TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO 3ª REGIÃO

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1 Setima Turma Publicacao: 06/02/2015 PODER JUDICIÁRIOAss. Digital em 30/01/2015 por FERNANDO LUIZ GONCALVES RIOS NETO Relator: FLGRN Revisor: LVL RECORRENTE: PDCA ENGENHARIA LTDA. RECORRIDO: JOSÉ FERREIRA DE SOUZA EMENTA: SALÁRIO SEM TRABALHO. DIVERGÊNCIA ENTRE PERÍCIA DO INSS E DO MÉDICO DO TRABALHO DA EMPRESA. REPARAÇÃO DEVIDA PELA EMPRESA. Constatada a divergência entre pareceres médicos advindos da empresa e da autarquia previdenciária, cabe à empregadora, e não ao empregado, buscar a solução para o impasse. Isso porque não se pode admitir que o reclamante fique impedido de trabalhar, sem receber salários e sem a percepção de benefício previdenciário. Devidos, pois, os salários do respectivo período de afastamento, ante a atrativa responsabilidade da empresa. RELATÓRIO O juízo da 5ª Vara do Trabalho de Uberlândia, pela sentença de fls. 128/131, julgou parcialmente procedentes os pedidos iniciais para condenar a reclamada ao pagamento das parcelas descritas no dispositivo de fls. 130/131. Recurso ordinário interposto pela reclamada às fls. 132/135. Pugna pela revisão da sentença quanto aos salários deferidos, indenização por danos morais, aplicação do art. 477 da CLT e contribuições previdenciárias. Contrarrazões às fls. 151/153. É o relatório.

2 FUNDAMENTAÇÃO. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE Satisfeitos os requisitos intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade, conheço do recurso interposto pela reclamada. JUÍZO DE MÉRITO RECURSAL PAGAMENTO DE SALÁRIOS DESDE A CESSAÇÃO DO BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO ATÉ O TERMO FINAL DO CONTRATO DE TRABALHO O juízo de origem condenou a reclamada ao pagamento dos salários referentes ao período de 12/05/2011 a 25/01/2013. Insurge se a reclamada. Afirma que não há um único documento que comprove que o pedido administrativo junto à autarquia previdenciária foi negado. Relata que não há duvidas que após 31/05/2011 o reclamante tentou novo benefício previdenciário ou prorrogação do anterior, conforme confessado na exordial, ou seja, seu contrato estava suspenso, pelo menos até apreciação administrativa da autarquia previdenciária para concessão ou não do benefício. Após tal período, não há um único documento que comprove que o reclamante comunicou a reclamada que foi considerado apto inapto por aquela (fl. 133). Pois bem. Na petição inicial, o reclamante alegou que foi contratado em 04/02/2010, mas em 20/08/2010 sofreu acidente de moto, ficando 21 dias internado e recebendo auxílio doença no período de 05/09/2011 a 12/05/2011. Segundo a petição inicial, o reclamante foi considerado apto pelo INSS a retornar ao trabalho, mas foi considerado inapto pelo médico do trabalho da empresa em 31/05/2011. Alega que começou um entrave entre o INSS e o médico do trabalho que não o considerava apto. Aduziu que permaneceu afastado do trabalho, sem receber salários ou auxílio doença, de 12/05/2011 até

3 25/01/2013, quando foi considerado apto pelo médico do trabalho, mas no mesmo dia, recebeu a notificação de dispensa. A reclamada, por sua vez, sustentou que o reclamante não retornou ao trabalho em nenhum momento, após ter sofrido o acidente. Assentados estes registros, o acervo dos autos demonstra que, ao contrário do aduzido pela reclamada, o reclamante retornou ao trabalho, mas foi considerado inapto pelo médico do trabalho, conforme documento de fl. 19, em 31/05/2011, por médico indicado pela reclamada (documentos de fls. 20 e 33) e com o nome da empresa no atestado. Extrai se, claramente, dos autos que houve divergência entre pareceres médicos advindos da empresa e da autarquia previdenciária, sendo que o reclamante ficou impedido de trabalhar, sem receber salários, mas também sem a percepção de qualquer benefício da autarquia previdenciária. Somado a isto, certo também que o reclamante cumpriu sua parte no contrato de trabalho, colocando se à disposição da empresa naquele período (art. 4º da CLT). De modo que, se a empregadora questionava a decisão do órgão previdenciário, cabia a ela, e não ao empregado, buscar a solução para a divergência de opinião entre seu médico do trabalho e os peritos médicos do INSS. Isso porque não se pode admitir que o empregado fique privado do recebimento de salários enquanto espera uma solução do impasse criado pela empresa, estando vigente o contrato de trabalho que, na forma legal, deixou de ser interrompido ou suspenso. Aliás, mesmo reconhecendo a inexistência de culpa da empregadora, no que tange ao cancelamento do benefício, o empregado, parte hipossuficiente na relação, não poderia permanecer na incerteza quanto à sua subsistência. Não se perca de vista a possibilidade de a reclamada readaptar o reclamante em função compatível com as suas condições de saúde, e não simplesmente negar lhe o direito de retornar ao trabalho. Desse modo, o entendimento da jurisprudência deste Regional, em casos similares: EMENTA: APTIDÃO PARA O TRABALHO. LAUDO PERICIAL MÉDICO EMITIDO PELO INSS. ACATAMENTO PELA EMPRESA. Cabe ao empregador que questiona o

4 resultado do laudo médico pericial do INSS, e não ao empregado que pretende seu retorno ao emprego, buscar a solução para a divergência de opiniões acerca da capacidade ou incapacidade laborativa do empregado. Constatando se que o autor, tendo recebido alta da Previdência Social, foi considerado inapto pelo médico do trabalho da empresa, ficando assim privado de receber tanto o benefício previdenciário quanto os seus salários, faz jus ao pagamento dos valores postulados. ( RO, publicação: 31/10/2012, Oitava Turma, Relator: Convocado Carlos Roberto Barbosa) EMENTA: DIVERGÊNCIA ENTRE CONCLUSÕES DA PERÍCIA DO INSS E MÉDICO DO TRABALHO DA EMPRESA RECLAMADA. RETORNO AO TRABALHO IMPEDIDO. NECESSIDADE DE REPARAÇÃO. Reprovável a conduta da empregadora que, ciente da cessação do benefício previdenciário da reclamante, obstou, por vezes, seu retorno ao trabalho, deixando a obreira desamparada financeiramente, já que ela permanecia sem receber o auxílio doença ou os salários, em um inadmissível "limbo jurídico". Certo é que, a princípio, prevalece a perícia médica realizada pelo INSS, que conclui pela aptidão da trabalhadora, ainda que divergente o diagnóstico do médico do trabalho do empregador (artigo 170 do Decreto 3.088/99). Competia à reclamada, pois, reintegrar a reclamante e, em seguida, encaminhá la novamente ao Órgão Previdenciário. Ao revés, quedou se inerte, o que ensejou uma situação de indefinição em relação à obreira, a qual vem se arrastando por anos e anos. Correta, pois, a decisão de origem que determinou a reintegração da autora com o pagamento de salários, 13º salários e FGTS do período em que não houve pagamento do benefício previdenciário. ( RO, Publicação: 23/01/2012, Sexta Turma, Relator: Convocado Jose Marlon de Freitas.

5 EMENTA: APTIDÃO PARA O TRABALHO LAUDO PERICIAL MÉDICO EMITIDO PELO INSS ACATAMENTO PELA EMPRESA. Cabe ao empregador que questiona o resultado do laudo médico pericial do INSS, e não, ao empregado que pretende seu retorno ao emprego, buscar a solução para a divergência de opiniões acerca da capacidade ou incapacidade laborativa do empregado. Constatando se que por diversas vezes o empregado, tendo recebido alta da Previdência Social, foi considerado inapto pelo médico do trabalho da empresa, ficando assim privado de receber tanto o benefício previdenciário quanto os seus salários, faz ele jus ao pagamento dos últimos, porquanto além de ser merecedor de fé o documento público, que deve ser acatado, o empregado cumpriu sua parte no contrato de trabalho, colocando se à disposição da empresa naqueles períodos. O questionamento da decisão do órgão previdenciário não autoriza que se transfira ao empregado o ônus da renitência patronal. ( RO, Publicação: 05/03/2010, Segunda Turma, Relator: Sebastiao Geraldo de Oliveira). Diante do exposto, nego provimento. DANOS MORAIS O juízo de origem condenou a reclamada ao pagamento de R$2.000,00, de indenização por dano moral, tendo em vista o fundamento de que a ausência do pagamento de salário por longo período trouxe abalo moral ao reclamante. Insurge se a reclamada. Aduz que não há culpa, não podendo suportar os danos. Sem razão. Cumpre salientar que a responsabilidade civil extrapola a culpa, que é apenas um de seus fatores da obrigação de indenizar. No caso, o dano injusto, merece ser reparado. De modo que o salário, por ser fonte primária da subsistência, constitui direito fundamental, por isso constitucionalmente protegido (CR, art.

6 7º, inciso X). Sendo assim, não há dúvidas de que o atraso no pagamento dos salários e das verbas rescisórias ocasiona transtornos e dissabores, que afetam diretamente a ordem da sua subsistência material e, de consequência, atributo da personalidade moral da pessoa do trabalhador. Nego provimento. MULTA DO ART. 477 DA CLT No caso, o reclamante foi dispensado em 25/01/2013, com aviso prévio indenizado e teve o acerto rescisório em 04/02/2013, dentro do prazo previsto no parágrafo sexto do art. 477 da CLT, ao contrário do fundamento do juízo de origem para o deferimento da multa (sentença fl. 129v). No entanto, como se viu no tópico anterior, as verbas rescisórias não foram integralmente quitadas, havendo diferenças a serem pagas ao reclamante. Nesse sentido, registre se que, em 2009, o Tribunal Superior do Trabalho cancelou o entendimento consolidado na OJ nº 351 da SDI I, passando a ser cabível a multa do artigo 477, 8º, da CLT, mesmo quando houver fundada controvérsia quanto à existência da obrigação cujo inadimplemento gerou a sua incidência. Desse modo, não há como afastar a aplicação da multa prevista no 8º do artigo 477 da CLT. Nego provimento. CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS Afirma a reclamada que afastada a condenação, deve também ser afastada a condenação ao pagamento relativo às contribuições previdenciárias. Alega ainda, em eventualidade, que a Justiça do Trabalho é incompetente para determinar o recolhimento de contribuições previdenciárias. Sem razão. Mantida a condenação, devido recolhimento das contribuições previdenciárias, tal qual determinado pelo juízo de origem. No mais, por meio de decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal, nos autos do RE /PA, de repercussão geral, ficou

7 afastada a competência da Justiça do Trabalho para a execução de contribuições previdenciárias incidentes sobre os salários pagos durante o período contratual reconhecido em juízo, condição que não é o caso dos autos. Mantenho. CONCLUSÃO O Tribunal Regional do Trabalho da Terceira Região, por sua SÉTIMA Turma, unanimemente, conheceu do recurso; no mérito, sem divergência, negou lhe provimento. Belo Horizonte, 29 de janeiro de Fernando Luiz G. Rios Neto Desembargador Relator LGAG