PEQUENAS EMPRESAS DE SANTA CATARINA - SEBRAE/SC DECISÃO

Transcrição

1 AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO SANTA CATARINA RELATOR : MIN. DIAS TOFFOLI AGTE.(S) :DINÂMICA ASSESSORIA EMPRESARIAL E CONSULTORIA LTDA :JOSÉ GERALDO DA COSTA LEITÃO :UNIÃO :PROCURADORIA-GERAL FEDERAL :SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO - SESC E OUTRO(A/S) : MARCOS JOSÉ DA SILVA ARZUA E OUTRO(A/S) :SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DE SANTA CATARINA - SEBRAE/SC : JULIO CESAR SAMPAIO TEIXEIRA E OUTRO(A/S) :INSTITUTO NACIONAL DE SEGURO SOCIAL - INSS :PROCURADORIA-GERAL FEDERAL DECISÃO Vistos. Dinâmica Assessoria Empresarial e Consultoria Ltda. interpõe tempestivo agravo regimental em face da decisão monocrática de fls. 284, de lavra do Ministro Sepúlveda Pertence, que negou seguimento ao recurso extraordinário, nos seguintes termos: RE, a, contra acórdão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região assim ementado (f. 209): TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL PARA O SESC E SENAC. EMPRESA PRESTADORA DE SERVIÇOS. ART. 4º DO DECRETO-LEI Nº 8.621, ART. 3º DO DECRETO-LEI Nº 9.853/46 E ART. 577 DA CLT. ART. 240 DA CF. 1. As contribuições compulsórias ao SENAC e ao SESC serão devidas pelos estabelecimentos comerciais subordinados à Confederação Nacional do Comércio, de acordo com o enquadramento mencionado pelo art. 577 da

2 CLT, nos termos do art. 4º do Decreto-lei nº 8.621/46 e do art. 3º do Decreto-lei nº 9.853/ As empresas prestadoras de serviços são contribuintes das contribuições ao SESC e SENAC, estando abrangidas pela noção ampla de estabelecimento comercial e enquadradas no plano sindical da Confederação Nacional do Comércio, conforme decisão da Primeira Seção do Egrégio Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Recurso Especial nº SC. 3. A exação em tela é legal, não existindo violação ao princípio da legalidade tributária. 4. À sociedade civil que exerce atividade econômica com fins lucrativos, como é a autora, que se dedica à prestação de serviços em caráter profissional, é dado o tratamento peculiar dispensado a atividades comerciais típicas, sendo modernamente considerada como empresa. 5. O art. 240 da CF recepcionou as contribuições ao SESC e ao SENAC e toda a sua legislação. 6. Apelação improvida. Lê-se ainda do voto condutor do acórdão (f. 205): Observa-se, pois que a exigência das referidas contribuições está relacionada com a vinculação sindical. O art. 577 da CLT, expressamente referido nos dispositivos mencionados, estabelece que o plano básico do enquadramento sindical está fixado no Quadro de Atividades e Profissões em anexo. Cumpre salientar que dentre as categorias econômicas expressas em tal artigo estão as empresas prestadoras de serviços. Assim as empresas de prestação de serviços estão abrangidas pela noção ampla de estabelecimento comercial e estão enquadradas no plano sindical da Confederação Nacional do Comércio, o que as torna contribuintes das contribuições ao SESC e SENAC. 2

3 Alega o RE, em síntese, violação dos artigos 149; 150, I e III, a e b; 170 e 195, 6º, da Constituição. Aduz, em suma, que a recorrente não se inclui na categoria de contribuinte da exação, uma vez que não é empresa comercial, nem tampouco é beneficiada pelo recolhimento da contribuição. Decido. A controvérsia não dispensa a análise da legislação infraconstitucional pertinente quanto à matéria de fundo - saber se a empresa prestadora de serviço em questão possui ou não natureza comercial e, consequentemente, se está vinculada ao rol daquelas que devem recolher a contribuição para o SESC/SENAC (art. 577 da CLT). A alegada violação dos dispositivos constitucionais invocados seria, se ocorresse, indireta ou reflexa, que não enseja reexame na via do recurso extraordinário: incide, mutatis mutandis, o princípio da Súmula 636. Nego seguimento ao recurso (art. 557, caput, do C.Pr.Civil). Alega a agravante violação ao art. 150, I; e III, a e b, da Constituição Federal. Afirma que a controvérsia não se funda na natureza comercial ou não da empresa, mas na legitimidade da exigência de recolhimento da contribuição para o SESC/SENAC às empresas prestadoras de serviço. Aduz, ainda, que: (...) o acordão não se refere à recorrente circunstancialmente, mas a todas as prestadoras de serviços, numa noção que o próprio acordão diz ser ampla portanto não estrita. Logo, a matéria não é de perquirição de fatos ou de prova das condições particulares da empresa. A matéria cingese à interpretação da norma jurídica constitucional. (...) (fl. 293) Decido. 3

4 Assiste razão à agravante quanto à não incidência da Súmula 279/STF, ao caso em tela. No acordão contra o qual se insurge o presente recurso extraordinário, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região concluiu pela legalidade da exigência da contribuição ao SESC/SENAC às empresas prestadores de serviço, por considerar que estas estão abrangidas pelo conceito de estabelecimento comercial. De fato, não há divergência, no caso concreto, sobre a natureza da empresa agravante. É que se vê da leitura do trecho do voto do Eminente Relator: Assim, as empresas de prestação de serviços estão abrangidas pela noção ampla de estabelecimento comercial e estão enquadradas no plano sindical da Confederação Nacional do Comércio, o que as torna contribuintes das contribuições ao SESC e ao SENAC. Por conseguinte, não há que se falar em ausência de previsão legal para exigência de tais contribuições das empresas prestadoras de serviços, não existindo violação ao princípio da legalidade tributária (arts. 5º, II e 150, I da CF c/c arts. 9º, I, 97, I, II, III e IV, 109, 110 e 121, todos do CTN). (...) Assim, reconsidero a decisão agravada e passou proferir nova decisão. Quanto à questão relativa à exigência de recolhimento da contribuição ao SESC/SENAC às empresas prestadoras de serviço, esta Corte tem se posicionado no sentido de ser a cobrança admissível enquanto não for criada entidade sindical de grau superior com o objetivo de orientar, coordenar e defender todas as atividades econômicas relacionadas à prestação de serviços. Nesse sentido: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. PROPÓSITO MODIFICATIVO. INTERPOSIÇÃO DE DECISÃO MONOCRÁTICA. CONHECIMENTO COMO AGRAVO REGIMENTAL. TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÕES AO SESC E 4

5 AO SENAC. EMPRESA PRESTADORA DE SERVIÇOS. A Segunda Turma desta Suprema Corte decidiu haver sujeição passiva das empresas prestadoras de serviços, que explorem atividade econômica com intuito lucrativo, às Contribuições destinadas ao Sesc e ao Senac, enquanto não for criada entidade sindical de grau superior com o objetivo de orientar, coordenar e defender todas as atividades econômicas relacionadas à prestação de serviços. Agravo regimental ao qual se nega provimento. (RE ED/PR, Segunda Turma, Relator o Ministro Joaquim Barbosa, DJe de 10/8/2012) No mesmo sentido, veja-se o trecho do voto do Ministro Joaquim Barbosa, no RE AgR/PR, Segunda Turma, DJe de 31/3/2011, in verbis: Parece-me que a questão resolve-se com a contextualização das atividades econômicas e com a correção do conceito que a agravante equivocadamente atribui à palavra comércio. Segundo nosso sistema jurídico, comércio e a prestação de serviços com intuito lucrativo são atividades econômicas compatíveis do ponto de vista da organização do trabalho e do apoio às categorias profissionais mais amplas. De fato, diversos textos legais estabelecem uma relação de pertinência entre comércio, como gênero, e a venda de mercadorias e a prestação de serviços como espécies. Nesta acepção, comércio denota toda atividade econômica realizada com habitualidade, de modo organizado e com o objetivo de obtenção de aumento patrimonial individual. Por exemplo, o revogado art. 119 do Código Comercial caracterizava o banqueiro como comerciante (Lei 556/1850). O General Agreement on Trade of Services (GATS) foi internalizado como Acordo Geral sobre o Comércio de Serviços. Mesmo do ponto de vista econômico geral e tradicional, tanto a mercancia como a prestação de serviços pertencem ao mesmo setor, sem a necessidade de distinção. Comércio e 5

6 serviços recebem acepções incompatíveis nas hipóteses em que o legislador entende necessário apartar as palavras de seus sentidos usuais e conhecidos pela população geral ou quando a separação é necessária para alcançar compatibilidade constitucional. Não é o caso da atual configuração dos tributos cuja validade se desafia. Enquanto não for criada uma entidade de grau superior para defender e organizar os interesses econômicos relativos apenas aos prestadores de serviços, capaz de gerir serviços sociais exclusivos para a subcategoria, o exercício da atividade econômica com objetivo de lucro pessoal desenvolvida pela agravante justificará sua sujeição passiva às contribuições previstas no art. 240 da Constituição. Ante o exposto, reconsidero a decisão agravada e, firme nos precedentes supra aludidos, nego seguimento ao recurso extraordinário, prejudicado o agravo regimental. Publique-se. Brasília, 27 de maio de Ministro DIAS TOFFOLI Relator Documento assinado digitalmente 6