PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA Controladoria-Geral da União Ouvidoria-Geral da União

Transcrição

1 NOTA TÉCNICA /2012/OGU/CGU-PR Referência: / Assunto: Recurso do art. 23 do Decreto n.º 7.724/2012, referente ao pedido de acesso à informação feito à Caixa Econômica Federal - CEF pelo Senhor Ouvidor-Geral da União, Trata a presente Nota Técnica de análise de recurso com base no art. 23 do Decreto nº 7.724/2012 interposto por em face da Caixa Econômica Federal CEF, por achar-se o cidadão inconformado com a negativa de fornecimento das informações almejadas via e-sic por parte da referida empresa pública no âmbito do pedido NUP nº / Inicialmente, cumpre informar que em sede de pedido inicial o cidadão fez menção à demanda anterior - NUP n / , protocolizado no e-sic em 14 de outubro de momento em que solicitou: a) Acesso à planilha de evolução das prestações do financiamento habitacional contrato nº ; b) Acesso à fórmula de cálculo das amortizações do saldo devedor, desde o início da assinatura do contrato até o momento presente; c) Informações sobre o reflexo, no saldo devedor e nos juros, referente à amortização extraordinária de R$ ,00 (doze mil reais) efetuada em 2010; d) Recalculo de saldo devedor em nova planilha, bem como o valor para quitar o financiamento, sendo considerados os descontos legais de juros. 3. O Serviço de Informação ao Cidadão da Caixa Econômica Federal apontou para a necessidade de identificação pessoal do requerente para posterior disponibilização das informações almejadas uma vez que os contratos de financiamento são protegidos por sigilo bancário nos termos da Lei Complementar nº 105/2001. Por fim, informou ao cidadão o endereço de agência onde seriam disponibilizados o contrato, planilha de evolução e o saldo devedor. 4. Findaram-se os prazos para recursos naquela demanda. Uma vez que persistiu a insatisfação do cidadão, o mesmo protocolizou novo pedido via e-sic em 07 de novembro de 2012, apontando para a negativa de informação quanto à fórmula de cálculo das amortizações anteriormente solicitadas.

2 5. Em 07 de novembro de 2012, a CEF negou acesso aos dados mais uma vez, valendo-se do argumento já apresentado de que se trata de informação pessoal, que requer para sua disponibilização a identificação pessoal do cliente. 6. Inconformado, o cidadão interpôs recurso de primeira instância no dia seguinte. Argumentou que as informações sobre a fórmula de cálculo, suas variáveis e modo de processamento não se configuram como confidenciais ou prejudiciais ao sigilo bancário. Apontou ainda para a necessidade de se obter os dados para conferir o valor cobrado pela empresa pública em prestação habitacional. 7. O Serviço de Atendimento ao Cidadão da CEF indeferiu o recurso em 08 de novembro de Pontuou que a solicitação de informação acerca do cálculo de juros e de outros dados do contrato habitacional se refere aos produtos e serviços prestados por agência bancária; e com isso estaria fora do escopo do e-sic. 8. Mais uma vez, o recorrente não se deu por satisfeito com a justificativa de sigilo informada pela empresa pública e interpôs recurso de segunda instância na mesma data em que tomou ciência do indeferimento do primeiro recurso. Reforçou que a informação de que a fórmula de cálculo e de juros de financiamento habitacional não é de ordem pessoal, mas sim pública. Argumentou que o contrato é de adesão; e não individual com fórmulas diferenciadas, tanto é que são disponibilizadas simulações de contratos via internet. Por fim, o cidadão solicitou a fundamentação legal que motiva a negativa de acesso à informação almejada. 9. Na mesma data em que foi interposto o recurso de segunda instância, o Serviço de Atendimento ao Cidadão da CEF deferiu o pedido e informou que a fórmula de amortização do contrato habitacional firmado com o recorrente consta na planilha já disponibilizada na agência indicada anteriormente e também na cópia do contrato nº Porém, reafirmou que essas informações não se configuram como pedido de informação pública e não serão disponibilizadas vias e-sic. 10. O cidadão interpôs recurso de terceira instância junto à por continuar insatisfeito com a negativa da empresa pública em fornecer via e-sic as informações solicitadas. Manifestou descontentamento com a atitude da CEF por entender que a empresa pretende dificultar o acesso à informação por meio de práticas burocráticas. 11. A fim de produzir a melhor solução para o caso, a OGU encaminhou Ofício nº /2012/OGU/CGU-PR em 29 de novembro de 2012 à autoridade de monitoramento da Lei de Aceso à Informação na CEF; momento em que solicitou maiores esclarecimentos quanto ao entendimento da empresa relativo ao tratamento das fórmulas. 12. Como resposta, a empresa pública comunicou em 17 de dezembro de 2012, via Ofício 441/2012/VP Governo e Habilitação/VP Controladoria e Riscos, o seguinte: a) O pedido de disponibilização de planilha de evolução do contrato e saldo remanescente da

3 dívida tem natureza jurídica protegida por sigilo bancário. O atendimento do pleito é possível via atendimento pessoal em agência de relacionamento; b) A fórmula de cálculo das amortizações do saldo devedor consta nos contratos entregues aos clientes, mais especificamente nas cláusulas com os títulos: condições do financiamento, encargo mensal, juros remuneratórios e saldo devedor. 13. É o relatório. ANÁLISE 14. O recurso apresentado à CGU, com base no art. 23 do Decreto n.º 7.724/2012, deve ser conhecido visto que a parte recorrente cumpriu com as formalidades estabelecidas tanto na Lei de Acesso à Informação quanto no Decreto n 7.724/2012, ou seja, guarda pertinência com os seguintes requisitos de admissibilidade: a) O recurso é tempestivo eis que interposto em 08 de novembro de 2012, ou seja, dentro do prazo de dez dias contado da ciência da decisão de segunda instância que se deu também em 08 de novembro de 2012; b) Há o enquadramento do recurso nas hipóteses de cabimento prevista no art. 16 da Lei nº /2011; c) Houve a interposição de recursos anteriores em primeira e segunda instâncias, conforme previsto no artigo 16, 1º da Lei de Acesso à Informação. 15. A Caixa Econômica Federal encaminhou resposta e apreciou recursos com tempestividade. Porém, cumpre informar que as manifestações foram disponibilizadas pelo Serviço de Atendimento ao Cidadão. A possibilidade de corrigir eventuais equívocos cometidos em instâncias inferiores a partir da reapreciação da demanda por autoridade superior é a finalidade suprema dos recursos. Este importante artifício perde a razão de ser quando a demanda é apreciada por mais de uma vez pela mesma instância, além de ferir o que dispõe o artigo 21 do Decreto 7.724/2012: Art. 21. No caso de negativa de acesso à informação ou de não fornecimento das razões da negativa do acesso, poderá o requerente apresentar recurso no prazo de dez dias, contado da ciência da decisão, à autoridade hierarquicamente superior à que adotou a decisão, que deverá apreciá-lo no prazo de cinco dias, contado da sua apresentação. Parágrafo único. Desprovido o recurso de que trata o caput, poderá o requerente apresentar recurso no prazo de dez dias, contado da ciência da decisão, à autoridade máxima do órgão ou entidade, que deverá se manifestar em cinco dias contados do recebimento do recurso.

4 16. No mérito, a celeuma que deu ensejo ao recurso ora analisado gira em torno da negativa de disponibilização, via e-sic, da fórmula de cálculo e respectivas variáveis na composição do valor das prestações de contrato de financiamento habitacional firmado entre o recorrente e a CEF. 17. De um lado, a empresa pública alega que a informação requerida é resguardada por sigilo bancário, além de ter cunho pessoal e estar fora do rol daquelas que devem ser disponibilizadas via e-sic por se tratar de informação vinculada a produtos e serviços prestados por agência bancária. Fundamenta seu posicionamento na Lei Complementar 105/2001, que dispõe sobre o sigilo das operações de instituições financeiras. Do outro, o cidadão afirma não se tratar de informação capaz de comprometer o sigilo bancário, uma vez que oriunda de contrato de adesão, com ampla divulgação na mídia via campanhas. 18. Entende-se por contrato o acordo de vontades firmado entre pessoas sobre determinada coisa. Esse ajuste entre as vontades é cerceado no contrato de adesão, pois nele um dos contratantes se limita a aceitar as condições já estipuladas pelo outro. O Código de Defesa do Consumidor assim define o contrato de adesão: Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo. 19. Quanto à fixação de conteúdo, as relações de consumo advindas dos contratos de adesão não se submetem ao princípio da autonomia da vontade. Mesmo assim, a boa-fé deve sempre se fazer presente e isso permite a revisão do contrato celebrado diante de eventual onerosidade excessiva. A atividade de financiamento habitacional consiste numa relação de consumo e seus respectivos contratos são dotados do caráter de contrato de adesão. Assim é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça STJ: STJ AgRg no Recurso Especial nº SC ( ) Relatora: Ministra Nancy Andrigui. Conforme salientado na decisão agravada, a jurisprudência do STJ firmou-se no sentido de que são aplicáveis os regramentos do Código de Defesa do Consumidor aos contratos de mútuo habitacional. STJ REsp MG, 1ª T., Min. Teori Albino Zavaski A jurisprudência desta Corte é firme no sentido da aplicação do CDC aos contratos de financiamento habitacional, considerando que há relação de consumo entre o agente financeiro do SFH e o mutuário). 20. Diante dos fatos, não pairam dúvidas de que o cidadão possui direito de obter acesso à fórmula de cálculo e suas variáveis na composição do valor das prestações do contrato de financiamento firmado junto à CEF.

5 21. Na resposta ao recurso de segunda instância, a empresa se compromete a prestar as informações ao cidadão mediante comparecimento deste em agência de relacionamentos. Aponta que a informação almejada é de cunho pessoal. A Lei de Acesso à Informação garante tratamento diferenciado às informações pessoais: Art. 31. O tratamento das informações pessoais deve ser feito de forma transparente e com respeito à intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas, bem como às liberdades e garantias individuais. 1 o As informações pessoais, a que se refere este artigo, relativas à intimidade, vida privada, honra e imagem: I - terão seu acesso restrito, independentemente de classificação de sigilo e pelo prazo máximo de 100 (cem) anos a contar da sua data de produção, a agentes públicos legalmente autorizados e à pessoa a que elas se referirem; (...) 22. Entendo que as informações almejadas são sim pessoais, pois envolvem dados da vida privada do cidadão. Como a Lei de Acesso à Informação assegura a disponibilização de informações pessoais com maiores cautelas, independente da existência de sigilo, noto a prudência por parte da CEF de optar por disponibilizar as informações almejadas pelo cidadão pessoalmente, mediante comparecimento em agência, munido de documento que comprove sua identidade, conforme disciplina o artigo 60 caput do Decreto n 7.724/2012. E tal medida visa resguardar tanto os interesses e a segurança do cidadão, quanto da empresa. 23. O recorrente manifesta seu descontentamento com a forma estabelecida pela empresa para a disponibilização da informação. Aponta para prática burocrática com intuito de dificultar o procedimento em curso. Sabe-se que palavra burocracia é interpretada a partir de dois sentidos distintos. Numa primeira acepção, o termo se remete a uma estrutura organizativa racional de procedimentos, com o intuito de alcançar certa estabilidade; mas, noutro enfoque, a burocracia pode representar submissão a procedimentos desnecessários capazes de gerar perda de tempo e ineficiência. Enquanto este entendimento acerca do termo burocracia possui sentido pejorativo; aquele se aproxima do modelo ideal proposto por Max Weber, onde formalização, hierarquia, impessoalidade, competência técnica e outros fatores se agregam para atingir elevado índice de eficiência. 24. De um lado, o artigo 6º inciso I do Decreto 7.724/2012 dispõe que o acesso à informação disciplinado pelo Decreto que regulamenta a Lei de Acesso à Informação não se aplica às hipóteses de sigilo previstas noutras leis. De outro, o artigo 31 da Lei de Acesso à Informação prevê tratamento transparente e respeitoso das informações pessoais, que devem ser disponibilizadas de forma restrita a agentes públicos legalmente autorizados e à pessoa a que elas se referirem. 25. Não se espera que a Administração Pública baseie suas condutas em preceitos pejorativos, tampouco pode ela se atrelar a um modelo ideal. Neste sentido, entendo que a disponibilização da informação almejada pelo cidadão de forma presencial é satisfatória, pois concilia de forma

6 equilibrada os interesses da empresa e do recorrente. 26. Em resumo, o conflito de interesse entre o recorrente e a empresa pública gira em torno disponibilização da fórmula de cálculo e de juros das prestações de contrato de financiamento habitacional. De um lado, a CEF alega que a informação é sigilosa e não pode ser disponibilizada via e-sic, de outro o cidadão afirma que a informação é de caráter ostensivo e o seu deslocamento até agência para sua obtenção é uma medida pejorativamente burocrática. Ambas as partes defendem seu ponto de vista com argumentos sólidos. A disponibilização da informação almejada é medida que se impõe; porém, quanto ao meio de disponibilização, entendo que a sugestão apresentada pela CEF e refutada pelo recorrente seja viável e segura. 27. É o relatório. CONCLUSÃO 28. Diante do exposto, manifesta-se pelo conhecimento do presente recurso, haja vista a observância de todos os critérios de admissibilidade previstos na legislação pertinente. Em relação ao mérito, opina-se pelo seu desprovimento. 29. Por fim, faz-se necessário recomendar a autoridade de monitoramento da Caixa Econômica Federal para que reavalie os fluxos internos de modo a assegurar o cumprimento das normas pertinentes de forma eficiente e adequada aos objetivos da Lei de Acesso à Informação, em especial no que tange à apreciação dos recursos pelas autoridades mencionadas na Lei nº /2011 e no Decreto n.º 7.724/2012. Brasília (DF), de de GABRIELA DE OLIVEIRA COSTA Analista de Finanças e Controle

7 Folha de Assinaturas Documento: NOTA TÉCNICA nº 146 de 18/01/2013 Referência: PROCESSO nº / Assunto: Recurso de Terceira Instância - LAI Signatário(s): GABRIELA DE OLIVEIRA COSTA ANALISTA DE FINANCAS E CONTROLE Assinado Digitalmente em 18/01/2013 Relação de Despachos: Registre-se a aprovação integral da Nota Ténica em questão, nos termos da qual o Exmo. Sr. Ministro Chefe desta, Dr. Jorge Hage Sobrinho, deu fundamento e motivação a sua decisão. Desta forma, considerando que o recorrente teve ciência da mencionada decisão no prazo legal (sem qualquer prejuízo das garantias fixadas na Lei nº /11), ficam convalidados todos os atos praticados no curso deste procedimento cujas datas de registro eletrônico não correspondam às de sua real produção. JOSE EDUARDO ELIAS ROMAO Ouvidor-Geral da União Assinado Digitalmente em 18/01/2013 Este despacho foi expedido eletronicamente pelo SGI. O código para verificação da autenticidade deste documento é: fbdfeb8_8cfc39d6d0271bf