PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA Controladoria-Geral da União Ouvidoria-Geral da União

Transcrição

1 NOTA TÉCNICA /2012/OGU/CGU-PR Referência: Assunto: 904/2012 (protocolo SIC PETROBRAS) Recurso do art. 23 do Decreto nº 7.724/2012, referente ao pedido de acesso à informação feito à PETROBRAS pelo Senhor Ouvidor-Geral da União, Trata-se de análise de recurso do art. 23 do Decreto nº 7.724/2012 interposto por por sentir-se insatisfeito com as respostas dadas pela PETROBRAS, referente ao pedido de informação que foi protocolado no SIC da PETROBRAS com o número 904/ O pedido de acesso à informação foi feito à PETROBRAS no dia 12/07/2012 e trouxe a seguinte descrição: Gostaria da revisão do padrão PG-0V quanto a questão de Acessibilidade de Informação (lei /2011) elaborado pelo GAPRE/TIC sobre o uso da internet, das mídias sociais e dos sites de hospedagem de vídeos (o caso citado) bloqueou aos funcionários da Petrobras aos vídeos da Presidência da República. Os portadores de deficiência também não foram consultados e estão amparados pelo decreto 5.296/2004 que lhes permite acesso total a fontes de informação em todas as mídias disponíveis." 3. Em 13/07/2012, o SIC da Petrobrás encaminhou resposta ao requerente, explicandolhe que a legislação sobre acesso a informação tem por objetivo garantir o acesso a informações de caráter público, orientar o cidadão sobre o acesso e informar sobre o trâmite de documentos. Acrescentou que, na verdade, o requerente não fez um pedido de acesso a informação, mas uma reclamação sobre um Padrão Gerencial da Petrobras e que, por isso, ele teria sido orientado a utilizar-se dos demais canais internos existentes para tratamento de tal demanda. 4. O requerente, insatisfeito com a resposta dada pela empresa, interpôs recurso do art. 21 do Decreto nº 7.724/2012, em 13/07/ Em 16/07/2012, a Coordenação de Articulação e Recursos da Gerência de Transparência e Integridade da Ouvidoria da Petrobras, responsável pelo SIC, reiterou as informações e esclarecimentos prestados anteriormente ao requerente:

2 Em resposta ao seu recurso apresentado em 13/07/2012, nada obstante não se trate de hipótese de recurso prevista no artigo 21 do Decreto nº 7.724/2012, que regulamentou a Lei de Acesso à Informação, esclarecemos que este não poderá ser provido, uma vez que a sua demanda se refere a uma solicitação de revisão de um Padrão da Petrobras e não de um pedido de informação. O Serviço de Informação ao Cidadão-SIC, criado pela Petrobras em cumprimento à Lei de Acesso à Informação, especificamente, prevê o seu cabimento para atender, orientar, receber e registrar pedidos de acesso à informação (artigo 9º do já referido Decreto). Conforme já esclarecido em outras oportunidades, a Petrobras dispõe de veículos próprios para reclamações, elogios ou dúvidas, que podem e devem ser utilizados, valendo a repetição: - SAC Petrobras: ; - Ouvidoria Geral: endereço eletrônico: e- mail ouvidoria@petrobras.com.br, telefones e (21) (...) 6. Não há registro documental de que o requerente teria apresentado recurso à autoridade máxima do órgão ou entidade, nos termos do único do art. 21 do Decreto nº 7.724/ Em 24/07/2012, o requerente encaminhou à CGU, por meio do qual manifestou a sua irresignação com as decisões tomadas pela Petrobras em relação ao seu pedido, nos seguintes termos: A Petrobras criou um padrão interno PG-0V que limita o Acesso a Informação conforme a lei /2011 regulamentada pelo decreto 7.724/2012. Neste documento interno o uso da internet é limitado para sites de hospedagem de vídeos mesmo que lícitos e de caráter público, mídias sociais, dentre outros formas de comunicação. Este padrão também não respeitou o decreto 5.296/2004 que permite total acesso a fontes de informação em todas as mídias disponíveis para os portadores de deficiência. A atividade laborativa é o local onde podemos praticar nossa cidadania haja visto as limitações técnicas de internet (banda larga, sites,...) e/ou limitações de horário de atendimento ao público (fora do horário núcleo 8 às 18:00hs as entidades públicas não registram pedidos de atendimento ou solicitações por internet). Desta forma, o local possível para que possa me comunicar e exercitar minha cidadania é nesta instituição. Seguindo o protocolo da lei/decreto registrei meu pedido (904/2012) de acesso a informação e solicitei recurso nas 4 instâncias internas possíveis (inclusive uma delas cita o CGU mas, pelo que notei não foram notificados). Todas foram negadas mesmo sendo um problema interno da corporação. Todas as justificativas careciam de explicação compatível com a liberdade de conhecimento (fim da censura) que esta lei determina.

3 Dessa forma gostaria de solicitar a este órgão normativo que oriente a Petrobras a não restringir o Acesso a Informação dos órgãos públicos de sites de interesse coletivo como o Caso o problema seja de ordem administrativa (excesso de uso da internet pelos petroleiros - não jurídica) que se limite o tempo disponível a internet por dia (1:30hs) de seus funcionários como alternativa. Em anexo segue o arquivo com o Padrão PG-0V citado, dois arquivos com evidências de restrição ao site do Planalto, o arquivo com a resposta ao último recurso proferido onde mesmo solicitando revisão interna para termos o Acesso a Informação esta foi negada, ou seja, foi "negado o direito a ter direito" de Acesso a Informação. Tenho conhecimento das enormes responsabilidades e demandas deste órgão mas, peço humildemente o auxílio, colaboração e orientação desta equipe para que a Petrobras reverta seu posicionamento em face da lei/decreto. Contando com a colaboração dos senhores que também poderão ler este e- mail corporativo. 8. Com base no disposto no art. 23, 1º, do Decreto nº 7.724/2012, em 13 de agosto, a CGU encaminhou o Ofício nº /2012/OGU/CGU-PR à autoridade de monitoramento da PETROBRAS, por meio do qual se solicitou o envio das informações e documentos elaborados e/ou utilizados para responder ao pedido formulado pelo requerente. 9. A PETROBRAS encaminhou, então, esclarecimento à CGU, em 20 de agosto de 2012, ressaltando que o requerente não teria feito um pedido de acesso a informação, mas uma reclamação sobre o Padrão Gerencial da empresa que trata do uso da internet pelos empregados, com o qual o requerente não concorda. Nesse sentido, nenhuma informação ou documento teriam sido negados ao requerente, pois não houve efetivamente um pedido de informação. Ademais, o requerente teria sido esclarecido, em mais de uma oportunidade, de que o meio utilizado não seria apropriado, pois não se enquadraria nos limites da Lei de Acesso a Informação, e de que ele deveria utilizar-se dos canais pertinentes disponibilizados pela empresa. 10. É o relatório. ANÁLISE 11. Observa-se, preliminarmente, que o recurso interposto perante a CGU, previsto no art. 23 do Decreto nº 7.724/2012, é tempestivo e, portanto, deve ser conhecido. 12. Em relação ao trâmite recursal, deve-se esclarecer que a PETROBRAS não utiliza o sistema e-sic, do Governo Federal, possuindo sistema próprio para recebimento e trâmite dos pedidos de informação a ela endereçados. Dessa forma, o pedido foi protocolado no SIC da PETROBRAS com número. Já o encaminhado pelo requerente para interpor o seu recurso perante a CGU foi protocolado no Sistema de Gestão de Informações SGI da própria CGU (que não se confunde com o Sistema Eletrônico do Serviço de Informação ao Cidadão - e-sic) com o número 0. Observa-se também que não consta, tanto na documentação encaminhada pelo requerente quanto na resposta da PETROBRAS ao pedido de esclarecimento feito pela CGU, evidência de que teria havido o esgotamento das

4 instâncias recursais internas, previamente à interposição de recurso perante a CGU. Em particular, não há registro de recurso à autoridade máxima do órgão ou entidade previsto no único do art. 21 do Decreto nº 7.724/2012. Deve-se mencionar, no entanto, que o requerente diz, no texto do recurso à CGU, que teria recorrido a 4 instâncias internas possíveis (inclusive uma delas cita o CGU mas, pelo que notei não foram notificados). 13. Quanto ao mérito, depreende-se, de plano, que o requerente não realizou um pedido de informação à PETROBRAS, no sentido legal do termo, mas efetuou um pedido de revisão da política interna adotada pela PETROBRAS atinente ao uso da internet por seus empregados. Esta política está consubstanciada num documento chamado Padrão PG-0V contra o qual o requerente se insurge, questionando o seu teor. Além de reclamar da restrição de acesso a determinadas páginas e conteúdos, inclusive de natureza pública (como os vídeos hospedados no site da Presidência da República) imposta pelo Padrão, o requerente afirma também que tal política ofenderia as normas do Decreto nº 5.296/2004, que garantiria aos portadores de deficiência acesso total a fontes de informação em todas as mídias disponíveis. 14. Nos termos do art. 7º da Lei nº /2011, assegura-se ao solicitante o direito de obter: I - orientação sobre os procedimentos para a consecução de acesso, bem como sobre o local onde poderá ser encontrada ou obtida a informação almejada; II - informação contida em registros ou documentos, produzidos ou acumulados por seus órgãos ou entidades, recolhidos ou não a arquivos públicos; III - informação produzida ou custodiada por pessoa física ou entidade privada decorrente de qualquer vínculo com seus órgãos ou entidades, mesmo que esse vínculo já tenha cessado; IV - informação primária, íntegra, autêntica e atualizada; V - informação sobre atividades exercidas pelos órgãos e entidades, inclusive as relativas à sua política, organização e serviços; VI - informação pertinente à administração do patrimônio público, utilização de recursos públicos, licitação, contratos administrativos; e VII - informação relativa: a) à implementação, acompanhamento e resultados dos programas, projetos e ações dos órgãos e entidades públicas, bem como metas e indicadores propostos; b) ao resultado de inspeções, auditorias, prestações e tomadas de contas realizadas pelos órgãos de controle interno e externo, incluindo prestações de contas relativas a exercícios anteriores. 15. Como se percebe, o pedido de revisão do padrão solicitado pelo requerente não se enquadra em nenhuma das hipóteses legais de acesso a informação. Por seu turno, o inciso III do art. 12 do Decreto nº 7.724/2012 determina que o pedido de acesso a informação deve conter a especificação, de forma clara e precisa, da informação requerida, o que também não ocorre no presente caso, justamente por não se tratar de um pedido de informação, mas de um questionamento direcionado à empresa.

5 16. A despeito dos esclarecimentos prestados pela empresa, o requerente insiste em suas alegações de que a Lei de Acesso a Informação (Lei nº /2011) seria o instrumento legal apropriado para sustentar o seu pedido de revisão do Padrão, ainda que isto não configure um pedido de informação. O requerente interpreta a Lei de Acesso, portanto, de forma bastante ampliada, entendendo que ela resguarda e protege o acesso a conteúdos existentes na internet, mesmo quando acessados do local de trabalho, podendo sobrepor-se a regras e políticas internas criadas e estabelecidas pelo empregador. O requerente afirma ainda que o local possível para que ele possa se comunicar e exercitar sua cidadania é no local de trabalho. 17. Deve-se destacar que a Lei nº /2012, denominada de Lei de Acesso a Informação, possui escopo próprio e definido, não servindo para a canalização ou tratamento de questões que extrapolem os seus limites. Reclamações ou revisões de procedimentos internos criados por órgãos, entidades ou empresas, no exercício de suas competências legais e administrativas, fogem do escopo da Lei de Acesso a Informação. O direito de acesso a determinados sites e conteúdos da internet transcende o direito que pode ser garantido pela Lei nº /2012, pois esta assegura o acesso a informações públicas que estejam sob a custódia, guarda, posse ou domínio do órgão, entidade ou empresa. Não cabe à Lei de Acesso a Informação garantir a universalização de acesso a sites, páginas e conteúdos da internet, tampouco sobrepor-se a normas e regulamentos internos estabelecidos pelo empregador a respeito do uso da internet pelos seus empregados durante o horário de trabalho. 18. Ainda que hipoteticamente seja legítimo o pleito do requerente quanto à revisão do padrão da PETROBRAS sobre o uso da internet no local de trabalho, o meio utilizado Lei de Acesso a Informação não é compatível, do ponto de vista jurídico, com o objetivo pretendido. Para isso, como argumentado pela própria empresa, existem outros canais internos, tais como a Ouvidoria, para tratamento e encaminhamento da questão. Deve-se enfatizar que a PETROBRAS, assim como qualquer outro empregador, público ou privado, possui competência e prerrogativa plenas para deliberar, decidir e estabelecer as suas políticas administrativas internas relativas à organização do trabalho dos seus empregados, incluindo os limites para acesso à internet durante o horário de trabalho. 19. Por fim, não procede a afirmação do requerente de que o regulamento da PETROBRAS, ao limitar o acesso a determinados sites, conteúdos e páginas da internet, ofenderia as disposições do Decreto nº 5.296/2004, que trata de acessibilidade a portadores de deficiência e possui um capítulo específico sobre acesso à informação e à comunicação. De acordo com o Decreto, os portais e sítios da administração pública devem assegurar aos portadores de deficiência o acesso às informações disponíveis. Não se pode deduzir dessa disposição normativa que os órgãos, entidades e empresas integrantes da administração pública tenham que franquear, sem qualquer limitação, o acesso à internet, no local de trabalho, aos seus empregados portadores de deficiência. Sem dúvida alguma, trata-se de coisas distintas. Em outras palavras, os sites é que devem ser tecnicamente acessíveis e não que a administração pública esteja obrigada a dar ou permitir o acesso à internet de forma ampla, ilimitada e sem que lhe seja possível adotar medidas internas para disciplinar esse acesso. 20. Em resumo, conclui-se que:

6 1) o requerente não formulou um pedido de acesso a informação, nos termos e dentro dos limites legais estabelecido pela Lei nº /2012, mas efetuou um pedido de revisão do padrão interno definido pela PETROBRAS que trata do acesso à internet no local de trabalho; (parágrafos 13 a 15); 2) reclamações, questionamentos e insatisfação quanto a procedimentos regulamentares adotados por órgãos, entidades e empresas, no pleno e regular exercício de suas competências administrativas, não são passíveis de serem tratados e resolvidos por meio da Lei de Acesso a Informação, pois transcendem o seu escopo e abrangência (parágrafos 17 e 18); CONCLUSÃO 22. Diante do exposto, opina-se pelo desprovimento do recurso. Brasília (DF), 30 de agosto de MARCIO ALMEIDA DO AMARAL Chefe da Assessoria Técnica de Projetos

7 Folha de Assinaturas Documento: NOTA TÉCNICA nº 2162 de 08/10/2012 Referência: PROCESSO nº / Assunto: Nota técnica instrução recurso de 3a instância Signatário(s): MARCIO ALMEIDA DO AMARAL ANALISTA DE FINANCAS E CONTROLE Assinado Digitalmente em 08/10/2012 Relação de Despachos: Para aprovação. MARCIO ALMEIDA DO AMARAL ANALISTA DE FINANCAS E CONTROLE Assinado Digitalmente em 08/10/2012 Relação de Despachos: Aprovo integralmente a Nota Técnica em questão, nos termos da qual o Exmo. Sr. Ministro Chefe desta, Dr. Jorge Hage Sobrinho, deu fundamento e motivação à sua decisão. Desta forma, considerando que o recorrente teve ciência da mencionada decisão no prazo legal (sem qualquer prejuízo das garantias fixadas na Lei nº /11), ficam convalidados todos os atos praticados no curso deste procedimento cujas datas de registro eletrônico não correspondam às de sua real produção. JOSE EDUARDO ELIAS ROMAO Ouvidor-Geral da União Assinado Digitalmente em 08/10/2012 Este despacho foi expedido eletronicamente pelo SGI. O código para verificação da autenticidade deste documento é: e _8cf7392a020e955