Carta Mensal de Conjuntura
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- Cármen de Sequeira Lemos
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1 Carta Mensal de Conjuntura Janeiro de 2017
2 Os juros, a economia e o sono dos brasileiros Apresentação Mais uma vez buscamos compreender as decisões da economia, especialmente no que se refere às taxas de juros e o quanto elas afetam a vida das pessoas. E todos nós sabemos o quanto a taxa de juros se relaciona com os graves problemas da economia, que prejudicam fortemente o sono das pessoas. Os juros prejudicam a tranquilidade das pessoas na medida em que geram mais instabilidades no já complicado ambiente macroeconômico nacional. E o que acontecerá com os juros a partir desse momento? O COPOM Comitê de Políticas Monetárias, reunido no dia 11 de janeiro, decidiu reduzir a taxa básica de juros SELIC em 0,75%. A grande maioria dos analistas do mercado financeiro esperava uma redução de 0,50 pontos porcentual na Taxa Selic, no entanto o Copom entendeu que a ancoragem da inflação nos próximos dois anos já abre espaço para acelerar o movimento de corte da taxa. Foi a segunda redução seguida decidida pelo COPOM, que deixou a taxa nacional de juros em 13%. Sabemos que os 0,75% representam 5,454% do total da taxa nacional, que era 13,75%. E a pergunta que mais uma vez não quer calar é a seguinte: Porque esta foi a decisão tomada? Porque a taxa de juros é tão elevada no Brasil? 1
3 Os mais otimistas vão dizer que os economistas nunca estão satisfeitos, afinal de contas uma redução de 0,75% foi a maior dos últimos anos. Muitas vezes a questão dos juros não é compreendida pelas pessoas A taxa SELIC Criada em 1980 significa Sistema Especial de Liquidação e Custódia. Tratase de um grande sistema computadorizado, a cargo do Banco Central do Brasil e da Associação Nacional das Instituições dos Mercados Abertos, desde quando foi criado. A SELIC é a base que lastreia os títulos públicos comprados pelos agentes econômicos, ela é obtida pelo cálculo da taxa média ponderada dos juros praticados pelas instituições financeiras. Quando falamos da SELIC e seus percentuais os cidadãos não compreendem, por exemplo, o porquê são tão mais elevados os patamares praticados pelo mercado financeiro em relação ao varejo, o cartão de crédito e o cheque especial por exemplo. O Banco Central do Brasil divulgou em 23 de dezembro do ano passado os dados relativos às taxas de operação de crédito do mês de novembro quando se constatou que novamente, a taxa de juros do cheque especial atingiu novo recorde histórico, chegando à taxa média de 330,65% ao ano (12,94% ao mês). O rotativo do cartão de crédito também voltou a subir, passando de 475,81% ao ano (15,71% ao mês) para 482,05% a.a. (15,81% a.m.), um novo recorde histórico. O quadro abaixo indica uma série de modalidades de crédito e suas diferentes taxas. Fonte: Site Minhas Economias.com.br - Taxa média de juros nov-16 x nov-15 No fundo, o mercado de crédito é mais um elemento relacionado às quantidades de oferta e demanda. 2
4 Na atualidade, o crédito possui um importante papel na economia. Ao mesmo tempo em que traduz confiança, o crédito significa as possibilidades que os agentes econômicos dispõem de recursos financeiros para fazer frente a despesas ou investimentos, financiando as transações econômicas. Uma realidade que precisa ser questionada A grande verdade é que a realidade falou mais alto e diante da redução das taxas de inflação e do baixo nível do consumo reforçaram-se os argumentos que fizeram com que o COPOM tomasse a decisão. O quadro abaixo é revelador do quanto é dramático o patamar da Taxa SELIC para a economia nacional. E mais, o quadro dos juros internacionais nos faz questionar o que leva um país a ter uma determinada taxa e não outra. Por que o Brasil possui uma taxa duas vezes superior àquela praticada por Botsuana? Por que a Suíça, considerada paraíso financeiro internacional, possui uma taxa de juros negativa? Porque o Japão e os Estados Unidos, com suas fortes economias, conseguem taxas tão diferentes da realidade brasileira? São muitas perguntas e uma certeza: as elevadas taxas de juros da economia nacional fazem parte de um cenário onde o mercado financeiro e particularmente os bancos possuem enorme poder de decisão econômica e política. Quadro de países selecionados Países Taxa % Países Taxa % Suíça - 0,75 Botsuana 5,50 Dinamarca - 0,65 Paraguai 5,50 Zona Euro 0,00 México 5,75 Japão -0,10 Índia 6,25 Reino Unido 0,25 África do Sul 7,00 Canadá 0,50 Colômbia 7,50 Estados unidos 0,75 Equador 8,10 Coréia do Sul 1,25 Uruguai 9,25 Austrália 1,50 Rússia 10,00 Bolívia 2,21 Guiné 12,50 Guatemala 3,00 Brasil 13,00 Chile 3,50 Venezuela 22,48 3
5 Peru 4,25 Moçambique 23,25 China 4,35 Argentina 24,75 Indonésia 4,75 Gana 25,50 Fonte: - Elaboração - Rumo Desenvolvimento O quadro acima deixa ainda outra convicção. As taxas de juros não são resultados apenas de decisão técnicas. As taxas praticadas em cada um dos países são resultantes de escolhas eminentemente políticas. Os juros e os impactos na realidade nacional Todas as vezes que discutimos os problemas macroeconômicos do Brasil há grande consenso sobre o quanto são graves as altas taxas de juros praticadas em nossa economia. Os juros altos prejudicam a economia em muitos sentidos: a) Na medida em que desestimula o investimento, o que, por sua vez, reduz a capacidade produtiva, criando um círculo vicioso; b) Desestimula também o consumo em função de que os indivíduos passam a considerar mais seriamente a hipótese de consumir menos hoje e utilizar os recursos poupados (acrescidos dos juros) para consumir mais no futuro; c) Em relação ao mercado internacional, os juros altos apreciam a taxa de câmbio porque tornam aplicações em títulos brasileiros mais atraentes. A taxa de câmbio apreciada reduz a competitividade da indústria nacional, prejudicando nossas exportações e emprego; d) E mais, os juros altos aumentam o custo da dívida, motivo que obriga o governo a destinar cada vez mais recursos do orçamento para pagar a dívida, deixando de realizar gastos considerados mais produtivos, seja investindo em infraestrutura, educação ou em programas sociais. No fundo uma coisa é fato, a taxa de juros não é causa, mas consequência de outros desequilíbrios da economia. A taxa de juros é parte de uma política monetária oficial iniciada quando da adoção do Plano Real, que absolutizou entre as metas de governo a estabilidade monetária. Era fato a necessidade de se reduzir as taxas de inflação, no entanto esta questão deveria ser tratada em meio a outras questões prioritárias. 4
6 Foi a partir de então que o governo passou a adotar um regime de metas para a inflação, meio em que o Banco Central utiliza os instrumentos de que dispõe para fazer com que a inflação atinja uma meta pré-estabelecida. O grave dessa história do modo como tem sido adotado é que a inflação passou a ser o único objetivo da política monetária. Neste sentido, ao minimizar outros objetivos, como câmbio ou taxa de crescimento do PIB, o regime de metas ajuda a ancorar as expectativas dos agentes, aumentando a previsibilidade da inflação e certamente contribuindo para a mediocridade das políticas adotadas. Os efeitos da queda da Selic não automáticos Assim que o COPOM anunciou na última quarta feira um corte de 0,75% na taxa SELIC, o entusiasmado otimismo da grande imprensa até que se esforçou para apontar o fim da tragédia da economia nacional. No entanto, passado alguns dias, o humor dos mercados está voltando ao normal e as pessoas se dão conta de que os efeitos no bolso do consumidor vão demorar mais do que o otimismo previa. Isto porque para além das verdades que supõe a nossa vã filosofia existe muito mais coisa entre o céu e a terra... Imagine então entre a SELIC e o spread bancário. O Spread bancário é a diferença entre o que os bancos pagam na captação de recursos e o que eles cobram ao conceder empréstimos, é a margem. No valor do spread estão embutidos os impostos, as taxas e os lucros. Ou seja, o spread sugere que o risco do banco deve ser o menor possível. Essa margem ou spread cobrado pelo banco e outras instituições financeiras é um valor que varia de banco para banco e conforma o total da taxa cobrada quando o agente econômico é tomador de crédito. E diga-se de passagem que o spread bancário brasileiro é um dos mais altos do mundo, provavelmente porque o sistema financeiro nacional é absolutamente concentrado. Os cálculos das taxas de juros do mercado tem como base a Selic e, tecnicamente, quando esta taxa é reduzida todas as outras taxas de mercado deveriam ser igualmente reduzidas, na prática isso não ocorre instantaneamente. As instituições financeiras demoram em reduzir as taxas que tem maior grau de risco, argumentando entre outras questões o alto grau de inadimplência do consumidor. 5
7 Ou seja, para que os bancos repassem uma parte desse corte nas taxas de juros muita conta será feita e muita água vai passar por debaixo dessa ponte. Referências bibliográficas SPRINGER, Paulo. A taxa de juros é a principal causa dos desequilíbrios macroeconômicos do Brasil. Minhas economias site - 6
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