ANUARIO DE JURISPRUDÊNCIA 427 PROCESSO N 9.908
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- Leonardo Quintanilha César
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1 ANUARIO DE JURISPRUDÊNCIA 427 PROCESSO N ACÓRDÃO Navio BRAZILIAN MARINA, de bandeira liberiana. volisão com pedras. Inexistência de influência das dimensões do navio com relação às do cana]. Não se pode considerar tão restrito um canal que mede de largura, na faixa navegável, 10 vezes a boca do navio ou uma vez e meia o seu comprimento. Navegação sem o necessário acompanhamento. Afastamento do canal sem que se notasse a bordo. Negligência. Condenação. Vistos, relatados e discutidos os autos, que cuidam da colisão do navio BRAZILIAN MARINA, de bandeira liberiana, com laje submersa, no canal de São Sebastião, Estado de São Paulo, cerca das 13:31 horas de dia 09 de janeiro de Laje situada externamente e a pouca distância da margem E do canal varrido, no alinhamento üha das Cabras Ponta Sul do Cais Comercial, a 420 metros daquela ilha, onde se prumam 20 metros, pela carta. Em conseqüência, houve ruptura dos tanques 01 e 02 de BB, ocasionando * grande vazamento de óleo para o mar, calculado pela Petrobrás entre 300 e 400 toneladas. Os peritos avaliaram em cerca de toneladas (fls. 365). Histórico dos fatos: Navio de TB e 1 116,4 pés de comprimento, comandado por Pietro Tomasello (CLC), entrara pelo Sul, recebendo o praticante de Prático Yukio Morimoto, ainda fora do canal, cerca das 11:15 horas. Pouco depois, às 12:33 horas, com a ponta da Sela pelo través. Calado: 22,10x22,12 metros. O Prático Francisco Luiz de Oliveira, designado para o navio, embarcou às 12:45 horas (D.N. fls 227), e àepois das 13:00 horas aproximaram-se os rebocadores APOLO, RIGEL, ORION, VEGA e SERVEMAR XXV\ A navegação era feita a 04 nós, acompanhando a margem E do canal, de forma a fazer o giro e atracar por BE, contra a correnteza, que era para o Norte. Navio afastou-se do canal varrido e colidiu, o que deve ter acontecido entre 13:00 horas e 13:31, assim é que, logo depois, aflorou óleo por BB, não havendo referência a ter sido notada a colisão. Consta terem sido tomadas marcações, acusando estar o ponto dentro do canal varrido, mas a perícia realizada com o concurso de mergulhadores, inclusive com a coleta de blocos de laje, mostrando as superfícies lisas, sem moluscos e sem limo, denunciou ter havido colisão recente. Conforme as verificações dos peritos, o navio demoliu os picos da laje em duas regiões, afastadas entre si de 22 metros (fls. 391/392). /L
2 428 TRIBUNAL MARÍTIMO A perícia foi realizada pelo engenheiro Dorian Castelo Miguel, nomeado pelo Delegado da CP, com a participação de Ferdioando Landi e Kurt Schumbom, peritos, pelo P&I, e mergulhadores da Submartec e da Tecsimar. O inquérito considerou responsáveis o Comandante, o Prático e o praticante de Prático. Contra eles a douta Procuradoria representou, fundada em que o Comandante não acompanhou a navegação e o Prático navegou muito próximo da margem E; quase parado, não levando em conta a maré, o navio foi deslocado mansamente para E, vindo a colidir com a laje submersa, adjacente ao canal. O praticante de Prático por aceitar a incumbência. Citados regularmente. O comandante, por edital, não atendeu, sendo a defesa articulada por estagiário, subscrita por Advogado-de-Ofício. Razões de fls. e fls., arguindo, preliminarmente, a inépcia da representação/por não especificar o item do artigo 14 a que pretendia se referir. No mérito, alegando que tinha Prático a bordo, atribuindo o acidente às poucas dimensões do canal, à incapacidade dos rebocadores e à existência de um obstáculo submerso, não registrado pela aparelhagem de bordo (fls. 473/480). Francisco Luiz de Oliveira, Prático (Adv. Pedro Calmon Filho), com os seguintes argumentos principais, aqui transcritos em resumo: que o navio é de porte descomunal, um petroleiro-mamute, de mais de 300 mil toneladas porte bruto; que se a sua carga fosse transbordada para caminhões*tanques de 10 toneladas e 10 metros de comprimento, todos, erífileirados, formariam uma fila de 319 quilômetros de comprimento, indo desta cidade até São José dos Campos; que esse porte descomunal é capaz de pregar peças até mesmo ao mais experiente Prático ou Comandante, quando se encontra num canal tão restrito quanto o de São Sebastião; que a desproporcionalidade entre a largura do canal e o tamanho do navio não dava condições para girar e voltar, a não ser em frente ao terminal; que neste caso tinha de manobrar ali; todavia, a corrente, de 3 nós, correndo para o Norte, oblíqua ao eixo do canal, foi gradativamente empurrando o navio para a laje submersa, contra a qual eventualmente colidiu, sem que os rebocadores conseguissem impedir o abatimento; que os rebocadores eram insuficientes para aguentar o navio, sendo por isto arrastados juntamente com ele; que foi causa eficiente a forte ^orrci:teza, e causas secundárias, contribuindo para o acidente, as condições pouco favoráveis do porto, como a largura da bacia de evolução e até mesmo do canal, a pouca água entre a quilha e o fundo e a precariedade da assistência de rebocadores, que a pouca água sob a quilha favorece o desgoverno de um navio como o BRAZILIAN MARINA (fls. 440/466). Yukio Morimoto. praticante de Prático (Adv. Romero Mendonça de Freitas), alegando, preliminarmente, ser parte ilegítima para figurar no feito, por não ter tomado
3 ANUARIO DE JURISPRUDÊNCIA 420 parte efetiva nas manobras, porque às 12:10 horas embarcou o Prático e a colisão deu-se cerca das 1331 horas, conforme mesmo o Prático declarou a fls. 34. No mérito, da mesma forma que o Prático, traz à discussão o comprimento do navio, o seu calado e a pouca água do canal. Na instrução, entrou na defesa do Comandante a Advogada Maria da Glória Faria Mota, sendo dispensado o de Ofício. Nenhuma prova produzida. Antecedentes: Prático Condenado no processo n?6 589, referente à colisão do navio italiano ERCALE com o pier do terminal da Dow Química, porto de Santos, a 12/07/71, julgado dia 14/03/73 (An. Jurisp. 1974, págs. 285/286) e no proc. n? 7 855, referente encalhe navio norueguês DOCECANYON", no canal de São Sebastião, a 12/12/73, julgado dia 08/03/77 (An. Jurisp. 1977, págs. 935/938). Negativos quanto ao Comandante e ao praticante de Prático. 2. Quanto às preliminares, não é de se lhes dar acolhimento: a) a do Comandante, porque o acidente, de colisão, está muito bem definido na representação, não se revestindo de importância a indicação do item em que deva ser capitulado, como se tem reiteradamente decidido; b) a do praticante de Prático, porque embarcou no navio ainda fora do canal, e sob sua responsabilidade foi a navegação durante vários minutos, até que chegasse o Prático, às 12:45 h e não às 12:10, como disse. 3. No mérito, tem-se procedente a representação, assim considerada em termos, porque a responsabilidade não é de todos os arrolados. De fato, por muito hábil que seja a argumentação da defesa, não convence da fortuidade do acidente, dadas as suas características. A navegação era feita em condições normais de tempo, dispondo-se de todos os recursos e meios para manter o navio dentro do canal. Não era este, o canal, de largura tão exígua, e, diga-se mesmo, como via de acesso, tinha dimensões amplas, medindo mais de 500 metros a faixa navegável, na proporção de 1 para 10, com relação à boca do navio, que era de 55 metros. Comparativamente, outro dado, o comprimento do navio, 340 metros, cabia atravessado no canal, restando, ainda de sobra, 160 metros. A profundidade era bastante, sendo a lâmina d*água sob a quilha superior a trés metros, motivo por que a sonda, ajustada para esse valor, nunca chegou a dar alarma (fls. 15). i
4 480 TRIBUNAL MARÍTIMO Por sua vez, inocorreu emergência, e tampouco problema com o MCP, como se pretendeu fazer crer, conforme ficou esclarecido na acareação entre Prático e Comandante (fls. 38). Nessa ordem de idéias, demonstrativas de que não havia condições desfavoráveis, a análise do comportamento dos rebocadores, que não foram, sequer, solicitados, é testemunho importante. Ora, se não foram solicitados, muitos menos teriam sido arrastados com o navio. Inclusive um deles, o SERVEMAR XXV, mal acabava de chegar. A questão pode ser dirimida peio simples fato de se tratar de um petroleiro-mamute, de porte descomunal, nem esse alegado basta para dar ao acidente ó caráter de fortuito, quando nenhuma prova foi feita de que sua irresistibilidade houvesse superado a devida diligência. Posto que o navio já havia entrado em São Sebastião várias vezes, anteriormente, sem nenhuma novidade, a desproporcionalidade entre as suas dimensões e as do canal seria apenas motivação para maior cuidado na sua condução. Assim, resulta como certo que a navegação se caracterizava pela negligência, feita sem o devido acompanhamento, desviando-se o navio do canal sem que ninguém a bordo percebesse. Uma navegação marcada pela imprecisão e insuficiência de tomadas de posição durante os minutos precedentes. Houve descuido ao se procurar abrir a curva para iniciar o giro, navegando-se cerca de 50 metros fora do limites do canal. 4. Um detalhe à parte Firmando o documento de fls atestando achar-se o navio dentro do canal ao colidir, o Prático e o praticante ou confessaram o pleno desconhecimento da verdadeira posição ou agiram de má-fé, o que é de lamentar-se. 5. Da responsabilidade O Comandante, na condição de estrangeiro, é de isentar-se. Trata-se de conhecimentos peculiares à praticagem e havia Prático a bordo, não configurando, nas circunstâncias, a hipótese em que é exigida a sua intervenção. Também o praticante se isenta, por não ter participado do acidente. Quando ocorreu a colisão, o Prático já havia assumido a direção. A este, pois, como exclusivo orientador da navegação, cabe a culpa, com o agravante de ser reincidente.
5 ANUARIO DE JURISPRUDÊNCIA 431 Isto posto: * ACORDAM os Juizes do Tribunal Marítimo, por unanimidade, na forma do voto do Exm9 Juiz Relator; rejeitar as preliminares, e, quanto ao mérito, ainda por unanimidade: a) quanto à natureza e extensão do acidente: colisão com pedra; rasgo no fundo do navio, abrangendo os tanques 01 e 02 de BB; perda parcial de carga pelo vazamento para o mar; b) quanto à causa determinante: negligência na navegação, feita sem o acompanhamento necessário, saindo o navio fora do canal; c) julgar culpado o representado Francisco Luiz de Oliveira, Prático, incurso na letra F* do art. 124 da Lei n9 2180/54, aplicando-lhe a pena de multa de 05 (cinco) valores de referência (CrS 4 388,00). Custas de lei. Isentar os outros representados. P.C.R., Rio de Janeiro, RJ, em 20 de setembro de Aloysio Mendes Lopes, Vice-Almirante (RRm) Juiz-Presidente - Gerson Rocha da Cruz, Relator.
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