A Linguagem de crianças nascidas pré-termo e termo na primeira infância
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- Rafaela Palha Laranjeira
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1 A Linguagem de crianças nascidas pré-termo e termo na primeira infância Palavras chave: desenvolvimento da linguagem, prematuro, testes de linguagem Introdução O processo de evolução da linguagem se dá por meio da condição e da interação de fatores biológicos, psíquicos e sociais no ser humano 1. Assim, neste processo, a aquisição e o desenvolvimento da linguagem são influenciados por fatores constitucionais e circunstanciais da criança que podem agir como fatores de risco e/ou proteção 2 deste desenvolvimento. Desta forma é possível considerar condições adversas ao nascimento como a prematuridade e o baixo peso ao nascer estão associados ao desenvolvimento, em especial o da linguagem, uma vez que afetam diretamente a constituição, física e psíquica, da criança 3,4,5. A prematuridade e o baixo peso ao nascer compõem uma situação singular para o desenvolvimento infantil e o da linguagem. A criança nascida pré-termo e de baixo peso apresenta imaturidade fisiológica 6 e neurológica que pode repercutir no desenvolvimento, principalmente nos primeiros anos de vida. Partindo dos pressupostos acima, os objetivos deste estudo foram descrever o desenvolvimento da linguagem de crianças nascidas pré-termo em relação aos nascidos a termo, por meio dos comportamentos do Preschool Language Scale 3, PLS-3, na primeira infância. Também foi de interesse verificar o desempenho da Linguagem, receptiva e expressiva, das crianças em diferentes áreas de natureza dos comportamentos do PLS-3. Método Desenho de estudo: Descritivo transversal, retrospectivo, caso controle. Aprovação Comitê de Ética e Pesquisa UNIFESP nº. 0262/07. Amostra: 1) GPT Grupo Pré-termo. Composto por 84 protocolos de crianças nascidas pré-termo 7, com idade gestacional inferior a 37 semanas (média 31,98 DP=2,79), peso ao nascimento inferior a 2000g (média 1454,40 DP=368,65), com idade cronológica entre 5 e 36 meses (média 19,69 DP=8,42 meses). 2) GT Grupo Termo composto por 57 protocolos de crianças nascidas termo, com idade cronológica entre 5 e 36 meses (média 18,33 DP=11,37 meses). Os grupos estavam balanceados quanto ao sexo (p=0,612) e idade cronológica (p=0,417).
2 Critérios de exclusão: presença de paralisia cerebral, deficiência cognitiva, sensorial (acuidade visual e/ou auditiva bilateral), más formações, síndromes genéticas e avaliações incompletas. Instrumentos: A avaliação da linguagem foi realizada por meio do Preschool Language Scale 3ª edição-pls-3 8,traduzida e adaptada para o Português para pesquisa por Perissinoto e Farias 9. O objetivo do PLS-3 é avaliar as habilidades de linguagem, considerando os aspectos de emissão e recepção. Os itens ou comportamentos que compõem o PLS-3 estão organizados em duas subescalas: Compreensão Auditiva(CA) e Comunicação Expressiva(CE), padronizadas para crianças entre 2 semanas e 6 anos e 11 meses de idade, de modo que cada subescala apresenta um Total de 48 itens. A classificação do desempenho em linguagem pelo PLS-3 é realizada por meio da conversão da somatória dos pontos brutos obtidos pela criança avaliada, no teste Total e em cada subescala (CA e CE), de acordo com a faixa etária, em pontos padrão. Procedimentos: Num primeiro momento foi analisado e comparado o desempenho dos grupos, considerando-se a pontuação bruta e padrão, segundo o manual original do PLS-3, no teste Total e nas subescalas CA e CE. Em seguida foi comparada a freqüência de ocorrência dos itens que compõem o PLS-3 para esta amostra, tanto na subescala de CA quanto de CE, realizados pelos grupos estudados. Posteriormente foi analisada a área de natureza de cada um destes itens, classificados em: precursores da linguagem, semântica, estrutura e habilidade de segundo a proposição do próprio PLS-3. integração do pensamento, Análise estatística: Para comparação dos escores foi realizada a o cálculo do teste t de student. A análise dos comportamentos realizados foi feita por meio do Teste exato de Fisher. Fixou-se em 5% ou 0,05 o valor de significância. Resultados Não houve diferença de desempenho entre os grupos quando considerada a pontuação bruta, no teste Total (p=0,374) e em cada subescala CA (p=0,366) e CE (p=0,390). Houve diferença estatisticamente significante, sendo o desempenho em pontuação padrão do GT melhor do que GPT no Total (p<0,001*) e nas escalas de CA (p<0,001*) e CE (p<0.001*) do PLS-3. Quadro 1: Comparação das freqüências obtidas pelos grupos GPT e GT nos itens em CA correspondentes ao esperado pela faixa etária considerada no estudo. item Comportamento área % GPT % GT Valor p 1 Olha com intenção para o Precursores da linguagem falante
3 2 Reage ao som do celofane Precursores da linguagem Vira a cabeça para localizar a Precursores da linguagem 91,7 95,8 1 fonte sonora 4 Discrimina dois sons Precursores da linguagem ,8 1 5 Antecipa um evento ou uma Precursores da linguagem 50 83,3 0,053 ação 6 Segue linha de Precursores da linguagem 58 79,2 0,247 atenção/atenção conjunta 7 Responde ao não Semântica 25 54,2 0,157 8 Compreende palavra que não Semântica 25 29,2 1 seja não 9 Mantém a atenção por 2 min Precursores da linguagem 93,3 87,5 0, Segue instruções simples sem pistas Semântica 66,7 62, Identifica objetos familiares Semântica 44, Identifica figuras Semântica 42,2 37, Observa direções sem pistas/instruções Semântica 42,2 37, Identifica figuras Semântica 22, Indica partes do corpo Semântica 22, Compreende verbos no Semântica 22,2 12,5 1 contexto 17 Compreende conceitos Semântica 56, espaciais 18 Compreende pronomes Estrutura 56,5 96 0,002* 19 Compreende conceitos de Semântica 60, quantidade 20 Reconhece ação por figuras Semântica 52,2 80 0, Compreende o uso de Habilidade de integração do 26,1 76 0,001* objetos pensamento 22 Compreende conceitos Semântica 31,8 52 0,259 descritivos 23 Compreende relação Habilidade de integração do 17,4 60 0,001* parte/todo pensamento 24 Compreende pronomes Estrutura ,013* Quadro 2: Comparação das freqüências obtidas pelos grupos GPT e GT nos itens em CE correspondentes ao esperado pela faixa etária considerada no estudo. item Comportamento área % GPT % GT Valor p 1 Vocaliza uma variedade de Precursores da linguagem sons 2 Vocaliza quando se dirigem a Precursores da linguagem ele 3 Ri Precursores da linguagem ,8 1 4 Faz jogo vocal solitário Precursores da linguagem 91,7 83,3 0,646 5 Combina sons para formar Precursores da linguagem 41,7 54,2 0,725 sílabas 6 Emite sons parecidos aos Precursores da linguagem 25 29,2 1 emitidos por outras pessoas 7 Comunica-se não Precursores da linguagem 33,3 58,3 0,289 verbalmente 8 Produz pelo menos 4 sons de Precursores da linguagem 8,3 4,2 1 consoantes diferentes 9 Tem vocabulário de pelo menos 1 palavra Semântica 82,2 62, Inicia jogo ou rotina social Precursores da linguagem 68,5 62,5 0, Varia sons produzidos em uma cadeia de sílabas Precursores da linguagem , Imita uma palavra Precursores da linguagem 44, Tem vocabulário mínimo de 10 palavras Semântica 22, Nomeia objetos Semântica 17,8 25 0, Produz uma expressão com Estrutura 15,6 25 0,611 sucessão de palavras simples 16 Utiliza pronome pessoal Estrutura 11, Utiliza questões interrogativas Precursores da linguagem 60,9 96 0,004*
4 18 Combina 3 ou 4 palavras na Estrutura 56,5 100 <0,001* fala espontânea 19 Nomeia figuras Semântica 47,8 88 0,004* 20 Utiliza plural Estrutura 39,1 32 0, Responde ao que, quando e perguntas com sim/não Estrutura 26,1 72 0,003* 22 Usa verbo e gerúndio Estrutura 34,8 72 0,019* 23 Produz sentenças básicas Estrutura 17,4 76 <0,001* 24 Usa pronome possessivo Estrutura 21,7 60 0,010* Houve diferença estatisticamente significante quando comparadas as freqüências dos itens 18, 23 e 24 (área estrutura) e 21 (área habilidade de integração do pensamento) na CA; e nos itens 17 (precursores), 19 (semântica) e 18, 21, 22, 23 e 24 (estrutura). Comentários conclusivos Na análise comparativa do desempenho dos grupos, GPT e GT, foi encontrada diferença estatisticamente significante quando considerada a pontuação padrão do PLS-3, Total e em cada subescala (CA e CE), sendo observada maior pontuação média obtida pelo GT. O melhor desempenho de crianças nascidas a termo em comparação às pré-termo vêm sendo apontada por diversos estudos que consideram o desenvolvimento da linguagem 5,9,10,11,12,13. Porém, ao se comparar o desenvolvimento da linguagem por meio da pontuação bruta pôde-se observar que os grupos se assemelharam 14. Ao analisar a área ou a natureza de cada item avaliado, conforme a proposição de construto do PLS-3 8, foi possível observar que na subescala CA, na área Precursores da linguagem, a baixa freqüência dos comportamentos aponta indícios de falha no final do primeiro ano de vida dos processos que envolvem atenção, memória e habilidades de atenção conjunta e compartilhada, em comportamentos comunicativos não verbais e verbais 9,10. Na subescala CE houve diferença estatisticamente significante na freqüência do item 17. Alterações quanto ao aspecto expressivo da linguagem são descritos desde as primeiras manifestações 11, até o domínio de aspectos pontuais da linguagem 12. A área Semântica avaliou as noções de espaço, tempo, qualidade e quantidade, crescimento lexical e desenvolvimento cognitivo 13. O item nomeia figuras (19) apontou tal prejuízo. Na análise da área Estrutura, foi observada diferença estatisticamente significante nas freqüências dos itens 18 e 24 na CA, 18, 21, 22, 23 e 24 na CE, com menor ocorrência do GPT, indicando falhas nos processos lingüísticos e de processamento de informações verbais, tanto receptivos, quanto expressivos 12. Os itens correspondentes à área Habilidade de Integração de Pensamento só estiveram presentes na subescala de compreensão auditiva CA, na terceira faixa etária, uma vez que este tipo de comportamento, na subescala de comunicação
5 expressiva (CE) só estará presente em faixas etárias posteriores, conforme a organização do instrumento PLS-3. Os itens 21 e 23, apresentaram diferença na ocorrência, indicando falhas nas habilidades cognitivas e de processamento de informações 9,10,12. A área avaliada pelo PLS-3 que demonstrou diferenças entre os grupos GPT e GT mais frequentemente foi estrutura, tanto para recepção quanto na expressão. O desenvolvimento da linguagem de crianças nascidas pré-termo e de baixo peso encontrou-se em defasagem em relação às crianças nascidas a termo, na primeira infância. Referências Bibliográficas 1. Vieira RM. A mente humana: uma aproximação filosófica no seu conhecimento [tese doutorado]. São Paulo: Escola Paulista de Medicina Universidade Federal de São Paulo; Rutter M. Resilience in the face of adversity. British Journal Psychology. 1985;147: Pedromônico MRM, Azevedo MF, Kopelman BI. Crianças pré-termo internadas em unidade neonatal: desenvolvimento da conduta interativa no primeiro ano de vida. Jornal de Pediatria. 1998;74(4): Perissinoto J, Isotani SM, Tsutsumi. Predição de alterações no desenvolvimento de neonatos de risco através de comportamentos na área da linguagem. In: X Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia; Belo Horizonte. Anais. Sociedade Brasileira de Fonoaudilogia; [resumo 1023]. 5. Isotani SM. Desenvolvimento da linguagem de crianças nascidas pré-termo com peso abaixo de 2000g na primeira infância [tese doutorado]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo; Unger JA, Sigman M. Developmental lags in preterm infants from one to three years of age. Child Dev. 1983; 54: Organização Mundial da Saúde. CID ª. ed. São Paulo: Edusp; Zimmerman IL, Steiner VG, Pond RE. Preschool Language Scale 3: Examiner s manual. San Antonio: The Psychological Corporation; Farias SR. Caracterização dos comportamentos de linguagem de crianças nascidas a termo e pré-termo aos 12 meses de idade: Escala de Linguagem do Pré-escolar 3 (PLS- 3)[monografia especialização]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo; Crnic KA, Ragozin AS, Greenberg MT, Robinson NM, Basham RB. Social interaction and developmental competence of preterm and full-term infants during the first year of life. Child Dev. 1983; 54: Ollerr DK, Eilers RE, Steffens M., Lynch MP, Urbano R. Speech-like vocalizations in infancy: an evaluation of potencial risk factors. J. Child Lang. 1994; 21: Holdgrafer G. Syntatic abilities of neurologically normal and suspect preterm children. Perceptual and motor skills. 1996; 83:
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