Leonardo Saraiva Pagio Editora Ática S.A. Editora Ática S.A. Leonardo Saraiva Pagio. Giselle Bondim Lopes Ribeiro

Transcrição

1 ACÓRDÃO 7ª TURMA LESÃO PRETÉRITA. ACIDENTE DE TRABALHO. CONCAUSA. Diante dos elementos probatórios dos autos, conclui se que o acidente de trabalho sofrido pelo Autor atuou como concausa para agravamento da lesão sofrida pelo Autor. Assim, tem o acionante direito à estabilidade provisória. Recorrentes: Recorridos: Relatora: Leonardo Saraiva Pagio Editora Ática S.A. Editora Ática S.A. Leonardo Saraiva Pagio Giselle Bondim Lopes Ribeiro Trata se de recursos ordinários interpostos pela Ré e pelo Autor (fls. 345/347v e 337/341, respectivamente), que se insurgem contra sentença da 11ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, proferida pelo juiz Otavio Amaral Calvet às fls. 328/331, que julgou procedentes em parte os pedidos formulados, com embargos declaratórios rejeitados à fl A Ré pretende a reforma da sentença para que seja julgado improcedente o pedido de horas extras. Já o Autor objetiva a procedência do pedido de indenização decorrente de estabilidade provisória acidentária, bem como pensionamento mensal e dano moral. Comprovam se custas e depósito recursal às fls. 348/348v

2 à fl. 109/111). Advogado que subscreve o recurso da Ré constituído à fl. 309v (procuração Advogado que subscreve o recurso do Autor constituído à fl. 08. Contrarrazões pelo Autor às fls. 353/356 e pela Ré às fls. 357/359, ambas pugnando pelo não provimento do recurso. É o relatório. FUNDAMENTAÇÃO Conhecimento Não se conhece o recurso da Ré, por deserto. Observa se que não foi adequadamente comprovado o recolhimento do depósito recursal, uma vez que não há indicação do número do processo quanto ao depósito recursal. Não obstante, considera se que o número do PIS do Autor é suficiente para demonstrar que o depósito foi encaminhado à conta vinculada do empregado. No entanto, no que concerne à guia de recolhimento de custas, falta a própria guia, embora esteja nos autos o boleto no valor arbitrado pela sentença. Ora, ausência da guia impede que se verifique se o pagamento efetuado no boleto (fl. 348v) refere se às custas arbitradas. Conhece se, assim, apenas do recurso do Autor

3 Recurso do Autor Acidente de Trabalho estabilidade provisória, pensionamento e dano moral A sentença julgou improcedentes os pedidos relativos ao acidente de trabalho, sob o fundamento da inexistência de comprovação quanto ao nexo causal e à culpa da Ré direito. Insiste o Autor, aduzindo que logrou comprovar o fato constitutivo de seu Assiste parcial razão ao Autor. O Autor narra na inicial que em 28/05/2008 durante o trabalho, ao carregar grande quantidade de livros para divulgação, sofreu trauma no joelho esquerdo. Afirma que se afastou por um período e tentou retornar ao trabalho, porém foi licenciado pelo órgão previdenciário, mediante a concessão de benefício acidentário, no período de 06/01/2009 a 08/06/2009. Alega que, não obstante a estabilidade provisória garantida na Lei 8213/91, foi imotivadamente dispensado em 12/08/2009, razão pela qual pleiteia a indenização relativa à garantia de emprego, despesas com o tratamento, pensionamento e dano moral. A perícia médica foi inconclusiva quanto ao nexo causal. Entretanto, não excluiu a possibilidade da lesão sofrida pelo Autor em seu joelho ter decorrido da alegada queda durante o trabalho. Transcreve se:

4 ...Relata que em 28/05/2008, estava desempenhando o seu labor em Teresopolis, onde retirou os livros do carro e os colocou no carrinho e ao puxar o mesmo, subindo a ladeira, sofreu entorse em joelho esquerdo ocasionando uma queda, causando lesão em Ligamento Cruzado Anterior e Menisco. Foi atendido inicialmente no Hospital São José em Teresopolis, onde realizou uma punção e foi imobilizado. Como não apresentou melhora, realizou tratamento cirúrgico (artroscopia) em 22/12/2009 (...) As lesões que o autor foi portador, podem ser ocasionadas pelo tipo de dinâmica do acidente, como também por outros fatores, que deverão ser comprovados ou não da ocorrência do referido acidente. O autor não apresenta sequelas nem incapacidade laboral. (fls. 233/240 laudo pericial sic). Portanto, o que o perito disse é que não tinha certeza sobre a queda, mas que esta poderia ter provocado as lesões. A tese de defesa concentrou se na negativa do acidente de trabalho, uma vez que o Autor teria se machucado em uma partida de futebol durante um final de semana. Todavia, a queda durante o trabalho foi comprovada pela prova testemunhal, que não desconsiderou em seu depoimento a lesão anterior ocorrida em uma partida de futebol. Reproduz se o depoimento da testemunha do Autor:...que foi chefe imediato do reclamante de janeiro a julho de 2008 (...) que o autor sofreu uma lesão no joelho que aconteceu inicialmente fora do trabalho, jogando futebol, e depois a lesão se agravou em um acidente no trabalho, em um momento em que fazia esforço físico; que nesse momento

5 ele fazia atividade normal subindo rampa com pacotes de livros na mão (...) que depois de um período afastado, estando o reclamante apto para o trabalho a empresa contratou um motorista para auxiliá lo; que não sabe dizer se no momento do acidente o reclamante estava com os livros na mão ou puxando no carrinho; que a empresa disponibilizava carrinho para disponibilizar os livros; que não se recorda se o reclamante apresentou alguma recomendação médica para se afastar do trabalho após o jogo de futebol; que na época ele continuou trabalhando normalmente... (testemunha do Autor fls. 318/319 sic). Ademais, a declaração emitida pelo Hospital São José, demonstra que o Autor foi atendido em 28/05/2008, uma quarta feira, entre 15:38h e 18:36h (fls. 49), horário de trabalho. Observa se, ainda, que, apesar da conversão posterior do benefício em razão do recurso interposto pela Ré perante o órgão previdenciário, inicialmente foi reconhecido o acidente de trabalho pelo INSS, conforme fls. 54/56. Portanto, conjugando se os elementos acima, há que se reconhecer que a queda sofrida durante o trabalho, quando o Autor carregava livros, atuou como concausa para a lesão no joelho, sendo certo que a atividade de carregar livros para divulgação era inerente ao trabalho desempenhado. Desta forma, independente da conversão do benefício em auxílio acidente, somente em 14/07/2010 (fls. 226/227), posteriormente à demissão (12/08/2009), há que ser reconhecido que o Autor fazia jus à estabilidade provisória no momento da dispensa, sendo lhe devida a correspondente indenização, no período da dispensa até 08/06/2010, relativa a salários, férias, décimos terceiros, FGTS e prêmios

6 Improcedem, entretanto, os pedidos de pensionamento e de reembolso de despesas efetuadas com tratamento, ante a inexistência de sequelas e de comprovação de valores despendidos com o restabelecimento da saúde. Igualmente improcede a indenização por dano moral, considerando a inexistência de culpa da empregadora e o fornecimento, pela empresa, de carrinhos para transporte dos livros. Concede se, pois, provimento parcial ao recurso, para condenar a Ré ao pagamento de indenização correspondente ao período de estabilidade provisória, do momento da dispensa (12/08/2009) até 08/06/2010, relativa a salários, férias, décimos terceiros, FGTS e prêmios. DISPOSITIVO A C O R D A M os Desembargadores da 7ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, não conhecer o recurso da Ré, por deserto, conhecer o recurso do Autor e, no mérito, conceder lhe parcial provimento para condenar a Ré ao pagamento de indenização correspondente ao período de estabilidade provisória, do momento da dispensa, 12/08/2009 até 08/06/2010, relativa a salários, férias, décimos terceiros, FGTS e prêmios. Majoram se as custas para R$50.000,00, calculadas sobre o novo valor da condenação, estimado em R$1.000,00, pela Ré. Rio de Janeiro, 30 de junho de

7 Giselle Bondim Lopes Ribeiro Relatora