PN 1143.01 1 ; Ag: TC Porto, 2ª Vara; Age 2 : BPI/SFAC, Soc, Fin. p\aquisições a Crédito, SA Rua da Saudade, 132 4º Porto Ago: PT Telecomunicações SA, Avª Fontes Pereira de Melo 40, 1000 Lisboa. Acordam no Tribunal da Relação do Porto 1. A Age insurge-se contra o despacho pelo qual foi indeferido requerimento executivo (para prosseguimento autónomo com penhora de bens da entidade patronal obrigada a depósito, que deixou de fazer, dos descontos no vencimento do executado), insucesso ancorado em ter de seguir a execução a forma ordinária e não ter a exequente corrigido conforme o convite nos termos do art. 811-B/2 CPC (havia pedido o processamento por apenso à execução sumária em curso contra o devedor irremisso José António Rosário Silva, funcionário de PT Comunicações, SA). 2. Concluiu: (a) À Execução (apenso C), movida contra PT Comunicações SA, compete nos termos da lei a forma sumária; (b) A decisão recorrida, ao indeferir o requerimento executivo, por entender que a execução devia seguir forma ordinária, infringiu as disposições dos arts. 46d, 90/1.3, 265-A/2 e 860/3 CPC; 1 Vistos: Des. Ferreira de Sousa (337) Des. Paiva Gonçalves (1134). 2 Adv.: Dr. Luis Graça, (Gagliardini & Ass.), Rua Garcia de Orta, 37, 4150-345 Porto. 1
(c) A mesma decisão refere, certamente por lapso ininteligível, o art. 881-B, quando deveria querer mencionar o art. 811-B CPC, o qual não pode servir de suporte ao indeferimento, por tudo quanto fica dito; (d) Deve ser revogada e substituída por outra que admita integralmente o requerimento executivo inicial, ordene a penhora dos bens nomeados, seguindose a notificação da executada e os demais trâmites, nomeadamente conducentes à condenação de PT, SA como litigante de má fé. 3. Não houve contra-alegações e foi sustentado o despacho. 4. O recurso está pronto para julgamento. 5. Fica assente, segundo os documentos dos autos: (a) Corre na 2ª Vara do Tribunal Cível da Comarca do Porto a execução sumária nº 689/98 em que é exequente a Ape e executado José António Rosário da Silva; (b) Foi penhorado 1/3 (depois reduzido para 1/6) do vencimento que este percebia de PT Comunicações, SA, a qual passou a fazer os depósitos a partir do mês de Julho de 1999, cessando em Dezembro p.f.; (c) PT Comunicações, SA comunicou depois ter rescindido por mutuo acordo o contrato de trabalho com o executado, liquidada uma indemnização: Pte 19 016 270$00, sem descontos; (d) A Age, na sequência, distribuiu o requerimento executivo em causa onde escreveu: vem instaurar execução sob forma sumária contra PT Comunicações SA por apenso aos autos principais, [ordenada] a penhora dos bens a seguir nomeados, seguindo-se a notificação da ora executada - todos os móveis e equipamentos que sejam da propriedade desta, encontrados na sede social, e 2
que se mostrem suficientes ao pagamento do débito exequendo e das custas; valor: Pte 2 566 741$00; (e) Em 01.01.25 foi proferido despacho, nos termos do art. 811-B/1 CPC, e com as consequências constantes do nº2 do mesmo preceito legal, ordenando a notificação da Age para apresentar nova petição executiva no prazo de 10 dias: a presente execução foi instaurada sob a forma sumária, sendo que, atento o valor, e dado que o título executivo não é sentença judicial, deve seguir a forma ordinária, não podendo pois ser nomeados bens à penhora no requerimento inicial; (f) A Apa foi notificada em 01.01.28, e em 01.02.05, pediu o esclarecimento do despacho, com base nos arts. 666/2.3 e 669 CPC, mas termina: deve o requerimento executivo apresentado de início merecer deferimento e, em consequência, como ali se pede, ser a executada condenada também com litigante de má fé, logo ordenada a penhora dos bens nomeados, e depois a notificação da executada; Caso porém assim não se entenda, deve ser recebido o presente requerimento como interposição de recurso de agravo; (g) Com data de 01.02.09, o despacho recorrido: por se entender que a execução devia seguir a forma ordinária, foi convidada a exequente a corrigir a petição executiva, com as consequências do art. 881-B/2 CPC, nada tendo a exequente corrigido e mantendo o requerimento executivo inicial; ora, não pode proferir-se novo despacho em contrário do anterior sem ser pelos meios previstos na lei processual; assim, nos termos do citado preceito legal indefiro o requerimento executivo. 6. Uma das questões, mas menoríssima, postas pela recorrente diz respeito a um lapso de escrita, pois em vez de se ter escrito no despacho recorrido art. 811-B/2 CPC, escreveu-se art. 881-B/2 CPC. No entanto, o lapsus calami, surge evidente do 3
contexto sucessivo das decisões, com se vê de 5. e é por isso muito fácil de superar, ficando aqui emendado, tal como a lei permite, sem mais. 7. Em boa verdade, o despacho que indeferiu o requerimento executivo não foi dado no momento oportuno, porque tinha sido apenas requerida a aclaração do convite ao aperfeiçoamento, e muito embora a formulação final do pedido autorize, sem dúvida, o passo dianteiro, inferido na decisão posta em crise: a Ape não se prestava a corrigir. Contudo, não tinha passado o tempo concedido, em virtude de ter ficado suspenso o prazo, e na dúvida, dúvida em favor da parte (quanto mais não seja por apelo ao princípio da economia), revestida na fórmula processual explícita de que lançou mão a exequente. Mesmo assim, já que esta passou a agir como se não tivesse de aperfeiçoar, aceitamos como superado o problema, e encarar-se-á o despacho recorrido muito mais na perspectiva da justificação de fundo do indeferimento, colocada entre parêntesis a inegável improcedência do argumento preclusão, oposto no primeiro plano do despacho recorrido, contra a recorrente. Sem dúvida que a ordem de penhora, e neste caso, poderá servir de título executivo. Não é contudo uma decisão judicial condenatória, e só a estas, independentemente do valor, corresponde a forma sumária de execução. Concerteza teremos de atribuir à resposta de PT SA, mesmo depois de oficiosamente solicitada, o âmbito legal que se insere no disposto nos arts. 856/2 e 858/1 CPC: crédito do executado que entretanto se extinguiu após a penhora. Esta circunstância elide de facto e de direito qualquer característica cominatória à decisão que ordenou a penhora de 1/6 do vencimento de José António Rosário da Silva, perante a regulação dos números seguintes do último artigo de lei citado. E se o crédito, em frente do eventual intento de manutenção da penhora por parte do exequente passa a considerar-se litigioso e como tal será adjudicado ou transmitido, é lógico não poder seguir-se o esquema executivo de que a recorrente pretende lançar mão. 4
De qualquer modo o requerimento inicial da execução pede autos de execução ordinária, em face do valor da causa. E verdadeiramente a problemática avocada até aqui é estranha à boa decisão do recurso: deveria era ser enfrentada na 1ª instância se a recorrente não tivesse já recusado o aperfeiçoamento do requerimento inicial. Partindo desta base fixada, não há senão que manter o despacho recorrido: no fundo, nem título executivo foi exibido. 8. Atento o exposto, vistos os arts. 46d, 90/1.3, 856/2, 858/1 e 860/3 CPC, decidem julgar improcedente este agravo. 9. Custas pelo Age, sucumbente. 5