CGU Controladoria-Geral da União OGU Ouvidoria-Geral da União Coordenação-Geral de Recursos de Acesso à Informação

Transcrição

1 Controladoria-Geral da União OGU Ouvidoria-Geral da União Coordenação-Geral de Recursos de Acesso à Informação PARECER Referência: / Assunto: Restrição de acesso: Ementa: Órgão ou entidade recorrido (a): Recorrente: R. P. S. Recurso contra decisão denegatória ao pedido de acesso à informação. Não há restrição de acesso. Cidadão solicita acesso às denúncias relacionadas com o programa Minha casa, minha vida, apresentadas ao MCIDADES até o ano de Recorrente argumenta que o pedido está dentro do escopo da LAI e, em primeira instância, explica que não pretende acesso aos nomes dos denunciantes. Órgão recorrido informa que não atenderá ao pedido em razão do risco da divulgação de informação pessoal dos denunciantes. Análise da identifica que o pedido não deve ser atendido em razão da necessidade de trabalhos adicionais e do provável impacto desproporcional, nos termos do art. 13, II e III, do Decreto n o 7.724/2012. Recurso conhecido e desprovido. Recomenda-se à instituição pública: Indicar a autoridade que tomou a decisão em instância recursal; Garantir que a autoridade responsável por julgar o recurso em primeira instância seja diferente e hierarquicamente superior àquela que adotou a decisão inicial; Garantir que a autoridade responsável por julgar o recurso de segunda instância seja a autoridade máxima da instituição pública. Ministério das Cidades MCIDADES Senhor Ouvidor-Geral da União, 1. O presente parecer trata de solicitação de acesso à informação, com base na Lei nº /2011, conforme resumo descritivo abaixo apresentado: RELATÓRIO Data Teor Pedido 05/01/2015 Solicitação nos seguintes termos: 1

2 Em 8 de abril de 2014, o Ministério da Justiça criou um grupo executivo com o objetivo de "desenvolver ações integradas com órgãos de segurança sobre condutas ilícitas no âmbito de programas habitacionais instituídos pela União", conforme anunciado pelo próprio Ministério à época. Antes, conforme noticiado pela EBC ( mais de 15 mil denúncias haviam sido feitas ao Ministério das Cidades e repassadas ao Ministério da Justiça. Posto isso, esse requerimento visa ter acesso ao detalhamento das denúncias feitas ao Ministério da Justiça até o final de As informações devem conter a íntegra do texto de cada uma das denúncias, assim como a data em que foi feita e o local a que se refere (nome do empreendimento, endereço e estado). me refiro aqui não só às denúncias feitas ao Ministério da Justiça a partir de abril de 2014, mas todas as denúncias já registradas pelos Ministérios da Justiça e das Cidades e pela caixa Econômica federal desde o início da implantação do programa no mesmo formato explicitado acima. Lembro, por fim, que todos os empreendimentos foram construídos com dinheiro público. O MCIDADES apresentou a seguinte resposta: Resposta Inicial Recurso à Autoridade Superior 10/02/ /02/2015 I. Os detalhamentos das denúncias do aludido Programa não podem ser difundidos, salvo às autoridades competentes responsáveis por processo investigativo, em razão de possuir dados pessoais dos denunciantes que são classificados como sigilosos nos termos da Lei /2011; II. Os relatórios contendo as denúncias e demais dados coletados foram encaminhados aos órgãos competentes para providências cabíveis. Esclarecemos, ainda que, as mais de 15 mil denúncias trazidas em seu questionamento, não se caracterizam na verdade como denúncias, mas sim como reclamações diversas, que vão desde problemas construtivos a brigas de vizinhos. Recurso nos termos abaixo: Prezados, apresento recurso a esse pedido de informação porque o que se pretente [sic] aqui não é o acesso a documentos reservados e tampouco aos dados dos denunciantes. Não tenho a pretensão de ter acesso a dados de vítimas nem a qualquer informação que possa ferir o sigilo da denúncia. O objetivo do pedido é bem claro: ter acesso a informações coletadas pelos Ministérios da Cidade e da Justiça sobre as denúncias recebidas desde a implantação do programa Minha Casa 2

3 Resposta do Recurso à Autoridade Superior Recurso à Autoridade Máxima 24/02/ /02/2015 Minha Vida. Essas informações poderiam ser prestadas em formato de lista, com os seguintes dados: data da denúncia, estado, nome do condomínio a que a denúncia se refere, e tipo de crime (tráfico de drogas, milícia, prostituição...). Desse modo, todo o sigilo dos documentos permanece intacto. Ainda é necessário ressaltar que as mesmas informações requeridas aqui foram prestadas ao jornal "O Estado de São Paulo", por meio, também, da Lei de Acesso à Informação ( A única diferença entre este requerimento e o elaborado pelo periódico é: o período das denúncias (aqui peço todas as registradas desde o início do programa e o periódico requereu somente as feitas entre abril e dezembro do ano passado). Por fim, ainda gostaria de saber a exata classificação desses documentos e a data em que foram classificados. O órgão apresentou a seguinte resposta: Seu pedido foi indeferido pelos seguintes motivos: a) A solicitação não deixou de ser respondida, ainda que foi feita de forma a não fornecer os dados solicitados; b) A solicitação inicial foi alterada no recurso apresentado. Inicialmente foi solicitado... ter acesso ao detalhamento das denúncias feitas ao Ministério da Justiça até o final de As informações devem conter a íntegra do texto de cada uma das denúncias, assim como a data em que foi feita e o local a que se refere (nome do empreendimento, endereço e estado).... Já no recurso apresentado foi solicitado...essas informações poderiam ser prestadas em formato de lista, com os seguintes dados: data da denúncia, estado, nome do condomínio a que a denúncia se refere, e tipo de crime (tráfico de drogas, milícia, prostituição...).. Por oportuno, informamos que foi criado um Grupo Executivo Interministerial composto por representantes do Ministério da Justiça e do Ministério das Cidades, ao qual compete a apuração das denúncias feitas contra o Programa Minha Casa Minha Vida, bem como a elaboração relatórios sobre as denúncias recebidas, conforme Portaria Interministerial nº 647, de 09 de abril de 2014 (publicada no DOU em 10/04/2014). Este Grupo coordenado é pela Secretaria Nacional de Segurança Pública SENASP do Ministério da Justiça. Assim, solicitações como este devem ser feita diretamente à SENASP/MJ. Recurso nos seguintes termos: 3

4 Resposta do Recurso à Autoridade Máxima 05/03/2015 (...) em nenhum momento, aleguei que as solicitações deixaram de ser respondidas (ainda que o foram após a data limite estipulada por lei). Entretanto, a resposta ao recurso tergiversou e não respondeu aos questionamentos feitos, por duas razões que explicito a seguir: 1. requeri, inicialmente, o detalhamento das denúncias feitas sobre o programa, com todos os dados exceto o nome do denunciante. No recurso, somente sugeri que essa mesma solicitação fosse respondida em forma de tabela, somente para tornar mais prática a resposta e esclarecer meu pedido. Não há nenhuma diferença entre os dois pedidos. 2. Na primeira resposta, o Ministério alegou que as informações solicitadas são "sigilosas". Entretanto, em nenhum momento informou qual a classificação desses dados e em que data eles foram classificados. isso foi pedido no recurso. Na resposta, nenhum esclarecimento. 3. O Ministério sugere que eu faça o pedido de informações à Secretaria Nacional de Segurança, mas admite que o mesmo tem essas informações e faz parte do Grupo Interministerial que tem acesso às denúncias. 4. O que se faz fundamental esclarecer é: as informações são realmente classificadas? Quando foram? Qual é a classificação? 5. Se não o forem, não vejo motivo nenhum para que todas as denúncias sejam enviadas sem o nome do denunciante, seja de que forma for em formato de tabela ou de texto corrido. O MCIDADES argumenta que as denúncias contêm dados pessoais. Em relação à possibilidade de divulgação parcial das informações, o órgão invoca o 3º do Art. 7º da LAI (documento preparatório), com a reiteração de que as providências resultantes das denúncias não seriam de responsabilidade do recorrido. 1.1 Conforme informado em resposta anterior, as denúncias contêm dados pessoais que, de acordo com o inciso II do 1º do Art. 31 da Lei nº /2011, terão seu acesso restrito, independentemente de classificação de sigilo e pelo prazo máximo de 100 (cem) anos a contar da sua data de produção, a agentes públicos legalmente autorizados e à pessoa a que elas se referirem. 1.2 A referida Lei preceitua também, em seu 2º do Art. 7º, que quando não for autorizado acesso integral à informação por ser ela parcialmente sigilosa, é assegurado o acesso à parte não sigilosa por meio de certidão, extrato ou cópia com ocultação da parte sob sigilo. Já o 3º do Art. 7º determina que o direito de 4

5 Recurso à 05/03/2014 acesso aos documentos ou às informações neles contidas, utilizados como fundamento da tomada de decisão e do ato administrativo, será assegurado com a edição do ato decisório respectivo. 1.3 Como informado anteriormente ao requerente, foi criado, por meio da Portaria Interministerial nº 647, de 09 de abril de 2014, um Grupo Executivo Interministerial composto por representantes do Ministério da Justiça e do Ministério das Cidades, ao qual compete a apuração das denúncias que versam sobre o Programa Minha Casa Minha Vida PMCMV. Dessa forma, a análise e decisão de quais encaminhamentos serão dadas às denúncias recebidas são tomadas no âmbito do Grupo Executivo Interministerial, que é coordenado pela Secretaria Nacional de Segurança Pública SENASP do Ministério da Justiça. 1.4 Dito isto, ratifica-se o entendimento de que as denúncias recebidas em relação ao PMCMV devem ser encaminhadas para SENASP do Ministério da Justiça para as devidas providências. 1.5 Quanto ao questionamento sobre a classificação das informações, informo que as mesmas não foram classificadas, pois os sigilos dessas estão garantidos pelo inciso II do 1º do Art. 31 e 2º do Art. 7º da Lei nº /2011. O cidadão recorre à nos seguintes termos: encaminho mais um recurso para essa solicitação porque acredito que os argumentos usados pelo Ministério das Cidades só reforçam o caráter público das informações que solicito pelas razões que exponho a seguir: 1. No item 1.1 do recurso em segunda instância, o Ministério informa que "as denúncias contêm dados pessoais que, de acordo com o inciso II do 1º do Art. 31 da Lei nº /2011, terão seu acesso restrito, independentemente de classificação de sigilo e pelo prazo máximo de 100 (cem) anos a contar da sua data de produção". Já no item 1.2, o Ministério argumenta que "quando não for autorizado acesso integral à informação por ser ela parcialmente sigilosa, é assegurado o acesso à parte não sigilosa por meio de certidão, extrato ou cópia com ocultação da parte sob sigilo". Portanto, se encaixa perfeitamente no meu pedido, qual seja: informações sobre as denúncias que chegaram ao Ministério das Cidades sobre o programa Minha Casa, Minha Vida. repito que não quero acesso ao nome dos denunciantes nem textos na íntegra das denúncias que possam ferir o sigilo dos denunciantes, apenas os seguintes dados: data da denúncia, estado, nome do condomínio a que a denúncia se refere, e tipo de crime (tráfico de drogas, milícia, prostituição...). Desse modo, todo o sigilo da identidade dos denunciantes permanece intacto. 5

6 2. Além do motivo explicitado anteriormente, também adiciono outro: nem todas as denúncias contém informações pessoais. Por que ao menos estas não podem ser enviadas sem o nome do denunciante? Instrução do recurso As informações que peço aqui são públicas, de propriedade do Ministério. Não objetivo aqui dados sobre a identidade de denunciante algum. Ainda confio na lei para que esse requerimento seja atendido. 26/05/2015 A, com base no art. 23, 1 o, do Decreto n o 7.724/2012, solicitou esclarecimentos adicionais ao MCIDADES, conforme as perguntas e respostas transcritas abaixo: a. Existe registro no MCIDADES de denúncias relacionadas com o Programa Minha Casa, Minha Vida encaminhadas a este ministério até o fim do ano de 2014? Em caso afirmativo, qual a quantidade? As comunicações recebidas pela Secretaria Nacional de Habitação, acerca de supostas irregularidades no Programa Minha Casa, Minha Vida, são apresentadas por diversos meios: correspondências, s, telefonemas, e são provenientes de diversos órgãos, dos próprios beneficiários ou da sociedade de uma forma geral. Uma das iniciativas pioneiras para recepção das demandas relativas ao MCMV foi a criação pela Caixa Econômica Federal, principal instituição financeira executora do Programa, com vistas ao incremento da qualidade nas edificações, a partir de março de 2013, do programa denominado "De Olho na Qualidade", o qual é composto, entre outros sistemas e procedimentos, de canal específico de comunicação com os beneficiários, rito de entrega educativa do imóvel com instruções produzidas em parceria com a Secretaria Nacional de Defesa do Consumidor e rito de acionamento das construtoras ou outros envolvidos, para a correção de eventuais ocorrências. A média mensal de atendimentos prestada por esse canal, no primeiro trimestre de 2015, é de , cujos assuntos mais recorrentes são danos físicos, manutenção de contrato, seleção de beneficiários e entrega do empreendimento. Além disso, o MCidades aderiu ao Canal de Ouvidoria da em dezembro de 2014, com média mensal de 45 atendimentos a partir de fevereiro de 2015, cujos itens mais recorrentes são: seleção de beneficiários, obras paralisadas, liberação de recursos. Ainda não está implementada ferramenta que reúna condições de consolidar e fornecer estatísticas sobre essas demandas, todavia, encontra-se em desenvolvimento. (destaque nosso) b. Existe registro no MCIDADES de denúncias relacionadas com o Programa Minha Casa, Minha Vida encaminhadas ao Ministério da Justiça e à Caixa Econômica Federal até o final do ano de 2014? Em caso 6

7 afirmativo, qual a quantidade? c. Caso esses registros existam, consta o andamento da denúncia? Em especial, constam denúncias que foram consideradas improcedentes e/ou com trâmite concluído? Todas as demandas recebidas são analisadas e, com base no teor da questão, diligenciadas e encaminhadas ao órgão ou ao Agente Financeiro responsável pelas providências no âmbito das suas competências, mas pelos motivos já relatados, não há quantificação disponível. d. O MCIDADES é comunicado pela SENASP a respeito do andamento das denúncias encaminhadas àquela Secretaria (conclusão pela improcedência, procedência, encaminhamento para outros órgãos, etc...)? Com relação à prática de ações criminosas em empreendimentos já edificados, em que pese tratar-se de um problema de segurança pública, o Ministério das Cidades participa de Grupo Executivo Interministerial, sob a coordenação da SENASP do Ministério da Justiça, com a finalidade de integrar ações voltadas à prevenção de condutas ilícitas no âmbito de todos os programas habitacionais instituídos pela União (Portaria Interministerial 647, de 9 de abril de 2014). A SENASP, nas reuniões ordinárias do referido grupo executivo, comunica o andamento das denúncias recebidas diretamente ou encaminhadas aquela Secretaria. e. A menção do MCIDADES ao 3º do art. 7 o da LAI, na resposta de segunda instância, teve o objetivo de declarar que a restrição ao acesso à informação também se justificaria pelo fato de as denúncias ainda estarem em apuração? Sim, na época, foi esse o entendimento. O MCIDADES, após nova solicitação da, apresentou as seguintes informações adicionais: "O Programa Minha Casa, Minha Vida foi criado em 2009 e destina-se à produção de unidades habitacionais para famílias com renda mensal de até R$ 5.000,00. Em razão de sua natureza provisão de unidades habitacionais existe defasagem temporal entre a contratação dos empreendimentos e sua conclusão e entrega aos beneficiários finais. Paralelamente, pode-se presumir que a ocorrência de denúncias tenda a surgir a partir da entrega das unidades, sejam as relativas a vício construtivo, sejam as relacionadas a seleção indevida das famílias beneficiárias. Essa premissa repousa no fato de que os vícios construtivos, caso existentes, somente terão manifestação após decorrido algum prazo após a entrega das unidades. O mesmo se verifica para a possibilidade de seleção indevida de beneficiários, já que o benefício se materializa quando da entrega da unidade habitacional. 7

8 Por exemplo, na modalidade MCMV-Empresas, que utiliza recursos do Orçamento Geral da União alocados ao Fundo de Arrendamento Residencial FAR, e que responde por aproximadamente 75% das unidades habitacionais disponibilizadas para as famílias cuja renda limita-se a R$ 1.600,00 mensais, das unidades entregues até dezembro de 2014, pouco mais de 20%, unidades, haviam sido entregues até dezembro de 2011, sem que houvesse, até aquele momento, indícios da necessidade de criação de infraestrutura específica adequada ao registro, monitoramento, controle e acompanhamento de ocorrências que possam ser categorizadas como denúncias. Ainda no que se refere ao processo de seleção de beneficiários, cabe salientar que, conforme Portaria MCidades nº 595/2013, este é realizado apenas para as famílias com renda mensal até R$ 1.600,00 e que estejam sendo atendidas pelas modalidades do MCMV financiadas exclusivamente com recursos do Orçamento Geral da União. Nesses casos, o processo de seleção de beneficiários é de responsabilidade e é conduzido pela prefeitura ou pela entidade organizadora, conforme a modalidade. Para as modalidades atendidas com recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço FGTS não há que se falar em seleção de beneficiários, por consistir em financiamento bancário, sujeito a análise e aprovação de crédito pelas instituições financeiras intervenientes. Desse modo, a criação do PMCMV não foi acompanhada da concepção de um canal para acolhimento de eventuais denúncias, posto inexistir, no momento de sua criação, horizonte em que se descortinasse tal necessidade. Não obstante, as ocorrências recebidas ao longo do período por meio de diversos órgãos Ministério Público Federal, Controladoria-Geral da União, Tribunal de Contas da União, para mencionar alguns têm sido tratadas com celeridade, com registro processual em sistema concebido e operacionalizado para gestão dos processos sob condução do Ministério CPROD. Há ainda que se mencionar as correspondências encaminhadas pelos cidadãos, por meio eletrônico ( ) ou físicas (cartas endereçadas diretamente ao Ministério das Cidades ou reencaminhadas pela Casa Civil da Presidência da República), para as quais tem sido concedido tratamento diferenciado, no sentido da categorização das temáticas tratadas. Cumpre salientar a percepção da falta de domínio e clareza do cidadão para realizar classificação adequada da ocorrência, a exemplo do que tem sido verificado nos registros disponíveis no Sistema de Ouvidorias do Poder Executivo Federal e- Ouv. Convem neste momento destacar que a criação institucionalizada de canais de comunicação e registro de ocorrências entre o cidadão e o governo federal ocorre em momento posterior ao lançamento do PMCMV, com 8

9 significativa defasagem temporal. Como consequência da Lei de Acesso à Informação (Lei nº /2011), a criação do Serviço de Informações ao Cidadão, em maio de 2012 (três anos após o lançamento do PMCMV); em março de 2013, quatro anos após o lançamento do programa, a criação pela Caixa Econômica Federal do programa De olho na qualidade, com o fito de registrar, monitorar e corrigir, conforme o caso, falhas construtivas identificadas nos empreendimentos do PMCMV; e a criação do e-ouv, mencionado no parágrafo anterior, em dezembro de 2014, cinco anos após a criação do PMCMV. Assim, há registros sistematizados a partir da criação desses canais, em conformidade com as regras atinentes a cada um. No que tange à estrutura necessária para condução das ocorrências envolvendo o PMCMV, e considerando o aumento das demandas da espécie, foi instituído, no âmbito da Secretaria Nacional de Habitação, núcleo de controle com a missão de conduzir as ações atinentes ao tratamento dessas ocorrências. Nesse sentido, a Secretaria Nacional de Habitação adotou, com vistas a qualificar as formas de materialidade em que se configuram as denúncias, os dispositivos presentes nos seguintes normativos: Manual Operacional Demandas Externas, da Secretaria Federal de Controle Interno da Controladoria-Geral da União, e Instrução Normativa nº 1 da Ouvidoria-Geral da União da Controladoria-Geral da União, de 05/11/2014. (destaque nosso) Destacam-se, ainda, esclarecimentos relativos às ferramentas de gestão das denúncias recebidas pelo MCIDADES, conforme transcrição abaixo: O Ministério não dispõe dos dados mencionados referentes ao período de 2009 a Neste período não havia uma área ou setor responsável pela organização de tais demandas e muitas dessas solicitações, quando encaminhadas pelo Ministério a outros órgãos para providência, não eram organizadas em nenhum sistema ou banco de dados do MCidades. Por esse motivo não temos como quantificar tais relatórios ou dados no período mencionado. Porém, ressaltamos que com a adesão do Ministério das Cidades ao Sistema de Ouvidorias do Poder Executivo do Governo Federal, em novembro de 2014, as demandas referentes a denúncias, reclamações, sugestões e elogios, estão sendo sistematicamente registradas. (destaque nosso) Análise É o relatório. 9

10 2. Registre-se que o Recurso foi apresentado perante a de forma tempestiva, em acordo com o disposto no caput e 1º do art. 16 da Lei nº /2011, e ao prazo de 10 (dez) dias previsto no art. 23 do Decreto nº 7.724/2012, in verbis: Lei nº /2011 Art. 16. Negado o acesso a informação pelos órgãos ou entidades do Poder Executivo Federal, o requerente poderá recorrer à Controladoria-Geral da União, que deliberará no prazo de 5 (cinco) dias se: (...) 1 o O recurso previsto neste artigo somente poderá ser dirigido à Controladoria Geral da União depois de submetido à apreciação de pelo menos uma autoridade hierarquicamente superior àquela que exarou a decisão impugnada, que deliberará no prazo de 5 (cinco) dias. Decreto nº 7.724/2012 Art. 23. Desprovido o recurso de que trata o parágrafo único do art. 21 ou infrutífera a reclamação de que trata o art. 22, poderá o requerente apresentar recurso no prazo de dez dias, contado da ciência da decisão, à Controladoria-Geral da União, que deverá se manifestar no prazo de cinco dias, contado do recebimento do recurso. 3. Quanto ao cumprimento do art. 21 do Decreto n.º 7.724/2012, observa-se que não consta da resposta que a autoridade que proferiu a decisão, em primeira instância, era a hierarquicamente superior à que apresentou a resposta inicial, assim como também não consta que a autoridade que proferiu a decisão, em segunda instância, tenha sido o dirigente máximo do órgão/entidade. 4. O cidadão requisita acesso ao detalhamento de denúncias realizadas ao Ministério da Justiça, até o final de 2014, relacionadas com o programa Minha Casa, Minha Vida. Verifica-se que, no recurso de primeira instância, consta uma alteração no pedido inicial, pois o cidadão solicita que a informação seja concedida em forma de lista, a qual foi sugerida como forma de se ocultar os nomes dos denunciantes. Diante disso, torna-se importante analisar, em 10

11 primeiro lugar, a possibilidade de se consultar denúncias através de pedido de acesso à informação. 5. Em primeiro lugar, deve-se destacar que a tem posicionamento consolidado acerca da necessidade de ocultação de dados do denunciante. A Instrução Normativa Conjunta n o 01 CRG/OGU, de 24 de junho de 2014, estabelece diretrizes para a reserva de identidade do denunciante, conforme trecho adiante: Art. 1º. Esta Instrução Normativa regulamenta o tratamento de manifestações anônimas e solicitações de reserva de identidade no âmbito dos órgãos de controle do Poder Executivo federal. 1º Para fins desta instrução normativa, considera-se: I - denúncia anônima: manifestação que chega aos órgãos e entidades públicas sem identificação; II - reserva de identidade: hipótese em que o órgão público, a pedido ou de ofício, oculta a identificação do manifestante. Art. 2º. Apresentada denúncia anônima frente a ouvidoria do Poder Executivo federal, esta a receberá e a tratará, devendo encaminhá-la aos órgãos responsáveis pela apuração desde que haja elementos suficientes à verificação dos fatos descritos. 1º. Recebida a denúncia anônima, os órgãos apuratórios a arquivarão e, se houver elementos suficientes, procederão, por iniciativa própria, à instauração de procedimento investigatório preliminar. 2º. O procedimento investigatório preliminar mencionado no parágrafo anterior não poderá ter caráter punitivo. Art. 3º. Sempre que solicitado, a ouvidoria deve garantir acesso restrito à identidade do requerente e às demais informações pessoais constantes das manifestações recebidas. 1º. A ouvidoria, de ofício ou mediante solicitação de reserva de identidade, deverá encaminhar a manifestação aos órgãos de apuração sem o nome do demandante, hipótese em que o tratamento da denúncia será o previsto no art. 2º deste normativo; 11

12 2º. Caso indispensável à apuração dos fatos, o nome do denunciante será encaminhado ao órgão apuratório, que ficará responsável a restringir acesso à identidade do manifestante à terceiros. 3º. A restrição de acesso estabelecida no caput deste dispositivo não se aplica caso se configure denunciação caluniosa (art. 339 do Decreto-lei n /40 Código Penal) ou flagrante má-fé por parte do manifestante. 4º. A restrição de acesso estabelecida no caput deste dispositivo encontra fundamento no art. 31 da Lei n /11, devendo perdurar pelo prazo de 100 (cem) anos Além do fundamento no art. 31 da LAI, a proteção ao nome do denunciante também é baseada no art. 33 da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção. O trecho abaixo, extraído de resposta da a recurso interposto com base na LAI (NUP / ), contribui ao entendimento do tema: 1. Informamos que a mantém o posicionamento de que a proteção do nome do denunciante de boa-fé é medida que está em conformidade com o art. 31 da Lei de Acesso à Informação e com o art. 33 da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, internalizada na ordem jurídica pátria por meio do Decreto Legislativo n o 5.687/2006. Salienta-se que esses dispositivos contribuem à concretização de uma medida que garante a defesa do interesse público em consonância com a proteção constitucional da privacidade (art. 5 o, X), na medida em que protege o denunciante de boa-fé, de acordo com a orientação do art. 33 da Convenção. 2. A Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, ainda que não regulamentada, impõe ao Estado brasileiro a obrigação de não adotar medidas que contrariem suas disposições. Assim, mesmo que não exista uma lei que estabeleça especificamente mecanismos de proteção ao denunciante, já existe o dever do Estado em não tomar qualquer medida contra o denunciante de boa-fé. 1 Disponível em: < Acesso em: 10/06/

13 7. A disponibilização das denúncias através de pedido de acesso à informação ainda deve levar em consideração o andamento da denúncia apresentada. O art. 7º, 3º, da Lei n o /2011, estabeleceu que a administração pública tem a possibilidade de negar acesso a informações que estejam sendo utilizadas como documento preparatório para a tomada de decisão ou ato administrativo, conforme a seguinte explicação contida na obra Acesso à informação: teoria e prática : a negativa de acesso a documentos preparatórios pode ser utilizada quando o ato ou a decisão sejam, de alguma forma, prejudicadas pela transparência 2. Dessa forma, entende-se admissível que denúncias apresentadas aos órgãos e entidades públicas não sejam disponibilizadas antes de avaliação sobre o seu acolhimento e andamento. A divulgação precoce pode prejudicar eventuais apurações que estejam relacionadas com as denúncias. 8. Diante do exposto, percebe-se que os seguintes procedimentos seriam necessários para que o MCIDADES disponibilizasse a informação solicitada: Levantamento das denúncias existentes relativa ao programa Minha casa, minha vida, até o final de 2014; Identificação das denúncias que já foram objeto de análise, no intuito de identificar aquelas em que a divulgação não prejudicaria eventuais apurações em andamento; Ocultação dos nomes dos denunciantes e de outros dados que possibilitem a identificação dos mesmos, como endereços, telefones, registros, etc. 9. A solicitou esclarecimentos ao órgão recorrido, no intuito de avaliar a capacidade do MCIDADES em realizar as atividades supracitadas. Conforme pode ser constatado no relatório que compõe o presente parecer, esse órgão apontou as dificuldades existentes no que diz respeito à gestão das denúncias apresentadas até o ano de Destaca-se, nesse sentido, a ausência de sistemas de acompanhamento, no período temporal abarcado pelo pedido, 2 CUNHA FILHO, Marcio Camargo. Lei de Acesso à Informação: teoria e prática. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2014, p

14 capazes de levantar o quantitativo e o andamento das denúncias apresentadas ao MCIDADES. O trecho abaixo, extraído de esclarecimento prestado pela instituição recorrida, sintetiza a situação: O Ministério não dispõe dos dados mencionados referentes ao período de 2009 a Neste período não havia uma área ou setor responsável pela organização de tais demandas e muitas dessas solicitações, quando encaminhadas pelo Ministério a outros órgãos para providência, não eram organizadas em nenhum sistema ou banco de dados do MCidades. Por esse motivo não temos como quantificar tais relatórios ou dados no período mencionado (...). 10. A ausência de ferramentas que possibilitem a concretização das atividades necessárias ao atendimento do pedido, portanto, exigiria que o órgão recorrido realizasse trabalhos adicionais de análise e consolidação de dados e informações. O art. 13, III, do Decreto n o 7.724/2012, possibilita o não atendimento de pedidos de acesso à informação que exijam trabalhos adicionais de análise, interpretação ou consolidação de dados e informações. Essa hipótese está relacionada com a situação em que o órgão ou entidade pública possui as informações solicitadas, mas as mesmas não se encontram em situação ou forma que possibilite o atendimento do pedido. Diversos aspectos podem configurar a divergência entre a pretensão do solicitante e a forma como a instituição dispõe da informação, como, por exemplo, o caso em que o cidadão demande a organização dos dados em modelo, software ou indicadores não existentes no órgão ou entidade pública. No recurso em análise, a inexistência de uma gestão eficiente da informação solicitada exigiria diversas ações por parte da instituição, como a localização, agrupamento, triagem e análise das denúncias apresentadas ao Ministério. Além disso, seria necessário posterior tarjamento de dados pessoais ou sigilosos presentes nos documentos. Esse último aspecto também impede que seja aplicada a hipótese prevista pelo parágrafo único do art. 13 do Decreto n o 7.724/2012, pois o requerente não poderia ter acesso aos nomes dos denunciantes e outros dados identificáveis. 14

15 11. Verifica-se ainda que, possivelmente, as atividades necessárias ao atendimento do pedido provocariam um impacto relevante nas rotinas da instituição. Apesar da ausência de dados precisos em relação ao quantitativo de denúncias, constam indicativos da presença de um grande volume de manifestações para o período entre 2009 e Dentre os indicativos, pode-se citar o alto volume de demandas no recente sistema e-ouv, que, segundo o órgão, possui média mensal de 45 manifestações a partir de fevereiro de A própria ausência de canal específico para acolhimento das denúncias, o qual não foi concebido durante a criação do Programa, contribui para a presunção de que os trabalhos adicionais para atendimento do pedido poderiam impactar de forma significativa nas demais atividades do MCIDADES. 12. Dessa forma, também é possível enquadrar o pedido, de forma complementar, na hipótese do art. 13, inciso II, do Decreto n o 7.724/2012. A desproporcionalidade do pedido é avaliada em termos do ônus excessivo que o atendimento de pedido poderá gerar nas funções rotineiras do órgão ou entidade pública. O atendimento do pedido de acesso não deve prejudicar o cumprimento de outras atribuições da instituição, conforme a seguinte explicação presente na obra Acesso à Informação: teoria e prática : A desproporcionalidade é situação que gera danoso esforço da Administração Pública para atendimento de solicitações, ainda que o pedido seja razoável e dentro das competências legais e rotineiras da instituição pública. A desproporcionalidade pode causar atrasos no cumprimento de outras atividades essenciais da instituição pública, cercear direitos fundamentais de outros cidadãos ou até inviabilizar o serviço de acesso à informação O trecho abaixo, extraído de parecer que fundamentou decisão anterior da, contribui ao entendimento do enquadramento de pedidos de acesso no art. 13, II e III, do Decreto n o 7.724/2012: 3 CUNHA FILHO, Marcio Camargo. Lei de Acesso à Informação: teoria e prática. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2014, p

16 13. Em relação ao argumento apresentado pela RFB de que o atendimento ao pedido de acesso enseja em trabalho adicional ao órgão, é importante ressaltar que todo pedido de acesso à informação demanda, de uma forma ou de outra, um trabalho adicional ao órgão. Quando o Decreto 7.724/2012, que regulamenta a lei de acesso, veta o atendimento de pedidos que demandem trabalho adicional, faz-se referência a trabalhos que mobilizam de forma intensa o corpo funcional do órgão demandado, de modo a atrapalhar o desempenho das demais funções institucionais. Assim, esta Controladoria- Geral da União entende que, quando, para o pleno atendimento do pedido, for necessário trabalho adicional de interpretação, consolidação ou tratamento de dados e informações, o órgão ou entidade deverá disponibilizar os dados e informações no modo e suporte em que se encontrarem, a fim de que o próprio solicitante possa realizar sua interpretação, consolidação ou tratamento. 14. Dessa forma, apesar de o pedido do solicitante não ser genérico ou desarrazoado, acredito que ele se enquadre nas hipóteses dos incisos II e III do artigo 13 do Decreto n 7.724/12, ou seja, o pedido é desproporcional e necessita de trabalhos adicionais de análise, interpretação e consolidação de dados ou informações (...) 4 Conclusão 14. De todo o exposto, opina-se pelo conhecimento e desprovimento do recurso interposto, pois o atendimento do pedido demandaria trabalhos adicionais de análise, interpretação ou consolidação de dados e informações, os quais também impactariam de forma relevante nas atividades rotineiras do órgão, nos termos do art. 13, II e III, do Decreto n o 7.724/ Por fim, observamos que o recorrido descumpriu procedimentos básicos da Lei de Acesso à Informação. Dessa forma, recomenda-se orientar a autoridade de monitoramento do CEX que reavalie os fluxos internos para assegurar o cumprimento das normas relativas ao acesso à informação, de forma eficiente e adequada aos objetivos da Lei n o /2011, em especial 4 BRASIL. Controladoria-Geral da União. Parecer n o 2784 de 08/07/2014. Processo n o /

17 nas seguintes questões: a) Indicar a autoridade que tomou a decisão em instância recursal; b) Garantir que a autoridade responsável por julgar o recurso em primeira instância seja diferente e hierarquicamente superior àquela que adotou a decisão inicial; c) Garantir que a autoridade responsável por julgar o recurso de segunda instância seja a autoridade máxima da instituição pública. AUGUSTO CÉSAR FEITOSA PINTO FERREIRA Analista de Finanças e Controle D E C I S Ã O No exercício das atribuições a mim conferidas pela Portaria n da Controladoria-Geral da União, de 22 de agosto de 2013, adoto, como fundamento deste ato, o parecer acima, para decidir pelo conhecimento e desprovimento do recurso interposto, nos termos do art. 23 do Decreto n o 7.724/2012, no âmbito do pedido de informação nº / , direcionado ao Ministério das Cidades (MCIDADES). LUÍS HENRIQUE FANAN Ouvidor-Geral da União 17

18 PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA Controladoria-Geral da União Folha de Assinaturas Documento: PARECER nº 1826 de 19/06/2015 Referência: PROCESSO nº / Assunto: Recurso de Acesso à Informação Signatário(s): GILBERTO WALLER JUNIOR Ouvidor Assinado Digitalmente em 19/06/2015 Relação de Despachos: aprovo. GILBERTO WALLER JUNIOR Ouvidor Assinado Digitalmente em 19/06/2015 Este despacho foi expedido eletronicamente pelo SGI. O código para verificação da autenticidade deste documento é: 3668ce0_8d278d3507e8861