princípios constitucionais que regem a Administração Pública, não compete à Justiça do Trabalho o julgamento da matéria, que não tem pertinência com a relação de trabalho. Precedentes. Recurso de Revista não conhecido. (Processo: RR Data de Julgamento: 18/03/2009, Relator Ministro: Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT 17/04/2009.) [...] às fls. 14/15. O denunciante, inconformado, apresentou suas razões recursais Contrarrazões pelo denunciado às fls. 20/24. 3

4 O membro oficiante manteve seu entendimento pelo indeferimento de instauração do inquérito civil (fl. 27). Distribuído o feito a minha relatoria, passo ao exame. É o relatório. FUNDAMENTAÇÃO Quanto à tempestividade, considerando o despacho de fls. 27 exarado pelo i. Procurador Oficiante, o recurso deve ser admitido como tempestivo. O recorrente, em suas razões recursais, reafirma o quanto exposto na denúncia acerca da obrigação do poder público de exigir, no ato da concessão de licença de funcionamento, operação, renovação da atividade de taxista, provas de quitação da contribuição sindical. No entanto, o apelo não logra êxito. Isto porque as razões recursais não trazem fundamentos capazes de infirmar e reformar a proposição de arquivamento ora hostilizada. Ademais, o sindicato possui legitimidade para atuar, de forma ampla e irrestrita, na defesa dos direitos e interesses próprios, nos termos do art. 8º, III, da Constituição Federal, sendo prescindível a atuação ministerial. A esse respeito, vale destacar os seguintes precedentes desta Câmara de Coordenação e Revisão: 4

5 RECURSO. SINDICATO. LEGITIMIDADE CONCORRENTE. O Sindicato tem legitimidade concorrente para atuar na defesa dos interesses de trabalhadores de sua categoria, não sendo necessário, no particular, a atuação Ministerial. Recurso a que se nega provimento. (Processo PGT/CCR/PP/12463/2012, Relatora Eliane Araque dos Santos) RECURSO. SINDICATO. LEGITIMIDADE CONCORRENTE. PLANO DE CARGOS E SALÁRIO. O Sindicato denunciante possui legitimidade para a tutela dos interesses mencionados na representação, não se justificando a intervenção do Ministério Público do Trabalho. (Processo PGT/CCR/1649/2012, Relatora Heloisa Maria Moraes Rego Pires) Nesses termos, voto pelo conhecimento e não provimento do recurso administrativo, com a consequente homologação do indeferimento de instauração de inquérito civil. CONCLUSÃO Pelo exposto, voto no sentido de conhecer e não prover o recurso administrativo interposto pelo denunciante, com a consequente homologação do indeferimento de instauração de inquérito civil, determinando o retorno dos autos à origem. Dê-se ciência aos interessados, ao Procurador oficiante Dr. Itaboray Bocchi da Silva e à Chefia da Procuradoria Regional do Trabalho da 4ª Região. 5

6 Brasília, 04 de abril de IVANA AUXILIADORA MENDONÇA SANTOS SUBPROCURADORA-GERAL DO TRABALHO 6