PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE RONDÔNIA Porto Velho - Fórum Cível Av Lauro Sodré, 1728, São João Bosco,

Transcrição

1 Vara: 1ª Vara Cível Processo: Classe: Procedimento Ordinário (Cível) Requerente: Renata Terezinha Souza de Moraes Paschoal Rodrigues Requerido: Banco Bradescard S.A; Makro Atacadista S/A S E N T E N Ç A Vistos, etc... RELATÓRIO RENATA TEREZINHA SOUZA DE MORAES PASCHOAL RODRIGUES propôs ação declaratória de inexigibilidade de cobrança com inexistência de débito, indenização por danos morais e pedido de tutela antecipada em face de BANCO IBI S/A(BANCO BRADESCARD S.A) e MAKRO ATACADISTA S.A. asseverando em síntese que teve seu nome incluído indevidamente no SPC/SERASA pelo Banco requerido. Alegou possuir contrato para utilizar cartão de crédito junto ao Banco Bradescard (antigo Banco IBI), através do qual recebia faturas das compras realizadas no segundo Requerido. Relatou ainda que teve seu cartão adicional clonado (fls. 17 e 26/27) pois não teria realizado as compras via internet relacionadas na fatura de fls. 29. Ressaltando que as compras em questão foram realizadas com o cartão MAKRO MASTERCARD. Ao final, suscitou a procedência do pedido para que fosse concedida a tutela antecipada com a exclusão do nome da Requerente do cadastro de inadimplentes, bem como que fosse declarada a inexigibilidade da cobrança, a inexistência de débito e a condenação ao pagamento de danos morais. Foi deferida a antecipação de tutela às fls. 42. Devidamente citados, os Requeridos apresentaram contestação conjuntamente alegando preliminarmente a ilegitimidade do Réu MAKRO ATACADISTA S.A., requerendo a sua exclusão do polo passivo da demanda. Impugnaram a versão Pág. 1 de 6

2 fática da exordial alegando que o Banco requerido, em face da inadimplência da parte autora, apenas iniciou o seu processo de cobrança, o que inclui a negativação dos dados da requerente. Admitiu, porém, a possibilidade de ter havido fraude, um ato ilícito de um terceiro que teria prejudicado ambas as partes. Requereu ao final a total improcedência dos pedidos. Réplica às fls. 83/89. É o relatório. Decido. FUNDAMENTAÇÃO Preliminarmente Em sede de contestação os Requeridos alegaram a ilegitimidade do MAKRO ATACADISTA S.A para figurar no polo passivo da ação. Analisando os autos, verifico que a parte Autora não conseguiu provar o vínculo de responsabilidade do segundo Requerido com os fatos. Além disso, o nome da Requerente foi negativado a pedido do Banco Bradescard (IBI) e não há provas nos autos de que a ré MAKRO tenha alguma relação com a situação, haja vista o cartão que esta possui é de crédito, podendo ser utilizado para qualquer instituição. Assim sendo, reconheço a ilegitimidade passiva do MAKRO ATACADISTA S.A, devendo a lide prosseguir somente em face do Banco requerido. Mérito Vejo que as partes restantes são legítimas e estão bem representadas. Estando presentes as condições da ação e os pressupostos processuais, o mérito pode ser analisado. No caso em tela, a autora alega que teve seu nome incluído indevidamente no cadastro de inadimplentes em face de compras realizadas via internet as quais não Pág. 2 de 6

3 teriam sido realizadas pela mesma. Disse que teve seu cartão clonado. Para comprovar o alegado, juntou os documentos de fls. 26/29. A parte ré Bradescard disse que o débito existe mas admitiu a possibilidade de ter havido fraude, ou seja, que realmente o cartão da parte autora pode ter sido clonado. A relação entre a parte Autora e o Banco requerido é relação de consumo e como tal tem-se a inversão do ônus da prova (art. 6º, VIII, Código de Defesa do Consumidor), ou seja, cabia à parte ré provar que os fatos alegados pela requerente não eram verdadeiros. Cabia à parte ré provar que a compra foi regular e que os produtos comprados foram entregues na residência da autora. Veja-se que essa prova era possível e não importaria em prova difícil de ser conseguida. Bastaria a parte obter os dados da compra no seu sistema e, através da empresa que fez a venda, obter o endereço para onde as mercadorias foram enviadas, bem como prova da entrega. Tais provas poderiam ilidir as alegações da inicial. Por isso e por tudo o mais que consta dos autos, tenho por verdadeiros os fatos suscitados na inicial e reconheço o dano sofrido pela parte autora. A consequência disso é a declaração da inexistência do débito pelo qual a requerente teve seu nome negativado. Com relação ao pedido de indenização por danos morais, vejo claramente o dano sofrido pela Autora, pois afirmou não ter efetuado as compras pelas quais seu nome foi negativado e demonstrou a inclusão de seu nome junto ao SPC/SERASA (fls. 17/21), bem como os abalos morais sofridos em virtude da referida negativação. As ações de indenização por negativação indevida têm sido constantes nas Varas Pág. 3 de 6

4 Cíveis, ocupando aproximadamente 30% dos processos em trâmite neste Estado. Verifico que afixação do valor da indenização em R$ 5.000,00 (Cinco mil reais) não tem surtido o efeito pedagógico desejado, pois o volume de processos idênticos por erro das grandes empresas, das quais os bancos, empresas de cartão de crédito e telefonia não diminuiu. Essas afirmações encontram ressonância na entrevista concedida pelo Ministro Luiz Felipe Salomão, do STJ, ao site Consultor Jurídico em 6 de janeiro de 2012 (call center para a Justiça. E ainda complementa: Talvez porque isso implique redução de custos. Deve ser mais barato deixar acionar o Judiciário do que manter um call center que efetivamente resolva os problemas. É inadmissível que o Poder Judiciário esteja sendo utilizado como órgão de Consultoria Jurídica destas Empresas, pois torna-se muito mais barato custear condenações judiciais em valor pequeno, em valor quase insignificante diante do seu poderio econômico, sem ter que contratar mais funcionários e montar um setor jurídico para impedir que os problemas aconteçam. Sobre isso o STJ já vem modificando o seu pensamento: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS MORAIS. INSCRIÇÃO INDEVIDA EM CADASTRO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. MONTANTE INDENIZATÓRIO RAZOÁVEL. VALOR DA REPARAÇÃO EM SALÁRIO MÍNIMO VIGENTE À ÉPOCA DO EVENTO DANOSO. CORREÇÃO MONETÁRIA DESVINCULADA DO SALÁRIO MÍNIMO. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. 1. A Segunda Seção desta Corte de Justiça, na esteira do decidido no Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE /PR, Relator o e. Ministro Moreira Pág. 4 de 6

5 Alves, orienta-se no sentido de ser vedada a vinculação do salário mínimo ao valor da indenização por dano moral. Todavia, entende ser possível sua utilização como parâmetro de fixação da verba indenizatória e não como indexador, fator de correção monetária. Portanto, a indenização, quando fixada em salários mínimos, deve considerar o valor de salário mínimo vigente à época do evento danoso, computando-se a partir daí a correção monetária. 2. Esta Corte firmou entendimento no sentido de que, em casos de indenização por danos morais, decorrentes de inscrição indevida em cadastro de proteção ao crédito, é razoável a condenação em até 50 (cinquenta) salários mínimos (da época do evento). 3. Agravo regimental a que se nega provimento. AgRg. No Ag /RJ. Agravo Regimental no Agravo de Instrumento 2007/ Ministro Raul Araújo Filho, DJ " Negritei. Assim, tenho como justo fixar o valor da indenização em R$ ,00 (Cem mil reais), em face da condição econômica das partes, a extensão do dano sofrido e, principalmente, o efeito pedagógico da medida. Destaco que o caráter punitivo deve ser exacerbado diante dos inúmeros processos existentes em face de grandes empresas do país, sem que as condenações em valores menores tenham surtido qualquer efeito de diminuição de novas ações ou tomada de medidas para evitar novas ocorrências. Dispositivo Pelo exposto e por tudo o mais que consta nos autos, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES OS PEDIDOS formulados pela Autora para: 1) tornar definitiva a antecipação de tutela; 2) declarar a inexistência do débito referente à dívida discutida nestes autos; 3) condenar o banco requerido a pagar ao autor o valor de Pág. 5 de 6

6 R$ ,00 (cem mil reais), já atualizados a título de danos morais. 4) Sucumbente em parte do pedido, condeno o banco réu ao pagamento de 50% das custas processuais e honorários advocatícios que fixo em 10% sobre o valor corrigido da condenação, nos termos do art. 20, 3º, do Código de Processo Civil. 5) Julgar o processo extinto por reconhecer a ilegitimidade passiva com base no art. 267, VI, do Código de Processo Civil, em relação ao réu MAKRO ATACADISTA S.A, condenando a parte autora a pagar 50% das custas processuais e honorários advocatícios do advogado do MAKRO, os quais fixo no valor de R$ 1.000,00; Com o trânsito em julgado desta sentença, ficam as partes condenadas a pagar valores, desde já, devidamente intimadas a cumprir com sua obrigação no prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de incidência da multa prevista no artigo 475-J do Código de Processo Civil. Publique-se. Registre-se. Intime-se. Cumpra-se. Porto Velho-RO, quarta-feira, 6 de novembro de Jorge Luiz dos Santos Leal Juiz de Direito RECEBIMENTO Aos dias do mês de Novembro de Eu, Clêuda S. M. de Carvalho - Escrivã(o) Judicial, recebi estes autos. REGISTRO NO LIVRO DIGITAL Certifico e dou fé que a sentença retro, mediante lançamento automático, foi registrada no livro eletrônico sob o número 2920/2013. Pág. 6 de 6