1. A sentença recorrida julgou improcedente o pedido: o Ap.e prevenia a condenação do. (a) Pte $00, a título de perdas salariais;

Documentos relacionados
PN: ; Ap: Tc M. Beira 1J (200/03. 1 TBMBR) Acordam no Tribunal da Relação do Porto. I- Introdução:

estrada municipal; insc. mat. art (VP Aguiar).

; Ap.os: Id. Acordam no Tribunal de Relação do Porto

PN ; Ap.: TC Porto 5.ªV. 3.ª Sec. ( ) Ape: Companhia de Seguros Império S.A. 1 Ap.o: José António Ribeiro 2

Acordam no Tribunal da Relação do Porto

1. O Ag.e discorda do indeferimento liminar3 da providência cautelar comum

1. Inconformados com a sentença de 1ª Instância, concluíram os Ap.os:

Acordam no Tribunal da Relação do Porto.

senhoria operou-se no fim do prazo estabelecido (caducidade do contrato); do estabelecimento comercial em causa outro se extinguiu;

Código de Processo Penal Disposições relevantes em matéria de Comunicação Social

Acordam no Tribunal da Relação do Porto

PN ; Ap.: Tc. Lamego, 1º J. ); Acordam no Tribunal da Relação do Porto. I. Introdução:

PROVA DE AFERIÇÃO (RNE) Questões de Prática Processual Civil e Organização Judiciária. Teórica

Acordam no Tribunal da Relação do Porto I.INTRODUÇÃO

Acordam no Tribunal da Relação do Porto. I Introdução:

(a) A recorrida não concluiu as fracções dentro do prazo acordado; (b) E apenas foi concedida à recorrida a prorrogação do prazo até 03.

Reapreciação e Renovação da Prova na 2ªInstância. Março 2016

Ap.e:; Ap.o: Acordam do Tribunal da Relação de Évora

Acordam no Tribunal da Relação do Porto

Em Conferência, no Tribunal da Relação do Porto. I. Introdução. (a) Os recorrentes não se conformam por não terem feito vencimento quanto

PN ; Ap: TC Porto, 4ª Vara () Em Conferência no Tribunal da Relação do Porto I. INTRODUÇÃO:

Em Conferência no Tribunal da Relação do Porto I. INTRODUÇÃO:

(a) A recorrida não concluiu as fracções dentro do prazo acordado; (b) E apenas foi concedida à recorrida a prorrogação do prazo até 03.

PN ; TC Porto, 1º J (); Acordam no Tribunal da Relação do Porto

Em Conferência, no Tribunal da Relação do Porto. I. Introdução:

Idem. Acordam no Tribunal da Relação do Porto.

PN ; Ap.: Tc. Tabuaço, 1 J. ( ); Acordam no Tribunal da Relação do Porto. I. Introdução:

Acordam no Tribunal da Relação do Porto

Prática Processual Civil. Programa

PROVA ESCRITA NACIONAL DO EXAME FINAL DE AVALIAÇÃO E AGREGAÇÃO Questões de prática processual civil (7 valores) 25 de Setembro de 2004

Em Conferência no Tribunal da Relação do Porto. I. Introdução:

PN ; Ag.: TC Porto, 3º J (1684A. 02) Acordam no Tribunal da Relação do Porto. I. Introdução:

FASE DE FORMAÇÃO INICIAL - PROGRAMA DE PRÁTICA PROCESSUAL CIVIL I I - ACESSO AO DIREITO II - ACTOS PROCESSUAIS DAS PARTES

PN 383/99; Ag.TC Loulé Ag.e: Ag.do: Acordam no Tribunal da Relação de Évora

Nesses termos, pede deferimento. Local e data. Advogado... OAB...

S. R. TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE GUIMARÃES

Acordam no Tribunal da Relação do Porto

Direito Processual Civil II - Turma A

Acordam no Tribunal da Relação do Porto

Em Conferência no Tribunal da Relação do Porto I. INTRODUÇÃO:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV 2015/2016 Mestrado Forense / Turma B (Rui Pinto) EXAME FINAL ( ) - Duração 2 h 30 m

A) INTRODUÇÃO 7 1. Noção de direito processual civil 7 2. Princípios estruturantes do direito processual civil 11

PROCESSO Nº TST-RR A C Ó R D Ã O (2ª Turma) GMMHM/dl/nt

PN ; Ap: Tc. Paredes, 2ª J.( ) Em Conferência no Tribunal da Relação do Porto I INTRODUÇÃO:

PN ; Ap.: TC Chaves; Acordam no Tribunal da Relação do Porto. 1. Introdução

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Acordam no Tribunal da Relação do Porto.

Comercial de M. d e Can aveses, frente à pretensão da A. no sentido de r ectificar o

Acordam no Tribunal da Relação do Porto.

Em Conferência, no Tribunal da Relação do Porto. I. Introdução:

Ap.do, Centro Nacional de Pensões, Recurso interposto no Tribunal Judicial da Comarca de Castelo de Vide

Acordam no Tribunal da Relação do Porto. I. Introdução:

(b) Na verdade, face à prova testemunhal produzida e, em especial, perante o, cabe a resposta: provado apenas que a

PN ; Ap.: Tc. Porto, 2ª V. (); Em Conferência no Tribunal da Relação do Porto. I. Introdução:

Acordam no Tribunal da Relação do Porto. I. Introdução:

PN ; Ag: TC Porto (Família e Menores) 2º J, 1ª sec ( Acordam no Tribunal da Relação do Porto I. INTRODUÇÃO:

Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro Vigésima Câmara Cível A C Ó R D Ã O

Acordam no Tribunal da Relação do Porto

Em Conferência, no Tribunal da Relação do Porto I.INTRODUÇÃO

PROVA DE AFERIÇÃO (RNE) Prática

CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL LEI 41/2013, DE 26/6

Distrito - PORTALEGRE. SINISTRALIDADE Dez de Observatório de Segurança Rodoviária Relatório - Distrito 1

PRÁTICA PROCESSUAL CIVIL

1. O Ap.e insurge-se contra o deferimento de pedido de inquérito judicial a Paredes & Paredes Lda, e conclui:

Acordam no Tribunal da Relação do Porto.

OS TEMAS DA PROVA. Paulo Pimenta. Porto 9 de Setembro de 2013

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Registro: ACÓRDÃO

Regulamento das Cus stas Processuais A Conta de Custas no Regulamento das Custas Processuais

PN ; Ap.: Tc. Felgueiras (); Acordam no Tribunal da Relação do Porto. I. Introdução:

Acordam no Tribunal da Relação do Porto

PROVA DISCURSIVA PARTE I

PROVA DE AFERIÇÃO. (Repetição) (RNE) MANHÃ

PN ; Ap: Tc Porto, 9ª V., 1ª Sec.() Ap.e: Em Conferência, no Tribunal da Relação do Porto. I. INTRODUÇÃO:

Em Conferência no Tribunal da Relação do Porto I. INTRODUÇÃO:

Dano. Perda de uma chance

Acordam no Tribunal da Relação do Porto. I. Introdução

Acordam no Tribunal da Relação do Porto

Id. Acordam no Tribunal da Relação do Porto. 1. A Ap.a intentou acção de divórcio contra o Ap.e:

ACÓRDÃO. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de Botucatu, em que é apelante REINALDO

Prática Processual Civil I 30 de Janeiro de 2009

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA... VARA CÍVEL DO FORO...

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESPÍRITO SANTO TERCEIRA CÂMARA CÍVEL 13/4/2009 SESSÃO EXTRAORDINÁRIA APELAÇÃO CÍVEL Nº Ementa:

(1) Discorda a ag.e da decisão de 1ª instância, que indeferiu requerimento ao abrigo do artº 1785/3CC de continuação de divórcio post mortem;

Acordam no Tribunal da Relação de Évora

Assunto: Erro notório na apreciação. Droga. Tráfico de estupefaciente. Juízes: Viriato Manuel Pinheiro de Lima (Relator), Sam Hou Fai e Chu Kin.

Bom dia, boa tarde e boa noite a você concurseiro(a) de plantão!

TEORIA GERAL DA PROVA II

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO RECURSO ORDINÁRIO DA 80ª VARA DO TRABALHO DE SÃO PAULO RECORRENTE: LEANDRO JOSÉ DA SILVA

Acordam no Tribunal da Relação do Porto.

PROVA ESCRITA NACIONAL DO EXAME FINAL DE AVALIAÇÃO E AGREGAÇÃO

ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores SÁ MOREIRA DE OLIVEIRA (Presidente sem voto), SÁ DUARTE E LUIZ EURICO.

de 1988), bem como a mulher dele recebeu tal renda relativa a 1988;

Em Conferencia no Tribunal da Relação do Porto. I. Introdução

O despacho recorrido absolveu da instância: erro na forma do processo.

INSTRUÇÃO DGA Nº 60/07, DE 11 DE MAIO DE A Coordenadoria Geral da Administração, no uso de suas atribuições, estabelece procedimentos

Em Conferência, no Tribunal da Relação do Porto I- INTRODUÇÃO:

PN ; Ag: TC Ponte de. Acordam no Tribunal da Relação do Porto

ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores LUIS CARLOS DE BARROS (Presidente sem voto), ÁLVARO TORRES JÚNIOR E CORREIA LIMA.

Transcrição:

PN 582.021; Ap.: TC. Viana do Castelo, 1º J.; Ap.e2: Ap.o3: Acordam no Tribunal da Relação do Porto. 1. A sentença recorrida julgou improcedente o pedido: o Ap.e prevenia a condenação do Ap.o no pagamento dos montantes seguintes, vinculados aos danos que sofreu por via de sinistro rodoviário: (a) Pte 2 888 200$00, a título de perdas salariais; (b) Pte 3 000 000$00, a título de danos não patrimoniais; (c) Pte 20 000 000$00, a título de danos patrimoniais futuros. 2. Concluiu o Ap.e: (a) O julgador tem a faculdade legal de pedir a qualquer testemunha os esclarecimentos que julgue necessários e convenientes para o apuramento da verdade; 1 Vistos: Des. Ferreira de Sousa (475) Des. Paiva Gonçalves (1287). 2 Adv. Dr. 3 Adv. Dr. 1

(b) Mas a parte contrária só pode interrogá-la aos quesitos para que foi indicada; (c) Entretanto, a Ap.e indicou a 2ª testemunha a Q1 e Q24, e a ilustre advogada da Ap.a interrogou-a a todos os quesitos da base instrutória: desrespeitou as regras processuais; (d) É que o julgador não pediu qualquer esclarecimento ao depoente J (e) E, por outro lado, apenas afirmou não ter visto o embate: não se pode concluir simplesmente que não tenha ocorrido o sinistro; (f) Mas o julgador decidiu a improcedência do pedido perante uma testemunha que disse não ter visto o embate e outra que, pelo contrário, disse tê- 4 Rol de testemunhas do Ap.e: 1., solteiro, comerciante 2. 3., casado, reformado 4. da, casado, operador de máquinas. Acta da audiência de julgamento, 01.11.14:. Testemunhas do A.: depôs a Q1/Q5 depôs a Q6/Q10 prescindida no acto depôs a Q 1/Q2. Questionário: Q1. Em 98.05.22, 18h30, o Ap.e conduzia o veículo 50-89-DL, na ponte de Santa Luzia, Esposende, Viana do Castelo? Provado; Q2. fazendo pela faixa de rodagem esquerda, atento o seu sentido de marcha, a velocidade não superior a 70 Km/hora? Provado apenas que seguia pela via de trânsito direita, atento o seu sentido de marcha, à velocidade de 50/60 Km/hora; Q3. Ao chegar junto ao Km 378,3 Meadela, V. Castelo, um veículo embateu na parte lateral traseira do DL? Não provado; Q4. o que fez com que o Ap.e embatesse com a parte lateral esquerda do DL no separador central, existente em toda a extensão da ponte referida? Não provado; Q5. Este outro veículo não parou, nem foi obtido qualquer elemento de investigação sobre o condutor dele? Não provado; Q6. Do acidente resultaram ferimentos no A., transportado ao HD V. Castelo, onde recebeu tratamento? Provado; Q7. Em consequência do acidente, o Ap.e ficou com o braço esquerdo amputado? Provado; Q8. a que corresponde IPP 70%? Provado apenas IPP 60%; 2

lo visto, respondendo a primeira a perguntas que não poderiam ter-lhe sido feitas, como já se disse; (g) Foram assim desrespeitadas as regras elementares do Processo Civil, e a sentença recorrida contrariou os arts. 3-A, 265/1, 638 CPC, e 346 CC; (h) Deve ser revogada, e condenado o recorrido. 3. Não houve contra-alegações. 4. Ficou provado: (1) Em 98.05.22, 18.30h, conduzia o veículo automóvel, 50-89-DL, na ponte de Santa Luzia, e no sentido Esposende/V. Castelo; (2) Seguia pela via de trânsito situada à direita, atento o sentido de marcha tomado, e à velocidade de 50/60 Km/hora; (3) Do acidente resultaram ferimentos para, transportado entretanto ao HD V. Castelo, onde recebeu tratamento; (4) Em consequência do acidente, foi-lhe entretanto amputado o braço esquerdo; (5) Situação clínica a que corresponde IPP 60%; (6) Como motorista, a vítima auferia o salário mensal de Pte 81 500$00. 4.1 O tribunal alicerçou a convicção sobre a matéria assente em documentos juntos5, no relatório de um exame médico6, bem como nos depoimentos: Q9. Como motorista, o Ap.e auferia o salário mensal de Pte 103 150$00? Provado apenas Pte 81 500$00; Q10. Recebendo Pte 60 000$00/mês como bombeiro voluntário? Não provado. 5 Cópias de folhas de vencimento relativos ao Ap.e, no montante mensal ilíquido de Pte 89 500, uma, e de Pte 90 050$00, outra. 3

: conduzia um veículo no mesmo sentido de um outro; entre o depoente e esse automóvel interpunha-se outro ligeiro; apercebeu-se de um veículo em grande velocidade, considerada a chuva intensa, que ultrapassou os três veículos referidos, e na parte final tocou com a parte traseira do lado direito na frente esquerda do veículo da frente, fazendo com que o condutor perdesse o controlo; parou então, mas sem se aproximar das pessoas, por ter ficado muito chocado (um braço ficou caído nos asfalto); à noite soube que tinha perdido o braço num acidente e concluiu então ter sido ele a vítima daquele que tinha presenciado; : conduzia mesmo atrás do veículo conduzido por e, ao chegar ao fim da ponte verificou que o ventou levou a carrinha para o meio da estrada; ocorreu então o embate nos rails; falou com, perguntando-lhe sobre o sucedido, ao que este respondeu: são coisas que acontecem; Amargurado pela visão do braço no chão (que recolheu num saco de plástico), no dia seguinte foi visitar ao Hospital, e mais uma vez este aceitou a sorte que lhe coube; não se lembra de ter visto ; não viu qualquer viatura que tivesse efectuado uma ultrapassagem ao veículo conduzido por, nem ouviu qualquer referência. 6 Conclusões de exame no âmbito do Direito Civil, Gabinete Médico-legal de Viana do Castelo: 1. A incapacidade temporária absoluta geral é fixável em 30 dias; 2. A incapacidade temporária parcial geral é fixável em 335 dias; 3. A incapacidade temporária absoluta profissional é fixável em 365 dias; 4. A incapacidade temporária parcial profissional é fixável em 90 dias; 5. Quantum doloris fixável em 4, numa escala de 1 a 7; 6. A incapacidade permanente geral é fixável em 60%; 7. A incapacidade permanente profissional é fixável em 60%; 8. Coeficiente de dano compatível com grau 3, numa escala de 1 a 4; 9. Dano estético fixável no grau 5, numa escala de 1 a 7; 10. É de admitir prejuízo da afirmação pessoal. 4

[O depoente descreveu com pormenor os momentos seguintes ao acidente, bem como a intervenção de um médico espanhol que por ali passava]. Diz a motivação da sentença: é evidente que este depoimento é mais credível e isento, por ser seguro que a testemunha esteve no local, seguro que não viu qualquer viatura embater no veículo do Ap.e, e seguro que não ouviu qualquer alusão ao envolvimento dessa outra viatura, nem no dia do acidente, nem posteriormente. 5. O recurso está pronto para julgamento. 6. A lei processual portuguesa conferiu ao juiz largos e notáveis poderes de condução do processo e sobretudo de investigação probatória, mas a base dos procedimentos legais relativos ao debate da causa sobressai do princípio dispositivo e do contraditório. O rito da audiência veste-lhes, depois, as modalidades da indicação das provas a certos quesitos, da instância por parte dos mandatários e dos limites à contrainstância, sob a lógica restritiva da simples abertura aos factos sobre que a testemunha depôs. mas o julgador pode tomar a iniciativa de a interrogar livremente. Poderá então ajuizar, mas sem ter prevenido o papel que a lei lhe confere neste domínio, e aditando à decisão motivos fundados numa clara subversão do desenho arquitectónico legal da contra-instância? Um primeiro aproximar da resposta vem-nos de uma espécie de autorização implícita, da convalidação daquele frisante instar que poderia ter muito bem acontecido na voz do juiz. 5

Outro, diz-nos que não, porque nunca por nunca poderíamos ficar a saber, acerca da iniciativa infraccionária da parte adversa, se teria surgido como justificada, por certeira lógica e adequação, ao desígnio judicial, condutor (por direito próprio) da audiência. Embora aceitemos serem as formas inimigas juradas do arbítrio, e defendamos que o direito é antes de tudo consubstancial a uma discussão imposta racionalmente, e através das normas que lhe definem um contorno, a autorizam tal e qual, e por isso mesmo a legitimam, não podemos deixar de ter como chocante a opção de pura e simplesmente erradicar o depoimento que o julgador nos disse ter sido para ele mais consistente. Contudo, terá de ser feita, ainda assim, uma qualquer homenagem à fronteira nítida que distingue a marca da racionalidade da mera convicção solipsista. Por outro lado, se bem atentarmos nas razões da preferência pelo depoimento de não estão elas demonstradas; pelo contrário, simplesmente ditas de forma impressiva e sem que nos seja dado um critério para pensar objectivamente se são procedentes. Na verdade, a mera circunstância de alguém afirmar ter visto ou não ter visto, ter ouvido isto e não aquilo, vale tanto como o contrário afirmado por outrem. Não obstante, nos motivos da decisão sobre a matéria assente aparece quase só essa contrariedade como valor do relevo dado ao depoimento. Ora, tal contrariedade em si mesma (que nunca chegaria para ser objectiva) situou-se também num incompleto plano discursivo e legal da Audiência (aceite a tese da convalidação da contra-instância, vista a não interrupção por parte do juiz, que não lhe fez obstáculo qualquer, em primeiro lugar, e até o resultado utilizou depois). 6

Apresenta-se-nos naturalmente em falta, portanto, uma acareação. E, convenhamos, a versão do golpe de vento na ponte de Santa Luzia, e do despiste subsequente de um automóvel de tal modo violento que decepa o braço do motorista, não pode deixar de nos propor, sim, uma improbabilidade, uma certa desconfiança natural, segundo o rumo da experiência comum. Também é certo, antes de tudo: o primeiro depoimento sobre os factos centrais da causa, na viva transcrição presente nos motivos do convencimento do tribunal sobre a matéria assente, não aponta de modo nenhum para descrédito. Imperioso é concluir deste modo que as respostas aos quesitos centrais do debate, sobre a ocorrência do acidente necessitam da realização da diligência omitida, sem o que se instala deficiência notória na decisão sobre esse determinado ponto da matéria de facto. Por conseguinte, está autorizada a anulação, mesmo que fora oficiosa, da sentença recorrida, art. 712/4 CPC. 7. Atento o exposto, visto o art. de lei cit., decidem anular a decisão proferida em 1ª instância, para que na repetição da Audiência se proceda, antes de serem respondidos Q3, Q4 e Q5, à já aludida acareação entre os depoentes e. 8. Sem custas, por não serem devidas. 7