SOCIEDADE DE IN-SEGURANÇA E DES-CONTROLE DOS TERRITÓRIOS: a diferenciação das UPPs cariocas a partir de sua contextualização geográfica.
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- Renata Amorim Fortunato
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1 Universidade Federal Fluminense UFF Francisco Sarubi 1 Diego Garcia 2 1 Bolsista PIBIC-CNPq do curso de graduação em Geografia franciscosarubi@id.uff.br 2 Aluno de graduação do curso de Geografia dgarcia@id.uff.br Professor: Rogério Haesbaert da Costa SOCIEDADE DE IN-SEGURANÇA E DES-CONTROLE DOS TERRITÓRIOS: a diferenciação das UPPs cariocas a partir de sua contextualização geográfica.
2 Niterói, 2014 Introdução Este trabalho é resultado de pesquisa vinculada ao PIBIC-CNPq sob o título Sociedade de In-segurança e Des-controle dos territórios e orientação do professor Dr. Rogério Haesbaert da Costa. A pesquisa tem por foco uma abordagem que envolve a diferente contextualização social e geográfica das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) no município do Rio de Janeiro. A homogeneização promovida por uma política genérica de pacificação, oculta a heterogeneidade histórico-geográfica das favelas no interior da cidade. A interpretação da sociedade contemporânea enquanto sociedade biopolítica de insegurança (ou de controle, segundo uma linguagem deleuzefoucaultiana) e as dinâmicas des-re-territorializadoras que nela ocorrem, visam questionar a lógica e compreender o papel do território nesta sociedade. Diante dessa realidade, objetiva-se analisar inicialmente as dinâmicas de relativo fechamento e aquilo que denominamos processos de contenção territorial no espaço urbano carioca. No desdobramento efetuado focam-se as repercussões socioespaciais da chamada política pacificadora de instalação das UPPs no município do Rio de Janeiro como tentativa no próprio discurso oficial de novo controle de territórios pelo Estado. Os espaços favelizados são caracterizados pela precariedade, onde muitas vezes os moradores são submetidos à condição de vida nua, usando o termo de Giorgio Agambem, no qual seu papel sociopolítico definido dentro da ordem instituída é desvalorizado e eles são vistos basicamente enquanto população (no sentido foucaultiano), em sua reprodução biológica e ocupação física de espaços, objeto, assim, da biopolítica. As UPPs tentam modificar essa condição e restituir um mínimo de cidadania a essas populações, o que nem sempre é alcançado, na medida em que a própria polícia continua atuando através de políticas militarizadas de exceção.
3 Diante dessa condição de vida nua o Estado tem papel de agente da contenção territorial que pode ser definida a partir da metáfora da barragem / barramento visando à contenção ou retenção sempre direcionada em relação ao controle da fluidez, dos fluxos. Isso ocorre tanto na forma de barreiras ( fronteiras, muros, no caso de territórios-zona) quanto de pontos de desconexão ou canalização de dutos (no caso de redes e territórios-rede). A partir disto, as UPPs se configuram como aparato legal de controle dos territórios contidos. Objetivos A pesquisa Sociedade de In-segurança e Des-controle dos Territórios, sob uma dinâmica da diferenciação na contextualização geográfica da política de pacificação em curso nas favelas da cidade do Rio de Janeiro, objetiva traçar uma geografia detalhada dos processos de des-re-territorialização encontrados pelas regionalizações propostas. A metodologia utilizada para tal, leva em consideração a coleta de notícias dos veículos de comunicação de maior difusão e outros de menor expressão, sendo o jornal O Globo a principal fonte justamente pelo fato de priorizar as áreas mais valorizadas e de propriedades do poder hegemônico, constituindo já uma diferenciação no trato e divulgação de notícias relacionadas às UPPs. Assim sendo, já propõe uma regionalização ao apresentar os problemas de determinadas áreas em detrimento de outras. A conseqüência do trabalho midiático se encontra em influenciar as políticas públicas a atuarem com maior eficiência em algumas UPPs, invisibilizando outras não noticiadas. Tal consideração é importante por apresentar uma geografia das Unidades de Polícia Pacificadora na cidade e dialogar com temas específicos da área de conhecimento, segundo uma dinâmica territorializadora que impõe às populações a condição de vida nua, segundo Giorgio Agambem, em que estão são vistas apenas como objeto do
4 biopoder e biopolítica sendo privadas do exercício político, das decisões urbanísticas projetadas para suas comunidades em prol da re-valorização dos espaços da cidade do Rio de Janeiro, tendo em vista os megaeventos que serão sediados. A regionalização das UPPs começa por levar em consideração o tempo de instalação de cada uma, bem como a história de cada favela, considerando assim as distintas características de cada comunidade pacificada. Pretende-se assim traçar um mapa estratégico para avaliar as repercussões profundamente diferenciadas dessa política no cenário de reterritorialização sofrido pelo espaço urbano carioca. A importância da pesquisa se encontra na possibilidade do aprimoramento de metodologias que acumulem conhecimentos necessários para a continuação das questões que ainda se farão na análise do processo de pacificação em curso na cidade do Rio de Janeiro. Nesse sentido é preciso conciliar uma produção cartográfica que localize e espacialize, segundo uma perspectiva regionalizante e dentro de determinadas categorias elencadas, as UPPs. Por fim, a diferenciação serve como uma contextualização geral e interna de cada favela ocupada pelas Unidades de Polícia Pacificadora. Metodologia O desenvolvimento da pesquisa seguiu as seguintes etapas: a) levantamento bibliográfico preliminar; b) discussão teórico-metodológica, a partir de leituras selecionadas; c) coleta de notícias relacionadas principalmente com o tema específico dos territórios das UPPs no município do Rio de Janeiro, onde os processos em pauta tem tido maior evidência; d) catalogação e sistematização das informações, visando o mapeamento dos dados e a posterior reelaboração teórico-conceitual e; e) quadro de periodização/regionalização das UPPs instaladas. Foram realizadas a coleta, catalogação e sistematização das informações obtidas principalmente no jornal de maior circulação diária no Rio de Janeiro O Globo -, refletindo a leitura da mídia hegemônica e servindo como objeto de análise pelo grau de difusão como veículo de comunicação. Outros contrapontos também são utilizados, como os jornais O Dia e Folha, bem como
5 sites na internet de análises críticas e alternativas e também de posicionamentos oficiais das próprias UPPs. Para a catalogação das informações foram elaborados dois quadros sínteses: no primeiro são preenchidos os dados referentes às diversas categorias elaboradas no decorrer da pesquisa, se caracterizando por ser mais sintético e quantitativo; já no segundo, foi feito um resumo das informações obtidas no primeiro quadro, por objetivar uma análise mais acurada e qualitativa. Nele se faz a análise dos processos que determinam quais categorias possuem maior relevância, maior apelo midiático, maior inserção e relações no cotidiano das diversas comunidades onde se encontram instaladas Unidades de Polícia Pacificadora. Por fim, temos a etapa do trabalho em que podemos traçar o quadro de Regionalização / Periodização das UPPs instaladas, já que nosso objetivo é analisar a diferenciação socioespacial da repercussão dessas políticas no conjunto das UPPs instaladas no município do Rio de Janeiro. Com isso evitamos generalizações muito comuns que tratam as UPPs como um conjunto uniforme, ao mesmo tempo com um passado e um conjunto de repercussões muito semelhantes, como se cada conjunto de comunidades faveladas não acumulasse toda uma história e não estivesse contextualizada numa geografia própria na teia da cidade. Resultados Preliminares Através da análise desses dados, especialmente o período de instalação das UPPs, as características pretéritas e a implementação diferenciada de projetos associados à política pacificadora, procedemos a uma regionalização do conjunto de comunidades abrangidas para a construção de um mapeamento estratégico capaz de subsidiar a avaliação das repercussões profundamente diferenciadas dessa política no cenário mais amplo de reterritorialização do espaço carioca, transformação essa intimamente ligada aos megaeventos que a cidade irá sediar nos próximos anos. A diferenciação entre os espaços abrangidos pelas UPPs começa pelo histórico de cada comunidade favelada (desde favelas mais antigas e consolidadas, como a do morro da Providência), a época de criação das UPPs (a primeira em 2008 no morro Santa Marta) e, sobretudo, o contexto geográfico em que estão inseridas, seja em termos de
6 localização/posição no conjunto da cidade, seja em termos das características locais diferenciadas com que as próprias políticas pacificadoras são implementadas. A análise dos resultados apresentou processos muito diferentes de reterritorialização dos espaços de exceção da malha urbana carioca. Enquanto que regiões profundamente inseridas na nova reurbanização público x privada em curso na cidade se incorporam à formalidade, através do acesso a serviços públicos, obras de infraestrutura, turismo, comércio e maior integração com a sociedade, outras permanecem invisibilizadas e se resumem ao controle militarizado do Estado. A estratégia da política de pacificação implantada no estado se desenha pela teia da cidade ao formar os cinturões de segurança em torno dos pontos turísticos, dos palcos dos megaeventos que virão e das principais vias de circulação e mobilidade urbanas. Por fim, os cinturões também são utilizados como estratégia para novas pacificações, como no caso da favela da Maré, cercada entre as UPPs do Complexo do Alemão e a do Parque Alegria no bairro Caju, região portuária da cidade e muito visada pela especulação imobiliária. A regionalização das Unidades de Polícia Pacificadora que a pesquisa propõe leva em consideração relações de proximidade entre as comunidades, bem como a importância estratégica de cada uma no mapa urbano. Sendo assim é possível apontar distinções nos processos de pacificação, ao elencar quais possuem maiores investimentos (Zona Sul), quais servem de contenção/barramento contra o crescimento de um poder externo ao Estado (milícias que atuavam onde hoje se encontra a UPP Batan) e também em quais a presença do tráfico de drogas resiste de forma conflituosa (UPPs do Complexo do Alemão, UPP Mangueira e UPP Rocinha). A re-territorialização em curso nas comunidades cariocas através do slogan da pacificação, cria a des-territorialização forçada daqueles que são objetos apenas da biopolítica e do biopoder. Sob o discurso socioambiental grande parcela dos moradores das comunidades ocupadas enfrentam remoções forçadas casos das UPPs
7 Providência e Babilônia e pela formalização dos negócios e da vida nas favelas o problema é ainda mais agravado. A realocação de moradores em áreas periferizadas da sociedade ajudam a promover processos de resistência. Vínculos de pertencimento, muitas vezes arraigados, oferecem uma força contrária à própria valorização capitalista do solo urbano, principalmente nas favelas da Zona Sul, onde se encontram o processo denominado remoção branca, já que os custos com a formalização e valorização dos aluguéis são altos para os moradores que buscavam na informalidade das favelas uma oportunidade de moradia barata e próxima aos postos de trabalho. Com isso, é forte hoje em algumas comunidades a presença de estrangeiros adquirindo propriedades e/ou instalando pousadas visando aos lucros proporcionados pela Favela S.A.. A implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) no município do Rio de Janeiro sinaliza um processo na construção de projetos que viabilizem a inserção das favelas no mercado formal da cidade. A favela é um território singular e plural em suas singularidades e a homogeneização das políticas públicas dificulta o diálogo com a população local por não reconhecer suas particularidades. Particularidades essas que se diferenciam entre e no interior de cada favela. Concluindo, o reconhecimento dessas minúcias tanto em escala regional (município) tanto em escala local (cada favela em si) deve objetivar um estudo que analise as políticas em curso na cidade do Rio de Janeiro. Bibliografia AGAMBEN, G Estado de Exceção. São Paulo: Boitempo Homo Sacer: o poder soberano e a vida nua /. Belo Horizonte: EdUFMG.
8 BAUMAN, Z Vidas Desperdiçadas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Comunidade: a busca por segurança no mundo atual. Rio de Janeiro: Jorge Zahar CAMPOS, A Do quilombo à favela: a produção do espaço criminalizado no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. DELEUZE, G Post-scriptum sobre as sociedades de controle. Conversações. Rio de Janeiro: Editora 34. ELIAS, N (1939). O Processo Civilizador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. ELIAS, N. e SCOTSON, J Os Estabelecidos e os Outsiders. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. FOUCAULT, M Securité, Territoire e Population: Cours au Collège de France, Paris: Gallimard (1976). Em Defesa da Sociedade. São Paulo: Martins Fontes. HAESBAERT, R O Mito da Desterritorialização. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. HARVEY, D A Condição Pós-Moderna. São Paulo: Loyola. LEFEBVRE, H O Direito à Cidade. São Paulo: Moraes. SANTOS, M A Natureza do Espaço. São Paulo: Hucitec.
INSTITUTO PEREIRA PASSOS IPP RIO
Localização das UPPs 12 19 18 1- Escondidinho / Prazeres 2- Fallet-Fogueteiro / Coroa 3- Providência 4- Cidade de Deus 5- Borel 6- Macacos 7- Chapéu Mangueira / Babilônia 8- Turano 9- São Carlos 10- Cantagalo
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