SFI 5800 Espectroscopia Física. Simetria e Teoria de Grupos
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1 Universidade de São Paulo Instituto de Física de São Carlos - IFSC SFI 5800 Espectroscopia Física Simetria e Teoria de Grupos Prof. Dr. José Pedro Donoso
2 Simetria molecular e Teoria de Grupos A aplicação de argumentos de simetria a átomos e moléculas começou nos anos 20 e 30, e teve origen na Teoria de Grupos desenvolvida pelos matemáticos no século XIX. Ela constitui uma ferramenta essencial para compreender as propriedades de sistemas atômicos e moleculares. Depois de descrever as propriedades de simetria das moléculas analisaremos o efeito das transformações de simetria sobre os estados (vibracionais e eletrônicos) e veremos que é possível deduzir regras de seleção que governam as transições espectroscópicas. Transições espectroscópicas permtidas e proibidas podem ser identificadas pelos criterios de simetria para que o momento de transição entre os estados inicial e final não seja nulo (regra de seleção)
3 Elementos de simetria Uma operação que deixa a aparência de um corpo inalterada depois de efetuada é uma operação de simetria As operações de simetria típicas são as rotações, as reflexões e as inversões. Para cada operação de simetria há um elemento de simetria correspondente, que é um ponto, uma linha (eixo de simetria) ou um plano, em relação ao qual se faz a operação de simetria Molecular Physics and Elements of Quantum Chemistry. Haken & Wolf
4 Operação de simetria σ A figura mostra o efeito das operações de simetria σ 1, σ 2 e σ 3 (reflexões num plano) num arranjo molecular de simetria triangular
5 A figura mostra o efeito da uma operação C 3 (rotação) seguida de uma operação de simetria σ 2 (reflexão num plano) Molecular Physics and Elements of Quantum Chemistry. Haken & Wolf
6 Rotação em torno de um eixo de simetria Modern Spectroscopy. J.M. Hollas
7 Modern Spectroscopy. J.M. Hollas
8 Espectroscopia Molecular. J.C. Teixeira Dias
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10
11 Modern Spectroscopy J.M. Hollas
12 Elementos de simetria no CH 4 e no SF 6 Modern Spectroscopy. J.M. Hollas
13 Simetria molecular Físico Química. Atkins & de Paula
14 Tabela de multiplicação do Grupo C 3v Os elementos são obtidos pelo produto dos elementos de simetria. Este produto envolve a aplicação sucessiva das operações. De esta forma é possivel construir uma tabela de multiplicação. O conjunto completo das operações formam um grupo.
15 Exemplo: operações de simetria na molécula de água A molécula de água tem dois planos de simetria. Ambos são verticais (contem o eixo principal) e são simbolizados por σ. O grupo de simetria da molécula tem o elemento identidade (E) e um eixo de simetria C 2 correspondente a uma operação de uma rotação de (2π/2). Por ter planos de simetria verticais, ela pertence ao Grupo C 2v constituido pelos seguintes elementos: C 2 v = { E, C,2 σ } 2 v A ordem do grupo, ou seja o número de seus elementos, é h = 4
16 Exemplo de Grupo pontual H 2 C CH 2 Operações de simetria: C 2, σ, I Grupo pontual: D 2h D 2h = {E, C 2 (x), C 2 (y), C 2 (z), I, σ(x,y), σ(x,z), σ(y,z)} Molecular Physics and Elements of Quantum Chemistry. Haken & Wolf
17 Um Grupo pontual é um grupo de operações de simetria que deixa pelo menos um ponto inalterado. Para classificar as moléculas pelas respectivas simetrias, relacionamos os elementos de simetria que elas possuem e reunimos num grupo todas as moléculas que epresentam esses elementos. Exemplo: Grupo C n : uma molécula pertence a este grupo se tiver um eixo n-ário
18
19 Simetria molecular e grupo pontual Inorganic Chemistry. Shriver & Atkins
20 Inorganic Chemistry. Shriver & Atkins
21 Mais exemplo de grupos pontuais
22 Symmetry and Spectroscopy. Harris & Bertolucci
23 Diagrama para determinação do grupo pontual de simetria de uma molécula A identificação começa pelo reconhecimento dos grupos especiais de elevada simetria (lineares, tetraédricas, octaédricas) A seguir se reconhece se possui ou não algum eixo de simetria. Por ultimo se verifica se a molécula possui um eixo S 2n. Caso não satisfaça, se verifica se ela admite eixos binários perpendiculares. No caso afirmativo ela pertenecerá aos grupos D n, D nh ou D nv. Caso contrario ela pertenecerá aos grupos C n, C nh ou C nv Espectroscopia molecular Jose C. Teixeira Dias
24 Tabelas de caracteres Para dar expressão matemática às operações de simetria é necessário considerar a sua aplicação a vetores e funções. Consideremos a representação matricial das operações de simetria na molécula de água na base de vetores (x, y) E 1 = = = 0 ' C σ ( ) ( yz) = v xz 0 1 σ v A soma dos elementos da diagonal de uma matriz constitui o caracter da matriz (χ) O carater de uma representação é o conjunto dos carateres das matrizes que compõem essa representação. A notação matricial têm grande utilidade na Teoria de Grupos porque é possível decompor uma representação numa soma direta das representações constituidas pelas submatrizes correspondentes. Uma representação indecomponível em outras de menores dimensões se chama representação irredutível.
25 Estrutura das tabelas de caracteres Símbolo do grupo Espécies de simetria operações de simetria Funções base Cada linha corresponde a uma dada representação (espécie). Na espectroscopia vibracional vamos associar cada modo normal de vibração a uma destas espécies, de acordo com suas propriedades de simetria frente as operações do grupo. Na espectroscopia eletrônica se faz o mesmo com os orbitais moleculares. Na mecânica quântica analisamos as propriedades de simetria das funções de onda e dos operadores, e os associamos a especies de simetria de grupo correspondente. Considerando como transforma o operador de uma transição, por exemplo, poderemos identificar quais transições são permitidas e proibidas.
26 Estrutura das tabelas de caracteres Símbolo do grupo Espécies de simetria operações de simetria Funções base Caracteres As representações (espécies) unidimensionais são rotuladas por A e B; as bi-dimensionais por E (não confundir com E : operação identidade) e as tri-dimensionais por T ou F. Na espectroscopia eletrônica usam-se os símbolos Σ, Π,, Φ correspondentes ao numero quântico de momento angular.
27 Símbolo do grupo Espécies de simetria operações de simetria Funções base Caracteres As funções de base resumem as propriedades das tranformação da espécie. Elas podem ser lineares (x, y, z; funções de traslação T x, T y e T z ) ou quadráticas (x 2, y 2, z 2, xy,xz, yz). R x, R y e R z indicam rotações em torno de eixos de simetria.
28 Caracteres χ 1 - Espécies unidimensionais que são simetricas em relação ao eixo de simetria são rotuladas A (carater χ(c n ) = +1). Caso contrario são rotuladas B (χ(c n ) = -1). 2 - Os sub-indices 1 ou 2 referem-se a simetria em relação aos eixos C n ou S n. No grupo C 2v estes sub-índices indicam a simetria em relação ao plano σ(xz). 3 - A simetria em relação ao centro de simetria é indicada pelos sub-índices g (gerade) e u (ungerade) 4 Os carateres da operação identidade (E) revelam a degenerescência da espécie.
29 Símbolo do grupo Espécies de simetria operações de simetria Funções base Caracteres χ 1- As espécies do grupo C 2v são A 1, A 2, B 1 e B 2. A espécie A 1 transforma como z. As espécies B 1 e B 2 transformam como x e y, respectivamente. 2 - A função de base z na linha da espécie A 1 indica que a coordenada z não muda de sinal quando são aplicadas todas as operações de simetria: E, C 2, σ v (xz), σ v (yz) Os carateres, então: χ(e) = +1, χ(c 2 ) = +1, χ(σ v ) = +1 e χ(σ ) = A função de base x na linha da espécie B 1 indica que a coordenada x muda de sinal se é aplicada uma rotação C 2 ou uma reflexão σ (yz): χ(c 2 ) = -1 e χ(σ ) = -1
30 Tabelas de caracteres do grupo C 3v utilizado para descrever a molécula NH 3 As colunas da Tabela identificam as operações de simetria. Os números que multiplicam cada operação sào os números de membros de cada classe. Vemos que as duas rotações C 3 (de 120 o ) pertencem à mesma classe. As três reflexões σ v (uma para cada um dos três planos verticais de simetria) também pertencem à mesma classe.
31 Tabelas de caracteres do grupo C v utilizado para descrever moléculas lineares
32 Exemplo da análise das propriedades de simetria de um orbital atômico Symmetry and Spectroscopy. Harris & Bertolucci
33 Regras de seleção e momentos de transição A interação entre uma molécula e a componente elétrica (oscilante) da radiação eletromagnética, para a absorção ou emissão de um foton de frequência ν, só ocorre se a molécula tiver um dipolo elétrico oscilando na frequência do campo. Na mecânica quântica, isto se expressa em termos do momento de dipolo da transição, M fi M fi = ψ f ˆ µ ψ i = ψ f ˆ µψ dτ i µˆ é o operador momento de dipolo elétrico (na espectroscopia infravermelha e eletrônica) ou o operador polarizabilidade (na espectroscopia Raman) A teoria de perturbações dependente do tempo estabelece que a probabilidade de transição é proporcional a M fi 2. Somente se o momento de transição for diferente de zero a transição contribuirá para o espectro.
34 Espectroscopia infravermelha A regra de seleção para a absorção de radiação por uma vibração molecular é a de que o momento de dipolo elétrico da molécula varie quando os átomos forem deslocados ums em relação aos outros. As vibrações desse tipo são ditas ativas no infravermelho A base da regra é a da geração de um campo eletromagnético oscilante devido à vibração de um dipolo variável, e vice-versa. A regra não impõe a existência de um dipolo permanente, mas somente a variação do momento de dipolo. Algumas vibrações não afetam o momento de dipolo da molécula (por exemplo, a vibração de estiramento de uma molécula diatômica homonuclear), e são chamadas de inativas no infravermelho.
35 Modos normais ativos no infravermelho A probabilidade de transição da molécula de um estado vibracional inicial (função de onda Ψ i ) para um estado final (função de onda Ψ f ) depende do operador momento de dipolo elétrico, de componentes ex, ey e ez. Dizemos então que o operador transforma como as coordenadas x, y, z M x fi = e ψ f xψ dτ i As funções de onda vibracionais tem a simetria dos polinómio de Hermite, ou seja a simetria de uma coordenada. O operador dipolo elétrico transforman como os produtos cartesianos x, y, z. Se a espécie de simetria de um modo normal de vibração tem a espécie de simetria de uma coordenada (x, y, z) esta vibração será ativa no infravermelho. Por tanto, para saber se um dado modo normal é ativo no infravermelho basta observar na tabela de carateres se sua espécie de simetria tem alguma coordenada como função base.
36 Espectroscopia Raman A regra de seleção para a espectroscopia Raman de uma vibração é a de que a polarizabilidade da molécula deve mudar durante a vibração. Moléculas diatômicas Como as moléculas diatômicas homonucleares e heteronucleares se expandem e se contraem durante a vibração, a polarizabilidade da molécula se altera e as vibrações são ativas no Raman. Moléculas poliatômicas Os modos normais de vibração são ativos no Raman se forem acompanhados por mudança na polarizabilidade. Em geral, é necessário o uso da Teoria de Grupos para prever se um modo é ativo no infravermelho ou no Raman. Se a molécula tiver um centro de simetria (i), nenhum modo de vibração pode ser simultaneamente ativo no infravermelho e na espectroscopia Raman.
37 Modos normais ativos no Raman A polarizabilidade α mede a deformação da molécula num campo elétrico E. O momento da transição, M fi é dada por: M fi = v f α ( x) v E i O operador tensorial da polarizabilidade têm seis componentes: α xx, α yy, α zz, α xy, α xz e α yz. Estas componentes transforman como os produtos cartesianos quadráticos (x 2, y 2, z 2, xy, etc.). A Teoria de Grupos proporciona uma regra explícita para analisar a atividade Raman de um modo normal de vibração: se a espécie de simetria de um modo normal tem a espécie de simetria de uma forma quadrática (x 2, y 2, z 2, xy, etc.) essa vibração será Raman ativa. Por tanto, para saber se um dado modo normal de vibração é Raman ativo basta observar na tabela de carateres se sua espécie de simetria tem uma função base de forma quadrática.
38 Simetria dos modos de vibração da molécula de água Número de modos normais de vibração: (3N - 6) = 3 Simetria dos três modos normais (no Grupo C 2v ): E C 2 σ(xz) σ(yz) ν = A 1 ν = A 1 ν = B 2 O modo normal de vibração ν 1 transforma como a espécie A 1 em C 2v, ν 2 também transforma como A 1, e ν 3 transformam como B 2
39 Como a espécie A 1 tem uma coordenada (z) como função base, os modos de vibração ν 1 e ν 2 são ativos no infravermelho. E como B 2 também tem uma coordenada como função base (y) ν 3 também é ativo no infravermelho. Consultando a tabela de carateres de C 2v verificamos que todos os três modos normais da H 2 O também são ativos na espectroscopia Raman (as espécie A 1 e B 2 tem produtos quadráticos como funções base).
40 Modos normais de vibração na molécula de água Banda (cm -1 ) Intensidade very strong medium strong vs m weak Identificação ν 2 (A 1 ) 2ν 2 ν 1 (A 1 ) ν 3 (B 2 ) ν 2 + ν 3 2ν 2 + ν 3 A banda em 5332 cm -1 resulta da combinação ν 2 + ν 3 Espectroscopicamente ν 2 + ν 3 = = cm -1 Verifica-se que A 1 B 2 = B 2, espécie ativa no infravermelho: E C 2 σ(xz) σ(yz) Physical Chemistry Alberty & Silbey A B A 1 B
41 Modos normais de vibração da molécula CH 4 Grupo: T d Graus de liberdade: 3N = 15 Modos normais de vibração: 3N 6 = 9 Operações de simetria: Sob E, nenhuma coordenada se altera, χ(e) = 15 Sob C 3, nenhuma coordenada fica imutável, χ = 0 Sob C 2, as componentes x e y trocam de sinal Sob S 4, a coordenada z do étomo central é invertido, de modo que χ(s 4 ) = -1 Sob σ d, y é invertido
42 Caracteres da representação total: E 8C 3 3C 2 6S 4 6σ d Γ tot A 1 +E+T 1 +3T 2 Translações: Γ tras = T 2 Rotações: Γ rot = T 1 vibrações Γ v = Γ tot - Γ tras - Γ rot = A 1 + E + 2T 2 Consultando a tabela de Carateres verificamos que somente os modos T 2 são ativos no IR. O modo simetrico de respiração A 1 é inativo no IR. Os modos A 1, E e T 2 são todos ativos no Raman. (Ref: Fisico Quimica, Atkins & de Paula)
43 Molécula trans-n 2 F 2 estrutura planar não linear Caracteres da representação total: Γ tot E C 2 i σ h A g +2B g +2A u +4B u Translações e rotações: Γ = A g + 2B g + 2A u + 2B u vibrações Γ v = Γ tot - Γ tras - Γ rot = 3A g + A u + 2B u Consultando a tabela de Carateres verificamos que os modos A u e B u são ativos no Infravermelho. O modo A g é ativo na espectroscopia Raman. Chemical Applications of Group Theory, Cotton
44 Os deslocamentos observados nas bandas ν 4 e ν 1 na amostra deuterada (CDCl 3 ) em relação a CHCl 3 permite identificar estes modos como C-H bending e C-H stretching, respectivamente.
45 Teoria de Grupos Aplicada, Nussbaum
46 CHCl 3 (cloroformio) Grupo de simetria: C 3v Modos normais de vibração: 3N 6 = os seis modos normais de vibração são ativos no infravermelho e na espectroscopia Raman 2 - As bandas ν 1, ν 2 e ν 3 em 3033, 667 e 364 cm -1 correspondem as vibrações totalmente simétricas da espécie A 1, e são Raman polarizadas 3 - As bandas ν 4, ν 5 e ν 6 em 1205, 760 e 260 cm -1 pertencem a espécie E Physical Methods for Chemists, Drago Teoria de Grupos Aplicada, Nussbaum
47 BF 3 (molecula plana) Grupo de simetria: D 3h Modos normais de vibração: 3N 6 = 6
48 BF 3 (molecula plana) Grupo de simetria: D 3h Correspondência modos normal e representação (espécie): A 1 ν 1 A 2 ν 2 E ν 3 e ν 4 Infravermelho : ν 2, ν 3, ν 4 ativas Raman : ν 1, ν 3, ν 4 ativas
49 Modos normais de vibração ativos em IR e Raman Infrared and Raman Spectroscopy, Schrader (ed.)
50 Atividade IR e Raman dos modos normais de vibração Numero de bandas Raman ativas (n R ), Raman polarizadas (n P ), bandas IR ativas (n I ) e bandas coincidentes IR e Raman (n C ). Banda inativa: ia Raman Spectroscopy, Szymanski
51 Bibliografia 1 - Atkins & de Paula, Físico Química. 2 - Haken & Wolf, Molecular Physics and Elements of Quantum Chemistry. 3 - Harris & Bertolucci, Symmetry and Spectroscopy. 4 Nussbaum, Teoria de Grupos Aplicada. 5 Cotton, Chemical Applications of Group Theory. 6 Sala, Fundamentos da espectroscopia Raman e Infravermelha 7 Teixeira Dias, Espectroscopia molecular. 8 Schrader (editor) Infrared and Raman Spectroscopy. Tabelas de Caracteres:
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