UM MERCADO COM ESPAÇO PARA CRESCER

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1 BRASIL UM MERCADO COM ESPAÇO PARA CRESCER Newsletter Life Sciences # 20 I Novembro 2012 MERCADO DE ALTO CUSTO Profissional é peça chave nas relações com o governo e na busca de novos negócios TRADE MARKETING PARA OTCS Mercado cresce, apesar das constantes mudanças na legislação MSL Carreira é fundamental para a indústria farmacêutica ENTREVISTA Gean Martins, da Boehringer Ingelheim, fala sobre sua carreira e o mercado de trabalho de Ciências da Vida

2 A EQUIPE Mariana Roriz Gerente da expertise Hays Life Sciences em São Paulo Adriana Vianna Gerente da expertise Hays Life Sciences no Rio de Janeiro AINDA HÁ UM GRANDE TERRENO A SER EXPLORADO PELA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA De acordo com o IMS Health, empresa que audita o mercado farmacêutico mundial, em 2015 o Brasil será o sexto maior mercado consumidor de medicamentos do mundo. Esse aumento será alavancado, entre outros fatores, pelas crescentes alterações no setor e pela ascensão da classe C, que impulsionou o consumo interno em todos os segmentos, inclusive na compra de produtos farmacêuticos. Em 2005, o mercado brasileiro representava a décima colocação no ranking. Além do poder aquisitivo da nova classe média, que contribuiu para crescimento do volume de vendas da indústria farmacêutica no Brasil, um fator considerado marcante para o setor é a criação dos genéricos. Especialistas defendem que a combinação desses dois fatores provocou uma grande mudança no mercado. E ainda há um grande terreno para ser explorado, já que a participação dos medicamentos genéricos varia significativamente de estado para estado. Em São Paulo, por exemplo, o consumo desse tipo de medicamento é muito alto. Já nas regiões Norte e Nordeste, a fatia desse segmento ainda é pequena, mesmo com estímulos do governo. No Acre e no Amapá o desempenho é próximo de zero. De olho nesse novo mercado, laboratórios especializados em genéricos investem em expansão no Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Esse movimento interfere diretamente no mercado de trabalho dessas regiões, que sofrem com a falta de profissionais especializados em saúde. E é sobre todo esse cenário que esta edição da Newsletter Hays Life Sciences se debruça. Entre os assuntos abordados pela publicação, estão os medicamentos de venda livre; as mudanças na legislação e como isso influencia na divulgação e na venda desses produtos. A edição traz, ainda, um olhar sobre o mercado de alto custo e suas relações com o governo, além de abordar a área de equipamentos médicos e as adequações do mercado interno em relação a incentivos, Parceria Público Privadas (PPPs) e uma provável mudança na legislação de importações. Outro ponto abordado é a estruturação do setor de assuntos regulatórios como parte fundamental nas pretensões legislativas e comerciais das empresas. Há também uma matéria sobre o mercado de contratações para o cargo de MSL, do inglês Medical Science Liaison, e quais são as exigências dessa área para a carreira. Na seção Entrevista, Gean Martins, expert na área de vendas, fala sobre o mercado de ciências da vida e sobre a própria carreira. Newsletter Life Sciences - #20 Novembro

3 MERCADO DE ALTO CUSTO Como a área de mercado de alto custo é multidisciplinar, para trabalhar e entender o ambiente como um todo é necessário ter algum conhecimento de políticas de saúde, economia e também ciências da saúde. A avaliação de tecnologias em saúde (ATS) é uma das áreas em que é necessário unir uma ciência exata (capaz de expressões quantitativas) como a matemática, a uma ciência inexata como a medicina. A maioria dos profissionais que está neste setor tem formação médica, farmacêutica, ou são economistas, sendo a principal característica desse segmento o trabalho em equipe. Por ser uma tarefa multidisciplinar é fundamental unir todas as partes e então elaborar um projeto único, que considere as características de cada um, conta Roberta Monteiro, Diretora Associada de Farmacoeconomia da Bristol. De acordo com os profissionais da área, o principal desafio ainda está na educação continuada. Precisamos cada vez mais formar pessoas para desenvolver e avaliar os estudos e pesquisas sobre os medicamentos. Esses profissionais podem levantar dados nacionais para que estes estudos reflitam a nossa realidade como país, relata Roberta. Além disso, a economia da saúde no Brasil, diferentemente de alguns anos atrás, é vista como uma necessidade e como critério de seleção para orientar a cobertura do financiamento dos medicamentos. Esta cobertura não é só baseada nos quesitos de eficácia e segurança (registro), como também nos dados de custo-efetividade (financiamento). Os profissionais de acesso também podem atuar na promoção do diálogo com o governo. Há cada vez mais demanda para trabalhar nessa área que envolve mais relacionamento, fechando acordos e contratos para a fabricação e distribuição desses medicamentos. Um profissional da área de acesso pode representar a empresa junto ao Ministério da Saúde. Ele precisa ter conhecimento sobre verbas destinadas ao setor, se há um número significativo de pacientes para certa doença entrar na lista de subsidiadas, entre outros aspectos, explica Mariana Roriz, gerente da área de expertise Hays Life Sciences em São Paulo. Fazem parte dessa área também os estudos de custoefetividade, parte integrante da Avaliação de Tecnologias em Saúde pelo Governo. A CONITEC (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS) leva em consideração, necessariamente, as evidências científicas sobre eficácia e segurança da nova tecnologia proposta para incorporação, assim como a avaliação econômica comparativa dos benefícios e custos em analogia com as tecnologias já incorporadas. O que são medicamentos de alto custo? Existem várias definições para o termo medicamento de alto custo. Eles podem ser aqueles que buscam atender doenças raras ou de baixa prevalência, com alto preço unitário; ou que, em caso de remédios de uso crônico, são indicados para doenças muito dominantes, com custo total elevado. É importante salientar também, que muitas vezes esses produtos podem ter um alto preço, mas reduzir custos no final do tratamento, devido ao resultado que ele acarreta ao paciente. Por isso, cada vez mais, o mercado reforça a importância do valor agregado desses medicamentos. MERCADO EM ALTA EQUIPAMENTOS MÉDICOS O mercado de equipamentos médicos continua em crescimento no Brasil. Dados da Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios (ABIMO) apontam que as exportações deste setor cresceram 13% em 2011 no país, que atualmente representa 35% do complexo industrial de saúde e gera mais de 100 mil empregos. Com produtos competitivos, o mercado brasileiro mantém o crescimento e não deixa a desejar frente aos equipamentos importados. A indústria nacional apresenta total condição de competir com os players estrangeiros, desde que continue investindo em pesquisa e desenvolvimento. Já existem diversos fabricantes no país que possuem parcerias com universidades, atesta Sérgio Ricardo Lima, gerente nacional de vendas da H. Strattner. Em algumas especialidades, o Brasil já é o principal exportador para os países da América Latina, completa. Um dos desafios eminentes para a indústria é a adequação ao projeto de lei 1871/2011, que tem como objetivo isentar o pagamento de imposto de alguns produtos estrangeiros que não possuem um similar nacional. Segundo Lima, esse fator trará benefícios ao mercado nacional. O projeto aumentará o acesso a produtos de última geração, utilizados no mundo inteiro. Além disso, a medida beneficiará principalmente os pacientes, que passarão a contar com mais tecnologia avançada, e os hospitais, que trabalharão com equipamentos que aperfeiçoam a produtividade nos procedimentos. Outro benefício é a vinda dos equipamentos importados para o Brasil, pois fomenta o surgimento de novas importadoras e incentiva a indústria nacional a buscar soluções competitivas. Com isso toda a cadeia de valor é favorecida, analisa. A indústria também ganha mais corpo devido às primeiras Parcerias Público-Privadas (PPPs) no setor de saúde. Esse trabalho conjunto viabiliza a construção e gestão de novas unidades hospitalares, além de aumentar a procura por equipamentos. Com o mercado em ampla expansão, a contratação de profissionais com graduação ou curso técnico em saúde, fluência em inglês e, preferencialmente, com perfil para marketing e vendas está bastante acirrada. Newsletter Life Sciences - #20 Novembro

4 TRADE MARKETING UMA REVOLUÇÃO NO MERCADO DE OTC Medicamentos de venda livre ou de prescrição (MIPs) ou over-thecounter (OTC) são os nomes dados aos produtos farmacêuticos que podem ser vendidos sem receita médica, contam com muita exposição nos pontos de venda e recebem um grande investimento das indústrias em propaganda. Atualmente, esse segmento ocupa a vice-liderança na comercialização de medicamentos, com 25% de participação. Em 2011, o setor teve suas vendas elevadas em 14,5%, atingindo R$ 12,5 bilhões somente no Brasil. Considerando os últimos cinco anos, a taxa média de crescimento desse ramo gira em torno de 16%. No cálculo das vendas em unidades houve um crescimento de 9,8% entre 2010 e 2011, segundo levantamento da IMS Health, passando de 740 mil para 839,6 mil caixas de medicamentos. O setor está tão aquecido que, apenas em 2011, 197 novos produtos foram lançados ao longo do ano. O mercado OTC está em constante evolução e com crescimento significativo. Já tivemos alguns lançamentos em 2012, e marcas tradicionais demonstram forte crescimento, de acordo com a leitura da IMS, avalia Rogério Lima, gerente de Trade Marketing da Boehringer Ingelheim do Brasil. Um dos maiores desafios para os especialistas do setor é a frequente mudança na resolução RDC 44/2009 que fez os medicamentos saírem das gôndolas das farmácias e migrarem para trás do balcão. Esse processo obrigava o consumidor a solicitar ao atendente que pegasse o medicamento no balcão. Mais recentemente a norma foi novamente modificada, permitindo que os produtos voltassem a ter fácil acesso para os clientes. Com todas essas alterações na norma, a questão do marketing desses produtos é um desafio constante para fabricantes e para revendedores. O mercado se questiona agora qual será o comportamento do varejo farmacêutico, já que, no lugar do OTC, outras categorias assumiram o espaço nas gôndolas, analisa Lima. Atualmente, perfumaria e produtos de higiene e beleza já ocupam boa parte do espaço antes utilizado pelos OTCs. Mesmo com todas essas mudanças, o mercado continua crescendo, há uma maior diversificação de produtos, além de um grande número de fusões e aquisições das empresas do ramo. Esse cenário, segundo Lima, exige cada vez mais profissionais especializados. Por um bom tempo o mercado contratou inúmeros executivos da área de consumo aptos a disseminarem seus conhecimentos sobre empresas consideradas benchmark no setor de Trade Marketing, mesmo que eles não tivessem experiência anterior no segmento farmacêutico. Essa mudança de perfil de contratação foi muito boa para chacoalhar o modus operandi das empresas e dos laboratórios, completa. Por essas razões, o bom profissional de Trade Marketing precisou se desenvolver fortemente nos últimos anos, integrando características diferentes ao seu perfil de atuação. Atualmente, as empresas procuram pessoas dinâmicas, com boa energia, comunicativas e que pensem de maneira inovadora, informa Paula Meller, consultora da área de Life Sciences da HAYS. Além das caraterísticas apontadas pela consultora, Rogério Lima afirma que atributos fundamentais são criatividade, persistência, análise apurada, bom relacionamento com as áreas de Marketing e Vendas e visão de sell out. Para o gerente de Trade Marketing, para quem gosta de números, a profissão é um prato cheio. ASSUNTOS REGULATÓRIOS POSIÇÃO ESTRATÉGICA Profundo conhecimento da legislação brasileira, das normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e bom relacionamento com os órgãos que regulam e fiscalizam as normas da indústria farmacêutica. Esses são os principais pré-requisitos para trazer uma vantagem competitiva e conseguir uma boa posição como profissional de assuntos regulatórios. Essa é uma área estratégica e fundamental para o crescimento e sucesso de uma empresa do setor farmacêutico. Por isso, os profissionais que atuam na área são bastante valorizados em todas as companhias do setor. Na medida em que as empresas aumentam a carta de seus produtos, a área aumenta em importância, confirma Adriana Vianna, gerente da área de expertise Hays Life Sciences no Rio de Janeiro. O profissional de assuntos regulatórios precisa ter uma relação estreita com outros setores da indústria farmacêutica. A interação da área de assuntos regulatórios com a de pesquisa & desenvolvimento é primordial, pois toda a documentação a ser submetida para as autoridades regulatórias é gerada pelo departamento de P&D e já deve contemplar todos os requerimentos da regulamentação, esclarece Monica Matsui, Gerente de Assuntos Regulatórios da GlaxoSmithKline Divisão Derma Stiefel. Para atuar no segmento, o profissional precisa ter um bom conhecimento técnico, pois trata com a composição dos produtos e também da legislação brasileira, que regula a utilização de certos componentes. O problema é que ainda não há uma formação específica para o setor, em geral exige-se formação em farmácia-bioquímica. Mesmo sem formação específica, quem entra na área regulatória tem como atrativo uma média salarial alta, superior às posições de fábrica. Algumas características são requisitos essenciais para um profissional atuar na área, como atenção aos detalhes, alto poder analítico, concentração, organização e senso de urgência. Esse profissional precisa trabalhar bem em equipe e principalmente se relacionar com outras áreas da empresa. À medida que alcança posições de liderança, precisa desenvolver habilidades de negociação, não somente para contatar as autoridades regulatórias, mas também internamente, principalmente com as equipes de gerenciamento de projetos. Os profissionais da área têm que ser ágeis, pois o setor impacta na comercialização, na cadeia de produção e nas vendas, completa Adriana. Por ser um cargo estratégico, a demanda por profissionais da área regulatória é grande para todos os níveis, desde analistas até posições de alta gerência. Há dois aspectos importantes em relação à demanda: prazos extensos para a aprovação da ANVISA e o aumento da complexidade dos requisitos técnicos de registro de produtos. Em relação aos prazos de aprovação, a demanda por posições de gerência sênior tem aumentado significativamente. Este é um ponto crítico para o alinhamento e planejamento de lançamentos com a área comercial e também para melhorar os canais de comunicação com as instâncias regulatórias, explica Monica Matsui. Já sobre a crescente complexidade dos requisitos técnicos, a demanda por analistas especializados e experientes também aumentou. O trabalho atencioso de enviar um processo de registro estritamente de acordo com a regulamentação faz minimizar a possibilidade de exigências e evita atrasos na aprovação, acrescenta a Gerente de Assuntos Regulatórios da GlaxoSmithKline. Newsletter Life Sciences - #20 Novembro

5 DO CONSULTÓRIO PARA A INDÚSTRIA/ MSL MSL, do inglês Medical Science Liaison, é a expressão utilizada para definir o profissional que pode comunicar conceitos científicos complexos e promover o equilíbrio dos objetivos clínicos com as oportunidades de negócios. Hoje em dia, a maior parte dos MSL tem um patamar científico alto (MD, PHD ou PharmD) e, a partir de sua posição no mercado, serve como ponte de comunicação entre as comunidades farmacêutica, biotecnológica e de equipamentos com os médicos. O Medical Science Liaison atua como consultor científico para viabilizar a ligação entre a indústria de medicamentos e os médicos formadores de opinião. É um profissional atualizado, que participa de congressos e fomenta discussões científicas de alto nível, comenta Erik Rantin, consultor de recrutamento da HAYS. A atuação desses profissionais é considerada excelente para fomentar a redução no tempo de produção de produtos, pesquisa, extensão e desenvolvimento de líderes-chave para promover discussões científicas. Como as indústrias farmacêuticas lidam com mudanças dinâmicas e as companhias estão fazendo enormes investimentos para trazer novos produtos para o mercado, os MSLs se tornaram, nos últimos anos, profissionais essenciais para introduzir e construir mecanismos de disseminação do conhecimento sobre os produtos farmacêuticos, complementa Rantin. Outra característica dessa área é o trabalho em campo. Um Medical Science Liaison viaja muito e lida com clientes como médicos, hospitais, associações médicas e instituições acadêmicas. Isso faz com que o profissional fique pouco tempo nos escritórios da empresa que o contratou. O cotidiano do MSL é desafiador. Ele precisa provar o valor da sua relação com os líderes de opinião a cada encontro marcado nas atribuladas agendas destes clientes. Além da limitação do tempo, existe a competição com outros canais de atualização médica, uma vez que o acesso às últimas publicações científicas está cada vez mais fácil e rápido. Para contornar isso, o MSL deve assegurar o refinamento científico nos dados que oferece e nas discussões de que participa, esclarece Gabriel Fagundes, Medical Manager da Boehringer Ingelheim. Muito comum na Europa e nos EUA, o mercado para esse profissional está se abrindo cada vez mais em países como o Brasil. A indústria farmacêutica busca especialistas para atuar nesse segmento, principalmente médicos uma das principais exigências das empresas, mas também biomédicos, biólogos e farmacêuticos. Para essa função, há grande demanda em todo o país. Essa posição é bastante desejada pela indústria e pelos profissionais de medicina, pois os médicos se sentem muito mais à vontade conversando com outro médico, explica Adriana Vianna, gerente da área de expertise Life Sciences do escritório da HAYS no Rio de Janeiro. Além disso, em um cenário de inovações cada vez mais frequentes, o MSL se tornou uma figura crucial para viabilizar a rápida aceitação de novos conceitos terapêuticos, seja com medicamentos first in class, seja para diferenciar atributos especiais de produtos já bem conhecidos. Num mercado cada vez mais competitivo, a indústria farmacêutica tem investido muito neste profissional e aberto inúmeras oportunidades de contratação, finaliza Fagundes. RECRUTAMENTO ESPECIALIZA- DO PARA POPULARIZAR A CARREIRA DE MSL Equipe HAYS Life Sciences de São Paulo Apesar da alta procura, a carreira de Medical Science Liaison ainda não é muito conhecida no Brasil, o que acarreta grande oferta de posições disponíveis na área. Um dos meios utilizados para divulgar esse setor é a atuação das empresas de recrutamento especializado, que podem orientar os profissionais de medicina sobre os desafios e compensações desse trabalho. Cabe ao recrutador deixar bem claro os benefícios da carreira. A melhor forma de despertar o interesse do médico para esse segmento de atuação é explorar o cunho científico do trabalho. Outros atributos que atraem são a estabilidade financeira, os benefícios trabalhistas, a remuneração salarial, a possibilidade de carreira corporativa e o desenvolvimento de habilidades que não são foco da formação médica tradicional, alerta Gabriel Fagundes, Medical Manager da Boehringer Ingelheim. De acordo com Mariana Roriz, gerente da área de expertise Hays Life Sciences, a segurança financeira é um excelente atrativo para os profissionais interessados nessa carreira. Para os neófitos, essa posição acaba sendo menos arriscada do que outros segmentos. O salário inicial varia de R$ 12 mil a 14 mil por mês. Ao mesmo tempo, as consultorias precisam falar diretamente em nome das empresas e aproveitam para promover a carreira de MSL entre toda a comunidade médica, além de universidades, centros de residência e hospitais. Quando são contratados, os profissionais acabam por indicar esse trabalho a outros, criando um vínculo e aquecendo ainda mais esse mercado, esclarece Erik Rantin, consultor de recrutamento da HAYS. Ambiente desafiador e em constante evolução e boas oportunidades de crescimento são alguns dos principais atrativos das posições hoje oferecidas no mercado. Newsletter Life Sciences - #20 Novembro

6 ENTREVISTA GEAN MARTINS Gean Martins é Diretor Comercial da Boehringer e nesta edição da Newsletter Hays Life Sciences comenta sobre sua carreira, o mercado de profissionais nas áreas de Vendas e Marketing no mercado farmacêutico e os desafios do setor. Com mais de 15 anos de profissão, tem passagens por grandes empresas como Johnson & Johnson, Pfizer e Takeda. É formado em Administração de Empresas com ênfase em Marketing e pós-graduado em Marketing pela Fundação Getulio Vargas. Além disso, tem especializações em cursos de liderança e certificações Green Belt para melhor qualificação em projetos/pessoas. Foto: Divulgação HAYS: Quais os desafios na questão de vendas na indústria farmacêutica? Gean Martins: Os desafios estão na complexidade do mercado, que conta com muitas restrições regulatórias, sobrecarga tributária e um controle dos preços por parte do governo. Além disso, a indústria está passando por um período de menos inovações, pois para fazer uma pesquisa e descobrir novas moléculas, pode demorar de 15 a 20 anos, e esse é um processo muito caro. A Boehringer Ingelheim investe fortemente em P&D (23,5% de suas vendas líquidas) e promete um portfólio promissor de lançamentos em diversas áreas terapêuticas nos próximos anos. Com isso, a gama de produtos ofertados pelas empresas não aumenta. Outro ponto é lidar com o mercado após a inserção dos medicamentos genéricos. Sustentar o negócio sem inovação é muito complicado. As empresas têm que entender muito seu portfólio e como extrair o máximo dele. E, ao lidar com todos esses fatores, além do cenário de tributação brasileiro, posso dizer que somos artistas ao ter que lidar com toda essa complexidade. HAYS: Como lidar com as restrições que a lei impõe na questão do marketing? Gean Martins: A Boehringer segue rigorosamente as regulamentações e orientações da ANVISA bem como outras entidades do segmento. O que fazemos é usar diferentes meios. Trabalhamos as campanhas de Marketing de produtos isentos de prescrição em diversos canais de comunicação online e offline. Os pontos de venda também são veículos de comunicação fundamentais, inclusive, fazemos investimentos em treinamentos para os farmacêuticos. Além disso, temos um foco muito grande no trabalho de informação e atualização científica para os médicos, com nossa equipe de visitação, realizando também simpósios e palestras científicas e convidando profissionais da saúde que são especialistas no assunto. HAYS: Como está o mercado de contratações para esse setor? Gean Martins: Ainda há muito espaço nesse mercado devido à necessidade de um maior foco nos pontos de venda e em Key Account Management, que é um trabalho com um nível elevado com grandes clientes devido à consolidação do mercado. Além de posições nas equipes de visitação médica, com profissionais que auxiliem a manter os resultados dos produtos. Há também a área de acesso com oportunidades em desenvolver um trabalho focado nas relações com o governo, assessorando a empresa com relação aos processos do canal público e pelos planos de saúde. Profissionais de diferentes competências e áreas serão cada vez mais exigidos. HAYS: Quais os diferenciais necessários para um profissional se destacar no setor farmacêutico? Gean Martins: Este profissional deve ter uma visão mais sistêmica do mercado, pois precisa ser muito dinâmico. Exemplo disso são os produtos com patente, com uma abordagem diferenciada em relação aos medicamentos que estão em fase de perder, ou já perderam suas patentes. Entre outros diferenciais está o conhecimento dos diferentes players e steakholders, noções estratégicas para o negócio e a versatilidade/criatividade, fatores necessários para transpor as barreiras regulatórias e estar atento à concorrência. Ou seja, não ter um olhar só para dentro da empresa, mas principalmente para fora, pois acompanho muitas empresas que ainda estão pensando muito internamente, o que acaba criando uma miopia. Você tem que sentir a temperatura do que acontece no mercado todo o tempo. E, com as inovações cada vez menores, quem vai fazer a diferença? É preciso um material humano bem capacitado para todas as posições na indústria farmacêutica. HAYS: O que pode dificultar a migração de um profissional para esse setor? Gean Martins: Entre as principais dificuldades encontradas estão as regulamentações mais rígidas, as mudanças constantes nas leis e regras e o controle do preço. Nos demais mercados, todos esses fatores são mais flexíveis e muito mais dinâmicos no lançamento de produtos. O maior impacto é sentir que as regras são outras e que existem barreiras diferentes para superar. O trabalho é focado muito mais no conceito do produto. HAYS: A grande concorrência e a segmentação de mercado fazem com que o profissional seja mais disputado? Gean Martins: Com certeza, hoje profissionais que entendam muito claramente os modelos de negócios e como encaixar o seu portfólio dentro da melhor estratégia para ter um grande diferencial são mais disputados no mercado. O maior desafio das companhias é extrair o máximo de seus portfólios otimizando recursos. Um dos grandes problemas na colocação desses profissionais é achar alguém com essa visão de 360º do setor. HAYS: Quais foram as maiores mudanças no mercado desde que você começou? Gean Martins: Um grande marco foi a entrada dos genéricos que mudou muito a dinâmica do mercado, tanto que entre as cinco maiores indústrias farmacêuticas que atuam no mercado interno três delas são nacionais, ou seja, a disputa hoje em dia é muito mais acirrada. Outro marco foi o advento das mídias sociais, que inseriram o consumidor em uma forma de comunicação mais ampla e rápida. Como a indústria vai explorar isso é um desafio e uma grande oportunidade. Outro momento importante é essa fase de desaceleração de inovações em que o mercado tem que extrair o máximo de seu portfólio e para isso, volta-se para o modelo de negócios. Muitas vezes a imagem que a indústria passa é de alto lucro, mas, no fim do dia, esse lucro é redirecionado para a contínua inovação e descoberta de novos tratamentos capazes de oferecer mais qualidade de vida. É esse o modelo que a Boehringer trabalha: saúde, bem-estar e inovação acessíveis à humanidade. Newsletter Life Sciences - #20 Novembro