MEDIÇÃO DE CUSTOS ERGONÔMICOS UMA ABORDAGEM PARTICIPATIVA
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- Orlando Neiva Paixão
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1 MEDIÇÃO DE CUSTOS ERGONÔMICOS UMA ABORDAGEM PARTICIPATIVA Leandro Zvirtes; Fernando G. Amaral, Dr. Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS Praça Argentina, 9 sala LOPP CEP Porto Alegre - RS Brasil leandroz@ppgep.ufrgs.br amaral@ppgep.ufrgs.br Palavras-chave: custos ergonômicos, ergonomia participativa, metodologia, avaliação de custos A realização de uma ação ergonômica em situações de trabalho, muitas vezes está condicionada a elaboração de planos estratégicos que visam fornecer à empresa informações sobre seus investimentos e ações. Estas, freqüentemente precisam responder a questões que envolvem a quantificação dos custos ergonômicos. A interação da ergonomia com a metodologia ABC/ABM, usando-se uma abordagem participativa, permite identificar as tarefas e atividades que mais geram custos e afetam o desenvolvimento operacional da empresa. Esta interação possibilita a criação de uma metodologia que permite identificar e quantificar custos da ação ergonômica, otimizando a tomada de decisão no sentido de reduzi-los ou eliminá-los. Keywords: ergonomics costs, participatory ergonomics, methodology, cost evaluation An ergonomics approach in work conditions, many times is related to the strategic plans that aim providing the information to the company about its investments and actions. They need frequently answer any questions that involve the quantification of ergonomics costs. The interaction between ergonomics and ABC/ABM methodology, using participatory approach enables the identification of tasks and the activities that cause costs and affect the company development. This interaction enable the creation of a new methodology to identify and quantify the ergonomics actions costs by optimizing the decisions in reducing or eliminating these costs. 1. INTRODUÇÃO A necessidade de medir os custos ergonômicos relacionados a problemas e recursos ergonômicos fazse cada vez mais crescente diante da imposição de empresas e organizações quando da demanda pela realização de uma ação ergonômica. Independente do tipo de intervenção; seja de concepção, correção ou de transformação, exige da empresa um investimento, que muitas vezes só é feito quando da justificação econômica do próprio. A metodologia de custeio Activity Based Costing/Activity Based Management (ABC/ABM) permite alocar custos de produtos e serviços diretamente aos processos, tarefas e atividades desenvolvidas. Através da identificação dos fatores geradores de custo, ela possibilita relacionar o custo diretamente as suas causas, proporcionando a elaboração de soluções mais precisas no sentido de reduzi-los e/ou eliminá-los. Utilizando tais bases e critérios, pode-se então, desenvolver uma metodologia que permita uma avaliação mais acurada dos custos ergonômicos. A ação ergonômica, interagindo com o ABC/ABM, permite medir custos relacionados aos problemas e recursos ergonômicos (Zvirtes e Amaral, 2001). Problemas como má organização dos processos, aumento de absenteísmo e turnover, perdas, retrabalho, lesões, acidentes, ações judiciais, etc., podem ser quantificados através da interação da ação ergonômica com a metodologia de custeio ABC/ABM. Dessa forma, a ação ergonômica realizada em conjunto com o ABC/ABM, vai fornecer as empresas não só uma importante ferramenta gerencial para a tomada de decisões, mas também informações que permitam decidir como vai administrar seu departamento ou programa ergonômico. Assim, aperfeiçoando o proposto por Zvirtes e Amaral (2001), de se analisar a relação da ergonomia com o ABC/ABM, buscando desenvolver um método para medir custos ergonômicos, este trabalho tem como objetivo
2 apresentar uma metodologia que permita medir e quantificar o custo de ações ergonômicas. 2. AVALIAÇÃO ECONÔMICA DE CUSTOS ERGONÔMICOS A ergonomia estuda adaptar o trabalho ao homem, visando seu bem estar, saúde, segurança e sua satisfação. Essa adaptação do trabalho ao homem, geralmente está relacionada com a correção de problemas e/ou a inserção de recursos ergonômicos. Isto, muitas vezes gera custos que são de difícil identificação e quantificação. A necessidade de se elaborar uma metodologia que permita justificar os custos de problemas e recursos ergonômicos, demonstrando a capacidade de retorno dos investimentos, pode facilitar a implantação das mudanças sugeridas às empresas. Segundo Alexander (1994), a economia proveniente da ergonomia tem se mostrado importante, tanto do ponto de vista técnico como administrativo. Para o autor, a ergonomia tem se tornado mais difundida, entretanto, muitas empresas ainda questionam o retorno que será obtido pelos investimentos realizados num programa ergonômico. Conforme Dahlén e Wernersson (1995), os métodos de custeio tradicionais, não permitem que se obtenha as informações necessárias para o desenvolvimento de um sistema produtivo competitivo voltado para o futuro. O autor cita opinião de Kaplan, na qual parâmetros não financeiros como qualidade, inventários, produtividade e força de trabalho devem participar da tomada de decisão pelas empresas. Segundo Kaplan (1986) apud Dahlén e Wernersson (1995), apenas por que um parâmetro é de difícil quantificação, ele não pode ser excluído do cálculo do custo de um produto ou serviço. Diehl (1999), também entende que a exigência de dados financeiros por parte de empresas para justificar investimentos ou manter estruturas para apoiar uma intervenção ergonômica deve ser considerada. O próprio autor destaca a necessidade de obter indicadores de caráter econômico como justificativa para os investimentos, mesmo que em alguns casos, estes não sejam providos da mesma exatidão de outros dados, como por exemplo, a redução de refugos, aumento de produtividade, custo de materiais, mão de obra, etc. Para Alexander (1994), todas as formas de controle de custos são válidas, quando o problema é a justificação do investimento. Segundo o autor, algumas formas de controle de custos incluem: A busca por múltiplas soluções para os problemas e implantação destas, as quais muitas vezes são altamente eficientes na correção dos problemas e de baixo custo de implantação. Geralmente, as soluções de automação não são de alta eficiência e baixo custo. Devese evitar a mentalidade de automação. Evitar dissolver os problemas em todas plantas industriais, mas, procurar utilizar plantas semelhantes. Isto evitará custos extras para desenvolver e testar soluções. Detectar problemas específicos e concentrar-se somente no problema em análise, mudando somente as partes que requerem correção, uma vez que os custos estão em discussão. Medir custos para todos os projetos. Segundo o autor o que não é medido não é administrado, uma vez que a medição dos custos faz parte da equipe ergonômica. Traçar todos custos e benefícios possíveis. Os custos incluem custos de equipamentos e instalações e os benefícios englobam compensação de trabalhadores, custo de tempo perdido, baixa produção, etc. Todavia, em vista da precariedade da literatura nesta área, as avaliações econômicas dos custos relacionados à saúde e segurança do trabalhador ainda são um problema a ser resolvido. Riel e Imbeau (1996), entendem que quando da justificação dos custos relacionados à saúde e segurança, alguns ainda são inevitáveis, todavia muitos outros como tempo de recuperação de funcionários afastados, desconforto por dores, stress, tempo perdido por treinamento de novos funcionários devido ao aumento de absenteísmo e elevação do turnover, podem ser evitados. Além desses custos, muitos outros podem ser evitados e serem alvo de estudo de um projeto ergonômico em potencial, desde que se utilize uma metodologia adequada. 3. IMPORTÂNCIA PARA INDÚSTRIA A ergonomia tem se tornado um aspecto fundamental nas empresas, por abordar diretamente as questões relativas ao trabalho, como por exemplo:
3 Alto índice de acidentes de trabalho; Problemas associados à doença do trabalho; Questões relacionadas à redução da produtividade no local de trabalho, alto índice de absenteísmo, retrabalhos, diminuição de motivação; Qualidade de vida no trabalho QVT, proporcionando mais do que um posto de trabalho melhor, mas também uma vida melhor Grandjean (1998, p. 6). Estas questões relacionadas ao trabalho estão focadas nos fatores humanos, os quais na maioria das vezes são vistos como parâmetros não financeiros, difíceis de quantificar e por isso não são incluídos em cálculos econômicos. Segundo Dahlén e Wernersson (1995) a implantação dos fatores humanos nos parâmetros financeiros da indústria, possibilitará uma melhor acuidade na tomada de decisão. Assim, visando uma redução de custos, deve-se responder a algumas questões, como por exemplo: Quanto uma empresa poderá investir em treinamento e educação de novos funcionários? Será vantajoso investir em um sistema de gratificação promovendo um menor absenteísmo? Será vantajoso gratificar funcionários mais velhos em seus salários pela diminuição do turnover? O que representa o mix entre os fatores de produção relacionados ao trabalho e o capital empregado para obter o melhor custo efetivo para os sistemas de produção? Dahlén e Wernersson (1995, p ). Da mesma forma, Riel e Imbeau (1997), destacam ainda outros tipos de custos que podem ser avaliados através de um modelo econômico adequado. Estes autores entendem que uma das mais importantes características de um modelo de custos é entender o comportamento dos custos relacionados à saúde e segurança; tais custos são os provenientes de seguros relacionados ao trabalho ou de compensação e também os gerados por problemas que afetam o andamento natural da produção. Os primeiros dizem respeito estão relacionados a distúrbios ou lesões e os outros custos são aqueles provenientes das más condições de trabalho. Estes vão permitir o aparecimento de fadiga no trabalhador, a qual poderia ser eliminada com uma melhoria das condições de trabalho. Os custos gerados por problemas no trabalho, podem ser considerados como oriundos de absenteísmo, turnover, produtividade e baixa qualidade. Para melhorar o controle de custos, eles devem ser alocados de acordo com suas causas originais, com a utilização de direcionadores como base de alocação. Para Dahlén e Wernersson (1995), a alocação dos custos não pode se basear somente nos custos diretos. Muitos desses custos, nas empresas são considerados como indiretos, e muitas vezes são alocados como diretos. Em várias empresas, os custos diretos correspondem a aproximadamente 10 % dos custos totais, e ainda, freqüentemente esses custos são considerados apenas como bases de alocação, quando a grande parte dos custos indiretos são alocados aos produtos (Dahlén e Wernersson, 1995). De acordo com Riel e Imbeau (1996), a maioria das empresas sabe que este paradigma está obsoleto e pode levar a erros no processo de tomada de decisão e até mesmo na justificativa de investimentos. Principalmente, quando os custos indiretos representam a maior parte do custo dos produtos ou de algum outro objeto de custo do negócio. A publicação do primeiro Liberty Mutual Workplace Safety Index (2001) para segurança do trabalho (tabela 1), apresentou os custos diretos gerados pelas 10 principais causas de acidentes e doenças profissionais nos EUA. Causas de acidentes % de custos diretos para compensação de trabalhadores no ano de 1998 Estimativa nacional de custo direto para compensação de trabalhadores Lesões causadas pelo excesso de levantamentos, puxões, arremesso, tempo 25.57% $ 9.8 bilhões segurando objetos pesados Quedas 11.46% $ 4.4 bilhões Lesões resultante de maus jeitos e escorregões, perda 9.35% $ 3.6 bilhões de equilíbrio sem queda Quedas em nivel mais baixo (escada, ou sobre 9.33% $ 3.6 bilhões grades) Quedas de objetos sobre o trabalhador 8.94% $ 3.4 bilhões Movimentos repetitivos 6.10% $ 2.3 bilhões Acidentes no caminho do trabalho 5.46% $ 2.1 bilhões Lesões por choques, batidas contra 4.92% $ 1.9 bilhões equipamentos pesados Esmagamento por máquinas ou equipamentos 4.18% $ 1.6 bilhões Contato c/ temperaturas extremas que resultam em choque t wermico e queimaduras (gelo, calor) 0.92% $ 3.0 bilhões Todas causas de acidentes % $ 38.7 bilhões Tabela 1: Principais causas de acidentes no trabalho e doenças profissionais nos EUA (Liberty Mutual Research Center, 2002).
4 Segundo, o Liberty Mutual Group, principal fornecedor de seguro para compensação de trabalhadores dos EUA, estas 10 principais causas de acidentes e doenças profissionais são responsáveis por 86% dos US$ 38,7 bilhões pagos em indenizações em 1998, último ano de informação disponível. Quando os custos indiretos gerados por estes acidentes são somados aos US$ 38,7 bilhões de custos diretos, a economia resultante pode atingir um total aproximado de US$ bilhões (Liberty Mutual Research Center, 2002). Para o entendimento do grupo existe uma relação clara entre a segurança no trabalho e o rendimento de uma empresa. Além disso, também destaca três benefícios que a segurança do trabalho permite proporcionar nas empresas: a redução do sofrimento humano; o controle do custo de lesões (substituição de trabalhadores e custos médicos); evitar custos indiretos (insatisfação, diminuição da produtividade, custos administrativos de seleção, contrato e treinamento de funcionários substitutos, horas extras, etc.). Para Riel e Imbeau (1996), os custos oriundos da saúde e segurança também podem ser enquadrados e melhor interpretados através do modelo ABC/ABM, permitindo uma aproximação mais acurada das diversas variáveis que os envolvem. A metodologia ABC/ABM pode ser usada para quantificar os custos de problemas ergonômicos em atividades de trabalho, pois na sua aplicação, as bases de alocação são ampliadas, o que vai proporcionar um melhor entendimento de como e por que os custos estão ocorrendo. As empresas podem utilizar o ABC/ABM para identificar as causas de custo, pelo exame de tarefas ligadas diretamente com os processos do negócio e que criam produtos e serviços de valor para os clientes. Pela combinação dos dados de custos das tarefas com um profundo entendimento ergonômico das causas e através da lógica de relacionamentos entre as atividades e tarefas, a administração pode desenvolver métodos para dinamizar e otimizar a execução destes custos a fim de poder controlá-los e trabalhar no sentido de reduzi-los. Conforme Zvirtes e Amaral (2001), o grande potencial da metodologia ABC/ABM se apresenta na análise das tarefas do negócio e na caracterização dos reais causadores dos custos. Todavia, a ergonomia também vai permitir identificar direcionadores de custos. A ação ergonômica possibilitará identificar as atividades realizadas no desenvolvimento da tarefa e a forma como elas estão sendo realizadas. Nesse caso, se estiverem prejudicando o desempenho da tarefa e afetando a saúde e a segurança do trabalhador, elas poderão a partir destas constatações serem relacionadas ou não como geradores de custo. Assim, o foco da análise deve concentrar-se naquilo que as pessoas fazem, isto é, em suas tarefas e atividades, permitindo então a interação da metodologia ABC/ABM com a ergonomia. Logo, integrar a ergonomia à metodologia ABC/ABM torna-se um importante negócio no desenvolvimento e conhecimento dos seus custos; uma vez que as despesas e custos indiretos são alocados diretamente aos produtos que usam as tarefas e, desse modo, generalizam os custos da organização. Com a integração de dados e informações geradas pelo ABC/ABM e com a ergonomia, utilizando-se de uma abordagem participativa, vai permitir não só a quantificação do custo de produtos, serviços e clientes e outros objetos, mas também identificar e entender o como e o porquê estes custos estão sendo gerados. De acordo com Zvirtes, Amaral e Marques (2000), o relacionamento da ergonomia com custos, e o conhecimento e a compreensão de suas inter-relações é de fundamental importância para a sua avaliação, pois fornece os subsídios necessários para a melhoria do processo de gerenciamento e da tomada de decisão dentro da empresa. 4. A ABORDAGEM PARTICIPATIVA NO DESENVOLVIMENTO DA METODOLOGIA De acordo com Noro (1998), a ergonomia participativa consiste dos próprios trabalhadores estarem envolvidos na implementação dos conhecimentos e procedimentos ergonômicos em seus postos de trabalho. A participação no trabalho é em geral uma técnica fornecida aos funcionários, dando-lhes a oportunidade de controlar o projeto de seu posto de trabalho e planejar suas próprias atividades de trabalho. A premissa é que os trabalhadores conhecem seus postos de trabalho melhor que qualquer outra pessoa e que este conhecimento permite a eles desenvolver uma maior compreensão e aproximação com seu trabalho (Zalk, 2001). A ergonomia participativa começa pela organização de um projeto e equipe de trabalho para resolver problemas ergonômicos nos postos de trabalho (Nagamachi, 1995). Todavia, Vink et al. (1995), entende que o importante na abordagem participativa é
5 ter trabalhadores que identifiquem os problemas e desenvolvam idéias de melhorias em colaboração com a administração, uma vez que a implantação de certas melhorias ergonômicas em algumas empresas pode ser muito difícil. Muitas vezes os funcionários encontram dificuldades para aceitar as mudanças, algumas vezes essas mudanças são muito caras para serem implantadas e muitas vezes os funcionários recusam os novos métodos de trabalho. Assim, o objetivo da ergonomia participativa é solucionar os problemas, seja no projeto de um novo posto, equipamento ou dentro de um contexto maior como o desenvolvimento organizacional, usando a participação do trabalhador como ferramenta para reduzir custos e sofrimentos oriundos de acidentes nos postos de trabalho. O modelo adotado utiliza a abordagem participativa tanto para a caracterização ergonômica como para a gestão de custos, onde o trabalhador participa na identificação e resolução dos problemas ergonômicos e no controle de suas tarefas, uma vez que estes conhecem muito bem quais os tipos de problemas ergonômicos existem em seus postos de trabalho. 5. METODOLOGIA A metodologia de trabalho utilizada consiste de sete etapas distintas, onde a participação e comprometimento de funcionários e direção são fatores determinantes para a viabilidade da aplicação. As estruturas principais da metodologia estão dispostas a seguir em uma seqüência lógica de aplicação: 5.1 Planejamento e definição do projeto O planejamento e definição dos objetivos do projeto consistem em uma etapa fundamental da aplicação. Deve-se definir a abrangência do projeto a ser aplicado, como quais áreas e processos serão abordados. Nesta primeira etapa, deve-se evitar objetivos muito abrangentes, buscando minimizar os possíveis erros que ocorrem numa primeira avaliação, devido a detalhamento excessivo e a complexidade do modelo gerado. 5.2 Levantamento e identificação dos processos e tarefas A etapa de identificação dos processos e tarefas requer grande atenção por parte de quem está aplicando a metodologia. Deve-se ter o cuidado de evitar o excesso de detalhamento para evitar a morosidade e que o trabalho não caia no descrédito. Por outro lado, um levantamento muito superficial pode vir a ocasionar uma dificuldade na alocação do consumo de recursos e conseqüentemente no levantamento dos custos. Alguns fatores que podem ser utilizados no levantamento dos dados durante a aplicação da metodologia são: a) Análise dos procedimentos da qualidade e atribuições de cargo Através da análise dos procedimentos da qualidade e das atribuições de cargos, pode-se obter uma visão inicial de quais são os principais processos desenvolvidos pela empresa e quais tarefas são realizadas no decorrer de cada processo. b) Observação da realização das tarefas Traduz-se em uma importante etapa na identificação das tarefas e processos. As observações possibilitam ao pesquisador compreender todo o fluxo físico dos processos, desde a entrada até a saída. c) Entrevistas com funcionários As entrevistas permitem saber quais tarefas são desempenhadas por cada funcionário e também identificar recursos utilizados na execução destas tarefas. Recursos como por exemplo, equipamentos, área utilizada, n o de pessoas trabalhando, etc. d) Questionário de tarefas Vai possibilitar o conhecimento das tarefas que cada funcionário desempenha e o tempo gasto por cada um deles na execução de cada tarefa. e) Documentação e elaboração de um dicionário de tarefas e processos A construção de um dicionário de tarefas e processos deverá conter todos os processos e tarefas realizados pela empresa na área em estudo. A construção de um dicionário será muito importante em futuras revisões e ampliações da metodologia aplicada. 5.3 Mapeamento dos recursos consumidos por cada tarefa Um passo essencial quando do mapeamento do consumo de recursos é, além das informações financeiras e contábeis da empresa, definir o período de mensuração do trabalho. Deve-se estabelecer quais meses servirão de base para o levantamento de dados sobre o custo das tarefas. 5.4 Identificação das atividades desenvolvidas na realização das tarefas O entendimento das atividades desenvolvidas na execução da tarefa torna-se importante quando se quer entender o trabalho real efetuado pelo operador.
6 A ergonomia trata a tarefa como o trabalho prescrito propriamente dito. Entretanto, o conceito de atividade para a ergonomia é a expressão do comportamento e do desempenho do operador na realização de sua tarefa. Assim, para a identificação e entendimento das atividades executadas, o pesquisador poderá usar recursos como: a) Levantamento por filmagens e registros fotográficos Através das filmagens pode-se visualizar os movimentos do operador durante a execução das tarefas. De outra forma, as fotografias possibilitam ao pesquisador detalhar as restrições do operador na realização das atividades, bem como os problemas relacionados ao posto de trabalho. b) Análises das atividades Estas análises são realizadas durante a execução do trabalho de cada funcionário e são fundamentais para o completo entendimento do trabalho real desenvolvido por cada operador. Elas permitem ao pesquisador identificar as diferenças existentes entre o trabalho prescrito e o trabalho real. A análise das atividades permite então identificar a forma como cada operador realiza suas ações e estratégias. Além disso, possibilita a caracterização dos problemas de fluxo de processos. Isso viabiliza a elaboração de soluções de melhoria mais amplas e precisas que propiciam facilitar a execução das atividades. c) Entrevistas a realização de entrevistas com os funcionários da área em estudo, também pode auxiliar o entendimento de como e por que são realizadas cada tarefa e atividade. 5.5 Caracterização dos problemas ergonômicos O levantamento e a caracterização dos problemas ergonômicos se traduzem nas principais etapas de uma ação ergonômica. Para caracterização destes problemas, pode-se confrontar a percepção do observador (analista) com aquela dos operadores, através da aplicação de questionários elaborados especificamente para a situação em questão. O uso desses recursos possibilita ao pesquisador obter uma visão do perfil da atividade de cada operador e de seu posto de trabalho; além de informações que permitam identificar a dimensão dos problemas que estão afetando a saúde e a segurança dos trabalhadores. 5.6 Definição dos direcionadores de recursos e dos direcionadores de tarefas A definição dos critérios pelos quais cada recurso será alocado as tarefas e estas aos objetos de custo (produtos ou serviços) é de vital importância para definir a acuidade do modelo a ser desenvolvido. Na definição dos direcionadores de recursos, deve-se procurar usar informações dos maiores conhecedores dos processos realizados, buscando sempre identificar os direcionadores de recursos que melhor caracterizam como a tarefa os consome. De outra forma, a identificação e definição dos direcionadores de tarefas pode ser feita através de entrevistas com os funcionários envolvidos na execução de cada tarefa. As etapas realizadas são basicamente as mesmas utilizadas na identificação dos direcionadores de recursos. 5.7 Medição do custo dos problemas ergonômicos Após a identificação e caracterização dos problemas ergonômicos, e do levantamento dos custos da empresa através da metodologia de custeio baseado em tarefas ABC, pode-se então medir a quantidade de recursos que estão sendo consumidos devido aos problemas de cunho ergonômico. A metodologia proposta, não só permite medir o custo de problemas e recursos ergonômicos, mas também entender o como e o porquê eles estão sendo gerados. 6. CONCLUSÃO Diferentes tipos de metodologias de avaliação econômica já foram propostas visando a justificação dos custos de ações ergonômicas (Alexander, 1994; Dahlén e Wernersson, 1995; Oxemburgh, 1997). A proposta deste artigo privilegia a interação da ergonomia com a metodologia de custeio ABC/ABM, buscando relacionar os custos ergonômicos aos processos e tarefas desenvolvidos e estes a seus geradores de custo. Isso permite uma identificação do consumo de recursos pelas tarefas e processos e a sua alocação a produtos ou serviços. Assim, a decomposição dos custos pode contribuir para que o profissional da ergonomia, baseado na sua filosofia de trabalho dê sentido e enfoque ergonômicos às questões sensíveis aos custos das organizações. As questões como produtividade, segurança, absenteísmo, além de métodos efetivamente empregados pelos seus operadores em seus postos de trabalho, podem ser reavaliadas visando um processo de melhoria contínua. A utilização de uma abordagem participativa proporciona que a metodologia desenvolvida se incorpore com representatividade e acuidade gerados
7 pela própria participação dos trabalhadores. Porém, para a aplicação desta, é de fundamental importância o desenvolvimento de estratégias que permitam a implantação de um modelo que privilegia a interação do ABC/ABM e a ergonomia. A melhoria da qualidade ergonômica possibilita desenvolver a análise de custos e processos das empresas, motivando a continuidade, a manutenção ou expandindo o suprimento de um dado departamento ou programa ergonômico, saúde segurança de trabalhadores, possibilitando a empresa diminuir parte dos gastos das funções ou departamentos, tornando-a assim mais competitiva. Entretanto, isto só será possível se houver o comprometimento e a cooperação da direção e funcionários envolvidos em todas as etapas da metodologia adotada. 7. BIBLIOGRAFIA ALEXANDER D.C. The economics of ergonomics. Proceedings of the Human Factors and Ergonomics society 38 th Annual Meeting, p , DAHLÉN, P. G.; WERNERSSON, S. Human factors in the Economic Control of Industry. International Journal of Industrial Ergonomics, v. 15, p DIEHL, C. A. Medição de custos ergonômicos. Produto & Produção, v. 3, n. 3, p , out GRANDJEAN E. Manual de ergonomia: adaptando o trabalho ao homem. 4 ed. Porto Alegre: Artes Médicas, p. LIBERTY MUTUAL RESEARCH CENTER. Liberty Mutual Reveals First-Ever Ranking of the leading causes of Workplace Injuries. Boston: Disponível em Acesso em 24 de abril de NAGAMACHI, M. Requisites and Practices of Participatory Ergonomics. International Journal of Industrial Ergonomics, v. 15, p NORO K. Participatory Ergonomics. In: KARWOWSKI, W.; MARRAS, W. S. The Occupational Ergonomics Handbook. New York: CRC Press, p OXEMBURGH, M. S. Cost-Benefit analysis of ergonomics programs. American Industrial Hygiene Association Journal; Akron; V. 58, n. 2, p Feb RIEL, P. F.; IMBEAU, D. Justifying Investments in Industrial Ergonomics. International Journal of Industrial Ergonomics; v. 18, p The Economic Evaluation of an Ergonomic Investment for Preventive Purposes: A Case Study. Journal of Safety Research, v. 28, n. 3, p VINK, P.; PEETERS, M.; GRUNDEMANN, R. W. M.; SMULDERS, P. G. W.; KOMPIER, M. A. J.; DUL, J. A participatory ergonomics approach to reduce mental and physical workload. International Journal of Industrial Ergonomics. v. 15, p , ZALK D. M. Grassroots Ergonomics: Initiating an Ergonomics Program Utilizing Participatory Techniques. Annals of Occupational Hygiene. v. 45, n. 4, p , ZVIRTES, L.; AMARAL, F. G.; MARQUES, M. A interação entre Ergonomia e o ABC/ABM Uma metodologia de gestão. In: I ENCONTRO PAN AMERICANO DE ERGONOMIA X CONGRESSO BRASILEIRO DE ERGONOMIA - A ergonomia na empresa: útil, prática e aplicada.. Rio de Janeiro: ABERGO, ZVIRTES, L.; AMARAL, F. G., O custo de uma intervenção ergonômica pela lógica do ABC/ABM. VI CONGRESSO LATINO AMERICANO, XI CONGRESSO BRASILEIRO, III ENCONTRO ÁFRICA-BRASIL, III FÓRUM SUL BRASILEIRO DE ERGONOMIA. Gramado: ABERGO, 2001.
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