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Transcrição:

Políicas anicíclicas na indúsria auomobilísica: uma análise de co-inegração dos impacos da redução do IPI sobre as vendas de veículos Gusavo Varela Alvarenga, Parick Franco Alves, Carolina Fernandes dos Sanos, Fernanda De Negri, Luiz Ricardo Cavalcane (Insiuo de Pesquisa Econômica Aplicada IPEA) Maria Crisina Passos (Pesquisadora do Programa de Pesquisa para o Desenvolvimeno Nacional, PNPD, do IPEA) Resumo O objeivo dese rabalho é analisar os impacos da redução do Imposo sobre Produos Indusrializados (IPI) sobre as vendas de veículos no Brasil enre janeiro e novembro de 2009. Para alcançar esse objeivo, foi esimado um modelo no qual as vendas inernas de veículos são função do preço, da renda e do crédio concedido para sua aquisição. O modelo economérico adoado permie verificar a exisência de relações de curo e de longo prazo enre as variáveis uilizadas. Os resulados obidos para as elasicidades de ransmissão das variáveis no longo prazo e para suas velocidades de ajusameno reafirmam a percepção de que a redução do IPI foi basane imporane para a recuperação das vendas do seor auomoivo no período subseqüene à crise financeira inernacional. A redução do imposo foi responsável por 20,7% das vendas que se observaram no período analisado. O crédio, porém, eria apresenado um efeio não desprezível, especialmene se ouras medidas anicíclicas não ivessem sido adoadas ao longo do ano de 2009. Absrac The aim of his paper is o analyze he impacs of he reducion of he Brazilian Tax on Indusrialized Producs (IPI) on he local sales of vehicles during he period beween January and November of 2009. In order o evaluae hese impacs, sales have been modeled as a funcion of price, income and credi for he acquisiion of vehicles. The economeric model akes ino accoun he exisence of shor-run and long-run relaionships among he variables. The resuls obained for he long run elasiciies of ransmission as well as for heir shor run adjusmen speeds reinforce he percepion ha he reducion of he IPI was paricularly relevan o he recovery of he vehicle sales in he period afer he inernaional financial crisis. The resuls showed ha 20,7% of he vehicle sales during he period can be associaed o he reducion of he IPI. An incremen in he credi for he acquisiion of vehicles could have shoed a no negligible effec on he vehicle sales especially in he absence of oher counercyclical measures in 2009. Palavras-chave: políicas anicíclicas / indúsria auomobilísica / imposo sobre produos indusrializados / co-inegração. Key-words: counercyclical policies / auomobile indusry / Tax on Indusrialized Producs / coinegraion. Área ANPEC: Área 4 - Economia do Seor Público Classificação JEL: H3 - Fiscal Policies and Behavior of Economic Agens. Ese rabalho corresponde a uma versão ampliada do exo Indúsria auomobilísica e políicas anicíclicas: lições da crise, publicado no Boleim Radar: Tecnologia, Produção e Comércio Exerior (IPEA / DISET), n. 7, p. 9-4, abr. 200.

Políicas anicíclicas na indúsria auomobilísica: uma análise de co-inegração dos impacos da redução do IPI sobre as vendas de veículos Resumo O objeivo dese rabalho é analisar os impacos da redução do Imposo sobre Produos Indusrializados (IPI) sobre as vendas de veículos no Brasil enre janeiro e novembro de 2009. Para alcançar esse objeivo, foi esimado um modelo no qual as vendas inernas de veículos são função do preço, da renda e do crédio concedido para sua aquisição. O modelo economérico adoado permie verificar a exisência de relações de curo e de longo prazo enre as variáveis uilizadas. Os resulados obidos para as elasicidades de ransmissão das variáveis no longo prazo e para suas velocidades de ajusameno reafirmam a percepção de que a redução do IPI foi basane imporane para a recuperação das vendas do seor auomoivo no período subseqüene à crise financeira inernacional. A redução do imposo foi responsável por 20,7% das vendas que se observaram no período analisado. O crédio, porém, eria apresenado um efeio não desprezível, especialmene se ouras medidas anicíclicas não ivessem sido adoadas ao longo do ano de 2009. Absrac The aim of his paper is o analyze he impacs of he reducion of he Brazilian Tax on Indusrialized Producs (IPI) on he local sales of vehicles during he period beween January and November of 2009. In order o evaluae hese impacs, sales have been modeled as a funcion of price, income and credi for he acquisiion of vehicles. The economeric model akes ino accoun he exisence of shor-run and long-run relaionships among he variables. The resuls obained for he long run elasiciies of ransmission as well as for heir shor run adjusmen speeds reinforce he percepion ha he reducion of he IPI was paricularly relevan o he recovery of he vehicle sales in he period afer he inernaional financial crisis. The resuls showed ha 20,7% of he vehicle sales during he period can be associaed o he reducion of he IPI. An incremen in he credi for he acquisiion of vehicles could have shoed a no negligible effec on he vehicle sales especially in he absence of oher counercyclical measures in 2009.. Inrodução A crise financeira que eclodiu no final de 2008 moivou a adoção, em diversos países, de políicas públicas anicíclicas de caráer seorial. No Brasil, em paricular, adoou-se, no seor auomoivo, a redução do Imposo sobre Produos Indusrializados (IPI) como insrumeno para promover a recuperação do seor diane de uma queda acenuada de demanda observada ao longo dos úlimos meses de 2008. Implemenada em janeiro de 2009, a redução do IPI sobre veículos auomoores vigorou aé o final de março do ano seguine. Embora se afirme, genericamene, que a medida conseguiu reverer a crise do seor, não há ainda análises esaisicamene robusas que susenem essa proposição. Nese rabalho, analisam-se os impacos da redução do IPI sobre as vendas de veículos. Esudos desa naureza podem fornecer elemenos para a formulação de políicas de caráer anicíclico em ouras circunsâncias. Em paricular, pode-se verificar em que medida a recuperação do seor pode ser crediada à redução do IPI. Além disso, análises sobre o papel do crédio na reomada das vendas podem ambém indicar alernaivas para o combae a quedas acenuadas nos níveis de aividade. O rabalho esá esruurado em mais quaro seções além desa inrodução. Na seção 2, discue-se a rajeória recene da indúsria auomobilísica no Brasil. Procura-se evidenciar que as vendas do seor apresenaram uma queda acenuada e uma rápida recuperação enre o final de 2008 e o início 2

de 2009. Em seguida, na erceira seção, indicam-se os procedimenos meodológicos adoados para avaliar os impacos da redução do IPI sobre as vendas de veículos. Na quara seção, os resulados da aplicação do modelo são discuidos, Finalmene, na seção 5, as principais conclusões do rabalho são indicadas. 2. Fundamenos: a rajeória recene da indúsria auomobilísica no Brasil O Brasil é hoje o sexo maior produor de veículos do mundo, conando com um parque indusrial maduro e foremene esruurado, no qual esão presenes planas modernas das principais monadoras mundiais. Assim como ocorre em vários ouros países indusrializados, o seor auomoivo responde por uma parcela significaiva das aividades produivas. Em 2008, ele represenava 23% do produo inerno bruo (PIB) indusrial e 5% do PIB oal do país. Em dezembro daquele mesmo ano, as empresas associadas à Associação Nacional dos Fabricanes de Veículos Auomoores (Anfavea) empregavam cerca de 00 mil pessoas. Esima-se que os empregos direos e indireos do seor auomoivo ainjam mais,5 milhão de posos de rabalho. Enre 2004 e 2007, o crescimeno médio anual da produção e da venda de veículos no país foi de 3% ao ano. Grande pare dese crescimeno se deveu ao mercado inerno, uma vez que a exporação de veículos auomoores cresceu somene aé 2005, apresenando uma queda nos anos seguines, sem reornar ao pico de 897 mil unidades alcançado no ano de 2005. Somene em 2007, em relação ao ano anerior, a produção e as vendas de veículos auomoores aumenaram 4% e 28%, respecivamene. O ambiene macroeconômico favorável, o acesso ao crédio, a melhora na renda das famílias, o aumeno do emprego com careira assinada e o progresso da classe C conribuíram posiivamene para ese quadro. Em seembro de 2008, as vendas oais de veículos auomoores superavam em cerca de 30% as vendas do mesmo mês do ano anerior, e a produção crescia em aproximadamene 20%, manida a mesma base de comparação. Essa rajeória ascendene foi subiamene inerrompida pelo agravameno da crise financeira inernacional em ouubro de 2008, quando os sinais de desaceleração na rajeória de crescimeno da indúsria auomobilísica brasileira começaram a ficar mais visíveis. Nos dois úlimos meses de 2008, observou-se uma queda acenuada nas vendas e na produção. Enreano, a parir de novembro daquele ano, as empresas adoaram medidas para fazer frene à reração da aividade (redução de urnos de rabalho e concessão de férias coleivas). No início de dezembro, o governo federal anunciou medidas anicíclicas de socorro ao seor auomoivo mediane uma redução da alíquoa do IPI que incide sobre o preço de veículos. O seor respondeu rapidamene à redução das alíquoas do imposo, e as vendas no mercado inerno começaram a se recuperar mais acenuadamene a parir de março de 2009, conforme evidenciado na figura. 3

350.000 300.000 Vendas (oal) Produção (oal) 250.000 200.000 50.000 vendas no mercado inerno 00.000 50.000 vendas no mercado exerno 0 jan/04 abr/04 jul/04 ou/04 jan/05 abr/05 jul/05 ou/05 jan/06 abr/06 jul/06 ou/06 jan/07 abr/07 jul/07 ou/07 jan/08 abr/08 jul/08 ou/08 jan/09 abr/09 jul/09 ou/09 Figura : produção oal e vendas de auoveículos nos mercados inerno e exerno, jan. 2004 dez. 2009, unidades Fone: Anfavea/Banco Cenral do Brasil (BCB). A rajeória do seor ao longo do período indicado na figura esá foremene associada à rajeória do crédio auomoivo, uma vez que cerca de 70% do oal comercializado de auomóveis e 90% dos caminhões e ônibus foram realizados com financiameno, consórcio ou leasing, segundo a Associação Nacional das Empresas Financeiras das Monadoras (ANEF). A expansão do crédio auomoivo, por sua vez, pode ser explicada pela queda das axas de juros e pelo alargameno do prazo de financiameno dos veículos, que passou de 24 meses, em 2000, para 84 meses, em 2007. Mudanças insiucionais no mercado de crédio no Brasil, como a disseminação do insiuo da alienação fiduciária, que reduz o risco de crédio, possivelmene explicam grande pare das condições crescenemene favoráveis a ese ipo de operação. Como resulado, o saldo consolidado das operações de crédio com recursos livres referenciais para aquisição de veículos praicamene riplicou enre janeiro de 2004 e dezembro de 2009. O crescimeno conínuo observado aé meados de 2008, porém, apresena uma inflexão a parir de ouubro de 2008, e somene reoma o valor daquele mês em agoso do ano seguine. A rajeória exibida na figura 2 é, obviamene, conseqüência do comporameno das concessões de recursos para financiameno auomoivo. Enre 2004 e 2007, ese indicador aumenou de forma significaiva, endo alcançado seu valor máximo (correspondene a R$ 6,57 bilhões) no final daquele ano. A parir daquele momeno, porém, observa-se uma inflexão e, em novembro de 2008 o valor observado é de R$ 2,23 bilhões, inferior ao valor nominal observado no início da série exibida na figura 2. A parir de novembro de 2008, conudo, a série vola a exibir uma endência de crescimeno, alcançando R$ 6,82 bilhões em seembro de 2009. 4

8,00 7,00 6,00 5,00 4,00 3,00 2,00,00 0,00 jan/04 mar/04 mai/04 jul/04 se/04 nov/04 jan/05 mar/05 mai/05 jul/05 se/05 nov/05 jan/06 mar/06 mai/06 jul/06 se/06 nov/06 jan/07 mar/07 mai/07 jul/07 se/07 nov/07 jan/08 mar/08 mai/08 jul/08 se/08 nov/08 jan/09 mar/09 mai/09 jul/09 se/09 nov/09 Figura 2: concessões consolidadas das operações de crédio com recursos livres referenciais para axa de juros (aquisição de bens veículos, pessoa física), jan. 2004 dez. 2009, R$ bilhões Fone: Banco Cenral do Brasil (BCB). Assim, há evidências de que a recuperação das concessões de crédio pode er conribuído, ambém, para o crescimeno das vendas de veículos que se observou a parir do início de 2009. Obviamene, valores maiores de concessão de crédio poderiam er conribuído para a recuperação ainda mais acelerada das vendas de auomóveis no país. Nesse senido, é imporane deerminar o quano da recuperação das vendas do seor auomobilísico pode ser aribuído à redução do IPI. Na próxima seção, descrevem-se os procedimenos meodológicos adoados para quanificar esses impacos são indicados. 3. Modelagem e procedimenos meodológicos 3. Modelagem Análises precedenes demonsraram claramene a relevância da redução do IPI para a recuperação do seor. Usando um modelo de regressão linear simples no qual as vendas inernas de veículos são função do preço, da renda e do crédio concedido para a aquisição de veículos, a Direoria de Esudos e Políicas Macroeconômicas (Dimac) do Insiuo de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) esimou que 9 mil veículos vendidos enre janeiro e junho de 2009 (que correspondem a 3,4% das vendas) podem ser crediados ao IPI reduzido (IPEA, 2009). Em linha com ouros rabalhos precedenes sobre o mesmo ema, o modelo empregado nese rabalho assumiu que as vendas de veículos (v) são uma função do preço (p), da renda (r) e do crédio concedido para a aquisição de veículos (c), conforme indicado na equação : v = f ( p, r, c) (eq. ) Esse modelo essencialmene inuiivo é convergene com abordagens aneriormene empregadas para descrever o comporameno de mercado de veículos (por exemplo, DE NEGRI, 998). 5

As variáveis que compõem a equação foram especificadas da seguine forma: Vendas: vendas no aacado no mercado inerno de auomóveis e comerciais leves, em unidades. Fone: Anfavea. Preço: Índice de Preços por Aacado (IPA) origem produos indusriais veículos auomoores, reboques, carrocerias e auopeças (mensal - deflacionado pelo IPC). Fone: Fundação Geúlio Vargas (FGV). Renda: Produo Inerno Bruo (PIB) Valores correnes (R$ milhões mensal deflacionado pelo IPC). Fone: Deparameno Econômico (DEPEC) do BCB. Crédio: Concessões consolidadas das operações de crédio com recursos livres referenciais para aquisição de bens veículos (R$ milhões mensal deflacionado pelo IPC). Fone: DEPEC/BCB. No presene rabalho, as séries de dados são esendidas aé novembro de 2009, e cobrem um período de mais de see anos, uma vez que são usadas informações a parir de junho de 2002. Opou-se por deflacionar o preço, a renda e o crédio usando o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), e não o Índice Geral de Preços (IGP). A opção pelo IPC jusifica-se porque, no modelo proposo, é a evolução percebida pelo consumidor no preço, na renda e no crédio que deermina sua propensão a adquirir ou não um veículo. O IGP, por sua própria composição, seria mais adequado caso o foco fosse a evolução nos preços percebida pelo produor. As séries foram dessazonalizadas uilizando-se o méodo X-2 ARIMA, desenvolvido pelo US Census Bureau, e uilizaram-se os logarimos dos valores originais para que a esimação das relações se desse em um conexo de elasicidade. Os logarimos das variáveis são indicados por lvenda, lcredio, lpreco e lrenda. 3.2 Procedimenos meodológicos Tendo em visa que as séries apresenam quebras esruurais ao longo do período analisado, foram empregadas écnicas esaísicas que consideram essas mudanças. A opção pelo uso de séries emporais (em oposição a uma regressão linear simples) permiiu que se calculassem não somene as elasicidades de ransmissão das variáveis (preço, renda e crédio) no longo prazo, mas ambém as velocidades com que esas variáveis se ajusam no curo prazo. A base eórica desse ipo de raameno esá indicada na subseção 3.2.; sua aplicação ao modelo adoado nese rabalho, por sua vez, é o objeo da subseção 3.2.2. 3.2. Séries não-esacionárias e ese de co-inegração Seja b a ordem de inegração das seqüências{ y } e { z } 2. A modelagem envolvendo essas séries emporais deve considerar as seguines siuações: Siuação : { y } e { z } são esacionárias (iso é, I y (0) e I z (0) clássico de regressão é apropriado. ). Nesse caso, o modelo 2 A noação I y ( b ) indica que a série y é inegrada de ordem b. 6

Siuação 2: As seqüências { y } e { z } são inegradas em diferenes ordens ( I y ( b) I z ( b) ). Nesse caso, um modelo de regressão linear é inadequado. Siuação 3: As seqüências { y } e { z } são inegradas de mesma ordem ( I y ( b) = I z ( b) ) e o resíduo coném uma endência esocásica. Nesse caso, o ajuse de modelo de regressão linear aravés de mínimos quadrados produzirá uma regressão espúria, sendo recomendada a esimação em primeira diferença: y = a0 + a z + e. Se { y } e { z } são individualmene inegradas de ordem ( I () e I () ), apresenam a mesma endência y (deerminísica, esocásica ou nenhuma) e primeira diferença esacionária, as propriedades assinóicas do modelo de regressão são válidas. Siuação 4: As seqüências { y } e { z } são não-esacionárias, mas inegradas de mesma ordem, e o resíduo do modelo ( e ) é esacionário. Nesse caso, pode-se afirmar que as seqüências { y } e { z } apresenam uma relação de equilíbrio de longo prazo, ou seja, exise uma combinação linear { w } enre essas séries que é inegrada de ordem zero ( I (0 w ) ). Assim, um passo fundamenal da análise de séries emporais é a verificação da ordem de inegração, que pode ser realizada aravés do ese aumenado de Dickey e Fuller descrio a seguir (ENDERS, 2004). Seja o modelo auo-regressivo: y ε = a y +. Ao se subrair z y de ambos os lados, chega-se à expressão y = ( a ) y + ε, ou y γ y ε γ = a. Dessa forma, a hipóese H 0 : a = equivalene a H 0 : γ = 0. As seguines possibilidades devem enão ser consideradas: i) presença de endência emporal e inercepo (equação 2); ii) inercepo (equação 3); e iii) ausência de endência emporal e inercepo (equação 4). y = +, onde ( ) y = µ + β + γ + ε (eq. 2) y = µ + γ + ε (eq. 3) y y y = γ + ε (eq. 4) Quando o parâmero auo-regressivo é nulo ( γ = 0 ), a seqüência { y } possui raiz uniária. As esaísicas τ, τ µ e τ β são apropriadas para verificar a raiz univariada nas equações2, 3 e 4, respecivamene. Para se ober um processo de ruído branco em ε, pode-se incluir defasagens da variável dependene em primeira diferença, caracerizando o ese de Dickey Fuller aumenado (ADF). Assim, 2, 3 e 4 podem ser escrias da seguine forma: p y = µ + β + γ y + δ y + ε (eq. 5) i i i= p y = µ + γ y + δ y + ε (eq. 6) i i i= 7

p y = γ y + δ y + ε (eq. 7) i i i= Onde o número de defasagens é escolhido conforme, por exemplo, os criérios de Akaike (AIC) e Schwarz (SBC ou BIC). Uma vez que as séries de dados apresenam quebras esruurais do ipo Addiive Oulier (AO) evidenciadas pela variação da inclinação de endência ao longo do período analisado, foi uilizado o ese de raiz uniária proposo por Franses e Haldrup (994), que se apóia na seguine expressão: p k p j + ij D i + ψ i y i + i= 0 j= i= y = ( a ) y ω ε (eq. 8) j onde y é o valor da série de ineresse com disúrbios no período e D é a dummy ipo pulse, que represena a quebra esruural da série no período i. Nesse modelo, esa-se se ( a ) = 0 uilizando o ese ADF convencional. De acordo com Enders (2004 apud MARGARIDO, 200), se não forem consideradas as quebras, as esaísicas do ADF são viesadas no senido de não rejeiar a hipóese nula de raiz uniária, quando na verdade a série é esacionária. A definição do ese de co-inegração pare de um conjuno de variáveis macroeconômicas sob um esado de equilíbrio de longo prazo: β + β + K + β = (eq. 9) x 2x2 nxn 0 Represenando os veores ( β, β2, K, β n ) e ( x, x2, K, xn ) na forma veorial, em-se: e =β x (eq. 0) Afirma-se que o sisema se enconra em equilibro quando { e } é uma série esacionária I e (0). Os componenes do veor x = ( x, x2, K, x n ) são dios co-inegrados de ordem d e b ( x ~ CI (b)) se forem saisfeias as seguines condições: i) odos os componenes de X são inegrados de mesma ordem; e ii) exise pelo menos um veor β = ( β, K, β n ), β 0, al que a combinação linear βx = βx + K + βnxn é inegrada de ordem (d-b), w = β x ~ CI ( b), b>0, onde β é chamado veor de co-inegração. Dessa forma, pode-se invesigar se processos não-esacionários apresenam alguma relação de equilíbrio de longo prazo. A exisência de uma combinação linear esacionária enre variáveis nãoesacionárias é denominada de esado de equilíbrio de longo prazo que, em geral, possui um significado econômico. Na verdade, a expressão equilibro de longo-prazo (ENDERS, 2004; p. 32) associa-se à idéia de causalidade ou precedência emporal. 3.2. Aplicação do ese de co-inegração Para enar idenificar o número de defasagens dos eses de raiz uniária foi uilizado o criério BIC e seus resulados sugerem que as variáveis lvenda e lcredio em primeiras diferenças seguem um modelo ARMA de ordem (,0), logo apenas uma defasagem foi uilizada no ese ADF dessas variáveis. Já para a variável lpreco, o menor valor obido para o BIC corresponde a um modelo auo-regressivo de ordem 3. Finalmene, a variável lrenda segue um processo AR(2). Os eses 8

forneceram evidências fores conra a exisência de raiz uniária para odas as variáveis quando realizada a primeira diferença, assim pode-se dizer que são inegradas de ordem. Uma análise dos resíduos da auo-regressão das séries demonsrou que são ruído branco e os eses de raiz uniária demonsraram que são esacionários. Apesar de cada variável possuir quebra esruural em sua série, isso não significa necessariamene que sua combinação linear apresenará quebra. Com isso em mene, foi uilizado o ese de coinegração proposo por Johansen e Juselius (990) e, caso houvesse evidências de não coinegração, ouras meodologias, que levam em cona a quebra esruural, seriam uilizadas. De acordo com Bueno (2008), um méodo para se deerminar a ordem da defasagem do ese de coinegração é combinar, simulaneamene, o melhor criério de informação com a ausência de auocorrelação dos resíduos. A aplicação desse méodo a um modelo que ena explicar as vendas de veículos em função dos preços, da renda e do crédio concedido revelou que essas séries são coinegradas de poso 3 e o seu modelo para correção veorial de erros não possui inercepo, ou seja, segue a equação abaixo: p + * Φi y i + i= y = Πy ε (eq. ) onde Π = α β, e α são os parâmeros de curo prazo e β os parâmeros de longo prazo. O ese proposo por Johansen e Juselius (990) deermina as colunas linearmene independenes de Π aravés da esaísica raço, qual seja: n λ = T log( λ ) (eq. 2) raço i= r + i Para a qual se esa a hipóese nula de que cada auovalor é igual a zero: H : λ i 0, para i = r +,..., n. 4. Resulados e simulações 0 = A aplicação do modelo descrio na seção anerior permiiu que se chegasse aos seguines resulados: Variável Tabela : coeficienes de ajuse de curo e longo prazo Coeficiene α de ajuse de curo prazo Parâmero β de ajuse de longo prazo lvenda -0,0444,00000 lcredio 0,43943,7588 lpreco -0,00385-2,5287 lrenda 0,0258 4,4704 Elaboração dos auores. Conforme se pode ver na abela, a esimaiva da ransmissão da variação do crédio para as vendas é de,7588, ou seja, cerca de 8% da variação do crédio é ransferida para a quanidade vendida no longo prazo. A velocidade com que o crédio se ajusa no curo prazo é de 0,43943. Isso quer dizer que o desequilíbrio ransiório causado no crédio para veículos é incorporado na sua própria série a uma axa de cerca de 44% ao mês. O preço apresena uma maior elasicidade de longo prazo 9

(-2,5287), mas a velocidade com que um choque nesa variável é absorvido é muio baixa (0,00385). Por sua vez, a variável renda foi a que demonsrou maior impaco no longo prazo (4,4704) e, de maneira análoga ao preço, seu parâmero de ajuse de curo prazo é reduzido (0,0258). De qualquer forma, ese resulado sugere que a queda relaivamene reduzida do PIB em 2009 foi um imporane faor de susenação das vendas no seor auomobilísico naquele ano. Porém, raa-se de uma variável sobre a qual os formuladores de políica deêm menor conrole direo. As elasicidades de longo prazo indicadas na abela podem ser comparadas com os resulados obidos aneriormene na noa écnica publicada pelo Ipea (abela 2). Tabela 2: comparação dos coeficienes de ajuse de longo prazo Ipea (2009) Novas esimaivas lcredio 0,384,76 lpreco -2,84-2,529 lrenda 2,553 4,47 Fone: Ipea (2009) e elaboração dos auores. Pode-se observar que a imporância do preço é similar nas duas esimaivas. Porém, as elasicidades maiores obidas para o crédio e para a renda sugerem que esas variáveis podem er ido um papel mais imporane na recuperação do seor do que aneriormene se pensava. As diferenças jusificamse pelos diferenes méodos de esimação empregados, pelos diferenes inervalos de análise e pelos diferenes deflaores usados em cada caso. Com base nos resulados obidos, analisou-se, enão, a resposa-impulso das vendas a choques nas variáveis preço e crédio. Verificou-se, inicialmene, que um choque no crédio em efeio de propagação pequeno a cada período e se esabiliza após dez meses. Por sua vez, a variável preço possui um efeio de propagação mais elevado e ende a se esabilizar 2 períodos após o choque. Em seguida, simulou-se o comporameno das vendas admiindo rajeórias alernaivas para os preços e o crédio no período enre janeiro e novembro de 2009. Nese caso, as quanidades vendidas foram recalculadas considerando as seguines siuações hipoéicas: se não ivesse havido redução do IPI; se ivesse havido redução do IPI e aumeno de 5% nas concessões de crédio; e se não ivesse havido redução do IPI e houvesse um incremeno de 5% no crédio. Para simular a hipóese de não er havido redução do IPI, considerou-se que cada pono percenual do imposo pode resular em variação enre 0,8% e 0,9% sobre o preço oal do veículo. Esa proposição apoia-se nos cálculos da Anfavea. Arbirou-se, nese rabalho, uma redução média de 6,5 ponos percenuais do IPI, considerando-se que i) para os carros novos com moorização aé.000 cilindradas, o imposo de 7% foi suspenso; ii) para os auomóveis enre.000 e 2.000 cilindradas, o imposo caiu de 3% para 6,5% (moor a gasolina) e de % para 5,5% (moor a álcool e flex); e iii) carros acima de 2.000 cilindradas não iveram core no IPI. A redução arbirada implicaria preços 5,525% menores (= 6,5% x 0,85). Assim, para um preço médio de 00 sem redução do IPI, o novo preço seria 94,475. Da mesma forma, para um preço médio de 00 com redução do IPI, o preço seria 05,85 caso o imposo ivesse sido cobrado. Dessa forma, para 0

calcular o preço que seria praicado caso não ivesse havido redução do IPI, acrescenou-se 5,85% ao preço observado a parir de janeiro de 2009. Os resulados dessas simulações esão indicados na figura 3 e na abela 3 anexada ao final dese exo. Figura 3 simulações do comporameno das vendas, jan. 2009 nov. 2009, mil unidades 350 330 30 290 Vendas COM redução IPI e com aumeno de 5% no crédio Impaco do crédio (havendo redução do IPI) Vendas COM redução IPI 270 250 230 Impaco da redução do IPI Vendas SEM redução IPI mas com aumeno de 5% no crédio Impaco do crédio (se não ivesse havido redução do IPI) 20 90 Vendas SEM redução IPI 70 50 jan/09 fev/09 mar/09 abr/09 mai/09 jun/09 jul/09 ago/09 se/09 ou/09 nov/09 Elaboração dos auores. Ao se confronar a evolução das vendas com redução do IPI (indicadas por uma linha azul conínua na figura 3) com as vendas sem redução do IPI (simuladas com base no modelo obido nese rabalho e indicadas na figura por uma linha azul racejada) verifica-se que, de fao, a redução do imposo foi capaz de moivar um aumeno expressivo na demanda. Com eses dados, pôde-se concluir que 20,7% das vendas observadas enre janeiro e novembro de 2009 decorreram da políica anicíclica adoada. Ese valor é superior àquele que havia sido obido pela Ipea (2009), cuja esimaiva, para o primeiro semesre de 2009, alcançava 3,4% das vendas. 3 Esimou-se, em seguida, qual eria sido a rajeória das vendas, não endo havido redução do IPI, se houvesse um incremeno de 5% no volume de crédio auomoivo concedido. O efeio líquido pode ser observado ao se confronarem, na figura 3, as racejadas azul e vermelha. Verifica-se que o aumeno no volume de crédio eria sido responsável por um deslocameno das vendas, embora em magniude inferior àquilo que se observou ao se reduzirem os preços em 5,85%. Considerando o oal alcançado enre janeiro e novembro de 2009, verifica que o incremeno nas vendas obido com o aumeno do crédio, sem redução do IPI, eria sido de 2 mil veículos (8,3% das vendas que eriam ocorrido). 3 Ao se considerar apenas o período enre janeiro e junho de 2009, os dados obidos nese rabalho indicam que 20,0% das vendas do período decorreram da redução do IPI.

Finalmene, ao se confronarem as vendas efeuadas com redução do IPI (linha azul conínua) com as vendas que eriam ocorrido se, além da redução do IPI, ivesse havido um incremeno de 5% no volume de crédio concedido (indicada pela linha vermelha conínua), verifica-se que, enre janeiro e abril de 2009, praicamene não haveria incremeno. A parir de maio, um pequeno aumeno nas vendas seria observado, de modo que, ao se considerar o oal dos meses, 98 mil veículos a mais eriam sido vendidos, o que corresponde a um incremeno de 3,2%. Isso sugere a exisência de uma parcela de consumidores para os quais somene a redução do IPI já seria suficiene para a aquisição de veículos. Ese universo corresponde, possivelmene, àqueles cuja decisão de consumo é menos afeada pela renda ou pela disponibilidade de crédio e mais pelo aproveiameno de oporunidades (aquisição de veículos a um preço menor por cona da isenção emporária de ribuos). 5. Conclusões Nese rabalho, analisaram-se os impacos da redução do IPI sobre as vendas de veículos com o propósio de verificar em que medida a recuperação do seor pode ser crediada à redução do imposo.adoou-se um modelo economérico que analisa a co-inegração das séries uilizadas e verifica a exisência de quebras esruurais ao longo do período analisado. Os resulados obidos confirmam a percepção de que a redução do IPI foi basane imporane para a recuperação das vendas do seor auomoivo no período subseqüene à crise financeira inernacional. A redução do imposo foi responsável por 20,7% das vendas que se observaram enre janeiro e novembro de 2009. O crédio, porém, eria apresenado um efeio não desprezível, especialmene se ouras medidas anicíclicas não ivessem sido adoadas. Todavia, viso que o impaco da redução do IPI sobre as conas públicas e sobre o Fundo de Paricipação dos Esados (FPE) e o Fundo de Paricipação dos Municípios (FPM) não é desprezível, pode-se quesionar qual medida eria apresenado a maior eficiência (iso é, melhor relação enre resulados alcançados e recursos aplicados). Ponderações desa naureza podem indicar a combinação mais adequada de insrumenos a serem usados para compor as medidas adoadas. Nesse senido, a experiência aqui discuida fornece um conjuno de lições que podem vir a ser aproveiadas no fuuro para a formulação de políicas anicíclicas de fomeno à aividade econômica. 6. Referências BUENO, R.L.O. Economeria de séries emporais. Thomson Learning, 2008. DE NEGRI, J. A. Elasicidade-renda e elasicidade-preço da demanda por auomóveis no Brasil. Brasília: Ipea, 998 (Texo para Discussão, n. 558). ENDERS, W. Applied economeric ime series. New York: John Wiley and Sons, 2004. FRANSES, P.H. & HALDRUP, N. The effecs of addiive ouliers on ess for uni roos and coinegraion. Journal of Business & Economic Saisics, v. 2, n.4, p. 47-478, ou. 994. IPEA. DIRETORIA DE ESTUDOS MACROECONÔMICOS. Impacos da redução do Imposo sobre Produos Indusrializados (IPI) de auomóveis. Brasília: Ipea/Dimac, ago. 2009. (Noa Técnica n. 5). JOHANSEN, S.; JUSELIUS, K. Maximun likelihood esimaion and inference on coinegraion wih applicaions o he demand for money. Oxford Bullein of Economics and Saisics, v.52, n. 2, p.69-20, 990. 2

MARGARIDO, M.A. Aplicação de eses de raiz uniária com quebra esruural em séries econômicas no Brasil na década de 90. Informações Econômicas, v. 3, n.4, abr. 200. 3