CEPEA/CUSTOS LEITE: Custo sobe no início de 2016, mas valorização do leite mais que compensa e margem é positiva

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1 CEPEA/CUSTOS LEITE: Custo sobe no início de 2016, mas valorização do leite mais que compensa e margem é positiva Por Wagner H. Yanaguizawa, Analista de Mercado, equipe Gado de Leite Cepea O início de 2016 foi marcado pelo aumento dos custos de produção e também dos preços do leite recebidos pelo pecuarista, de acordo com os pesquisas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, realizadas em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A alta no preço do leite no período (de dezembro/15 a fevereiro/16), no entanto, foi mais intensa que a dos custos, resultando em melhora na margem bruta (Receita Custos Operacionais Efetivos) da atividade quando comparada à do mesmo período do ano anterior (dezembro/14 a fevereiro/15). A alta nos custos esteve relacionada à importação de produtos atrelados ao dólar que ainda está em patamar elevado, aos crescentes preços dos grupos de concentrados e sal mineral e ao reajuste anual do salário mínimo nacional. Quanto ao preço do leite, o aumento foi influenciado pela baixa oferta da matéria-prima num momento considerado como safra de produção. Vale lembrar que, no final de 2015, o atraso das chuvas impediu a reforma das pastagens em muitas regiões. Após a chegada das precipitações que vieram de forma muito intensa, as pastagens ficaram prejudicadas, assim como a logística para coleta de leite pela indústria. As crises econômica e política, de maneira geral, também resultam em menores investimentos na atividade. Nesse contexto, houve forte diminuição na produção dentro da porteira e, consequentemente, na captação pelos laticínios. O Índice de Captação de Leite do Cepea (ICAP-L) acumulou queda de 0,44% em Na parcial de 2016 (de dez/15 a fev/16), já registra baixa de 8,81%. No acumulado de dez/15 a fev/16, o Custo Operacional Efetivo (COE) constituído pelos gastos correntes da propriedade e o Custo Operacional Total (COT) que é o COE acrescido da depreciação dos bens de produção e do pró-labore apresentaram aumentos de 2,64% e de 2,43%, respectivamente, considerando-se a média Brasil. Enquanto que o preço do leite pago ao produtor subiu 4,2% no mesmo período. Dentre os estados acompanhados pelo Cepea, São Paulo registrou o maior aumento no COE, de 4,84% no acumulado deste ano (dez/15 a fev/16), influenciado pela alta generalizada dos preços dos insumos dos grupos de concentrado (de expressivos 12,8%), de inseminação artificial (7,5%) e de energia e combustível (1,9%). No outro extremo, o Paraná teve a menor alta nos custos, acumulando ligeiro aumento de 0,14% no COE. Apesar de a região ter registrado elevação no grupo concentrado (3,4%), o item manutenção das forrageiras perenes caiu 7,5%, contrabalanceando o aumento das cotações dos outros grupos. Em geral, todos os estados apresentaram alta nos principais grupos de insumos que compõem a cesta dos custos da pecuária de leite, mesmo que em menor variação que os preços pagos ao produtor. Dessa forma, a margem bruta do pecuarista registrou aumento. No acumulado deste ano (dez/15 até fev/16), em ordem decrescente, a margem bruta acumulou alta de 34,7% em

2 Minas Gerais, 23,3% em Goiás, 19,9% em Santa Catarina, 7,2% no Rio Grande do Sul, 6,4% no Paraná, 0,88% na Bahia e 0,78% em São Paulo. Este início de ano tem preocupado diversos produtores de leite, já que as expectativas das cotações dos insumos que compõem o grupo concentrado (que responde, em média, por 42% do COE da atividade) são de estabilidade a alta. Por outro lado, grande parte dos colaboradores consultados pela Equipe Leite do Cepea também estima alta nas cotações do leite para os próximos meses, fundamentados na baixa oferta do produto no período de safra e também nos efeitos negativos do clima e no início do período de entressafra. Figura 1 Evolução do COE, COT, preço do leite e margem bruta na média Brasil (BA, GO, MG, PR, SC, SP e RS), de dez/15 a fev/16. Fonte: Cepea/CNA.

3 Figuras 2 e 3 Variação acumulada de dez/15 a fev/16 do Custo Operacional Efetivo (COE) e do preço do leite, na média Brasil, que considera: SP, SC, RS, PR, MG, GO e BA (base 100 = dez/13) Fonte: Cepea/CNA. Mais competitivos, crescem importações de leite em pó integral e de muçarela Natália Salaro Grigol, analistas de mercado da equipe Leite Cepea Mesmo com o dólar em patamar elevado, em fevereiro, as importações de leite em pó integral e de queijo muçarela seguiram mais vantajosas que a compra desses produtos no mercado brasileiro. De janeiro para fevereiro, as aquisições externas de leite em pó integral aumentaram 11,78% e as de queijo muçarela, expressivos 88,64%, segundo dados da Secex. A desvalorização de 2% do dólar frente ao Real no período (média de R$ 3,97) influenciou a maior competitividade dos lácteos importados (Gráficos 1 e 2). Considerando-se os dados da Secex (mercado externo) e os do Cepea (mercado interno atacados de MG, SP, RS, PR e BA), o preço médio do leite em pó importado em fevereiro esteve 36,43% inferior ao nacional; para a muçarela, a vantagem do produto externo frente ao interno foi de 34,92%. Em fevereiro, as aquisições de leite em pó integral somaram 21,6 milhões de litros em equivalente leite, representando 37,8% do total de lácteos importados pelo Brasil no mês (57,14 milhões de litros em equivalente leite). Em quilogramas, o volume chegou a 2,6 milhões. A despesa com as compras foi de US$ 6,16 milhões (alta de 11,75% frente ao mês anterior). O preço médio do produto importado permaneceu praticamente estável, a US$ 2,34/kg (Secex), enquanto o nacional teve média de US$ 3,67/kg (cálculos do Cepea). Quanto ao queijo muçarela, foram importados 10,33 milhões de litros em equivalente leite em fevereiro (representando 18% do total de lácteos comprado pelo País), ou 1,03 milhão de quilogramas. Os gastos totalizaram US$ 2,61 milhões, 72,85% superior ao verificado em janeiro. O preço médio do muçarela importado foi de US$ 2,52/kg (-8,4%) e o nacional, de US$ 3,88/kg (Tabela 1). Importações de leite em pó: O principal fornecedor do leite em pó integral em fevereiro foi a Argentina, com 51,2% das compras. O produto argentino foi negociado na média de US$ 2,38/kg, elevação de 0,6% em relação a janeiro. As compras de leite em pó no Uruguai representaram 37% do total, com média de US$ 2,48/kg, alta de 4% frente ao mês anterior. Os embarques do Paraguai, que se iniciaram em janeiro, triplicaram em fevereiro, com participação de 11,4% do total. Nesse período, o preço do produto paraguaio aumentou 11,2%, fechando a US$ 1,67/kg (Gráfico 3). Importações de queijo muçarela: A Argentina também forneceu 72,4% do queijo muçarela importado em fevereiro, comercializado à média de US$2,59/kg, 4,89% inferior a janeiro. Os outros 27,6% vieram do Uruguai, cujo preço médio registrou expressiva queda de 22% na mesma comparação, chegando a US$ 2,36/kg.

4 17,00 15,00 Preços do leite em pó integral importado e nacional (em R$/kg) 14,60 R$/kg 13,00 11,00 9,00 9,28 7,00 5,00 jan/10 abr/10 jul/10 out/10 jan/11 abr/11 jul/11 out/11 jan/12 abr/12 Preço do leite em pó integral importado jul/12 out/12 jan/13 abr/13 jul/13 out/13 jan/14 abr/14 jul/14 out/14 jan/15 abr/15 Preço do leite em pó integral nacional Gráfico 1. Comparação dos preços do leite em pó integral importado e nacional (em R$/kg). Fonte: Secex/ elaborado pelo Cepea. jul/15 out/15 jan/16 21,00 19,00 Preços do quiejo muçarela importado e nacional (em R$/kg) R$/kg 17,00 15,00 13,00 11,00 9,00 7,00 15,40 10,02 5,00 jan/10 abr/10 jul/10 out/10 jan/11 abr/11 jul/11 out/11 jan/12 abr/12 jul/12 out/12 jan/13 abr/13 jul/13 out/13 jan/14 abr/14 jul/14 out/14 jan/15 abr/15 jul/15 out/15 jan/16 Preço do queijo muçarela importado Preço do queijo muçarela nacional Gráfico 2. Comparação dos preços do queijo muçarela importado e nacional (em R$/kg). Fonte: Secex/ elaborado pelo Cepea. Com milho mais caro, poder de compra do produtor cai 35% em um ano Por Ana Paula Negri, Analista de Mercado, equipe Pecuária de Leite Cepea Apesar da alta de 14% do preço do leite no estado de São Paulo entre fevereiro de 2015 e fevereiro deste ano, o poder de compra do produtor piorou. Há um ano, eram necessários 29,07

5 litros de leite para a compra de uma saca de 60 kg de milho (base região de Campinas - Indicador ESALQ/BM&FBovespa); já em fev/16, a troca equivaleu a 39,2 litros de leite, aumento de 35% em um ano. Isso se deve à forte valorização de 54% do milho no período, motivada principalmente pelas exportações, que bateram recordes diante da valorização do dólar. Com isso, a disponibilidade do grão no mercado interno baixou significativamente. No último ano, segundo dados do Cepea, a melhor relação de troca de leite por milho e por farelo de soja ocorreu em junho. Naquele mês, no mercado paulista, bastavam 23,03 litros de leite para a compra de uma saca de milho e uma tonelada de farelo requeria o equivalente 856,87 litros grãos a preços de Campinas (gráfico 1). Desde então, o poder de compra do pecuarista leiteiro frente aos grãos diminuiu 70,1% para o milho e 26,5% para o farelo. De janeiro para fevereiro, especificamente, a cotação do milho subiu 3% na região de Campinas (SP) e atingiu o maior valor nominal desde julho de 2008, com a saca a R$ 42,98/saca na média de fevereiro. O leite ao produtor paulista avançou 1,3%, com média de R$ 1,0969/litro em fevereiro, o que levou à piora da relação de troca com o grão em 1,9%. Cálculos do Cepea indicam que para manter seu poder de compra de janeiro, o leite teria que ter se valorizado em 3,2% em fevereiro. Já o preço do farelo de soja (Campinas-SP) recuou 11% no mesmo período, o que elevou em 12,1% o poder de compra do produtor paulista. Já em relação a fev/15, quando eram precisos 92,7 litros a menos de leite para a compra de uma tonelada de farelo, verifica-se piora de 9% na relação de troca. A análise da relação de troca do leite com o milho e o farelo de soja é de extrema importância para o setor, uma vez que esses são os principais componentes do concentrado. A compra da ração respondeu em fevereiro por 36,6% dos custos operacionais efetivos (COE) das propriedades típicas de São Paulo monitoradas pelo projeto Campo Futuro, parceria entre o Cepea e a CNA. O concentrado é balanceado de acordo com a quantidade de proteína e energia exigidas pela dieta em cada fase produtiva do animal. Algumas alternativas de substituição desses grãos são a cana-de-açúcar, por ser uma planta de fácil cultivo e com altos teores de energia, além da mistura de aveia e azevém, que apresenta elevado valor nutritivo, e a mandioca, que tem baixo custo de produção. Segundo colaboradores do Cepea, as condições climáticas dos próximos meses devem ser favoráveis para o plantio da segunda safra de milho, havendo perspectivas de aumento de produção. Com isso, pode ocorrer leve alta nos preços dos grãos num momento em que os preços do leite devem se valorizar por conta da entressafra, o que pode melhorar o poder de compra do pecuarista.

6 Gráfico 1: Quantidade necessária de leite (em litros) para adquirir 1 saca de 60 kg de milho no estado de São Paulo (Campinas-SP) Fonte: Cepea Gráfico 2: Quantidade necessária de leite (em litros) para adquirir 1 tonelada de farelo de soja no estado de São Paulo (Campinas-SP) Fonte: Cepea

7 Criação do bezerro pode elevar renda de produtor de leite Por Raphael Denys Fava, Analista de Mercado, equipe Gado de Leite Cepea Atraídos pelos atuais elevados patamares de preços do bezerro, muitos produtores leiteiros têm passado a considerar a criação desses animais, em vez de descartá-los (por meio de revendas e/ou doação), como geralmente observa-se. A criação do bezerro pode ser uma oportunidade de aumento da renda da propriedade rural. Segundo cálculos e análises realizadas pela equipe de leite do Cepea, em parceria com a CNA, foi constatado que, de fato, a rentabilidade de propriedades leiteiras que cria bezerros é maior do que a opta por descartá-los. Para chegar a esse resultado, o Cepea considerou uma propriedade modal típica leiteira do município de Pato de Minas (MG) e comparou os resultados apresentados numa unidade que visa apenas a produção de leite e a mesma que também faz criação dos bezerros. Os dados destas propriedades foram coletados por meio da metodologia de painel. No caso da propriedade que recria o bezerro, foram acrescentados aos cálculos de custos os gastos que seriam gerados com a criação desses animas. Assim, outros itens foram considerados, tais como os custos com pastos, concentrados e suplementação. Além disso, foi considerada a utilização de uma teta para a alimentação dos bezerros no período de lactação. Considerando-se que, em fevereiro de 2015, o pecuarista leiteiro optou por segurar os bezerros na propriedade, visando comercializar o animal em fevereiro de 2016, a análise da margem bruta anual, ou seja, renda bruta subtraída pelo custo operacional efetivo indica lucro médio de 238% a mais que somente a produção de leite (Gráfico 1). O produtor de leite, tendo outras alternativas de produção, consegue negociar em momentos mais oportunos, como em agosto de 2015, quando o valor do bezerro atingiu a maior diferença frente ao custo de produção (Gráfico 2). Naquele mês, enquanto o bezerro se valorizou expressivos 24%, os preços do leite subiram apenas 3,61%. Verifica-se que, desde outubro/15, o valor do bezerro vem acompanhando a alta dos custos de produção, ao passo que o preço do leite vem se enfraquecendo no mesmo período. Por outro lado, outros aspectos relevantes e decisivos devem ser considerados para a tomada de decisão do pecuarista de leite. O fato de esses animais leiteiros serem, muitas vezes, de raças puras especializadas em leite ou por possuírem alto grau de sangue dessa raça, não têm características de carcaça e/ou ganho diário de peso e conversão alimentar desejadas para o genótipo de gado de corte. Além disso, muitas das fazendas produtoras de leite não possuem estruturas físicas para a criação dos bezerros, exigindo, assim, investimentos para a criação de condições viáveis para a cria desses animais. Por isso, essa prática apresentada neste estudo demonstra que a eficiência da criação de bezerros em fazenda típica de produção de leite pode ser viável, mas fatores intrínsecos ao sistema devem ser levados em consideração para a aplicação desse sistema.

8 Gráfico 1 Comparativo de Margem Bruta de produção de leite, com e sem produção de bezerros, das fazendas típicas de Pato de Minas (MG), de fevereiro de 2015 a fevereiro de Fonte: Cepea/CNA. Gráfico 2 Comparativo de Custo de Produção, com e sem produção de bezerros e variação dos preços de Bezerro Magro e Leite, das fazendas típicas de Pato de Minas (MG), de fevereiro de 2015 a fevereiro de Fonte: Cepea/CNA.