PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

Transcrição

1 Acórdão 6a Turma JORNADA DE TRABALHO. CARTÕES DE PONTO. INIDONEIDADE. O controle de frequência é o meio ordinário de se comprovar a jornada trabalhada, conforme o disposto no artigo 74 da CLT, que contém o regramento acerca dos registros de horários de trabalho. Assim, a apresentação de controles de frequência inidôneos implica inversão do ônus da prova, conforme o entendimento consubstanciado na Súmula nº 338, III, do C. TST. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de Recurso Ordinário nº TRT-RO , em que são partes: CARREFOUR COMÉRCIO E INDÚSTRIA LTDA., como Recorrente e NILTON DA SILVA COSTA como Recorrido. VOTO: I - R E L A T Ó R I O Trata-se de Recurso Ordinário interposto pela empresa às folhas 314/318, em face da r. decisão proferida às folhas 307/310, pela Juíza do Trabalho Cláudia de Abreu Lima Pisco, da 74ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, que julgou o pedido procedente em parte. Embargos de declaração opostos pelo trabalhador às folhas 312/313, rejeitados, conforme decisão de folha 322. Contestação às folhas 85/

2 Atas de audiência às folhas 44, 82, 254, 266 e 306. Prova oral às folhas 304/305. O recorrente alega, em síntese, que a sentença merece reforma quanto às horas extraordinárias, reflexos no repouso semanal remunerado e diferenças salariais decorrentes da equiparação salarial. Preparo à folha 319. Contrarrazões às folhas 327/335. Os autos não foram remetidos à Douta Procuradoria do Trabalho por não ser hipótese de intervenção legal (Lei Complementar no. 75/1993) e/ou das situações arroladas no Ofício PRT/1ª Reg. nº 27/08-GAB., de É o relatório. II - F U N D A M E N T A Ç Ã O 1. CONHECIMENTO Conheço dos recursos por preenchidos os pressupostos de admissibilidade. 2. MÉRITO DAS HORAS EXTRAS Sustenta o recorrente que a prova testemunhal produzida não foi suficientemente robusta a comprovar a invalidade dos controles de frequência, por possuírem horários variados e a assinatura do trabalhador. Alega que todas as horas extras realizadas foram pagas ou compensadas. Afirma que cumpria ao obreiro comprovar a jornada vindicada na inicial assim como a concessão parcial dos intervalos intrajornada, e diferenças de adicional noturno. Alega que não se há de falar em reflexos das horas extras no repouso semanal remunerado sob pena de bis in idem

3 O r. Juízo a quo, à folha 308, acolheu a jornada narrada na inicial pois a testemunha, cujo depoimento se encontra à folha 305, afirmou que o intervalo era de apenas 30 minutos e que os controles de frequência não refletiam a real jornada de trabalho. Assim, a recorrente foi condenada ao pagamento de horas extraordinárias com reflexos nos repousos semanais remunerados, férias acrescidas de 1/3, décimos terceiros salários, aviso prévio, e FGTS acrescido da indenização de 40%. Sem razão o recorrente. O controle de frequência é o meio ordinário de se comprovar a jornada trabalhada, conforme o disposto no artigo 74 da CLT, que contém o regramento acerca dos registros de horários de trabalho. Portanto, é obrigação da empresa que possui mais de 10 (dez) empregados, como no presente caso, manter controles de frequência idôneos com a assinalação correta das horas efetivamente trabalhadas. Tendo em vista que o obreiro impugnou os controles desde a inicial, a ele incumbia o encargo processual de comprovar sua inidoneidade, ônus que restou devidamente atendido. Consta no depoimento testemunhal de folha 305: que no restante do período, o depoente já não conseguia trabalhar só neste horário sendo solicitado a ele que trabalhasse até mais duas horas, o que acontecia em todos os dias após os cinco/seis primeiros meses de trabalho; que quando isto acontecia, o trabalho extraordinário não era registrado nos controles; que a pessoa tinha que registrar o horário contratual de saída e retornar para trabalhar ( ) já viu o reclamante passando o cartão e retornando para trabalhar; que depoente e reclamante usufruíam no máximo de 30 minutos de intervalo intrajornada;

4 Diferentemente do alegado pelo recorrente, não é frágil a prova produzida, inclusive quanto à concessão parcial dos intervalos. A valoração da prova é regida pelo princípio do livre convencimento motivado. O ordenamento processual concede ao órgão jurisdicional a possibilidade de livre apreciação da prova desde que explicite os motivos que o levaram às suas conclusões. É o disposto no artigo 131 do CPC. Por conseguinte, ninguém melhor do que o juiz que colheu a prova oral para aferir a sua credibilidade. A imprestabilidade dos controles de ponto apresentados faz como que haja a inversão do ônus da prova, pela aplicação do entendimento contido na Súmula nº 338, incisos II e III, do C. TST).À míngua de provas em sentido contrário, está correta a decisão que reputou como verdadeira a jornada relatada na inicial. Quanto aos reflexos do repouso semanal remunerado, a r. Decisão está de acordo com a Súmula n. 172 do C.TST. Saliente-se que o aresto apresentado em recurso trata de situação diversa, onde o repouso incidiria em outras verbas, conforme Orientação Jurisprudencial n. 394 da SDI-I, do C.TST. As diferenças de adicional noturno se justificam em razão das horas extras noturnas deferidas em sentença. Nego provimento. DA EQUIPARAÇÃO SALARIAL Sustenta o recorrente que merece reforma a sentença que o condenou ao pagamento de diferenças salariais e reflexos decorrentes da equiparação salarial, pois o trabalhador não comprovou de forma robusta que tivesse preenchido todos os requisitos previstos no artigo 461 da CLT, ou seja, idêntica função, mesmo tipo de serviço, igual produtividade e perfeição técnica. Alega que o recorrido sempre exerceu a função anotada em sua ficha de registro, com tarefas correspondentes, conforme prova documental produzida

5 Entendeu o Juízo a quo que a equiparação é devida, pois além de a testemunha ter relatado que o recorrido exercia as mesmas funções do paradigma Rogério Luiz Xavier Valente, a recorrente não provou o fato impeditivo narrado em defesa, qual seja, a diferença de mais de dois anos na função. Correta a decisão. A testemunha do juízo relatou à folha 305 que tanto o Sr. Rogério como o recorrido exerciam a função de coordenador, que seria a mesma coisa que gerenciador ou gerente. Diferentemente do alegado pelo recorrente, ao trabalhador bastava a prova do fato constitutivo do direito a identidade de funções -, cabendo ao recorrente a prova quanto aos fatos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito, encargo processual que não restou atendido, conforme artigo 818 da CLT e 333, inciso II, do Código de Processo Civil, de aplicação subsidiária ao Processo do Trabalho. Nego provimento. III - D I S P O S I T I V O ACORDAM os Desembargadores que compõem a 6ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, conhecer do recurso ordinário e, no mérito, por unanimidade, negar-lhe provimento, nos termos do voto do Exmo. Sr. Desembargador Relator. Rio de Janeiro, 05 de setembro de Marcos Cavalcante

6 MC/bp Desembargador Relator