Acordam no Tribunal da Relação do Porto.
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- Vanessa Nunes Barbosa
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1 PN ; Ap.: TC. VN Famalicão; Ap.e 2 : Moisés Mirra Ribeiro, Lugar de Torres, Castelões, VN Famalicão; Ap.a 3 : C. Seg. Mundial Confiança, SA, Largo do Chiado, 8, Lisboa. Acordam no Tribunal da Relação do Porto. 1. O Ap.e discorda da sentença de 1ª instância que julgou improcedente o pedido que formulara contra a Ap.a de reposição das despesas e das perdas de ganho, nomeadamente por incapacidade física permanente (e através de contrato de seguro de acidentes pessoais), advindas de alegado sinistro, ocasionado durante o passeio de um cão que o projectou contra o solo. 2. Concluiu: (a) A sentença recorrida aceita que o Ap.e não provou ter sofrido um acidente nos termos do contrato de seguro com a Ap.a; (b) Mas se é verdade que não conseguiu provar a forma do evento que lhe causou as lesões, também é verdade que o acidente está amplamente demonstrado nos autos; (c) Com efeito, a participação foi elaborada e não foi posta em causa, admitido assim o sinistro pela recorrida, que nem o impugnou; 1 Vistos: Des Ferreira de Sousa (396) Des. Paiva Gonçalves (1199). 2 Adv.: Dr. Joaquim Borges, Rua Capitão Manuel Carvalho, Ed. D. Pedro 2º, sala 11/12, 4760 VN Famalicão. 3 Adv.: Dr. Paulo Ferraz, Rua Rainha Dona Estefânia,246 6º, sala 19/20, Porto. 1
2 (d) Aliás, a Ap.a, não negando o acidente, tão só pôs em causa a origem das lesões do recorrente, contudo facto altamente contrariado pela matéria dada como provada, e através da perícia; (e) De todo o modo, os serviços clínicos da Companhia de Seguros emitiram um boletim de alta do Ap.e, reconhecendo sem qualquer sombra de dúvida a ocorrência do acidente; (f) Por outro lado, a obrigação da recorrida de indemnizar o Ap.e, e sempre tendo em atenção o contrato de seguro, não advém de um certo tipo de acidente; como consequência, não é necessário aceder aos pormenores deste, mas sim, e tão só, à ocorrência; (g) Aliás, que outro raciocínio [e convicção] se poderá ter [acerca] da existência [ou não] de um acidente ao ler a resposta a Q3? provado apenas que no dia , e por forma concretamente não apurada, o Ap.e sofreu as lesões descritas; (h) Se não foi doença a origem de tais lesões, como está demonstrado nos autos, teve que ser acidente; (i) E sendo assim, acaso houvesse cláusulas de exclusão, teriam elas de ser alegadas e provadas pela Ap.a; (j) Por conseguinte, a sentença recorrida, ao considerar que o recorrente não provou o acidente nos termos previstos no contrato de seguro, decidiu ao contrário da demonstração dos autos: esse acidente é um facto por si só, e sempre [no quadro do] citado contrato de seguro, fonte para a recorrida da obrigação de indemnizar; (k) Deve ser revogada e substituída por acórdão que condene a Ap.a no pedido. 3. Não houve contra-alegações. 4. Ficou provado: 2
3 (1) A Ap.a celebrou com Francisco Ribeiro e Filhos, Lda, Lugar de Agrelo, Castelões, VN Famalicão, um contrato de seguro do ramo acidentes pessoais, cuja pessoa segura era o Ap.e, através da apólice nº ; (2) Em , e por forma concretamente não apurada, o Ap.e sofreu lesões descritas no documento de fls. 10 e 11 4 dos autos; (3) Em consequência destas lesões esteve em tratamento ambulatório e sofreu um período de incapacidade temporária parcial geral [ITPG] de 334 dias; (4) O Ap.e despendeu pelo menos a quantia de Pte $00 em honorários médicos, medicamentos, intervenções cirúrgicas, e outras despesas de tratamento; (5) Como consequência directa e necessária das lesões em causa, o Ap.e é hoje portador de uma incapacidade permanente geral [IPG] de 15% e de uma incapacidade permanente profissional [IPP] de 20%. 4.1 O tribunal firmou a convicção, para a resposta sobre o perfil e caracterização das lesões, no documento de fls. 10 e 11 5, nos documentos de fls. 12 ss 6, no teor do relatório pericial de fls 103 ss 7, e ainda no depoimento de Domingos Correia 4 Relatório médico: Moisés de Mira Ribeiro foi observado em 13.III.95, com uma ciatalgia aguda do membro inferior direito; operado em Março/95 não se tratou duma hérnia discal mas duma estenose do canal lombar, com uma reacção meníngia intensa; em Maio/95, notou-se uma estonose no foramen L5-S1, com a raiz dilatada e sinais inflamatórios. 5 Vd. nota antecedente. 6 Vd. nota seguinte a negrito. 7 Instituto de Medicinal Legal do Porto Clínica Médico-legal Nome: Moisés Mirra Ribeiro foi operado no HSM Porto (entrada em ), comprovando-se não se tratar de uma hérnia discal, mas de uma estenose do canal lombar, com uma reacção meníngia intensa; fez laminectomia descompressiva ao nível de L4-L5 à direita (alta em , havendo registos deste Hospital [HSM Porto] que referem hérnia discal lombar); após uma melhoria de dias voltou a apresentar uma lombociatalgia, que obrigou a nova intervenção ( /13.05) dando entrada com o diagnóstico de hérnia discal, e tendo-se encontrado uma estenose do foramen L5-S1 com a raiz dilatada e sinais inflamatórios ; no mês de terá iniciado tratamento de fisioterapia (HS Tecla, Braga e em Clínica de Famalicão ) até 08.95; também foi seguido na C. Seguros Mundial Confiança com o diagnóstico de estenose do canal lombar, com ciatalgia após esforço, tendo estado com ITA até , e com ITP desde esta data até , data em teve alta com 20% de IPP, por radicolalgia do nervo ceático; refere 3
4 Oliveira, funcionário do Ap.e, que revelou ter conhecimento directo (ainda que genérico) das lesões sofridas por ele e do respectivo tratamento. E para a resposta sobre as despesas nos documentos juntos, descontando as verbas relativas a telefonemas e despesas com acompanhamentos nos internamentos hospitalares. A restante prova produzida não se revelou relevante, nomeadamente foi dada como não provada a versão do Ap.e sobre o sinistro (queda provocada por esticão da trela de um canídeo que levava a passear) porque as testemunhas não prestaram um depoimento suficientemente credível e de forma a convencer o tribunal: a tese apresentada por elas não foi coincidente entre si em vários pontos relevantes; o documento de fls 50 8 dos autos (não impugnado quanto à sua autoria), criou sérias dúvidas sobre a veracidade da matéria alegada. que actualmente está de baixa pelo seu médico de família, por episódio de lombociatalgia; o examinado tem 57 anos de idade e é empresário ; refere que terá retomado a sua actividade profissional e 03.96; Discussão: (a) é de admitir a existência de nexo de causalidade entre o traumatismo sofrido e as lesões e sequelas resultantes, tendo em conta: [1] o tipo de lesões são adequadas a uma etiologia traumática; [2] o tipo de traumatismo é adequado a produzir esse tipo de lesões; [3] existe adequação entre a sede do traumatismo e a sede da lesão; [4] existe continuidade sintomatológia e adequação temporal entre o traumatismo, as lesões e as sequelas; (b) tendo em conta os registo clínicos e o exame efectuado, pode considerar-se que as lesões sofridas atingiram a consolidação médico-legal em (momento a partir do qual não é de esperar uma evolução positiva importante das lesões, que atingiram já a fase sequelar, correspondendo este ao fim do período de incapacidade temporária): Conclusões: (1) Incapacidade Temporária Absoluta Geral: fixável em 60 dias; (2) Incapacidade Temporária Parcial Geral: fixável em 334 dias; (3) Incapacidade Temporária Absoluta profissional: fixável em 214 dias; (4) Incapacidade Temporária Parcial Profissional: fixável em 180 dias; (5) Quantum Doloris: fixável no grau 5 (1-7); (6) Incapacidade Permanente Geral: fixável em 15%; (7) Incapacidade Permanente Profissional: fixável 20%; (8) Dano Estético: fixável no grau 2 (1-7); Respostas aos Quesitos: 1 e 2: poderá haver um componente patológico anterior, mas do qual não existem provas inequívocas, nem existia qualquer sintomatologia; de qualquer forma, mesmo admitindo a sua existência, admite-se também que o traumatismo em causa provocou lesões que são causa directa da sintomatologia e que podem ter contribuído para agravar as eventualmente antes existentes, tendo vindo a justificar a realização de cirurgias, e a justificar toda a sintomatologia; 3 [lesões sofridas pelo A. em consequência do acidente sofrido nos autos]: estiramento e contusão lombosagrada (tendo em conta o mecanismo do traumatismo), da qual poderá ter resultado a hérnia discal e o agravamento de eventuais lesões anteriores (acinptomáticas, a este nível) 8 Mundial Confiança 4
5 5. A sentença recorrida baseou-se no argumento não ter o A. provado a ocorrência de um acidente nos termos previstos no contrato de seguro celebrado com a R., sendo certo que, em tese geral, um seguro de acidentes pessoais cobre o segurado contra as lesões físicas de causa violenta externa e que tenham como consequência a morte, a invalidez permanente ou a invalidez temporária: este tipo de seguro tem tipicamente de específico não ter carácter indemnizatório; consistir a obrigação do Segurador numa prestação convencionada pelas partes, e a inexistência de sub-rogação deste nos direitos da pessoa segura contra os eventuais responsáveis pelo sinistro O recurso está pronto para julgamento. 7. A apólice de seguro exclui da cobertura certos tipos de sinistros. Contudo, a Ap.a não se defendeu no sentido de ter ocorrido, e determinado as lesões incapacitantes, quaisquer desses acontecimentos. Limitou-se a alegar não terem causa médica aquelas sequelas senão em doença, e não se tratar aqui manifestamente de um seguro de saúde. Provado que ficou o contrário, i.é, que as lesões e a incapacidade derivada resultaram de um sinistro, muito embora se não tivesse apurado o exacto perfil do acontecimento, é bem certo que o Ap.e cumpriu a parte que lhe competia do ónus da Participação de acidente Acidentes Pessoais Segurado: Francisco Ribeiro e Filhos, Lda; Apol. Nº Sinistrado: Moisés Mira Ribeiro.. Acidente Data, ; hora 15.00h; local: na firma; No momento do acidente que fazia o sinistrado? Deu uma passada em falso quando andava a ver umas madeiras; Descrição pormenorizada de como aconteceu o acidente: quando andava a ver como estavam postas as madeiras deu uma passada em falso e teve um estenos do canal lombar (i.é, retiraram um bocado de um osso). Delens ;o sinistrado [assinatura manuscrita de Moisés Mira Ribeiro]. 9 Citou Vasques, José, Contrato de Seguro, Coimbra Editora (1999), pp. 36ss. 5
6 prova: certos sinistros levam, com efeito, à não cobertura das consequências, por excepção, e estas exclusões, portanto, competem à demonstração do defendente. Não pode pois conceder-se razão à sentença recorrida, na qual está aceite uma exacta compreensão do contrato em jogo, todavia excessiva quanto ao recorte do impulso probatório necessário à procedência da pretensão do A.: um seguro de acidentes pessoais cobre o segurado contra as lesões físicas de causa violenta externa e que tenham como consequência a morte, a invalidez permanente ou a invalidez temporária. Por conseguinte, o contorno da violência externa, quando seja reputada estrangeira à protecção contratual, é motivo de Excepção. Não foi por esta via que a Ap.a contestou e, por isso, terá de conceder-se a procedência do recurso. 8. Atento o exposto, visto o art. 342/2 CC e 516 CPC, decidem revogar a sentença recorrida que substituem pelo presente acórdão, através do qual condenam desde já a R. no pagamento em favor do A. do montante que este despendeu em honorários médicos, medicamentos, intervenções cirúrgicas, e outras despesa de tratamento: Pte $00; e relegam para execução de sentença a determinação do remanescente não apurado 10 neste domínio e do quantum que corresponda à incapacidade permanente geral [IPG] de 15% e à incapacidade permanente profissional [IPP] de 20 % Custas pela Ap.a, sucumbente. x I- Um seguro de acidentes pessoais cobre o segurado contra as lesões físicas de causa violenta externa e que tenham como consequência a morte, a invalidez permanente ou a invalidez temporária; 10 Cfr. 4.(4): despendeu pelo menos a quantia de Pte $ Não vem dado como provado qualquer elemento ou indíce a partir do qual possa fazer-se o cálculo. 6
7 II- III- Por conseguinte, o contorno da violência externa, quando seja reputada estrangeira à protecção contratual, é motivo de defesa por Excepção; Não tendo a Seguradora contestado a ocorrência de uma violência externa com o recorte contratual, mas apenas o nexo causal entre esta e as sequelas físicas comprovadas pelo A., e claudicado, deve ser condenada, não obstante não ter ficado apurada a configuração exacta do sinistro. 7
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