Para aprender sociologia: uma introdução

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1 Para aprender sociologia: uma introdução Rafael José dos Santos Prefácio: Adriano Codato 2017

2 do Autor 1ª Edição 2017 Direitos Reservados desta edição Rafael José dos Santos Contato: Edição e Diagramação Renan Giménez Azevedo Contato: tcc.caxias@gmail.com Capa Arte sobre fotografia de Pexels < S237 Santos, Rafael José dos Para aprender sociologia: uma introdução / Rafael José dos Santos. Prefácio de Adriano Codato Caxias do Sul, p. ISBN Sociologia. I. Título CDU (Objeto e âmbito da Sociologia)

3 Dedico este livro a Gabriel, meu filho, e à memória do professor Octávio Ianni ( ), que em pouco tempo me ensinou tanto.

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5 SUMÁRIO Prefácio... 7 Algumas palavras e agradecimentos Para início de conversa O modo sociológico de pensar O senso comum ou: opinião, opiniões Método e técnica: o caminho e o jeito de andar O que veio antes: um olhar sobre a história e as ideias A história As ideias Alguns nomes dos primeiros tempos Augusto Comte e a Física Social Émile Durkheim e o Fato Social Max Weber: Ação Social e Racionalidade Karl Marx e a crítica do capitalismo O Método do Materialismo A Economia Burguesa (ou o mundo das mercadorias ) A Dominação de uma classe sobre a outra A sociologia hoje Para concluir: um convite Referências (citadas/mencionadas no livro): Anexo I Sugestões de leituras Anexo II Temas contemporâneos da sociologia no Brasil Anexo III Sites de interesse... 76

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7 PREFÁCIO Pierre Bourdieu mencionou certa vez uma fórmula de Carl E. Schorske que resume e expõe bem a predisposição radical da Sociologia: Freud se esqueceu de que Édipo era um rei. Essa lembrança é bem mais que uma correção erudita. Ela põe em evidência o fato de que até mesmo as descobertas da Psicanálise não podem se pretender universais. O Complexo de Édipo não é a única chave para explicar a fixação da libido no sexo oposto no meio familiar durante a segunda infância. Isso porque, como desvendou e proclamou a Sociologia, sociedades diferentes funcionam de maneira diferente em relação ao sexo, à família, à maternidade, à paternidade, ao desejo, etc. E mesmo na nossa sociedade (ocidental, cristã, patriarcal, moderna), o sentido de tudo isso varia enormemente segundo as classes ou os grupos sociais que se considere. Esse temperamento crítico faz com que a Sociologia seja quase sempre uma ciência do contra. Ela vai de encontro às nossas opiniões mais convictas, às nossas certezas evidentes. Tudo aquilo que pensávamos que era, ensina a Sociologia, não é bem assim, ou não é mais assim (pois as sociedades são históricas e os valores mudam), ou nunca foi assim, ou não é assim para todo mundo (pois as pessoas ocupam posições diferentes no espaço social e, por isso, percebem o mundo social de maneiras também diferentes). Seu maior encanto está então no fato de desencantar: dizer, para todos os que estão dispostos a escutar, que tudo aquilo que era tão óbvio, tão simples, tão necessário, tão rotineiro não é bem assim... Essa mágica ao contrário pretende não esconder, mas revelar os mecanismos do truque, já que sua pretensão é iluminar as condições sociais, isto é, os limites, os constrangimentos, as regras e os princípios que estão por trás das nossas ações, e que nem imaginávamos. Se pudéssemos dizer que a Sociologia tem uma obrigação, essa obrigação é denunciar o caráter arbitrário do mundo social. Por que arbitrário? Porque as sociedades não se organizam conforme as leis da lógica, os princípios da razão, as normas do Direito Natural, nem segundo a

8 Palavra Revelada ou a partir de uma moral transistórica válida para todos desde sempre. Sociedades humanas são o produto de decisões às vezes conscientes, às vezes inconscientes dos homens. Por isso, não há (quase) nada de natural nos comportamentos sociais, isto é, conforme a natureza, a essência, a índole dos seres humanos. Assim como não há valores universais, não há uma natureza humana. Somos seres históricos. É surpreendente que a Sociologia precise sempre se defender da acusação de inutilidade ou irrelevância. Justo ela, que fala de todos nós, de como o mundo social é construído e do lugar que, sem o saber, ocupamos nele. Por isso, mesmo aqueles que não vão tomá-la como um ofício deveriam estar comprometidos em aprender suas lições. Ou, ao menos, fazer-se as perguntas fundamentais que ela se faz. Por exemplo: por que afinal nós obedecemos ao poder mesmo quando ele é ilegítimo? ; quais são os efeitos que os sistemas de exploração econômica exercem sobre a forma pela qual as pessoas se relacionam entre si? ; por que, contra todas as evidências, somos obrigados a pensar o mundo social a partir de categorias que nos foram impostas ou pela religião, ou pela tradição ou pela educação? ; que forças são essas que estabelecem que, apesar de todos os conflitos, nós afinal vivamos juntos, isto é, em sociedade? ; e assim por diante. Mesmo sem explicitar teoricamente aqueles princípios que mencionei acima e que estão na base dessa ciência do mundo social, ou melhor, até porque não os explicita assim, conforme o dialeto complicado dos peritos, o livro de Rafael José dos Santos, graças à sua prosa conversada e encorajadora, contorna e desfaz um preconceito renitente diante da Sociologia: a de que ela seria apenas uma disciplina militante, um saber puramente ideológico que se especializou durante um bom tempo a fazer proselitismo político. Generosamente, colocando a função social da Sociologia em outro registro e sublinhando os procedimentos científicos que escoram suas descobertas, Rafael como que diz aos seus leitores: a Sociologia é um saber especial e especializado; mas que fala de vocês, para vocês, do mundo real, das suas práticas quotidianas, da vida de todos os dias; não é uma teoria para decorar e recitar na frente do professor; nem um saber especial que faz de quem o detém um ser especial; é algo para ser

9 usado, assim como se usa uma ferramenta para desmontar um relógio quando se quer ver como ele funciona; e entender o funcionamento do mundo social é a única possibilidade para as pessoas comuns, como nós, estar no comando dele. Eis o verdadeiro sentido subversivo da Sociologia. O livro que você tem nas mãos é uma maneira especialmente sedutora de insistir que quem não conhece o jogo social facilmente é jogado por aqueles que o conhecem. Isso porque quando se recusa a Sociologia, se recusa de maneira fútil um tipo de conhecimento e, junto com ele, o potencial libertador que esse conhecimento pode produzir. Adriano Codato Curitiba, primavera de Doutor em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas, Professor associado da Universidade Federal do Paraná, Brasil

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11 ALGUMAS PALAVRAS E AGRADECIMENTOS Este livro nasceu de minha experiência em sala de aula com estudantes que não estavam se preparando para serem sociólogos e que, geralmente, não compreendiam muito bem o que a sociologia fazia em seus currículos. Embora existam excelentes livros introdutórios (e alguns estão listados ao final como sugestões de leitura), senti a necessidade de buscar uma linguagem que fosse o mais acessível possível, e que ao mesmo tempo fosse um convite ao modo sociológico de pensar. Por isso a intenção deste livro é, efetivamente, ser uma espécie de introdução a introdução. Logo, ele não exclui outros livros que certamente preencherão as lacunas de temas, autores e obras que não foram possíveis de ser contempladas nesta breve apresentação. Pela própria razão de ser deste livro, meu primeiro agradecimento vai para todos os estudantes com quem tive a oportunidade de trabalhar sociologia em sala de aula. Eles foram os primeiros a entrar em contato com parte do que está escrito aqui. Agradeço ao colega e amigo Adriano Nervo Codato, pelo auxílio em alguns itens, principalmente aquele relativo ao método, mas deixo claro que qualquer incompletude é de minha total responsabilidade. À Fábia Berlatto pelo incentivo, e a Renan Giménez Azevedo pela disposição em trabalhar na edição do material. À Mirella, Gabriel e Clara, por suas presenças em minha vida. Caxias do Sul, Outubro de 2011/Março de 2017.

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13 1 PARA INÍCIO DE CONVERSA Provavelmente a Sociologia seja uma novidade para você, aluno do Ensino Médio ou de algum curso superior, ou ainda, quem sabe, apenas alguém que abriu este pequeno livro para saber um pouco mais. Iniciamos aqui nossa conversa. A Sociologia pode estar entrando agora em sua vida, mas a sociedade está ao seu redor, está dentro de você, e você nela, desde os primeiros dias de sua infância. Vamos pensar em um exemplo bem comum: você se comunica com outras pessoas. Mas para que isso aconteça você teve que aprender um código, uma língua. Ela lhe foi ensinada aos poucos, primeiro no ambiente familiar, depois também na escola. O fato de aprender a comunicar-se já é um sinal da presença da sociedade dentro de você. E você não aprendeu apenas isso, mas também a vestir-se, alimentar-se de determinada maneira, comportarse, enfim, uma série de normas e valores que são sociais, vieram de fora para dentro de você. Acontece, contudo, que esse processo de aprendizagem ocorre de tal maneira que aparece a cada um de nós como algo natural, isto é, não social. Além de percebermos o social como natural, também vivenciamos as coisas da sociedade como acontecimentos individuais. Em seu dia a dia, você vai às aulas, faz compras, trabalha, convive com a família e com amigos, fica irritado, feliz, triste. Cada ser humano percebe e sente sua vida como algo particular, pessoal. Entretanto, muitas pessoas vão às aulas, fazem compras, convivem com famílias e amigos, irritam-se, ficam felizes ou tristes. Você dirá: é óbvio que é assim. Sim, é óbvio, mas não é dessa maneira que experimentamos o mundo cotidiano. Nós o vivenciamos como algo pessoal. Estar desempregado, por exemplo, é algo que traz angústia, insegurança e preocupação. Se alguém atravessa uma fase assim, não irá pensar no desemprego como um fenômeno social. Um trabalhador que perdeu o emprego porque aconteceu uma crise financeira mundial

14 14 Rafael José dos Santos Para Aprender Sociologia: Uma Introdução não ficará analisando as razões econômicas e sociais da crise. Ele terá coisas imediatas com as quais se preocupar. Quando você tem que enfrentar o cotidiano da escola, no nível médio ou na faculdade, não irá pensar o tempo todo na estrutura do ensino ou na relação entre a educação, as transformações no mundo do trabalho e suas consequências sociais. Quando vai às compras, não tentará estabelecer vínculos entre os meios de comunicação, a publicidade e os interesses das grandes empresas globais. Ou seja: nem sempre pensamos sobre aquilo que vivenciamos no dia a dia. Por outro lado, em algumas ocasiões pode acontecer de você refletir sobre como as pessoas estão se tornando mais individualistas, consumistas, ou como, na vida contemporânea, o tempo parece menor. Assistindo notícias na TV, você pode indignar-se com a violência e a corrupção. Ou seja, coisas que acontecem na sociedade. Interessar-se por Sociologia é, antes de tudo, interessar-se pela sociedade. Esse é o primeiro passo. O que a Sociologia propõe, e que vou chamar de modo sociológico de pensar é, em primeiro lugar, perceber que muito do que acreditamos ser de ordem natural é, na verdade, social. Em segundo lugar, que muitos acontecimentos que vivenciamos individualmente, são aspectos de processos e fenômenos coletivos. Tudo bem, você poderá dizer, e no que isso me ajuda? Uma primeira resposta pode ser: serve para entender melhor a sociedade. Afinal, você não estuda apenas para ser isso ou aquilo. Você já é um ser social, cidadão ou cidadã, vive direta ou indiretamente os dilemas sociais, as dúvidas e as incertezas de uma sociedade que se transforma de modo cada vez mais rápido. Outra resposta: serve para entender melhor o papel de nossa futura área de atuação na sociedade! No ensino médio ou no início dos estudos superiores a Sociologia que nos é apresentada é geral, introdutória. Ela serve como base para, mais tarde, podermos estudar as sociologias voltadas a áreas mais específicas: Sociologia da

15 1. Para Início de Conversa 15 Educação, da Saúde, Sociologia Jurídica, das organizações, da comunicação. - Ah, mais eu quero ser analista de sistemas!. Em uma fase da história na qual as tecnologias e a vida em sociedade estão cada vez mais misturadas, será que a Sociologia não teria nada a dizer nas áreas tecnológicas, ainda mais? Para desenvolver sistemas, redes, ou para projetar aviões, ninguém precisa da Sociologia, isso é verdade. Mas também é verdade que existirá uma diferença muito grande entre o profissional que só conhece a técnica e aquele que consegue refletir sobre as relações entre técnica e sociedade. A segunda resistência à Sociologia vem da ideia de que há muita teoria e muitos textos para ler. Não vou mentir: é verdade, mas, ao contrário do que muitos acreditam, teorias não são coisas opostas à realidade (você já deve ter ouvido a tal frase na prática, a teoria é outra ). Teorias são conjuntos organizados de explicações que as diferentes ciências constroem, a partir da realidade, para tentar entender o mundo. Nem todas as teorias estão corretas, nem todas duram para sempre, o que obriga os cientistas a substituírem antigas teorias por novas. E, na mesma ciência existem teorias diferentes que tentam explicar os mesmos fenômenos, por isso os cientistas debatem tanto e nem sempre chegam a um acordo. Em relação aos textos e, é claro, a leitura, podemos fazer um breve exercício de sociologia. A sociedade contemporânea caracteriza-se pela enxurrada de imagens e mensagens cada vez mais rápidas, no cinema, na televisão, na internet, nos celulares, etc.. Os objetos e as modas também são substituídos muito rapidamente, como na música dos Titãs, A melhor banda dos últimos tempos da última semana. Pois bem, nessa sociedade, cada vez mais, ler um livro é uma experiência parecida com percorrer a estrada entre Rio de Janeiro e São Paulo em uma carroça, depois de termos nos acostumado a fazer o trajeto de avião. Tudo muito lento, demorado, exigindo um tempo (e paciência) que não temos.

16 16 Rafael José dos Santos Para Aprender Sociologia: Uma Introdução Solução mágica para isso? Não, não há. Mas como eu disse lá no início, vivenciamos as coisas na sociedade como se elas só acontecessem com a gente. Então, muitos pensam que a dificuldade (ou a preguiça ) para ler são traços pessoais e acabam por acharem-se culpados. Caso você se sinta assim, relaxe. Quem sabe este livro não possa ser o início de um novo hábito? Um momento sem pressa, com tempo para pensar? Finalmente, no ensino superior privado há ainda outra resistência à Sociologia. Como em muitas faculdades os estudantes pagam por matéria, alguns acham que a Sociologia entra como espécie de caçaníqueis. Talvez esse raciocínio venha da ideia de que ela não serve para nada, não está relacionada com a futura profissão. O caso é que a Sociologia está também nos currículos das escolas e universidades públicas, o que significa que ela não é uma desculpa para cobrar mais taxas. A presença da Sociologia nas estruturas curriculares tem o papel de nos fazer pensar, de modo organizado, sobre a sociedade em que vivemos, independente de desejarmos ser dentistas ou filósofos, engenheiros ou professores, afinal, somos antes de qualquer coisa seres sociais.

17 2 O MODO SOCIOLÓGICO DE PENSAR Poderia começar assim, como muitos começam: a palavra Sociologia se formou de um termo do latim, socius, e de um grego, logos, e poderia ser traduzido como o estudo da sociedade. Ajudou? Talvez não muito. Estudar a sociedade assim, de modo geral, é algo praticamente impossível, pois ela é grande demais. Seria mais correto dizer que a Sociologia estuda fenômenos ou processos sociais, ou então, que estuda fenômenos sob o ponto de vista social. Na impossibilidade de estudar a sociedade inteira, posso pesquisar a violência urbana, a pobreza rural, os comportamentos sociais seja de consumidores de roupas ou de torcidas de futebol, o papel da comunicação na vida das pessoas, o funcionamento do congresso ou os processos de tomada de decisão em órgãos do governo, só para mencionar alguns exemplos. Quando um sociólogo decide estudar um desses processos, ele estará, ao mesmo tempo, estudando algo específico (o comportamento de torcidas de futebol), mas que revelará algo sobre a sociedade na qual aquele comportamento específico acontece. Além disso, há fenômenos que à primeira vista não parecem sociais. Sabemos que a internet é possível devido aos grandes avanços científicos dos últimos anos. Posso estudá-la do ponto de vista tecnológico, como uma rede de computadores, servidores, mas também posso estudá-la focalizando as transformações que ela trouxe no modo das pessoas se relacionarem com o mundo e com as outras pessoas. Posso até chegar à conclusão que não foi a tecnologia que mudou a sociedade, mas que a sociedade criou as condições para que a tecnologia chegasse onde chegou! Ou ambas as coisas ao mesmo tempo. Entretanto, as pessoas vivendo em sociedade formam opiniões sobre comportamentos de torcidas de futebol ou sobre o papel da internet no mundo atual. No dia-a-dia formulamos opiniões sobre os fatos ao nosso redor. Essas opiniões são explicações que construímos, para nós mesmos e para os outros, baseadas no que vemos diretamente, ou no que assistimos na

18 18 Rafael José dos Santos Para Aprender Sociologia: Uma Introdução televisão, lemos na internet ou nos jornais impressos ou simplesmente ouvimos falar por aí. Formamos nossas opiniões com nossas mentes e nossos sentimentos, criticamos, elogiamos, ficamos chateados, comovidos ou irritados. E gostamos de dizer o que pensamos. E é ótimo que seja assim, e é maravilhoso podermos expressar nossas opiniões, debatê-las, escrevê-las nos comentários de notícias dos sites, nos blogs e nas conversas informais. Na sala de aula as opiniões dos estudantes são, ou deveriam ser, incentivadas e valorizadas. Sociólogos, como quaisquer outras pessoas, também formulam opiniões sobre a vida. Mas, se temos nossas próprias explicações, para que serve uma ciência da sociedade? 2.1 O senso comum ou: opinião, opiniões. Há uma diferença entre as opiniões que formulamos no cotidiano e as explicações ou interpretações construídas pelas pesquisas sociológicas. Em outras palavras: existe um modo sociológico de pensar. Quando um sociólogo fala, por exemplo, nas diferenças sociais que existem entre as diferentes regiões do Brasil, espera-se, ou que ele tenha lido pesquisas de outros sociólogos sobre o assunto, ou que ele mesmo tenha feito sua pesquisa (o que exige também ler as que os outros fizeram). Isso é muito diferente de ler uma notícia no jornal e emitir uma opinião sobre o assunto. Em primeiro lugar, o sociólogo deverá recorrer ao que outros escreveram, e não apenas colegas de ofício, mas também pesquisadores de outras áreas. Ele também deverá analisar dados sobre o problema e preparar sua própria pesquisa, que poderá ser feita apenas por ele ou por uma equipe. Essa pesquisa poderá recorrer a dados que possam ser estatisticamente tratados, ou a entrevistas, fotos, vídeos, ou uma combinação das duas opções. Não é tarefa que se faça em minutos ou horas, leva tempo. A pesquisa feita dessa maneira pode levar a conclusões que não coincidem com as opiniões que as pessoas têm sobre o assunto. Como, muitas vezes, as pessoas se satisfazem com suas opiniões (e até agarram-se

19 2. O modo sociológico de pensar 19 a elas para situar-se no mundo), muitas resistem ao que o sociólogo tem a dizer. As opiniões que criamos em nosso cotidiano formam aquilo que chamamos senso comum, isto é, sentidos, significados que emergem da experiência do dia-a-dia, sem muito aprofundamento. Há um dito popular que afirma: Pão ou pães, questão de opiniães. Será mesmo? Se nossas opiniões envolvem emoções, alegrias, frustrações, raivas, para chegar às explicações sociológicas o pesquisador deve, na medida do possível, controlar essas emoções para não haver interferência em seu trabalho. Isso não é completamente possível, claro. Afinal, quando um químico estuda uma reação em um laboratório, a sua relação com as substâncias é de bastante objetividade: as substâncias estão lá, são objetos de estudo. Entretanto, no caso do sociólogo, a sociedade não está lá longe, mas dentro dele e ao redor dele. Por isso, não há como conseguir uma objetividade absoluta, embora um dos fundadores da Sociologia, Émile Durkheim ( ) defendesse no final do século XIX que deveríamos estudar os Fatos Sociais como se fossem coisas (objetos = objetividade). Viu-se depois que isso não seria completamente possível. Nosso pequeno truque está relacionado ao método, isto é, ao caminho que percorremos para estudar alguma coisa. Parte do método sociológico exige que conheçamos nossos preconceitos e emoções em relação ao que estudamos, pois assim conseguimos a melhor objetividade possível. Até aqui tudo bem? Então vamos a uma questão fatal: se os sociólogos recorrem a métodos científicos para estudar os processos sociais, por que muitas vezes dois pesquisadores chegam a conclusões absolutamente diferentes? Para começar, isso não é privilégio da Sociologia. Os congressos científicos das diversas áreas, ocasiões em que pesquisadores apresentam resultados finais ou parciais de seus trabalhos, são sempre marcados por debates intensos. Muitos livros e artigos científicos 1 também são escritos para contestar resultados obtidos por outros colegas. 1 Ao final do livro tratarei do trabalho cotidiano dos sociólogos, dos livros e dos artigos científicos.

20 20 Rafael José dos Santos Para Aprender Sociologia: Uma Introdução As diferenças entre teorias têm diversas razões. Talvez a principal delas seja o que se chama de diferentes orientações teóricas (hum, que expressão legal!). É mais ou menos assim: enquanto nos formamos (e estamos sempre em formação), vamos travando conhecimento com diferentes teorias. Elas vão formando uma espécie de janela através da qual focalizamos aquilo que estamos estudando. Como existem diferentes janelas, os cientistas nem sempre chegam às mesmas conclusões sobre as paisagens. Agora vamos tratar de outro aspecto importante do modo sociológico de pensar. Como qualquer outra ciência, a Sociologia utiliza não apenas teorias, mas também métodos e técnicas de pesquisa. 2.2 Método e técnica: o caminho e o jeito de andar Vamos começar distinguindo método de técnica. O método é o caminho escolhido para realizar uma pesquisa, enquanto as técnicas são os meios que utilizamos para percorrer esse caminho. É como se o método fosse uma estrada (e às vezes existe mais de uma estrada), e as técnicas fossem os meios de transporte escolhidos para percorrê-la. Na Sociologia, o primeiro desafio, antes de recorrer a qualquer método de pesquisa, é a necessidade de rompermos com o senso comum. É fundamental sair do universo das opiniões cotidianas, aquelas que construímos em nosso dia a dia ( Eu acho isso, eu acho aquilo ). Como disse anteriormente, nossas opiniões são importantes, mas para praticar o modo sociológico de pensar temos que nos esquecer delas por um período. Além disso, temos que colocar de lado nossas pré-noções, ou seja, aquilo que penamos saber sobre o que desejamos estudar. Finalmente, temos que deixar de lado nossos juízos de valor : isso é bom, aquilo é ruim. Uma confusão bastante frequente quando falamos em Sociologia é aquela entre problemas sociais e problemas sociológicos. Os problemas sociais estão aí, todos tomamos conhecimento deles através das notícias de jornal. O primeiro desafio do método sociológico é saber transformar problemas sociais em problemas sociológicos.

21 2. O modo sociológico de pensar 21 Explicando: se nossa preocupação é com o problema da corrupção na vida pública, um problema social, ajuda pouco ficar lamentando que o senador fulano fez isso, o deputado sicrano fez aquilo, que a solução para isso é a cadeia, leis mais duras etc... Isso já é um fato: se fizeram, e se o que fizeram foi provado e, pelas leis, isso não poderia ter sido feito, então deve haver punição. Essa conclusão é tirada pelo jornalismo e, obviamente, pela polícia e pelo Judiciário. Note: não é necessária qualquer pesquisa sociológica para chegar à conclusão de que um crime merece punição. Agora, transformando o problema social em problema sociológico que implicaria numa pesquisa a pergunta poderia ser: quais são as condições políticas que facilitam a corrupção em alguns países e dificultam em outros? ; ou: qual é a raiz histórica da corrupção no Brasil?. Claro, um estudo desse tipo (e existem alguns) não soluciona o problema da corrupção, mas ajuda a entender melhor como o tipo de relação que as elites sociais ou políticas estabelecem com o Estado 2 propiciam esse tipo de procedimento. O método nos auxilia, portanto, a delimitar um tema, um problema e, consequentemente, poder escolher o meio de transporte, isto é, as técnicas que utilizaremos. Um meio, não o único, é a pesquisa bibliográfica. Normalmente, independente de outras técnicas, as leituras estão presentes na pesquisa sociológica desde antes de pensarmos em métodos e técnicas. Quando um pesquisador trabalha apenas com livros escritos por outros pesquisadores, as pessoas tendem a falar em trabalho teórico. Não é bem assim. Trabalhar apenas com livros e artigos não significa que se trabalhe com teoria. O material bibliográfico pode dizer respeito a pesquisas empíricas, isto é, que examinam alguma realidade concreta. Trabalhar com teoria é outra coisa: significa lidar com conceitos, modelos, sem necessariamente lidar com dados empíricos. Trata-se de uma tarefa importante e muitos sociólogos se empenham em esforços de natureza teórica. Entretanto, se os diversos livros que o pesquisador utiliza são baseados em pesquisas, trata-se de um trabalho bibliográfico. Através deste, podemos saber de reflexões feitas por 2 Distinguir Estado e Governo.

22 22 Rafael José dos Santos Para Aprender Sociologia: Uma Introdução outros cientistas, inclusive de outras disciplinas, sobre, por exemplo, a relação entre elites e Estado no Brasil com base em dados da realidade. Outro caminho é fazer, além da pesquisa bibliográfica, também uma pesquisa empírica. Aqui há várias opções. É muito comum utilizar-se a distinção entre pesquisa qualitativa e quantitativa, muitas vezes como meios excludentes. Vejamos o significado de cada uma. Uma pesquisa quantitativa é aquela que se baseia no levantamento de dados que podem ser quantificados, isto é, expressos em termos de quantidade, números, porcentagens. Os dados podem ser obtidos através de estatísticas já prontas, como aquelas do IBGE, ou podem ser colhidos pelo pesquisador e sua equipe. Ou ambas as coisas. A pesquisa qualitativa, em princípio, não recorre a dados estatísticos, mas a outras fontes e outras técnicas: leitura dos anais do Senado Federal, entrevistas, questionários com perguntas abertas, observação, só para mencionar algumas possibilidades. Em ambos os casos, há um momento importante: a interpretação dos resultados. Dizer que tanto por cento dos políticos confundem seus interesses pessoais, ou de seus grupos, com interesses públicos é um ponto de partida para a interpretação sociológica. Não é um resultado final. Da mesma maneira, na pesquisa qualitativa, se através da leitura dos anais do Senado verificamos discursos, propostas de projetos ou votações que visam atender interesses particulares, isso em si mesmo também não é o resultado final. A interpretação dos dados exige uma espécie de jogo de luzes: os conceitos teóricos jogam luzes sobre os dados, os dados sobre os conceitos, e daí podemos chegar a conclusões de caráter sociológico. Muitas vezes fazemos também jogos de luzes entre diferentes dados obtidos em nossa própria pesquisa, ou com os dados obtidos por colegas, para isso nós lemos seus livros e artigos científicos, ouvimos suas apresentações em congressos e debatemos com eles. Como você deve ter percebido, o modo sociológico de pensar se diferencia do senso comum de várias maneiras. Em primeiro lugar, procurase justamente romper com aquilo que pode ser chamado de evidências

23 2. O modo sociológico de pensar 23 imediatas, deve-se ir além das aparências (lembre-se de outro ditado popular: as aparências enganam! ). Em segundo, envolve um longo trabalho de pesquisa baseado em referências bibliográficas e trabalho empírico e, finalmente, exige um esforço de interpretação dos dados. Nem sempre existiram sociólogos, nem sempre existiu um modo sociológico de pensar. Nosso próximo passo será descobrir um pouco do contexto de surgimento e das primeiras ideias sociológicas. Vamos lá?

24 3 O QUE VEIO ANTES: UM OLHAR SOBRE A HISTÓRIA E AS IDEIAS 3.1 A história Quando estudamos História temos a impressão que as sociedades se desenvolveram em uma espécie de linha reta: dos nômades aos sedentários, as primeiras civilizações, Grécia, Roma, Idade Média, Renascimento, Iluminismo, Revoluções Francesa e Industrial e, finalmente, nós! Essa história, é bom saber, diz respeito a um tipo particular de sociedade: aquela que chamamos de nossa sociedade (ou, às vezes, de A Sociedade Ocidental). Na verdade, existem outras sociedades com outras histórias. Um índio Yanomami, por exemplo, não contaria a sua história dessa forma! É como se, em meio a uma floresta, houvesse várias trilhas. Isso que chamamos de nossa história ou nossa sociedade é, na verdade, uma dessas trilhas, um caminho que desembocou no que chamamos de sociedade ocidental, industrial, capitalista. Essa sociedade acabou se transformando em uma grande autoestrada, forçando as outras trilhas a se tornarem estradas secundárias (perceba que usei o verbo forçar, que significa usar a força). E de onde saiu a autoestrada? Da Europa, em um processo que durou, aproximadamente, do século XV até o século XX. Muito tempo? Não, se você considerar que as sociedades humanas vivem sobre a terra há milhões de anos! A história ensina que muitas sociedades expandiram suas fronteiras para outros lugares: os gregos no mediterrâneo, os romanos por boa parte da Europa e norte da África. Entretanto, em nenhum outro período histórico houve expansão como a que ocorreu nos últimos cinco séculos. Lembre-se que o achamento do Brasil pelos portugueses ocorreu em 1500, ou seja, no último ano do século XIV, e a colonização das terras achadas se iniciou em Do ponto de vista econômico, os séculos XV e XVIII correspondem ao Mercantilismo, momento no qual países como a Inglaterra, Espanha e Portugal buscam novas terras onde possam explorar riquezas. O Mercantilismo, portanto, vem junto com o Sistema Colonial, como aquele

25 3. O que veio antes: um olhar sobre a história e as ideias 25 existente entre Portugal e Brasil desde 1500 até Entretanto, a mudança crucial viria com a Revolução Industrial, entre meados do século XVIII e o século XIX. A economia muda radicalmente nesse período, com o surgimento das fábricas, um crescimento muito grande da população das cidades, em sua ampla maioria trabalhadores industriais, ou operários. Dali em diante as mudanças vêm cada vez mais rápidas: do mundo rural para o urbano, com o processo de urbanização, da economia agrária e mercantil para a industrial. Isso não significou o desaparecimento do mundo rural, nem do trabalho agrícola ou das relações mercantis, mas tudo isso passou a uma posição subordinada às exigências da industrialização e da vida nas cidades. A Europa vivia a consolidação do Capitalismo. Ao contrário do que se pensa no senso comum, o termo capitalismo, assim como o adjetivo capitalista, não significa algo negativo ou positivo. Essas palavras servem para designar uma forma de funcionamento da economia com consequências na sociedade. Basicamente, temos uma pessoa ou um grupo de pessoas que são proprietários do Capital, os capitalistas ou burgueses, e outro grupo que possui a força-de-trabalho (que também é conhecida como mão-de-obra), os trabalhadores ou operários. A presença de uma multidão de trabalhadores nas cidades e, principalmente, as condições em que ocorria o trabalho no início do capitalismo, teve muitas consequências. Havia problemas de moradia, de saneamento, exploração do trabalho de crianças. Se é verdade que a pobreza sempre esteve presente em determinadas sociedades, no capitalismo a pobreza urbana surge como fenômeno social, ou o que o historiador inglês Eric Hobsbawn ( ) chamou de novos pobres industrializados e urbanos (1981, p.224) 3. Vamos ler um trecho do livro A Era das Revoluções para saber um pouco mais: 3 Este sistema que você viu acima é chamado de autor-data. Ele pode aparecer assim: (HOBSBAWAN, 1981, p.224) ou na forma como utilizei: o nome do autor na frase e, em parênteses, apenas um ano e um número de página. Isso serve para dizer de onde tirei a afirmação. O que você deve fazer é ir ao final do livro, nas Referências, procurar HOBSBWAN e achar o nome do livro e todos os outros dados da edição.

26 26 Rafael José dos Santos Para Aprender Sociologia: Uma Introdução XIX! As cidades e as áreas industriais cresciam rapidamente, sem planejamento ou supervisão, e os serviços mais elementares da vida da cidade fracassavam na tentativa de manter o mesmo passo: a limpeza das ruas, o fornecimento de água, os serviços sanitários, para não mencionarmos as condições habitacionais da classe trabalhadora. (HOBSBAWN, 1981, p. 224). E o autor não estava falando do Brasil, mas da Inglaterra do século Essa situação levou a muitas revoltas operárias, geralmente reprimidas à força pela polícia. Era também alto o índice de alcoolismo, de prostituição e de suicídios. Há outra face importante da Revolução Industrial para a Sociologia. Com o advento das grandes cidades, transformações nos meios de transporte, surgimento das lojas de departamentos, o movimento das multidões nas ruas, os anúncios publicitários, iluminação a gás, telégrafo, tudo isso modificou a forma das pessoas vivenciarem o espaço e o tempo. Tudo parecia ficar mais próximo e mais rápido. Claro, nem tão próximo nem tão rápido como atualmente, com a internet, os celulares e os aviões, mas certamente bem mais do que a vida no campo, ao ritmo das estações do ano e das mudanças de fases da lua: o relógio começava a dominar a vida. Esse conjunto de transformações levou a formas de viver o tempo e o espaço que recebeu o nome de modernidade, da qual fazem parte também as condições sociais das classes trabalhadoras que mencionei antes. Pois bem, agora vou afirmar que a Sociologia é, de certa maneira, produto da modernidade, ou seja, das profundas transformações sociais trazidas pela Revolução Industrial. E não é só isso: a Sociologia também é uma ciência voltada ao estudo da sociedade, ou dos processos sociais, que se originam durante a Revolução Industrial. Por isso muitos sociólogos afirmam que ela é uma ciência da sociedade capitalista. A Sociologia tem uma prima-irmã, a Antropologia, que também nasce no mesmo período, mas que volta seus olhos inicialmente para sociedades distantes, principalmente para aquelas existentes nas colônias dos países europeus na África, na Ásia e na Oceania. 4 4 Para saber mais sobre a Antropologia veja o livro Antropologia para quem não vai ser antropólogo deste mesmo autor, publicado pela Tomo Editorial.

27 3. O que veio antes: um olhar sobre a história e as ideias 27 Entretanto, só isso não basta para explicar o surgimento da Sociologia. É necessário também saber um pouco dos seus antecedentes no mundo das ideias. 3.2 As ideias Desde o Renascimento, dizem, as pessoas começaram a se libertar das visões religiosas do mundo. Mas em Sociologia, a expressão as pessoas é bastante vaga, assim como os homens. Certamente, quando os artistas e pensadores do Renascimento retomaram as artes e a filosofia grega, quando um pintor como Michelangelo ( ) recorre ao nu em suas pinturas na Capela Sistina do Vaticano, ou quando Dante Alighieri ( ) escreve A Divina Comédia, algo estava mudando no pensamento europeu em relação ao que havia dominado as mentalidades na Idade Média. Mas daí a afirmarmos que O Homem ou As pessoas estavam mudando, tem uma diferença muito grande. Em primeiro lugar, as transformações artísticas e intelectuais do Renascimento não atingiam a maioria da população europeia, constituída de camponeses que nem estavam sabendo do livro de Dante ou das obras de Michelangelo. Em segundo lugar, junto com a renovação trazida pelo Renascimento, houve também reações bastante violentas, como as ações da Santa Inquisição, que levou à fogueira pessoas como Giordano Bruno ( ) e condenou os livros de Galileu Galilei ( ), entre muitos outros exemplos. Feitas essas observações, vamos considerar os avanços do Renascimento nas ciências, nas artes e na literatura. Esses avanços andaram junto com a expansão mercantilista e com o crescente poder de uma classe de comerciantes, ou de uma burguesia mercantil, que começa a disputar o poder com a nobreza aristocrática em países como a Inglaterra e a França. Lá pelos séculos XVII e XVIII, um novo movimento intelectual desponta: o Iluminismo. Mais filosófico que artístico, o Iluminismo não foi um movimento homogêneo, isto é, seus pensadores não tinham as mesmas opiniões sobre a sociedade e sobre os governos, mas compartilhavam um

28 28 Rafael José dos Santos Para Aprender Sociologia: Uma Introdução princípio: o da Razão. A Razão, e não as justificativas teológicas, deveria fornecer a orientação para a escolha dos governantes e para o funcionamento e o progresso da sociedade. Os ideais iluministas influenciaram movimentos como o da independência dos Estados Unidos, que se efetivou em 1776, e a Revolução Francesa de O princípio da razão, ou seja, de que existe ou deva existir um fundamento racional para a vida em sociedade e para o governo, foi defendido de modos diferentes por filósofos iluministas. Assim como as ideias do Renascimento, os ideais do Iluminismo não alcançaram toda a sociedade da época, mas influenciaram de modo decisivo os rumos da história. Tanto o Renascimento como o Iluminismo formam uma espécie de solo intelectual, que junto com as mudanças trazidas pela Revolução Industrial irão gerar as condições de surgimento das ciências modernas, entre elas a Sociologia.

29 3. O que veio antes: um olhar sobre a história e as ideias 29

30 4 ALGUNS NOMES DOS PRIMEIROS TEMPOS Neste item vamos travar um breve contato com as ideias daqueles que são considerados, cada um ao seu modo, os pais da Sociologia: Augusto Comte ( ), Émile Durkheim ( ), Max Weber ( ) e Karl Marx ( ). Muitos estudantes acham chato estudar os sistemas de pensamento de pessoas que viveram há muito tempo de pessoas que viveram a muito tempo atrás, mais chato ainda decorar seus nomes. Minha intenção é apenas mostrar como cada um contribuiu para construir uma ciência da sociedade e, quem sabe, descobrir junto com vocês que algumas das coisas que eles pensaram deles ainda têm alguma atualidade. 4.1 Augusto Comte e a Física Social. Muitos atribuem ao francês Auguste Comte ( ) o título de fundador da Sociologia. Comte desempenhou um papel decisivo e, se não foi propriamente um fundador de um pensamento sociológico propriamente dito, foi, sem dúvida, quem lançou a pedra fundamental da Sociologia. Além disso, a própria palavra Sociologia foi criada por Comte, que inicialmente a chamava de física social. Para entender um pouco da proposta de Comte temos que contextualizá-las no século XIX, quando as ciências se tornavam cada vez mais autônomas e diferenciavam-se da filosofia: a Matemática e a Física, a Química e a Biologia especializavam, voltavam-se aos fenômenos da natureza procurando estudá-los de modo sistemático e objetivo. Comte acreditava ser possível uma ciência que estudasse a vida social nos moldes daquelas voltadas aos fenômenos da natureza, daí a ideia de física social. Mais que isso, essa ciência da sociedade se caracterizaria por ser o ponto alto de um processo de evolução. Segundo Comte, inicialmente o pensamento humano teria passado por uma fase teológica, ou seja, as explicações sobre o mundo baseavam-se na ação de forças espirituais ou divinas. Em seguida, viria a fase metafísica, caracterizada pela especulação filosófica, isto é, pelo exercício do

31 4. Alguns nomes dos primeiros tempos 31 pensamento abstrato. Este pensamento abriria caminho para, ao final, surgir a fase positiva, propriamente científica. Vem daí o termo positivismo. Esta fase, que pode ser situada entre os séculos XVIII e XIX, corresponde ao momento em que as ciências passam a utilizar métodos e técnicas de pesquisa baseadas na concepção de objetividade. A Sociologia seria, assim, para Comte, uma ciência positiva em, pelo menos, dois sentidos. Primeiro, porque seria voltada para a realidade e motivada por um sentido prático de utilidade, deveria servir para organizar melhor a vida em sociedade. Segundo, porque buscaria, através dos métodos, a certeza e a precisão (GIDDENS In: BOTTOMORE e NISBET, 1980, p. 320). Note que, nesse ponto, a proposta de Comte vê a Sociologia como uma ciência da natureza. Desta maneira, a Sociologia (antes Física Social ), poderia contribuir para uma sociedade racional, tendo a ordem como pressuposto para o progresso 5. Desde o início do século XX surgiram muitas críticas às ideias de Comte. Uma delas afirma a impossibilidade de estudas os fenômenos sociais com a mesma postura e os mesmos métodos que, por exemplo, a Física e a Biologia estudam os fatos da natureza. Isso porque a vida em sociedade não apresenta as mesmas características da natureza e, também, porque é impossível ao pesquisador adotar uma postura de pura objetividade. Outra crítica, diz respeito ao princípio evolucionista das três fases do pensamento. O evolucionismo, tal como usado por Comte, era uma adaptação do darwinismo 6 para aplicação no estudo das sociedades, algo bastante comum no início das Ciências Sociais. Entretanto, conforme o conhecimento sobre as sociedades avançou, percebeu-se que elas não obedeciam às mesmas transformações do mundo animal, e que não necessariamente uma fase seria superior ou melhor que outra. 5 Não é coincidência estas duas palavras aparecerem na bandeira do Brasil, isso aconteceu devido à influência do pensamento de Comte nas elites que promoveram a proclamação da república em Nome da corrente evolucionista criada por Charles Darwin e que exerceu forte influência no nascente pensamento social do século XIX.

32 32 Rafael José dos Santos Para Aprender Sociologia: Uma Introdução Apesar de suas reflexões sobre como deveria ser a Sociologia, Comte não avançou na pesquisa social, sendo que seu percurso posterior foi marcado, inclusive, por transtornos mentais. Entretanto, suas contribuições possibilitaram a outro francês, Émile Durkheim ( ), estabelecer as bases da nova ciência. 4.2 Émile Durkheim e o Fato Social Caso você volte lá no início do livro verá que afirmei o seguinte: a sociedade está ao seu redor, está dentro de você, e você nela, desde os primeiros dias de sua infância. Poderíamos acrescentar o fato da sociedade também existir antes de você. Qual o significado dessas afirmações? Bem, se a sociedade existe fora e antes de você, e se você aprende a viver socialmente, isso implica em um processo de educação que não só insere o social dentro de você, mas também insere você na sociedade. Essa ideia parece óbvia hoje em dia, mas não o era quando foi defendida pela primeira vez pelo francês Émile Durkheim ( ), intelectual fortemente influenciado por Comte. Uma das preocupações de Durkheim era demonstrar que a sociedade não era algo que pudesse ser explicado pela biologia ou pela psicologia de sua época, mas exigia uma ciência própria: a sociologia. Do ponto de vista biológico, homens e mulheres são animais. Além disso, é possível pensar em sociedades de animais como macacos, abelhas e formigas. Entretanto, será que o funcionamento das sociedades do ponto de vista animal é o mesmo da perspectiva social? Macacos, abelhas e formigas não criam escolas nem teorias educacionais, pais e mães animais não precisam dialogar entre si para decidir como educar seus filhotes, e os bichos não se vestem conforme a moda nem criam formas alternativas para se comunicar entre si: o instinto gregário 7 dos animais não é suficiente para explicar a vida social dos humanos. Precisamos de algo mais. Olhando do ponto de vista psicológico, será que todas as escolhas, todos os comportamentos e valores assumidos pelos seres humanos têm 7 Gregário: de agregação.

33 4. Alguns nomes dos primeiros tempos 33 origem em suas mentes individuais? Falei também no início do livro que cada um de nós vive a vida social como se ela fosse algo individual, particularizado. Contudo, compartilhamos sentimentos, preferências, até emoções (pense em uma torcida de futebol!). Bem, isso significa que existem coisas da sociedade que são interiorizadas em nós, isto é, que vêm de fora (da sociedade) para dentro (nossas mentes). Este era o raciocínio de Durkheim. Existiria uma realidade que não podia ser explicada nem pela Biologia nem pela Psicologia: para entender a sociedade seria necessário, de acordo com o autor, retomar as ideias de Comte e fundar a Sociologia. O objeto desta nova ciência, isto é, a coisa que ela estudaria, seriam os Fatos Sociais. Vamos ver a definição que Durkheim deu aos Fatos Sociais (paciência com a linguagem do autor, ele escrevia no final do século XIX!): [...] maneiras de agir, pensar e sentir exteriores ao indivíduo, e dotadas de um poder coercitivo em virtude do qual se lhe impõem. Por conseguinte, não poderiam ser confundidos com fenômenos orgânicos, visto consistirem em representações e ações; nem com os fenômenos psíquicos, por estes só existirem na consciência dos indivíduos, e devido a ela. Constituem, pois, uma espécie nova de fatos, aos quais deve atribuir-se e reservar-se a qualificação de sociais (DURKHEIM, 1983: 88). Vale a pena ler e reler esta citação e sublinhar partes reveladoras. Primeiro, perceba que Durkheim não se refere apenas a comportamentos, mas a maneiras de agir, pensar e sentir... Isso mesmo! Para o autor, os modos como pensamos e sentimos também são de natureza social! Note que ele se refere aos modos de pensar e não necessariamente aos pensamentos. Idem para os sentimentos. Em segundo lugar, esses modos são exteriores ao indivíduo, ou seja, estão fora de nós: na sociedade. Desde que nascemos vamos aprendendo a agir, pensar e sentir. Além disso, estas maneiras possuem um poder coercitivo, isto é, são impostas pela sociedade. Quando adotamos um comportamento que não é aceito socialmente, somos punidos, ou de modo formal, pelas leis, ou informalmente, de diversos modos. A gozação que um grupo de amigos faz de alguém que não está vestido de acordo com as

34 34 Rafael José dos Santos Para Aprender Sociologia: Uma Introdução normas sociais também é uma forma de punição, ou, na linguagem de Durkheim, de sanção social. Finalmente, os Fatos Sociais não são fenômenos orgânicos, isto é, não são passíveis de explicação biológica, porque são representações e ações. O que significa isso? Nossa sociedade tem determinadas expectativas em relação ao comportamento ideal de um homem, ou seja, possuímos uma representação de masculinidade, normalmente associada a outras representações sociais, como a de virilidade. Entretanto, sabemos hoje que os comportamentos relativos a cada gênero são aprendidos desde a infância, então não se trata de algo que venha da constituição biológica do homem. Por outro lado, as representações, embora estejam em nossa cabeça, também não têm origem mental e não existem apenas em nossas consciências individuais, daí não poderem ser explicadas pela Psicologia: elas têm origem social. Uma das questões levantadas pelos alunos quando falamos no Fato Social é a seguinte: se as maneiras de pensar, agir e sentir se impõe aos indivíduos, por que há diferenças de pensamentos, ações e sentimentos? Colocando de outra maneira: porque todos não sentem exatamente da mesma maneira, não escolhem as mesmas roupas e não preferem o mesmo tipo de música? Durkheim colocou-se esta pergunta da seguinte forma: Mas, dir-se-á, um fenômeno não pode ser coletivo se não for comum a todos os membros da sociedade ou, pelo menos, à maior parte deles. E acrescentou em resposta: Sem dúvida; mas ele é geral por ser coletivo (quer dizer, mais ou menos obrigatório), e nunca coletivo por ser geral. (...) está em cada parte porque está no todo, não está no todo por estar nas partes. (DURKHEIM, 1983: 90-91). Ajudou? Complicou mais? Afirmar que o Fato Social é coletivo não significa dizer que ele se impõe a todos e todas da mesma maneira. Um exemplo: tomar determinado refrigerante é um fato coletivo, isto não quer dizer que todos o façam. Entretanto, isso não significa que tomar o refrigerante seja uma decisão absolutamente individual, pois entra aí desde a influência do marketing até a formação social dos gostos das pessoas. Vamos raciocinar pelo avesso: não existe um tipo de refrigerante para cada indivíduo, não é mesmo? Nem um

35 4. Alguns nomes dos primeiros tempos 35 tipo de calça, nem um estilo de música: são coisas coletivas, mas nem por isso são gerais para toda a sociedade. Essas coisas coletivas ideias, valores, representações constituiriam o que Durkheim chamou de consciência coletiva: Conjunto das crenças e dos sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade que forma um sistema determinado com vida própria (DURKHEIM, 1983, p. 227). A consciência coletiva, então, não seria a soma das consciências individuais, mas algo mais geral à sociedade. O exemplo que já utilizei antes, o do comportamento das torcidas de futebol, é interessante para entendermos a consciência coletiva: embora o sentimento pelo time esteja em cada pessoa, ele não nasce com ela, a pessoa interiorizou modelos de comportamento que já existiam for dela. A noção durkheimiana de consciência coletiva relaciona-se também com outro aspecto da sociedade estudado pelo autor e que está no livro Da divisão do trabalho social, de Uma preocupação de Durkheim poderia ser dita assim: o que faz com que as pessoas permaneçam unidas em sociedade? Ou, em seus termos, qual seria o fundamento da solidariedade social? 8 Para responder esta pergunta, Durkheim analisa e compara as sociedades primitivas (hoje não utilizamos mais este adjetivo) e as sociedades que ele chamou de modernas. Nas primeiras, os membros do grupo permaneciam unidos por laços da tradição e dos costumes e não havia uma divisão do trabalho tão complexa como nas sociedades modernas. Por estas razões, Durkheim denominou a solidariedade entre os membros das sociedades primitivas de solidariedade mecânica. Além disso, nestas sociedades, a consciência coletiva exerceria um papel muito forte sobre cada membro, pois é nela que estariam os valores e as tradições. Já nas sociedades modernas, e este seria o nosso caso, o que nos manteria unidos seria justamente a sofisticada divisão do trabalho social. Esta divisão faria com que cada membro dependesse do trabalho de outro, 8 A palavra solidariedade, em Durkheim, relaciona-se ao compromisso pelo qual as pessoas se obrigam umas às outras e cada uma delas a todas e não ao que comumente entendemos pelo termo, que é o sentimento de simpatia ou piedade pelos que sofrem, conforme os vários sentidos que constam do Dicionário Houaiss.

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