I. CONSIDERAÇÕES INICIAIS:

Transcrição

1 Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 26ª Vara Cível do Foro Central da Comarca de São Paulo SP Autos nº /05 (nº ordem 418/1999) Eu, Mônica Mencaroni de Camargo, arquiteta, nomeada como Assistente Técnica às Folhas e 1.202, tecerei a seguir minhas considerações sobre o Laudo Pericial anexado ao Processo supra pelo perito judicial Sr. Horácio Tanze Filho, às folhas a I. CONSIDERAÇÕES INICIAIS: Como esclarece a Analista de Investimentos, Míriam Kênia: (...) É possível se rodear de objetos belos que podem significar rendimentos. Mas quando um quadro passa a ser visto também como ativo financeiro é preciso muito mais que ser um grande apreciador. Avaliar obra é tarefa complexa que exige conhecimentos específicos. Ainda mais nesse momento de grande oscilação do dólar, que é a principal referência de cotação do mercado. Alguns critérios básicos podem ser fundamentais. Afinal, uma arte de qualidade continuará se valorizando independentemente das guinadas da moeda americana. 1 Autor: Os diversos artistas atingem cotações diferentes, mesmo os contemporâneos e com biografias semelhantes. 2 Técnica: Os processos de produção mais valorizados são óleo ou acrílico sobre tela, madeira e carvão. Depois vem o guache ou têmpera sobre papel. Seguem a aquarela, pastel, lápis de cor e ecoline sobre papel. Desenhos a nanquim, carvão, sépia e lápis só não valem menos que a gravura. 3 Datas: O artista tem o período de produção de destaque. Por exemplo, as obras do começo da carreira do brasileiro Milton Dacosta valem mais que as da sua fase posterior, a construtiva. 4 Tamanho: Nos quadros não tem influência. Já nas esculturas, sim. 5 Conservação: O bom estado é um fator determinante para o preço. 6 Tema: Todo artista tem um tema que o consagra. Como os retratos de Facchinetti, que valem mais que as paisagens. 7 Origem: É o pedigree da obra. Se já pertenceu a colecionadores importantes, isso pesa no preço. 8 Valor histórico: A participação em algum movimento artístico ou grande exposição deve ser considerada. 9 Modismo: Cuidado, há momentos em que o artista é mais procurado pelo mercado. Depois, volta ao normal. 10 Assinatura: Quando vem na frente, como nos painéis do Volpi, vale mais. 1

2 Ainda, segundo o Avaliador e Agenciador de Arte, Sr. Ricardo Barradas: Avaliar uma obra de arte é uma tarefa complexa que exige conhecimentos técnicos e experiência junto ao Mercado de Arte Nacional e Internacional. Além de uma Cultura Geral, bem acima da média. Não basta ter curso superior, como o meu caso, que sou Advogado, um pesquisador nato da história da Humanidade. Mas precisa ter um grande conhecimento de História Universal, das diferentes culturas e dos hábitos de cada uma delas. Para tanto, se faz necessário considerar diversos fatores. O mais importante é a lei básica mercadológica da oferta e da procura. Visando a uma melhor orientação aos colecionadores, compradores, galeristas, e leiloeiros, principalmente os novos, indico as principais regras a serem consideradas por ocasião da aquisição ou venda de uma obra de arte: 1 - Autoria. Os artistas atingem cotações diversas, mesmo sendo contemporâneos ou acadêmicos. 2 - Técnica. A valorização de uma obra obedece a uma escala formal: A - Óleo, acrílica sobre tela, madeira, metal e cartão; B - Guache e têmpera sobre cartão ou papel; C - Aquarela, pastel seco e oleoso, lápis de cor e ecoline sobre papel; D - Desenhos a nanquim, carvão, sangüínea, sépia e a lápis; E - Gravuras, (Litografia, xilogravura, gravura em metal, serigrafia); Parágrafo Único - No caso das esculturas, deve ser observado a tiragem e a fundição. 3 - Fase. Somente com um olhar retrospectivo aprimorado é que se consegue determinar quais as fases mais valorizadas de um artista e que configuram o auge de sua criatividade, ou de maior sincronicidade com a importância dela perante seu tempo na história. Não obedecem a uma ordem cronológica. 4 - Dimensão. O tamanho pode influir ou não, no valor de uma obra de arte. Aqueles que pensam que isto tem grande relevância, deveriam estar vendendo, ou avaliando tecidos, por metragem. No caso das Obras de Arte, este item, tem baixíssima relevância. 5 - Conservação. O bom estado de conservação é um fator que contribui para a sua valorização. Este item, tem grande relevância. Pois o estado atual da obra, o quanto esta obra já foi restaurada ou não, o quanto de original, que ainda possui, podem ser dados que estabeleceram um valor maior ou menor, da obra de arte, a ser avaliada. 2

3 6 - Origem. A procedência conta no valor final de uma obra de arte. Quando ela fez parte de uma importante Coleção ou figurou em uma Exposição e Catalogo. A trajetória da própria obra, pode alterar para mais, seu valor final. 7 - Assinatura. A falta de assinatura poderá diminuir o valor de uma obra de arte, como também a não tipicidade da mesma. Após esta breve explanação, seguem minhas observações quanto ao Laudo Pericial apresentado: II. DOS BENS AVALIADOS: A descrição das obras e objetos constantes do Laudo Pericial está em conformidade com o que vistoriei em duas visitas ao apartamento 141 da Rua Tupi, 425, cujas fotos e respectivas medidas tomadas pessoalmente por mim, anexo a seguir: ITEM 01: Óleo sobre Tela de Manabu Mabe, 1988, 173 cm L. x 123 cm A. Foto 01: Vista Frontal 3

4 Foto 02: Vista em detalhe do esgarçamento da tela, observada desde minha 1ª visita em dez.2010, data desta foto Foto 03: Vista em detalhe da assinatura do artista e data da pintura 4

5 ITEM 02: Óleo sobre tela de Iberê Camargo, 1984, 135 cm L. x 103 cm A. Foto 04: Vista Frontal Foto 05: Vista em detalhe da assinatura do artista e data da pintura 5

6 ITEM 03: Par de vasos em estilo chinês com tampa e base, sem data e autoria definidas, medindo 45 cm de diâm. X 115 cm de altura Foto 06: Vista Frontal 6

7 Foto 07: Vista em detalhe do fundo de um dos vasos, sendo os dois idênticos 7

8 ITEM 04: Pintura sobre pergaminho retratando nobre chinês, sem data e autoria definidas, medindo 103 cm de largura x 162 cm de altura Foto 08: Vista Frontal 8

9 Foto 09: Vista em detalhe de caligrafia na lateral direita da pintura 9

10 ITEM 05: Pintura sobre pergaminho retratando senhora chinesa, sem data e autoria definidas, medindo 103 cm de largura x 162 cm de altura Foto 10: Vista Frontal 10

11 Foto 11: Vista em detalhe de caligrafia na lateral esquerda da pintura 11

12 III. DA IDENTIFICAÇÃO DOS AUTORES: Como as assinaturas dos artistas constam das duas telas modernas, em estilo abstrato, corretamente foram identificados como sendo o Item 01 de Manabu Mabe ( ) e o Item 02 de Iberê Bassani de Camargo ( ). Suas biografias, produção artística e, até, valores de mercado podem ser pesquisados através de consulta a leiloeiros, galeristas e, mais recentemente, com muita facilidade, utilizando-se os recursos da Internet, sendo os sites mais confiáveis, por tratarem-se das instituições oficiais destes artistas o e Quanto ao par de vasos e às duas pinturas em pergaminho em estilo chinês (Itens 03, 04 e 05), eu não soube, assim como o perito Sr. Horácio Tanze Filho, precisar a autoria nem a data. IV. DA AVALIAÇÃO: ITEM 01: Óleo sobre Tela de Manabu Mabe, 1988, 173 cm L. x 123 cm A. O valor atribuído pelo perito avaliador a esta tela, R$ ,00, apesar de utilizar o critério discutível de avaliação por m², se aproxima do valor que levantei em minha pesquisa, muito embora a obra não possua - que eu saiba - a importante certificação do Instituto Manabu Mabe, garantia de sua autenticidade, e possamos observar ao menos três sulcos em sua superfície. Conforme minhas pesquisas, tais eventos poderiam reduzir o valor de leilão desta tela para R$ ,00 (cem mil reais). ITEM 02: Óleo sobre tela de Iberê Camargo, 1984, 135 cm L. x 103 cm A. Neste caso, o valor atribuído pelo perito, R$ ,00, está muito além do que aferi, pois, mais uma vez, utiliza apenas o critério de medidas, que não é o ideal, conforme consta neste relatório, no item 4 da pág. 2: 4 - Dimensão. O tamanho pode influir ou não, no valor de uma obra de arte. Aqueles que pensam que isto tem grande relevância, deveriam estar vendendo, ou avaliando tecidos, por metragem. No caso das Obras de Arte, este item, tem baixíssima relevância. Deste modo, consultando leiloeiros e galeristas, esta tela conseguiria em um leilão o valor de R$ ,00 (trezentos e cinquenta mil reais). ITENS 03, 04 e 05: Quanto ao par de vasos e às duas pinturas em pergaminho em estilo chinês, por tratar-se de artigos exóticos ao mercado brasileiro de arte, do mesmo modo que para o perito Sr. Horácio Tanze Filho, também foi infrutífera minha pesquisa. Como a procura por este tipo de arte ou objeto decorativo é quase inexistente em nosso país, não temos valores comparativos para avaliá-las corretamente. Além disso, haveria que se contratar um especialista em Arte Oriental para atestar a antiguidade ou não das peças, pois, é tradição na China como forma válida de expressão artística, a cópia de alta qualidade de modelos do passado. 12

13 V. HONORÁRIOS: Quanto aos honorários desta assessoria técnica, posso apenas responder pelos meus, que são de R$ 1.400,00 (um mil e quatrocentos reais) por vinte horas de assessoria técnica, contra entrega de Recibo Simples. Sobre os honorários pedidos pelo perito avaliador, não tenho como julgar ou avaliar, tendo em vista tratar-se de objeto de negociação entre as partes. VI. ENCERRAMENTO: Dando por terminado meu trabalho, digitei o presente relatório de assessoria técnica de avaliação de obras de arte em catorze folhas somente no anverso, sendo todas rubricadas e esta última datada e assinada. São Paulo, 12 de dezembro de MÔNICA MENCARONI DE CAMARGO Arquiteta CREA: /D 13