COMPARAÇÃO ENTRE DOIS MÉTODOS DE TREINAMENTO PARA APRIMORAMENTO DA FLEXIBILIDADE EM JUDOCAS DA ASSOCIAÇÃO ATLÉTICA ACADÊMICA LUVE/UFV
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- Luana Miranda
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1 COMPARAÇÃO ENTRE DOIS MÉTODOS DE TREINAMENTO PARA APRIMORAMENTO DA FLEXIBILIDADE EM JUDOCAS DA ASSOCIAÇÃO ATLÉTICA ACADÊMICA LUVE/UFV Eliane Aparecida de Castro 1, Rangel Aparecido Florêncio Venâncio 1, Leonice Aparecida Doimo 1, Jamille Locatelli 1 RESUMO No judô são empregados os mais diversos tipos de movimentos e, conseqüentemente, há uma exigência da maioria das articulações corporais. Uma das formas de se prezar por essas articulações e promover o seu desenvolvimento é através de exercícios de flexibilidade, qualidade física indispensável ao atleta. Este trabalho objetiva comparar dois métodos de treinamento para aprimoramento da flexibilidade em judocas da Associação Atlética Acadêmica - LUVE/UFV. A amostra constou de 10 judocas do sexo masculino, com idade de 22,7 ±2,4 anos. Os indivíduos participaram de um treinamento pelo método passivo, três vezes por semana, durante um período de seis semanas. Foi estabelecida uma rotina contendo 10 exercícios de flexionamento, sendo os mesmos repetidos uma única vez em cada treino. Os participantes foram aleatoriamente divididos em dois grupos: grupo 1, que sustentou as posições de flexionamento por 10 segundos e grupo 2, com sustentação das mesmas por 30 segundos. Foram realizadas avaliações pré e pós-treinamento. Os resultados médios para o grupo 1 no pré e no pós-treinamento para os testes de sentar e alcançar (cm) e para o flexiteste (flexíndice) foram 37,46 e 36,84; 46,8 e 48,2 e, para o grupo 2, 28,32 e 32,96; 45 e 48, respectivamente. Não foi encontrada diferença significativa entre os tempos de manutenção das posições nos exercícios de flexionamento para 10 e 30 segundos. Contudo, apesar de cada grupo não apresentar diferença significativa antes e após o treinamento, vemos que ambos aumentaram seus valores absolutos. Conclui-se que ambos os tipos de treinamento de flexibilidade, realizados durante seis semanas, se mostraram adequados para o desenvolvimento da flexibilidade para a população estudada. Palavras-chave: judô; treinamento; flexibilidade. ABSTRACT In judo many different kinds of movements are employed, and consequently most part of the body articulations are used and forced. One of the ways to take care of those articulations and also promote their development is through flexibility exercises. Flexibility is an indispensable aspect concerning to the athlete. This work aim for a comparison between two training methods employed to refine the flexibility in judo players from the Athletic Academic Association (LUVE/UFV). The sample had 10 male players aged 22.7 ±2.4 years. The individuals took part in a training by the passive method, three times a week, for a period of time of six weeks. A routine containing 10 flexibility exercises was established, and they were not repeated more than once on the same day. The players were randomly distributed en two groups: group 1 had to sustain the positions of inflection during 10 seconds, and group 2 had to sustain the same positions during 30 seconds. Some evaluations were realized before and after the training. The average results to group 1, before and after training to test of sit and reach (cm) and to flexistet (flexindex) were 37,46 and 36,84; 46,8 and 48,2 and to the group 2, 28,32 and 32,96; 45 and 48, respectively. No significant difference was found between the times the positions were hold in the flexibility exercises which are related to 10 and 30 seconds. However, although each group has not shown significant difference before and after the training we can see that both increased their absolute values. Therefore both of the methods can be seen as appropriate to develop flexibility over six weeks, to the population studied. Key-words: Judo, training, flexibility. INTRODUÇÃO O judô é uma atividade na qual são empregados os mais diversos tipos de movimentos e, conseqüentemente, há uma exigência da maioria das articulações corporais. Uma das formas de se 195
2 prezar por essas articulações e promover o seu desenvolvimento são através dos exercícios de flexibilidade. A flexibilidade é compreendida como a qualidade física responsável pela execução voluntária de um movimento de amplitude angular máxima, por uma articulação ou conjunto de articulações; dentro dos limites morfológicos, sem o risco de provocar lesão (DANTAS, 1998, p.173). Um sistema músculoarticular saudável e preparado não se constitui somente pela genética, mas ele é propenso a se desenvolver continuadamente e por isso a importância de um trabalho de flexibilidade (JÚNIOR, 2004). Segundo Alter (1999), a flexibilidade é específica a determinados esportes, articulação, lado e velocidade. Assim, o indivíduo pode ter uma excelente flexibilidade numa certa articulação e, ao mesmo tempo, ser bastante limitado numa outra articulação (SOUZA et al, 2006). Várias entradas e saídas de golpes são mais eficientes quando contam com uma boa amplitude articular por parte do indivíduo que os realizam sendo indispensável também, para as defesas. Além disso, a flexibilidade pode ser necessária em contrações prolongadas que precedem uma contração muscular ativa. E, ainda, uma musculatura mais estirada tem seu transporte de energia e sua capacidade mecânica melhorada (contribuindo assim para uma economia de energia mecânica) e passa a ser mais resistente às lesões. Por todos esses motivos é que se torna importante o estudo dessa qualidade física no campo do treinamento desportivo e da atividade física. O trabalho de flexibilidade pode ser estático ou dinâmico. O trabalho estático está relacionado com o tempo no qual determinada posição será mantida. Muitos programas recomendam segurar na posição específica entre 10 e 15 segundos (BORMS et al, 1987; MADDING et al, 1987; DANTAS, 1999). No entanto, um estudo feito por Bandy e Iron (1994), comparando a eficácia de 15, 30 e 60 segundos mostrou que 30 e 60 segundos eram mais eficazes em aumentar a flexibilidade dos músculos posteriores de coxa que 15 segundos ou nenhum exercício. Foi observado também que entre 30 e 60 segundos não existiu qualquer diferença significativa. Um motivo para tantos estudos envolvendo o tempo ideal para um maior ganho na flexibilidade está relacionado ao fato de que a flexibilidade pode representar um papel significativo na determinação do resultado final de vários desempenhos ou situações competitivas. Dantas (1999) propõe a terminologia flexionamento para as estratégias que objetivam ganhos da própria flexibilidade através da exploração no treinamento, de arcos articulares maiores que os naturais. Neste estudo será usada a palavra flexionamento sempre que se referir ao treinamento da flexibilidade. OBJETIVO Diante da constatação de que a flexibilidade é uma qualidade física importante no judô, estudos especializados nesta área tornam-se relevantes. Desta forma, o presente estudo objetivou comparar as respostas de dois métodos de treinamento para aprimoramento da flexibilidade, sendo um com a sustentação do exercício de flexionamento por 10 segundos e outro durante 30 segundos, em judocas universitários, participantes da Associação Atlética Acadêmica da Universidade Federal de Viçosa, e relacionar os resultados obtidos com aqueles reportados na literatura especializada. MÉTODO AMOSTRA A amostra constou de 10 judocas da Associação Atlética Acadêmica LUVE/UFV, do sexo masculino, idade 22,7±2,4 anos, participantes de competições e aleatoriamente escolhidos, distribuídos em dois grupos, sendo Grupo 1 (G1; n=5) submetido ao trabalho de sustentação do flexionamento por 10 segundos e Grupo 2 (G2; n=5) por 30 segundos. O início do trabalho só se deu após a assinatura do termo de consentimento e preenchimento da anamnese, feitos individualmente. 196
3 PROTOCOLOS Especificamente para avaliação da flexibilidade foram aplicados dois testes, antes e após o treinamento, conforme Marins e Giannichi (2003): Teste de sentar-e-alcançar - objetiva medir a flexibilidade do quadril, dorso e músculos posteriores dos membros inferiores. Os indivíduos se posicionaram sentados, com os pés descalços apoiados no flexômetro e com os joelhos seguros pelo avaliador a fim de se evitar a flexão dos mesmos. O quadril era flexionado vagarosamente à frente, ao mesmo tempo em que empurrava o instrumento de medida com a ponta dos dedos das mãos o máximo que pudesse. O material utilizado foi o banco de Wells. Flexiteste método de avaliação passiva máxima, composta por vinte movimentos articulares corporais (trinta e seis se considerados bilateralmente). O método estuda o movimento nas articulações do tornozelo, quadril, tronco, punho, cotovelo e ombro. Oito movimentos são feitos em membros inferiores, três no tronco, sendo os nove restantes nos membros superiores, Cada um dos movimentos é medido em uma escala crescente de números inteiros que varia de 0 a 4, perfazendo um total de cinco valores possíveis. A medida é feita através de comparação entre os mapas de avaliação e a amplitude do movimento articular obtido pelo avaliador, no testando. Para a realização da medida, compara-se a amplitude passiva máxima obtida com as figuras dos mapas de avaliação do Flexiteste. A atribuição dos valores numéricos se dá sempre que a amplitude alcançada é igual à existente no mapa de avaliação. Amplitudes menores do que as apresentadas pelo mapa recebem valor zero e, para aqueles movimentos cuja amplitude exceda o valor quatro, recebem o valor máximo, ou seja, quatro. Deve-se enfatizar que às amplitudes localizadas entre dois valores quaisquer será atribuído a menor pontuação. Os resultados obtidos nos vinte movimentos isolados, ao serem somados, resultarão no índice global da flexibilidade, denominado de flexíndice. Além dos testes acima, foram realizadas medidas antropométricas de peso (Kg), estatura (cm), perímetros (cm; torácico, braço relaxado, braço contraído, coxa e perna), diâmetros ósseos (cm; torácico transverso, torácico ântero-posterior, biilíaco, biestilóide, biepicondiliano do úmero, biepicondiliano do fêmur e bimaleolar), dobras cutâneas (mm; tricipital, subescapular, supra-ilíaca, abdominal, coxa e perna), além de cálculo do IMC, composição corporal e consumo máximo de oxigênio. Também foram realizados testes de força (Kg; dinamometria dorsal e dinamometria de mão), de agilidade (seg; teste de Shuttle Run), de resistência muscular localizada (abdominal em 1 minuto), flexão de cúbitos (maior número de repetições) e capacidade cardiorrespiratória (teste de Cooper). Todos os testes anteriormente mencionados foram realizados conforme Carnaval (2002). TREINAMENTO Foi estipulada uma rotina contendo dez exercícios de flexionamento, os quais foram determinados após diagnosticar as articulações mais importantes para a modalidade. Durante o treinamento, cada exercício da rotina foi executado uma única vez, em função do tempo restrito destinado a este estudo (a pesquisa só poderia ocupar 25% do tempo total dos treinos que é de 60 minutos). Este procedimento foi aplicado três vezes na semana, durante um período de seis semanas. A definição deste tempo deu-se em função do período letivo da Universidade Federal de Viçosa, de modo que todo o experimento foi realizado na vigência deste. A mesma rotina foi aplicada a ambos os grupos, diferindo apenas no tempo de permanência em cada posição de flexionamento, onde o grupo 1 permaneceu nas respectivas posições por 10 segundos e o grupo 2 por 30 segundos. O treinamento da flexibilidade foi pelo método passivo, com o auxílio de um agente externo. Assim, o grupo 1 auxiliou o grupo 2 e vice-versa. TRATAMENTO ESTATÍSTICO Utilizou-se a estatística descritiva, através de valores mínimos e máximos, médias e desvios padrão. Para verificar a existência de diferenças significativas entre os dois grupos testados, antes e após o treinamento, foi utilizado o teste t-student. Para correlações lineares usou-se o teste de 197
4 Peso Corporal Total (kg) Estatura (m) IMC (kg/m2) % de GC (%) Peso Ósseo (kg) Peso Residual (kg) Peso Muscular (kg) Peso Adiposo (kg) correlação de Pearson. Os programas estatísticos utilizados foram o Origin versão 5.0 Professional e o SAEG. Nível de significância adotado p <0,05. RESULTADOS A tabela 1 apresenta os resultados médios encontrados para as variáveis antropométricas e composição corporal, antes e após o treinamento de flexibilidade. Tabela 1 - Médias e desvios-padrão das variáveis de antropometria e composição corporal nas avaliações pré e pós - treinamento (n=10). Pré - Treinamento Pós - Treinamento Peso Corporal Total (kg) 83,62 (13,52) 82,94 (13,23) Estatura (cm) 1,79 (0,08) 1,80 (0,08) IMC (kg/m 2 ) 25,69 (2,50) 25,33 (2,72) % de GC (%) 17,70 (4,73) 17,61 (5,88) Peso Ósseo (kg) 11,19 (1,49) 11,25 (1,48) Peso Residual (kg) 20,15 (3,26) 19,99 (3,19) Peso Muscular (kg) 37,07 (4,30) 36,52 (4,85) Peso Adiposo (kg) 15,20 (6,03) 15,01 (6,96) Gráfico 1 - Resultados das médias de antropometria e composição corporal antes e após o treinamento de flexibilidade. Resultados Médios de Antropometria e Composição Corporal Pré-treinamento Pós-treinamento A tabela 2 traz os resultados médios para as variáveis de desempenho motor, antes e após o treinamento de flexibilidade. Tabela 2 - Médias e desvios-padrão das variáveis de desempenho motor no pré e pós treinamento (n=10). Pré - Treinamento Pós - Treinamento Dianamometria de mão 57,69 (6,32) 55,97 (9,06) Dinamometria de membros inferiores 161,1 (23,13) 167,4 (20,96) Abdominal em 1 minuto 42,9 (8,20) 50,33 (10,28) Flexão de cúbitos 28 (11,25) 34,89 (15,35) Agilidade (Shuttle Run) 10,49 (0,87) 10,03 (0,34) Cooper (distância) 2378,98 (275,39) 2356 (275,01) VO 2 máx ml (Kg.min) -1 41,67 (6,12) 41,15 (6,11) 198
5 (cm) Dianamometria de mão Dinamometria de membros inferiores Abdominal em 1 minuto Flexão de cúbitos Agilidade (Shuttle Run) VO2máx ml (Kg.min)-1 Gráfico 2 - Resultados das médias de desempenho motor antes e após o treinamento de flexibilidade. Variáveis de desempenho motor Pré - Treinamento Pós - Treinamento As tabelas 3 e 4 trazem os resultados médios obtidos nos testes de flexibilidade antes e após o treinamento para G1 e G2. Tabela 3 - Médias e desvios-padrão do teste sentar e alcançar para o grupo 1 (G1, n=5) e para o grupo 2 (G2, n=5), antes e após treinamento. G1 G2 Pré-treinamento 37,46 (7,84) 29,98 (11,34) Pós-treinamento 36,84 (7,93) 32,96 (11,29) Tabela 4 - Médias e desvios-padrão do flexiteste para o grupo 1 (G1) e para o grupo 2 (G2), antes e após treinamento. G1 G2 Pré-treinamento 46,8 (5,80) 45 (2,91) Pós-treinamento 48,2 (6,97) 48 (4,18) Gráfico 3 Valores médios no pré e pós treinamento para o teste de sentar e alcançar, nos grupos 1 e 2. Resultados médios no teste sentar e alcançar G1 G2 Pré-treinamento Pós-treinamento 199
6 somatório dos movimentos Gráfico 4 - Valores médios no pré e pós treinamento para o flexiteste nos grupos 1 e 2. Resultados médios no flexiteste Pré-treinamento Pós-treinamento G1 G2 DISCUSSÃO Um dos benefícios mais importantes de um programa de flexibilidade é a possível promoção do relaxamento, ou seja, a suspensão da tensão muscular. Um músculo contraído obviamente requer mais energia que um músculo relaxado (ALTER, 1999). Além disso, os músculos tensionados tendem a cortar sua própria circulação e, assim, reduzem a quantidade de oxigênio e nutrientes essenciais às células e causam aumento de produtos residuais tóxicos que se acumulam no organismo e que estão relacionados ao aparecimento da fadiga e de dores localizadas. Contudo, a importância da flexibilidade para os esportes reside também no fato de que a mesma pode ser considerada pré-requisito para uma execução quantitativa e qualitativa de movimentos desportivos, podendo atuar positivamente sobre outros aspectos do desempenho tais como agilidade, velocidade e força (WEINECK, 1991). Postula-se também que o treinamento de flexibilidade tem papel importante na diminuição da suscetibilidade de lesões de músculos e tendões, na medida em que maximiza a utilização das capacidades funcionais destas estruturas, dentro de seus limites funcionais normais, permitindo um treinamento de forma mais contínua e ininterrupta (TAYLOR et al., 1990). Para o judô, o desenvolvimento da flexibilidade é importante na medida em que seu aumento pode proporcionar uma melhor execução de vários golpes e significar superioridade perante o adversário. Quando tratamos do treinamento de flexibilidade, devemos estar atentos para a existência de estruturas que são responsáveis por informar ao sistema nervoso central as alterações na extensão muscular, na contração e nas mudanças de posição corporal; os chamados proprioceptores musculares, mais precisamente os fusos musculares e os órgãos tendíneos de Golgi (OTG). O fuso muscular tem a função de informar a alteração na velocidade e na extensão (comprimento) do músculo. Nessas condições, reage a qualquer quantidade de alongamento. Já o órgão tendinoso de Golgi responde melhor à contração do que à extensão muscular, mas precisa de um limiar consideravelmente alto para corresponder ao alongamento (JAMI, 1992). Durante a contração muscular, o órgão tendíneo descarrega um impulso nervoso capaz de inibir a contração muscular e provoca o relaxamento do músculo. Por causa disso, o órgão tendíneo de Golgi é um sistema aferente inibitório, enquanto o fuso muscular é excitatório (SILVERTHORN apud JÚNIOR, 2006, p.209). Observa-se que os esportistas experientes dedicam menor tempo ao alongamento estático e maior ao exercício de alongamento dinâmico (ativo). Entretanto, o judô é uma modalidade onde se predomina contrações isométricas e a manutenção de uma mesma postura por certo tempo, tornando-se importante a preparação do atleta através de exercícios estáticos de flexibilidade. Exercícios de alongamento entre 30 e 60 segundos têm sido mais indicados para desenvolver a flexibilidade (BANDY e IRON, 1994; VIVEIROS et al, 2004; SHRIER e GOSSAL, 2000). Contudo, neste estudo não foram encontradas diferenças significativas entre 10 e 30 segundos, fato que pode estar relacionado, dentre outros fatores, com o tempo total de treinamento, o qual foi muito curto (menos de 2 minutos para G1 e 5 minutos para G2). Um maior tempo em alongamento tem sido proposto pelo efeito de maior adaptação do fuso muscular e pelo efeito de maior deformação (arrastadura) das fibras 200
7 musculares (JÚNIOR, 2006, p.313). O número de séries é um fator que parece não influenciar nas respostas da flexibilidade. No presente trabalho, optou-se por utilizar apenas uma série em decorrência da limitação do tempo destinado para a realização do estudo e de dados levantados na literatura. Shrier e Gossal (2000) não encontraram diferenças significativas entre o número de séries e Viveiros et al (2004) afirmam que a duração do estímulo pode proporcionar maior flexibilidade, independente do volume, sendo que este era dado através de uma e três séries. Júnior (2006, p.315) também menciona que uma série parece mais apropriada, em vez de duas séries seguidas com similar tensão e tempo, para habituar-se a permanecer no alongamento. Os movimentos de flexão de joelho, abdução de quadril e rotação medial do ombro, analisados pelo flexiteste, apresentaram a maior amplitude para ambos os grupos analisados, o que pode estar relacionado ao emprego desses movimentos durante a luta, especialmente nas imobilizações. Mesmo não encontrando diferença significativa entre os grupos, quando analisados os níveis iniciais de flexibilidade, verificou-se que o G1 já possuía maiores amplitudes de movimento, o que pode ter contribuído para o fato de não se evidenciar melhora expressiva nesse grupo, após o treinamento. É fato que se obtém maior evolução na flexibilidade no início de um programa de treinamento e também quando esta se encontra em um estado mais limitado. Por outro lado, sua progressão é mais difícil após a aquisição de um determinado grau e conforme o programa se desenvolve. Neste estudo, o treinamento da flexibilidade foi ministrado no início da sessão de treino, antes do aquecimento, conforme estudos de Souchard et al apud Júnior (2006, p.319), ao salientarem que os exercícios de flexibilidade sem aquecimento beneficiariam a deformação plástica (permanente do tecido), e o aquecimento beneficiaria o alongamento elástico (deformação transiente do tecido). Esse autor explica que um músculo, quando da temperatura corporal aumentada, torna-se, por alguns instantes, mais flexível (deformação elástica), o que facilita provisoriamente seu alongamento, mas ele retornará a seu comprimento de origem no estado frio, ao passo que o alongamento dos músculos frios permitirá conservar os aumentos adquiridos (deformação plástica). Os autores sustentam essa afirmação como resultado de experiências clínicas, no intuito de desfazer encurtamentos musculares. Com relação às correlações entre variáveis, o teste estatístico de Pearson mostrou existir correlação linear entre algumas delas. O peso muscular e o teste de sentar e alcançar se correlacionaram positivamente. Isso pode estar relacionado ao fato de que um atleta com musculatura melhor desenvolvida, provavelmente apresenta um grau de treinamento mais elevado e as chances de um indivíduo mais treinado ter um nível de flexibilidade maior aumentam quando comparadas ao um indivíduo não-treinado. Em contraposição, a gordura corporal se correlacionou negativamente com o flexiteste, podendo inferir o oposto da correlação com o peso muscular, ou seja, um maior percentual de gordura pode estar aliado a um menor nível de treinamento, menor proporção de massa magra e, conseqüentemente, a uma maior dificuldade em algumas amplitudes de movimento. A estatura também apresentou uma correlação positiva com o teste de sentar e alcançar e com o flexiteste. Isso pode estar relacionado aos comprimentos de membros, sobretudo os superiores, que permitem um melhor desempenho nos testes de alcance. Encontrou-se, ainda, uma alta correlação entre o flexiteste e o sentar e alcançar, o que aparentemente seria esperado. Mas, há que se considerar o fato do teste de sentar e alcançar ser composto de apenas um movimento articular e envolver poucos grupos musculares enquanto que o flexiteste é constituído por 20 movimentos e requer a presença de várias musculaturas, sendo possível que outras articulações tenham influenciado nessa correlação. É necessário destacar também que a flexibilidade apresenta diferenças entre os diversos grupos músculo-articulares e um indivíduo muito flexível em determinada articulação pode ser totalmente limitado em outra. Portanto, esta relação deve ser vista com ressalvas devido às colocações anteriores. Os atletas não devem deixar que a flexibilidade retorne aos níveis iniciais. Sabe-se que pode haver diminuição de até 50% na amplitude de movimento adquirido em pouco tempo (BOUCHARD apud JÚNIOR, 2006, p.326). Atingindo-se o grau desejado de flexibilidade, os exercícios de alongamento são administrados objetivando principalmente a manutenção da mesma. Em esportes de luta, a relevância da flexibilidade pode ser somente teórica, ou seja, ser somente parte de uma cadeia de pensamentos que pode aumentar a confiança do atleta em determinadas situações (ALTER, 1999). Situações em que isso pode ocorrer relacionam-se com a crença de que maior flexibilidade nos quadris e pernas permite ao lutador baixar o centro de gravidade em uma posição 201
8 defensiva, facilitando o emprego maior das técnicas de ataque a partir desta posição. Outro aspecto relaciona-se ao fato da flexibilidade permitir ao lutador deformar-se o suficiente para evitar as rupturas teciduais, além de esgueirar-se de posições que seriam incapacitantes, como por exemplo, quando a cintura escapular é usada como referencial de ataque, em especial quando os lutadores encontram-se no chão. CONCLUSÃO Não foi encontrada diferença significativa entre os tempos de manutenção das posições nos exercícios de flexionamento para 10 e 30 segundos. Contudo, apesar de cada grupo não apresentar diferença significativa antes e após o treinamento, verificou-se que ambos aumentaram seus valores absolutos. Portanto, ambos os tipos de treinamento de flexibilidade se mostraram adequados para o desenvolvimento da flexibilidade em 6 semanas, para a população estudada. REFERÊNCIAS ALTER, Michael J. Ciência da Flexibilidade. 2 ª edição. Porto Alegre: Editora Artmed, BANDY, W. D.; IRON, J. M. The effect of time on stratic atretch on the flexibility of the hamstring muscles. Physical Therapy, 74(9): , BORMS, J.; VAN ROY, P.; SANTENS, I.; HAENTJENS, A. Optimal duration of static stretching exercises for improvements of coxofemural flexibility. Journal of Spots Science. London, 5(1): 39-47, CARNAVAL, P. E. Medidas e avaliação em ciências do esporte. 5ª ed. Rio de Janeiro: Sprint, DANTAS, Estélio M. A prática da preparação física. 4 ª edição. Rio de Janeiro: Editora Shape, DANTAS, Estélio H. M. Flexibilidade, Alongamento e Flexionamento. 4 ª edição. Rio de Janeiro: Editora Shape, JAMI, L. Golgi tendon organ in mammalian skeletal muscle: functional properties and central actions. Physiologic Review, v.72, n.3, p , JÚNIOR, Abdallah Achour. Exercícios de alongamento: anatomia e fisiologia. 2ª Edição. Barueri, SP: Manole, JÚNIOR, Abdallah Achour. Flexibilidade e alongamento: Saúde e bem-estar. São Paulo: Editora Manole, MADDING, S. W.; WONG, J. G.; HALLUM, A.; MEDEIROS, J. M. Effect of duration of passive stretch on hip abduction range of motion. Journal of Orthopaedic and Sports Physical Therapy. Baltimore, 6(2): 34-45, MARINS, João C. B.; GIANNICHI, Ronaldo S. Avaliação e Prescrição de Atividade Física. Guia Prático. 3 ª edição. Rio de Janeiro: Editora Shape, SHRIER I, GOSSAL K. Myths and truths of stretching. Phys Sports Med 8(28), SOUZA, Israel; SILVA, Vladimir S. da; CAMÕES, José C. Flexibilidade tóraco-lombar e de quadril em atletas de jiu-jitsu. Disponível em: < Acessado em: 17/04/06. TAYLOR, D.; DALTON, J.; SEABER, A. & GARRET, W. Viscoelastic properties of muscle-tendon the biomechanical effects of stretching. The American Journal of Sports Medicine, 18(3): , VIVEIROS, L.; POLITO, M. D.; SIMÃO, R.; FARINATTI, P. Respostas agudas imediatas e tardias da flexibilidade na extensão do ombro em relação ao número de séries e duração do alongamento. Rev Bras Med Esporte, vol. 10, nº 6, p , Nov/Dez, WEINECK, J. Treinamento ideal. São Paulo: Manole Ltda., Universidade Federal de Viçosa APOIO: CNPq 202
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