PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA Controladoria-Geral da União Ouvidoria-Geral da União

Transcrição

1 NOTA TÉCNICA /2012/OGU/CGU-PR Referência: / Assunto: Recurso do art. 23 do Decreto n.º 7.724/2012, referente ao pedido de acesso à informação feito à Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ pelo Senhor Ouvidor-Geral da União, Trata a presente Nota Técnica de análise de recurso com base no art. 23 do Decreto n.º 7.724/2012 interposto por em face da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ por achar-se o cidadão inconformado com as respostas apresentadas pela referida Autarquia diante do pedido de acesso à informação de número / O pedido de acesso ora sob exame foi apresentado à UFRJ em 2 de agosto de 2012, momento em que o requerente solicita provas escritas e respectivos gabaritos dos processos seletivos para Residência Médica nas Unidades Hospitalares da UFRJ e em duas Unidades de Saúde associadas à Universidade nos referidos certames, quais sejam a Casa Gerontológica de Aeronáutica Brigadeiro Eduardo Gomes CGABEG e o Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca CSEGSF/FIOCRUZ, desde o ano Em 13 de agosto de 2012 a UFRJ responde ao demandante, registrando que os concursos para acesso a seus programas de Residência Médica expiram em 60 dias após o início e que dado esse prazo toda documentação, assim como provas são destruídas. Acrescenta a UFRJ que por não possuir banco de questões, essas são elaboradas a cada concurso e que, alternativamente, as provas do HUCFF e de demais instituições podem ser encontradas em "sites" específicos sobre concursos na internet ou em cursos preparatórios específicos para esta finalidade. 4. O requerente, não satisfeito com a resposta ao seu pedido de acesso à informação, interpõe recurso de primeira instância em 21 de agosto de Critica o requerente a resposta da UFRJ, alegando que as provas do vestibular da Autarquia são disponibilizadas desde 1997, que outras instituições de mesmo porte também o fazem e que seria incompreensível o não arquivamento de material referente a um concurso extremamente concorrido e importante para a instituição e para a sociedade. Ao reiterar o seu pedido, o requerente ressalta que a UFRJ deve atender ao disposto na Lei de Acesso à Informação que é o de eliminar o excesso de sigilo desnecessário em torno da coisa pública. 5. A UFRJ encaminha por correio a resposta ao recurso de primeira instância na data de 29 de agosto de O conteúdo da resposta não ficou disponibilizado no sistema e-sic, tampouco foi apresentada à CGU quando da solicitação de informações adicionais.

2 6. A resposta da UFRJ não removeu o inconformismo do requerente, razão pela qual interpõe recurso em instância segunda no dia 9 de setembro de Nesse recurso o requerente revela que recebeu da Autarquia os editais dos concursos de Residência Médica dos anos de 2000 a 2012 e que da mesma maneira que a UFRJ mantinha tais documentos, deveria ela também possuir cópia das provas. Estranha, o requerente, a ausência dos arquivos das provas, uma vez que guardam informação muito mais relevante do que o simples texto do edital, que pouquíssimo variou ao longo dos anos. O requerente levanta ainda questões sobre a referida prática da UFRJ em relação aos certames de Residência Médica, critica a Autarquia por ter sugerido a consulta a sítios outros que não os oficiais para a obtenção das provas e, ao alegar que é lógico e evidente que o material existe, reitera o seu pedido original. 7. Para o recurso em segunda instância a UFRJ responde em 12 de setembro de 2012 com o seguinte conteúdo: "[...] Informo que todo o material disponível de concursos realizados na última década já foi apresentado. Seria muito fácil oferecermos ao demandante o que deseja, se tivéssemos o material disponível. Porém, como já foi explicado, por constar em Resolução específica que rege os concursos para admissão em Programas de Residência Médica da CNRM/MEC, realmente o material dos concursos é destruído após o prazo determinado pela Resolução, já apresentada também. [...] 8. Em 13 de setembro de 2012, o requerente recorre à CGU em terceira instância usando os mesmos argumentos apresentados nas instâncias anteriores. 9. Por entender que informações adicionais deveriam ser apresentadas pela UFRJ para uma análise mais apurada do processo, a CGU encaminhou àquela Autarquia expediente Ofício N o 30938/2012/OGU/CGU-PR no qual solicita esclarecimentos. A resposta da UFRJ é encaminhada por meio do Ofício N o 1318/2012-CAE/HUCFF-UFRJ, de 5 de novembro de Nesse expediente a UFRJ reitera suas alegações para a negativa, reforça que todos os documentos existentes haviam sido disponibilizados ao requerente, que a sua atitude não se tratava de falta de transparência e discorre razões pedagógicas para agir daquela forma quanto às provas dos concursos para Residência Médica. 10. É o relatório. ANÁLISE 11. De início, observa-se que o recurso apresentado a esta CGU com base no art. 23 do Decreto n.º 7.724/2012 é tempestivo e, portanto, deve ser conhecido. 12. O exame da movimentação do pedido de acesso à informação NUP / permite identificar o cumprimento pelas partes das formalidades estabelecidas na Lei n.º

3 12.527/2011 e Decreto n.º 7.724/2012 no que diz respeito aos procedimentos que devem ser adotados no processamento do pedido de acesso à informação. O trâmite recursal atende aos referidos diplomas quanto aos prazos de apresentação e resposta, ambos contidos na Seção II do Capítulo III da Lei n.º /2011 e Seção IV do Capítulo IV do Decreto n.º 7.724/ Quanto ao mérito, o recurso ora analisado está concentrado na obtenção, pelo requerente, de cópias das provas utilizadas em certames seletivos para os cursos de Residência Médica vinculados e associados à Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ. Essas provas estariam supostamente arquivados na Autarquia. 14. Verifica-se que há razoabilidade no pedido, uma vez que se refere a informações integrantes de processos seletivos públicos e cuja divulgação, após o seu término, não comprometeria os atos vinculados, tampouco prejudicaria os certames futuros. Ademais, é prática recorrente, sobretudo nas instituições públicas que realizam concursos dos mais diversos, a disponibilização em seus sítios eletrônicos de cópia das provas aplicadas logo em seguida à realização dos certames. A própria UFRJ adota a mesma prática para os seus concursos vestibulares. 15. A divulgação de provas de concursos públicos é quesito de transparência e serve ainda para orientar os candidatos quanto a possíveis recursos a questões. Ocorre que a UFRJ, no caso particular das seleções para Residência Médica, permite que cada candidato leve consigo as provas de múltipla escolha após o término de sua realização, porém, segundo a Autarquia, essas provas não são arquivadas além dos 60 dias do início do certame. A base para tal procedimento, de acordo com a UFRJ, é uma resolução do Ministério da Educação. 16. Além da base normativa, a UFRJ alega razões pedagógicas e de segurança para não manter em arquivo as provas de concursos passados. Para a Autarquia, manter banco de dados de questões anteriores [...] acarretaria que estas questões pudessem ser consultadas e utilizadas como fonte de inspiração para novas, levando ao risco de questões, aí sim, muito parecidas e que explorassem os mesmos aspectos dos tópicos abordados [...]. Muito embora alegue não manter arquivos de provas passadas, a UFRJ admite que essas provas podem ser encontradas em sítios especializados em concursos ou cursos preparatórios aos seus programas de Residência Médica, provavelmente disponibilizadas por ex-candidatos. 17. Quando admite a possibilidade de acesso indireto às provas passadas (via sítios especializados ou cursos preparatórios), a UFRJ, aparentemente, dá margem ao entendimento de que as suas alegações pedagógicas e de segurança são frágeis. Isso porque, da mesma maneira em que as provas anteriores estão ao alcance dos interessados, elas também estariam para aqueles responsáveis pela elaboração de provas futuras. 18. Ademais, é importante ressaltar, que nos concursos públicos regulares, as instituições realizadoras, sobretudo as públicas, mantêm banco de questões justamente para evitar repetições. Além disso, as questões são elaboradas por pessoas diversas daquelas que farão a seleção e a análise para posterior composição dos cadernos de provas. Entende-se que são essas organização e

4 segregação de funções, aliadas a outros fatores, que podem conferir maior lisura ao certame. 19. Por outro lado, deve-se levar em consideração que aqui tratamos de uma instituição tradicional de educação, que realiza seleções para Residência Médica há pelo menos 35 anos. Não se pode, portanto, desprezar os seus argumentos pedagógicos tanto porque, até onde se tem notícia, não foram identificadas contestações a respeito da lisura desses processos seletivos. 20. Se a UFRJ, por prática, abre mão de manter banco de questões ou arquivo com provas anteriores (mesmo que digitalizadas) para os seus concursos para Residência Médica, ainda que essa prática seja permitida, ela não está aderente aos princípios da Lei n.º /2011 e Decreto n.º 7.724/2012. Entende-se, portanto, que todos os argumentos para o desfazimento dos arquivos de provas anteriores por parte da Autarquia, após sessenta dias de iniciado o certame, não são superiores ao princípio que diz que o acesso é a regra e o sigilo exceção, mesmo porque a Autarquia não recorre ao expediente de classificação para os referidos documentos. 21. Concorda-se com a UFRJ quando alega que não pode criar arquivos para atender ao pedido sob exame, uma vez que não mais possui as provas, mas entende-se que a implementação de prática de arquivamento/digitalização (transparência ativa) doravante pode evitar contestações futuras. 22. Em resumo, conclui-se que: 1) Trata o pedido de acesso de conteúdo de interesse público que poderia estar à disposição por meio da transparência ativa (parágrafo 2); 2) A UFRJ alega que o quanto solicitado não é arquivado na instituição, sendo destruído após 60 dias do início do certame seletivo (parágrafos 3 e 7) 3) A prática da UFRJ em relação às provas para os concursos de residência Médica e seus argumentos de segurança não estão aderentes aos princípios da Lei de Acesso à Informação (parágrafos 16, 17 e 20); 4) É possível reconhecer as razões da UFRJ quando nega o acesso, simplesmente porque os arquivos ela alega não existir, mas isso não pode ser motivo para que permaneça a replicar a prática à luz da LAI (parágrafos 20 e 21). CONCLUSÃO 20. Diante do exposto, manifesta-se pelo conhecimento do presente recurso e opina-se pelo seu desprovimento por acreditar que as provas solicitados não são arquivadas pela UFRJ. Brasília (DF), de novembro de ROMUALDO ANSELMO DOS SANTOS Analista de Finanças e Controle

5 Folha de Assinaturas Documento: NOTA TÉCNICA nº 2728 de 13/12/2012 Referência: PROCESSO nº / Assunto: Nota Técnica Parecer a recurso de 3ª instância Signatário(s): ROMUALDO ANSELMO DOS SANTOS ANALISTA DE FINANCAS E CONTROLE Assinado Digitalmente em 12/12/2012 Relação de Despachos: Registre-se a aprovação integral da Nota Técnica em questão, nos termos da qual o Exmo. Sr. Ministro Chefe desta, Dr. Jorge Hage Sobrinho, deu fundamento e motivação a sua decisão. Desta forma, considerando que o recorrente teve ciência da mencionada decisão no prazo legal (sem qualquer prejuízo das garantias fixadas na Lei nº /11), ficam convalidados todos os atos praticados no curso deste procedimento cujas datas de registro eletrônico não correspondam às de sua real produção. JOSE EDUARDO ELIAS ROMAO Ouvidor-Geral da União Assinado Digitalmente em 13/12/2012 Este despacho foi expedido eletronicamente pelo SGI. O código para verificação da autenticidade deste documento é: d7f4b529_8cfa74727b2dabb