PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5.ª REGIÃO Gabinete da Desembargadora Federal Margarida Cantarelli
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- João Guilherme Lencastre da Fonseca
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1 R E L A T Ó R I O A Exmª Des. Federal MARGARIDA CANTARELLI (Relatora): Cuida-se de mandado de segurança impetrado pelo MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL contra decisão do Juízo da 8ª Vara Federal do Rio Grande do Norte que, no curso da Ação Penal nº onde se encontram denunciados ALISSON RODRIGUES FERREIRA e FRANCISCO DAS CHAGAS DA SILVA SOBRINHO, indeferiu pedido de requisição das folhas de antecedentes criminais dos réus, sob o argumento de que a juntada da referida prova seria ônus da acusação, e não do juízo (fls. 22/24). Ausente pedido liminar. Informações prestadas pela autoridade dita coatora (fls. 34/38, por fax, e 39/44). Regularmente citados, os litisconsortes passivos necessários deixaram fluir in albis o prazo de lei (fls. 61). segurança. O Parquet Federal, em parecer de fls. 62/65, opina no sentido de ser concedida a É o relatório. Inclua-se o feito em pauta para julgamento. MSTR RN 15\ 1
2 V O T O A Exmª Des. Federal MARGARIDA CANTARELLI (Relatora): Oferecida denúncia perante o Juízo da 8ª Vara Federal da Seção Judiciária do Rio Grande do Norte em desfavor dos litisconsortes passivos necessários, foi requerida a juntada das folhas de antecedentes criminais atualizadas dos denunciados junto à Secretaria de Segurança Pública/RN e ao Departamento de Polícia Federal, bem como certidões do que houvesse relativamente aos denunciados nas secretarias criminais dos foros das comarcas integrantes da circunscrição territorial submetida à jurisdição daquela Vara Federal, na secretaria daquele juízo e da cidade de Natal/RN. Recebida a denúncia, contudo restou indeferido o pleito do órgão ministerial suso descrito, determinando comprovar-se a impossibilidade de requisitar tais documentos, haja vista, que é por demais explícita a sua competência para tal, consoante disposição do art. 47 do Código de Processo Penal, podendo requerer diretamente aos órgãos ou funcionários competentes as informações que lhe sejam indispensáveis (fls. 23). Em suas informações, assim se manifesta a autoridade impetrada (fls. 40): Prima facie, devo considerar minha posição de magistrado, presidente do feito, cabendo-me assegurar às partes igualdade de tratamento, sob pena de incorrer no pior dos vícios que pode macular a atuação do juiz, qual seja a parcialidade. Sendo o Ministério Público titular da ação penal, intervém na ação como parte, e como parte haverá de ser tratado, sem qualquer tratamento privilegiado ou que impunha sua supremacia sobre os réus. Como parte, compete-lhe apresentar os documentos de que necessite provar, e comprovar, o direito que pretende ver tutelado. Não se pode afastar que o inquérito policial apurou os motivos da denúncia e investigou a existência de documentos, circunstâncias e fatos para o ajuizamento da ação penal, e a tudo teve acesso o representante do Ministério Público Federal. Ademais, o MPF detém prerrogativa legal, prevista no artigo 47 do CPP, para requisitar documentos, diretamente, aos órgãos e/ou funcionários competentes para lhe fornecerem as informações que repute indispensáveis à propositura da ação penal. MSTR RN 15\ 2
3 Como já expendido em julgados anteriores, não vejo qualquer óbice ao atendimento - ou, ao menos, conhecimento - dos pedidos contidos na denúncia, pelo que julgo violado o direito líquido e certo de produção de prova em juízo pela acusação. Minha leitura sobre a nova dinâmica do processo penal brasileiro é a de que, com o fim da conhecida fase do art. 499 para o procedimento ordinário (requisição de diligências), cabe às partes, desde o início do processo, produzirem prova documental para subsidiar a instrução, assim como já ocorria com o arrolamento da prova testemunhal. Ou seja, o primeiro momento para a produção é a denúncia, para a acusação, e a resposta escrita do art. 396, para a defesa. E "produção" não compreende apenas a juntada de documentos já existentes e sob guarda da acusação ou defesa, mas também o pleito para que o juízo, na atividade instrutória que lhe é típica, requisite a outros órgãos informações que se afigurem relevantes. Por mais mitigações e assimetrias que haja, no direito processual penal brasileiro, quanto à plena vigência do modelo acusatório (diligências de ofício, mutatio libelli, rejeição do pedido de arquivamento, etc.), nesse ponto específico não há que se falar em inquisitorialidade. Apesar de não haver previsão expressa quanto ao encargo da juntada de certidões de antecedentes, a simplicidade do requerimento desses documentos às autoridades do próprio Poder Judiciário e a tradição já firmada de ser tal medida requerida pelo juízo levam-me a julgar abusivo o ato judicial que denegou o pleito. Em síntese, considero que a ausência de prejuízo ou esforço significativos do juízo com a efetivação da diligência induzem à inexistência de fundamento para a negativa e, portanto, sua abusividade em função do art. 93, IX da CF/88 e, de modo oblíquo, pela ofensa aos princípios da economia e celeridade processuais. Posto isso, concedo a segurança. É como voto. MSTR RN 15\ 3
4 EMENTA: PROCESSUAL PENAL. MANDADO DE SEGURANÇA. INDEFERIMENTO DO REQUERIMENTO DE DILIGÊNCIAS. CERTIDÕES DE ANTECEDENTES CRIMINIAIS. I. Mandado de segurança impetrado pelo Ministério Público Federal contra decisão que recebeu a denúncia, mas indeferiu pedido de requisição de documentos às autoridades competentes certidões de antecedentes criminais. Alegação de cerceamento de defesa e violação ao direito de produção de provas. II. Após as recentes reformas na legislação processual penal brasileira, cabe às partes, desde o início do processo, produzirem prova documental para subsidiar a instrução, assim como já ocorria com o arrolamento da prova testemunhal. Ou seja, o primeiro momento para a produção é a denúncia, para a acusação, e a resposta escrita do art. 396, para a defesa. III. Como a produção de prova não abrange apenas a juntada, mas também a requisição de informações às autoridades, não há razoabilidade no indeferimento sob o único argumento de poder o MPF trazer espontaneamente os documentos aos autos. Inexistência, no caso, de quebra do princípio acusatório, havendo, na verdade, ameaça aos princípios da economia e celeridade processuais. IV. Segurança concedida. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de MANDADO DE SEGURANÇA (Turma), em que são partes as acima mencionadas. MSTR RN 15\ 4
5 ACORDAM os desembargadores federais da Quarta Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por maioria, em conceder a segurança, nos termos do voto da Relatora e das notas taquigráficas que estão nos autos e que fazem parte deste julgado. Vencido des. Edílson Nobre. Recife, 11 de janeiro de Des. Federal Margarida Cantarelli Relatora MSTR RN 15\ 5
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