Acórdão 8a Turma. V O T O CONHECIMENTO Conheço do recurso, eis que atendidos os requisitos de admissibilidade.
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- Carlos Eduardo Canto Almada
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1 Acórdão 8a Turma PROCESSO: RTOrd PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO Gab Des Edith Maria Correa Tourinho Av. Presidente Antonio Carlos,251 7o.andar - Gab.33 Castelo Rio de Janeiro RJ - COOPERATIVAS DE TRABALHO - VÍNCULO EMPREGATÍCIO - Impõe-se o reconhecimento do vínculo empregatício entre os "cooperados" e as cooperativas fraudulentamente criadas com o único objetivo de terceirização de serviços de necessidade permanente. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso Ordinário em que são partes: MONICA MARIA DA SILVA BARBOSA, como recorrente e FUNDAÇÃO PORTO REAL E COOPERATIVA DE PORTO REAL DE SERVIÇOS LTDA, como recorridas. Inconformada com a r. sentença de fls. 502/506, proferida pelo Exmo. Juiz Gilberto Garcia da Silva, que julgou improcedente o pedido, recorre ordinariamente a autora, consoante razões às fls. 507/513. Pretende, em síntese, a reforma da sentença para que seja reconhecido o vínculo empregatício com a 1ª ré (COOPERATIVA PORTO REAL) e a responsabilidade solidária da 2ª ré (FUNDAÇÃO PORTO REAL), bem como o deferimento das parcelas postuladas na inicial. Dispensado o recolhimento de custas às fls Contrarrazões da 2ª ré às fls. 516/521. Sem contrarrazões da 1ª ré, apesar de regularmente intimada às fls Manifestação do Ministério Público do Trabalho, às fls. 527, da lavra da I. Procuradora Inês Pedrosa de Andrade Figueira, opinando pelo regular prosseguimento do feito. É o relatório. V O T O CONHECIMENTO Conheço do recurso, eis que atendidos os requisitos de admissibilidade. MÉRITO VÍNCULO DE EMPREGO Pretende a recorrente a reforma da sentença, sob a alegação de que restou demonstrado nos autos os requisitos estabelecidos no art. 3º da CLT em relação à 1ª ré, bem como a fraude na prestação de serviços como cooperada, requerendo o reconhecimento de vínculo com a cooperativa e a responsabilidade solidária da 2ª ré pelos créditos trabalhistas. A autora na inicial afirma que foi admitida em , pela 1ª ré (COOPERATIVA DE PORTO REAL) para exercer a função de professora de educação física nas dependências e sob a subordinação da 2ª ré, sendo dispensada em , recebendo em média R$ 672,00. Afirma que sob a alegação de ser cooperativa a 1ª ré não anotou o contrato de trabalho na CTPS da autora, apesar de preencher os requisitos do art. 3º da CLT, postula o reconhecimento do vínculo pela 1ª ré, anotação da CTPS, parcelas resilitórias, multa do art. 477 da CLT, indenização pela não concessão de guias para o seguro desemprego, danos morais e responsabilidade solidária da 2ª ré
2 A 1ª ré (COOPERATIVA DE PORTO REAL) contesta o pedido (fls. 180/192), sustentando que a autora associou-se à ré mediante contrato de adesão, iniciando seu labor junto à cooperativa em , exercendo atribuição de acordo com suas aptidões, em face do contrato de prestação de serviços com a 2ª ré. A 2ª ré (FUNDAÇÃO PORTO REAL), impugna os fatos alegados na inicial (fls. 280/299) sustentando que nunca foi empregadora da autora e que é fundação sem fins lucrativos, tendo por objeto promover a atividade de ação social, bem como programas de desenvolvimento das áreas de prestação de serviços de saúde e de educação, dentre outras. Afirma que a autora prestou serviços pela empresa Acqua Fitness de Resende Academia Ltda ME, de outubro de 2003 a fevereiro de 2005 e que de março de 2005 a abril de 2006 prestou serviços através da Cooperativa de Porto Real. Afirma que sempre cumpriu com todas as cláusulas dos contratos de prestação de serviços não havendo falar em responsabilidade solidária. A sentença de origem indeferiu o pedido de vínculo com a 1ª ré e responsabilidade solidária da 2ª ré, sob o fundamento de que: Logo na inicial (fl. 02, item 1) a reclamante relata a seguinte realidade: foi contratada pela primeira ré, ou seja, a Cooperativa, em face de quem formula o pedido de reconhecimento de vínculo de emprego, para trabalhar nas dependências e sob a supervisão da segunda ré, ou seja, da Fundação Porto Real. Ora, desde o início restou claro que a subordinação jurídica, se de fato houve, ocorreu entre a reclamante e a segunda ré, Fundação Porto Real. Não se compreende, pois, como o pedido de vínculo possa ter sido endereçado à primeira ré, Cooperativa de Serviços. (...) Quer dizer que todos os elementos dos autos conduzem a única conclusão: a reclamante foi contratada pela segunda ré, para quem laborou diretamente durante todo o período, nas suas dependências, atendendo à sua finalidade essencial e sob a sua subordinação jurídica. Os salários, inclusive, eram pagos durante certo tempo diretamente pela segunda ré, sendo certo que após certo tempo a primeira reclamada passou apenas a disponibilizar os vencimentos da autora em sua sede. Não há dúvidas, portanto, se vínculo houve, este deu-se entre a reclamante e a segunda reclamada, Fundação Porto Real. Jamais pode ter ocorrido entre a demandante e a primeira acionada, haja vista os fatos acima relatados. (fls. 504/505) A autora, em depoimento pessoal, declarou que: Inicialmente trabalhava direto para a Fundação, depois foi informada que teria que passar para a cooperativa; que nunca teve carteira assinada pela 1ª ou 2ª rda, não sabendo quanto tempo ficou na Fundação antes de mudar para a cooperativa; que sempre trabalhou dando aulas de natação, futsal e lambaeróbica diretamente para a fundação, mesmo na época em que estava pela cooperativa; que seus chefes eram todos da fundação, ora 2ª rda. (fls. 441) O preposto da 1ª ré, declarou que: a cooperativa a qual preside oferece serviços na localidade nos mais diversos ramos de atividade, como por exemplo:
3 serventes, faxineiros, profissionais de educação física, que atualmente possui convênios com a fundação 2ª ré, colégio Estadual República Italiana, Remon Agropecuária, não se recordando de qualquer outro contrato. (fls. 416) Às fls. 441, o preposto da 1ª ré afirmou que: (...); que a cooperativa recebe 28% do valor da hora trabalhada e é acertada com o contratante; que a autora dava aulas de natação na Fundação Porto Real através da cooperativa; que a fundação 2ª rda promove dança e esportes, sendo essa sua principal atividade; que tem como saber o horário de trabalho da autora, mas não se recorda qual era o mesmo; que os contracheques trazidos com a inicial estão corretos. O preposto da 2ª ré declarou que A fundação Porto Real é entidade Privada que visa atender a comunidade local, ministrando cursos e promovendo outras atividades; que a autora prestava serviços como professora de natação. (fls. 416) Os contratos de prestação de serviços apontam que a 1ª ré iniciou a prestação de serviços para a 2ª ré a partir de fevereiro de 2005 (fls. 244/251), o que corrobora a alegação da 1ª ré de que, apesar da inicial indicar o início do vínculo em , a autora apenas firmou contrato com a 1ª ré em (conforme comprova o termo de adesão de fls. 195). O contrato de prestação de serviços firmado entre as rés tem por objeto: prestação de serviços de educação, mediante o fornecimento pela 1ª ré de trabalhador cooperativado. (fls. 244) Segundo as afirmações do preposto da 2ª ré e o conteúdo dos atos constitutivos de fls.301/320, a finalidade da Fundação era promover atividades de Ação Social, bem como programas de desenvolvimento nas áreas de prestação de serviços de saúde, educação, na pesquisa e nas assistência, nas áreas mencionadas e correlatas. (fls. 308) Apesar de evidenciada a intermediação ilícita do contrato de trabalho e a subordinação da autora à 2ª ré, também restou comprovado que a 1ª ré não era uma cooperativa de trabalho legítima, nos termos da Lei nº 5764/71. A função exercida pela autora não se adequa com os objetivos de uma cooperativa autêntica, até porque se trata de cooperativa multiprofissional, evidenciando a existência da exploração da mão-de-obra da trabalhadora e a subordinação jurídica. Uma vez evidenciado que a cooperativa foi constituída com finalidade principal de prestar serviços a terceiros, afastando-se do seu princípio essencial - prestação de serviços aos próprios associados (princípio da dupla qualidade) - não há como considerála verdadeira sociedade cooperativa. Neste contexto, portanto, deve ser assegurado à empregada a efetiva satisfação de seus direitos, com o reconhecimento do vínculo de emprego com a cooperativa na forma postulada, já que era quem pagava seus salários. Da mesma forma deve ser reconhecida a responsabilidade solidária da 2ª ré, em razão da fraude na contratação da autora (art. 9º da CLT) - em sua atividade fim - por meio de empresa interposta, com o único fim de burlar a aplicação da legislação trabalhista. Assim, defere-se parcialmente o pedido inicial para reconhecer o vínculo de emprego, com a 1ª ré devendo o contrato ser anotado na CTPS da autora, com data de admissão apenas em (limitado pela prova dos autos) e dispensa em (OJ nº 82 da SDI-I, do C. TST), função de professora de educação física, com salário de R$ 672,00, devendo ser anotada a CTPS pela 1ª ré, ou pela Secretaria da Vara na sua falta após o trânsito em julgado da decisão (CLT, art. 39, 1º)
4 A 2ª ré deve responder solidariamente pelas parcelas contratuais de todo o contrato, em razão da fraude perpetrada. Dou provimento parcial. VERBAS RESILITÓRIAS Uma vez reconhecido o vínculo, procedem as verbas rescisórias, já que o ônus da prova do despedimento era da 1ª ré (Súmula nº 212, do C. TST). Entretanto, em razão do reconhecimento de vínculo somente a partir de (limitada a prova dos autos) é devido à autora: aviso prévio indenizado, 13º salário proporcional de 2005 (10/12); 13º salário proporcional de 2006 (5/12), férias simples (2005/2006) acrescida de 1/3, férias proporcionais (2006) (02/12) acrescidas de 1/3; valor equivalente ao FGTS de todo o período contratual, acrescido da indenização de 40%, multa prevista no artigo 477 da CLT, conforme for apurado em liquidação de sentença. Dou provimento parcial. SEGURO DESEMPREGO As guias de seguro desemprego devem ser traditadas por ocasião da dispensa sem justa causa. Assim não procedendo, responde o empregador pela indenização substitutiva. A matéria já está pacificada pela Súmula nº 389 do C. TST, in verbis: SEGURO DESEMPREGO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. DIREITO À INDENIZAÇÃO POR NÃO LIBERAÇÃO DE GUIAS. II - O não fornecimento pelo empregador da guia necessária para o recebimento do segurodesemprego dá origem ao direito à indenização. Dou provimento. DANO MORAL A autora alega na inicial que por ocasião da dispensa foi humilhada pela coordenadora da Fundação (Sra. Emília) que aos berros a chamou de mentirosa e denegriu a sua imagem na frente das mães de suas alunas. Era ônus da autora provar os fatos alegados, entretanto desse ônus não se desincumbiu, a teor do art. 818 da CLT. Nego provimento. Do exposto, dou provimento parcial ao recurso da autora para reformando a r. sentença de origem, julgar PROCEDENTE EM PARTE o pedido, condenando a 1ª ré a proceder a anotação da CTPS, com data de admissão e dispensa em , função de professora de educação física, com salário de R$ 672,00 e pagar aviso prévio indenizado, 13º salário proporcional de 2005 (10/12); 13º salário proporcional de 2006 (5/12), férias simples (2005/2006) acrescida de 1/3, férias proporcionais (2006/2007) (02/12) acrescidas de 1/3; valor equivalente ao FGTS de todo o período contratual, acrescido da indenização de 40%, multa prevista no artigo 477 da CLT, bem como indenização substitutiva de seguro desemprego, devendo a 2ª ré responder solidariamente pelas parcelas deferidas, nos termos da fundamentação supra. Acréscimo de juros e correção monetária conforme a Súmula nº 381 do C.TST, autorizando-se a dedução da cota previdenciária e imposto de renda, calculado na forma do art. 44 da lei nº /2010, nos termos da fundamentação supra. Inverte-se o ônus da sucumbência, arbitrando-se o valor da condenação em R$ ,00 e custas de R$ 200,00, pelas rés
5 A natureza jurídica da parcela da condenação, para fins de incidência de contribuição previdenciária, será apurada em execução, de acordo com o disposto no art. 28, 9º, da Lei nº 8.212/91 (art. 832, 3º, da CLT). A C O R D A M OS DESEMBARGADORES DA 8ª TURMA DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA PRIMEIRA REGIÃO, por unanimidade, dar provimento parcial ao recurso da autora para, reformando a r. sentença de origem, julgar PROCEDENTE EM PARTE o pedido, condenando a 1ª ré a proceder à anotação da CTPS, com data de admissão e dispensa em , função de professora de educação física, com salário de R$ 672,00 e pagar aviso prévio indenizado, 13º salário proporcional de 2005 (10/12); 13º salário proporcional de 2006 (5/12), férias simples (2005/2006) acrescida de 1/3, férias proporcionais (2006/2007) (02/12) acrescidas de 1/3; valor equivalente ao FGTS de todo o período contratual, acrescido da indenização de 40%, multa prevista no artigo 477 da CLT, bem como indenização substitutiva de seguro desemprego, devendo a 2ª ré responder solidariamente pelas parcelas deferidas, nos termos da fundamentação. Acréscimo de juros e correção monetária conforme a Súmula nº 381 do C.TST, autorizando-se a dedução da cota previdenciária e imposto de renda, calculado na forma do art. 44 da lei nº /2010. Inverte-se o ônus da sucumbência, arbitrando-se o valor da condenação em R$ ,00 e custas de R$ 200,00, pelas rés. A natureza jurídica da parcela da condenação, para fins de incidência de contribuição previdenciária, será apurada em execução, de acordo com o disposto no art. 28, 9º, da Lei nº 8.212/91 (art. 832, 3º, da CLT). Rio de Janeiro, 6 de Dezembro de Desembargadora Federal do Trabalho Edith Maria Corrêa Tourinho Relatora
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