TRT RO - ACÓRDÃO 2ªTURMA/

Transcrição

1 TRT RO - ACÓRDÃO 2ªTURMA/ RELATOR : DESEMBARGADOR MÁRIO MACEDO FERNANDES CARON RECORRENTE : CASSIANA DA SILVA OLIVEIRA ADVOGADO : JAIRO RODRIGUES BIJOS RECORRIDO : CARREFOUR COMÉRCIO E INDUSTRIA LTDA ADVOGADO : MARIA HELENA VILLELA AUTUORI ROSA ORIGEM : 11ª VARA DO TRABALHO DE BRASÍLIA/DF CLASSE ORIGINÁRIA: Ação Trabalhista - Rito Ordinário (JUIZ CRISTIANO SIQUEIRA DE ABREU E LIMA) EMENTA: DOENÇA OCUPACIONAL NÃO CARACTERIZADA. PERÍCIA DO INSS X PERÍCIA JUDICIAL. Demonstrada em perícia judicial a ausência de nexo causal entre a doença apresentada pela reclamante e o seu labor da reclamada, não há de se falar em indenização por danos morais. Relevante frisar que a perícia médica realizada nestes autos foi posterior e embasada em vários outros elementos que não constaram (pelo menos não se tem informação a respeito) da perícia feita pelo órgão previdenciário. É dizer, o que aparentemente poderia ser uma doença ocupacional, uma tendinite ocasionada por esforço repetitivo, mostrou-se um quadro anterior de fibromialgia, quando examinado mais a fundo. Recurso parcialmente conhecido e não provido. RELATÓRIO O exmo. Juiz Cristiano Siqueira de Abreu e Lima, em exercício na MM. 11ª Vara do Trabalho de Brasília/DF, proferiu sentença às fls. 530/531, por meio da qual julgou improcedentes os pedidos deduzidos à exordial. O reclamante interpõe recurso ordinário às fls. 539/544, insistindo no pedido de reconhecimento de doença ocupacional e consequente pagamento de indenização por danos morias, reversão do pedido de demissão em dispensa sem justa causa ou rescisão indireta e deferimento das verbas rescisórias.

2 TRT RO - ACÓRDÃO 2ªTURMA/ Contrarrazões pelo reclamado às fls. 546/548vº. Desnecessária a prévia manifestação do Ministério Público do Trabalho, conforme art. 102 do Regimento Interno deste Regional. Em síntese, é o relatório. V O T O 1. Admissibilidade Preenchidos os pressupostos objetivos e subjetivos de admissibilidade, conheço parcialmente do recurso. Deixo de conhecer do apelo em relação à reversão do pedido de demissão, ante a ausência de fundamentação, haja vista que a recorrente não trouxe argumento algum neste particular. 2. Mérito Doença ocupacional Com base na perícia médica realizada nos autos, a instância de origem considerou não estar comprovado o nexo de causalidade entre a doença apresentada pela reclamante e as funções por ela exercidas na empresa e indeferiu a indenização postulada a título de danos morais. A reclamante insiste na ocorrência de doença ocupacional e no pedido de indenização. Reitera o excesso de jornada e de esforço por ela despendido na função de caixa. Alega que a própria reclamada admitiu o acidente do trabalho, conforme consta das folhas de ponto, porém não providenciou e emissão da CAT nem a sua readaptação a uma atividade que não lhe exigisse movimentos repetitivos ou esforços nos membros superiores. De fato, os documentos juntados às fls. 29/32, emitidos pelo INSS, revelam a concessão de auxílio-doença por

3 TRT RO - ACÓRDÃO 2ªTURMA/ acidente de trabalho (91), a favor da obreira, com vigência entre 3/9/2010 e 1º/2/2011, quando expirado o benefício, apesar de ainda verificada, naquela data, certa incapacidade laboral (fl. 32). Após tal período, a reclamante afastou-se algumas vezes por licença médica, mas não mais esteve em gozo de benefício previdenciário. Em 11/5/2011, a reclamante teve negado o pedido de auxílio-doença (31) e, em 8/6/2011, já não foi constatada incapacidade laborativa (fl. 41), apesar de relatórios médicos do Hospital São Francisco, datados de 10/5/2011 e 4/6/2011, relatarem limitações dos movimentos dos membros superiores, dores à compressão dos ombros, sugerindo a readaptação da obreira para uma função na qual não realizasse movimentos repetitivos ou esforços dos membros superiores (fls. 47 e 49). Perícia realizada nestes autos relativa à segurança do trabalho, constatou riscos ergonômicos diários em razão na atividade laboral desempenhada pela obreira, seja em relação à inadequação do assento, à posição em que trabalhava a autora, ou ao peso por ela carregado (fls. 340/345). Neste particular, aliás, o próprio exame admissional já trazia tal agente (ergonomia) como fator de risco para a atividade desempenhada pela reclamante (fl. 146). Determinada a realização de perícia médica, esta descartou nexo causal entre a doença adquirida pela autora e sua função de caixa na empresa (fls. 448/506). Atribuiu as alterações apresentadas pela reclamante a quadro clínico de fibromialgia (patologia não relacionada ao trabalho) e disse estar a autora apta para o trabalho. Fundamentou que a dor alegada pela autora localizava-se em diversos pontos do corpo (trapézio, ombros, quadril, região lateral do joelho...) e era desproporcional à digitopressão realizada e que não havia nos locais tocados sinais inflamatórios ou contraturas musculares. Afirmou que a musculatura dos membros superiores está eutrótica e eutônica e que os movimentos de ombros encontram-

4 TRT RO - ACÓRDÃO 2ªTURMA/ se com amplitude normal, assim como os cotovelos, punhos e mãos. Informou o perito ainda que, Analisando a atividade, com o enfoque na lesão de ombro alegada (que é o enfoque da presente diligência), (...) não verificou na atividade da Reclamante, haver características que são descritas na literatura, com o potencial de causar ou agravar a patologia apresentada pela Reclamante (fl. 480). Disse não haver elementos que permitam atribuir às características do trabalho realizado pela autora na reclamada a síndrome do manguito rotador apresentada tendinite de ombro (fl. 491). E mais. Afirmou que a piora dos sintomas álgicos relatada pela obreira, passados mais de 3 anos de extinto o seu contrato com a empresa ré, destoa do padrão das patologias osteomusculares relacionadas ao trabalho, pois Nos casos comprovadamente influenciados por posturas biomecânicas no trabalho, os sintomas necessariamente melhoram com o afastamento das atividades, ou pelo menos se estabilizam. Do contexto acima, apesar de o laudo apresentado pelo engenheiro civil e de segurança do trabalho descrever circunstâncias laborais em descumprimento à norma regulamentadora aplicável (NR-11) o que, inclusive, foi corroborado pela prova oral -, e a despeito ainda de o INSS reconhecer a natureza ocupacional da doença, não vejo como prosperar a irresignação obreira. Ao descartar o nexo de causalidade entre a enfermidade apresentada pela reclamante (fibromialgia) e o seu labor na empresa reclamada, o perito foi preciso quanto aos fatores que contribuíram para o desencadeamento da doença: quadro depressivo, morfologia do acrômio (uma das partes ósseas que formam a articulação do ombro). Reiterou, inúmeras vezes, que a característica da morfologia de acrômio da reclamante tem potencial lesivo das estruturas tendíneas do ombro e que a forma como o trabalho da reclamante era executado não teria influência sobre a patologia obreira.

5 TRT RO - ACÓRDÃO 2ªTURMA/ Não há nos autos informações aptas a afastar de algum modo tais conclusões. Relevante frisar que a perícia médica aqui realizada foi posterior e embasada em vários outros elementos que não constaram (pelo menos não se tem informação a respeito) da perícia realizada pelo órgão previdenciário. É dizer, o que aparentemente poderia ser uma doença ocupacional, uma tendinite ocasionada por esforço repetitivo, mostrou-se um quadro anterior de fibromialgia, quando examinado mais a fundo. Diante de todo o exposto, assim como a instância de origem, entendo não estar demonstrada nos autos a natureza ocupacional da doença apresentada pela reclamante, razão pela qual nego provimento ao recurso. CONCLUSÃO Ante o exposto, conheço parcialmente do recurso e, no mérito, nego-lhe provimento. Por tais fundamentos, ACORDAM os Desembargadores desta Eg. Segunda Turma do Tribunal Regional do Trabalho da Décima Região, à vista do contido na respectiva certidão de julgamento, aprovar o relatório, conhecer parcialmente do recurso ordinário e, no mérito, negar-lhe provimento, tudo nos termos do voto do Desembargador Relator. Ementa aprovada. Brasília (DF), 31 de maio de 2017 (data do julgamento) Assinado digitalmente MÁRIO MACEDO FERNANDES CARON Desembargador Relator