Governança de Terras em Países Emergentes

Transcrição

1 Governança de Terras em Países Emergentes Adâmara S. G. Felício Economista, Mestranda em Desenvolvimento Econômico Unicamp Integrante GGT III Seminário Internacional de Governança de Terras e Desenvolvimento Econômico

2 Objetivo Demonstrar através da revisão da literária o processo de aplicação de princípios da governança fundiária em países classificados como emergentes, em que a situação da segurança da posse da terra é precária e não há um sistema de gestão de terras apropriado que permita a aplicação das diretrizes básicas da governança responsável propostas pela FAO. 2

3 Introdução O tema sobre governança fundiária e o uso da terra em países emergentes permanece um assunto um tanto quanto negligenciado por muitos estudiosos pelo mundo, apesar de sua notável importância. Apesar da resistência, tal temática vem despertando o interesse de cada vez mais agentes ligados aos organismos de cooperação internacional, com a positiva reavaliação do papel central desempenhado por estudos dos impactos de uma adequada governança de terras sobre a vida social. 3

4 A Terra e seus conceitos A sociedade sempre está relacionada com a terra de alguma maneira e esta relação sempre tende a ficar mais organizada à medida que a sociedade evolui e se organiza. Composta pelos seus aspectos físicos (recurso natural e edificações) e cognitivos (conceito), a terra é tanto uma mercadoria física, quanto um conceito abstrato, estando coberta por águas, como mares e lagos, toda a vegetação natural e variados tipos de edificações e construções. Em todo o mundo, a forma de pensar a terra é variável. No estudo da teoria econômica a terra é tida para Marx como uma contradição no capitalismo, haja vista Polany trata a terra como uma mercadoria não fictícia. 4

5 Governança Fundiária O conceito de Governança Fundiária tem se firmado nas últimas e tem como objetivo conciliar elementos econômicos, políticos e sociais. A Governança Fundiária atua como um instrumento que busca a otimização da gestão da terra. A Governança Fundiária contribui para o aprimoramento da política fundiária. 5

6 Governança Fundiária Responsável (FAO) Propositura inicial do conceito: Documento Buena gobernanza en la tenencia y la administración de tierras, emitido pela FAO (2007), é introduzir a discussão da administração da posse e do uso da terra, diferenciando o termo administração de governança da terra. Administração da Terra: Dimensão instrumental/institucional da gestão das políticas de posse e uso da terra. Governança Fundiária: Dimensão valorativa vinculada ao manejo dos instrumentos na busca da sustentabilidade socioeconômica e ambiental da terra Boa Governança x Débil Governança. 6

7 Ciclo Primário da Governança Responsável Cadastro Gestão do Território Adjudicação/ Titulação Tributação Avaliação RESULTANTES : -RECONHECIMENTO DO TERRITÓRIO -DEFINIÇÃO DAS PROPRIEDADES -BANCO DE DADOS SEGURO ACERCA DAS PROPRIEDADES -AVALIAÇÃO DE MERCADO -TRIBUTAÇÃO ADEQUADA -ORGANIZAÇÃO DO MERCADO DE TERRAS FORMAL -REDUÇÃO DA ESPECULAÇÃO 7

8 Governança Fundiária em Países Emergentes Cenário: Significativo nível de pobreza da população, ocupação desornada, legislação insipiente, dentre outros. O atendimento das questões ligadas à posse e a segurança jurídica demandam a identificação do papel da terra para determinada comunidade e a tipologia das relações sociais e institucionais ali constituídas. Não há um sistema de administração de terras adequado ao país/sociedade que permita o alcance das diretrizes básicas da boa governança fundiária proposta pela FAO. Hipótese: Quando desenvolvidas em países emergentes, as ferramentas de administração de terras produzem resultados congruentes em virtude da inexistência da gestão de terras nestes países. Estes resultados contribuem, de forma eficaz, para a melhoria da organização territorial e urbanização, prevenindo a ocorrência de ocupação irregular de terras rurais e áreas urbanas. 8

9 Condições para a construção de uma Governança Responsável: O atendimento de especificidades culturais e geográficas são importantes no processo de implantação de um sistema de administração de terra em países emergentes, abarcando questões como: A forma de ordenamento do território e as informalidades persistentes nos mercados de terras; Situações de transação oral de parcelas de terra, seja via doação ou herança familiar; Separação no entendimento entre terrenos e edifícios o tratamento no processo de titulação e registro em alguns países emergentes é diferenciado para cada um; Especulação com terras e a possibilidade de aquisição de terras por estrangeiros; Demandas por processos de reforma agrária e as políticas necessárias para viabilização; Portanto, algumas ferramentas específicas se fazem necessárias neste processo de construção: 9

10 Cadastro A governança fundiária em países emergentes, sobretudo aqueles de origem colonial, apresenta características de sobremodo convencionais e é marcada pelo processo de dominação sofrido. Exemplo: administração do território indígena no Brasil, que apresenta ineficiente mapeamento do território e das reservas de terras de direito destes povos tradicionais. A utilização de um sistema que permita uma abordagem cadastral de terras diferenciada pode ser considerada com uma solução para muitos países emergentes, em especial, aqueles com grande parte da população em condições precárias de moradia, favelas e áreas rurais ocupadas. Condições especiais de tecnologia para mapeamento e gerenciamento são necessárias (levantamentos com base no uso de GPS, aplicativos celulares, integração de softwares e bases dantes construídas). 10

11 Governança para a conquista dos Direitos Humanos A terra e a maneira como o indivíduo com ela se relaciona deve ser considerada na construção da Governança Responsável. Novas políticas públicas voltadas para a regularização fundiária e garantia dos direitos sobre a terra devem ser desenvolvidas. Uma sinergia deverá ser gerada entre as ferramentas para a gestão da terra e as políticas de promoção do acesso à terra. Processos de garantia da posse devem ser acompanhados da realização de melhora na infraestrutura (saneamento básico, estradas e vias de acesso, tratamento de lixo e esgoto), investimento em educação e planejamento social para combate à pobreza. 11

12 CONCLUSÃO: Em prol da Boa Governança Fundiária / Governança Responsável em países emergentes, é preciso: Avistar as marcas que os processos históricos, econômicos e sociais deixaram no desenvolvimento de uma sociedade. Construção de políticas e ferramentas específicas capazes de garantir o direito sobre a terra, em um cenário de avanço da escala do poder econômico, que age em favor da sobreposição de seus interesses ao indivíduo de menor renda, negando-lhe o acesso à terra, bem como a sua titulação. Uma governança fraca tem efeitos adversos na estabilidade social, na utilização sustentável do meio ambiente, nos investimentos e no crescimento econômico. Insegurança no direito à vida em situações de governança fundiária deficiente em virtude do aumento de conflitos violentes. A governança fundiária responsável, promove o desenvolvimento social e econômico sustentável, que pode ajudar a erradicar a pobreza e a insegurança alimentar e incentiva o investimento responsável. 12

13 Obrigada